Capítulo 234 - Situação familiar
Cobertos por capas escuras, os caçadores de espectros estavam ao longe, aguardando seu alvo despontar no desfiladeiro. Uma águia umbrosa pousou no braço estendido de Josan e desapareceu.
— Ele está se aproximando com os Elfos da floresta. Devem chegar em uma hora ou menos.
Leyvell assentiu.
— Preparem sua mana, os usuários da penumbra devem conseguir nos deixar indetectáveis para a pandoriana, assim, Colin deve continuar sua rota. Não subestimem o nosso alvo, ele é uma das potências do continente, então estejam preparados.
Assentindo, os caçadores começaram a se espalhar.
Alguns acreditavam ter poder o suficiente para acabar com o líder dos carniceiros, outros se sentiam um pouco intimidados pelas histórias que ouviram.
Josan estava dividido.
Ele tinha certeza que seu alvo tinha envolvimento com a mulher do abismo, mas questionou se era a escolha certa tornar todos eles alvos. Embora tenha ouvido histórias assustadoras sobre o carniceiro, ouviu feitos honrosos da boca de Bertina.
Seu líder, por outro lado, estava empolgado com a ideia do confronto. Era a primeira vez em anos que ele lutaria com todas as suas forças.
Levou o tempo que Josan previu até Colin alcançar o vale dividido por duas montanhas. Após o aviso de Leona, ele se manteve atento ao redor, concentrando-se no alto das montanhas. Depois daquele ponto, só encontrariam um extenso ermo até a próxima floresta e, consequentemente, alcançariam o território da antiga Ultan.
— Leona! — ele a chamou e a pandoriana abriu os olhos de imediato. — Guie-os para fora do desfiladeiro e sigam pelo vale em direção a Ultan, vou ficar aqui.
Eram quase trezentos metros de peregrinos.
Colin havia se afastado de sua tia e prima propositalmente com a desculpa de conferir a retaguarda. Sua pandoriana era uma exímia farejadora, ela sabia que os inimigos estavam por perto.
— O que o senhor vai fazer? — Colin saltou do cavalo entregando as rédeas para Leona. — Mestre, eles são bem fortes, dá pra sentir pelo cheiro, não é melhor que eu fique com o senhor?
— Não. Se não atacaram até agora, é porque estão buscando a melhor oportunidade pra isso. Darei isso a eles. Continue avançando, alcanço vocês quando resolver as coisas por aqui.
Leona assentiu e Colin continuou indo contra a multidão. Alguns se perguntaram do porquê seu líder estava tomando caminho contrário, mas o ignoraram. Colin parou de se mover enquanto seu grupo seguiu para fora do desfiladeiro.
Seus olhos continuaram afiados, procurando qualquer tipo de movimentação por cerca de quase cinco minutos. Olhou por cima dos ombros e percebeu que os peregrinos haviam finalmente deixado o desfiladeiro.
Flutuando, Gram, a lâmina dançarina, saiu da bainha em suas costas e foi direto para sua mão esquerda.
— Por que não saem de seu esconderijo? Estou ficando sem paciência.
— Háháháhá. — Gargalhadas vieram de todos os lugares, preenchendo aquele desfiladeiro com um poderoso eco.
No alto, bem nas bordas do desfiladeiro, estavam homens trajando capas escuras, cobrindo-os da cabeça aos pés.
Leyvell jogou o capuz para trás e esticou o braço direito. O espaço frente a sua mão começou a distorcer-se e um martelo de ferro com runas cravadas por todo seu cabo ganhou forma. Aquele objeto estava tão energizado que soltava faíscas.
O líder dos caçadores ergueu o martelo.
Cabrum!
O tempo começou a fechar de repente.
Cykna ouviu o trovejar e olhou para trás em direção ao desfiladeiro, vendo nuvens carregadas. Olhou para os dois lados e não encontrou o sobrinho.
— Eilella, onde está seu primo?
A Elfa deu de ombros.
— Ele disse que iria verificar a retaguarda.
A rainha virou as rédeas do cavalo.
— Continue avançando, já volto!
— Mãe, onde a senhor-
— Já volto! — Cykna sacudiu as rédeas do cavalo e avançou rumo ao desfiladeiro.
Cabrum!
Leyvell foi direto para o chão.
— Olá, Zanian, ou devo chamá-lo de Colin? Para alguém com uma lista extensa de feitos, pensei que fosse mais inteligente, mas decidiu ficar sozinho para me enfrentar. Isso é arrogância ou burrice?
Colin abriu um sorriso de canto.
— Quer vingança pelo ruivo?
— No começo esse era o objetivo, mas ele mudou — Leyvell começou a andar para o lado devagar. — Eu e você somos iguais, carniceiro. A razão pela qual quero enfrentá-lo, é a mesma pela qual ficou. Você quer lutar contra mim e eu quero lutar contra você.
— É, mas tem um motivo a mais, vocês estão atrás da minha primeira esposa. — Colin abriu um sorriso de orelha a orelha. — Vão me enfrentar todos de uma vez?
Apesar da vontade de ir com tudo para cima de Leyvell, Colin sentia que devia ser cauteloso em relação a ele.
Leyvell continuou caminhando e apontou o martelo cheio de runas para o errante.
— Você não fará falta no mundo, Colin, já que pelo que ouvi de você, não passa de um monstro sanguinário, e nosso trabalho é esse, matar monstros. Depois de você será a vez dos Elfos que escolta, e depois será a vez da putinha que chama de esposa. Melhor começar a rezar!
Gram, a lâmina dançarina, era tão leve que ele mal sentia o peso do aço. Sem falar no belo design e runas que preenchiam toda a lâmina. As gemas na base da lâmina eram o que mais se destacava.
Cabrum!
Leyvell ergueu o martelo e um raio caiu do céu, energizando-o. Ele apontou para Colin e uma poderosa descarga avançou contra o errante. Em um movimento rápido, ele cortou o relâmpago, usando a gema de ante magia imbuída na lâmina Gram.
Swin!
Faíscas se desfizeram no ar e Colin dobrou os joelhos, avançando contra Leyvell que estava com os olhos arregalados.
“O meu golpe sumiu? Isso foi ante magia?”
O caçador apertou o cabo de seu martelo e avançou, energizando-o ao máximo.
Antes de Colin o alcançar, Leyvell golpeou o solo. Ouviu-se um rigoroso estrondo na forma de trovejar que fez tremer todo desfiladeiro.
Cabrum!
A onda de choque lançou Colin para trás, mas ele se recuperou com um giro. Antes de seus pés tocarem o chão, Leyvell estava no flanco direito do carniceiro, golpeando-o com todo seu poder.
“O caçador é rápido!”
Cabrum!
O errante foi enterrado na montanha em um estrondo. Leyvell ergueu o martelo no alto e apontou para Colin. Do céu, uma descarga poderosa atingiu bem onde o errante havia sido lançado, trazendo abalos sísmicos por boa parte do desfiladeiro.
Tudo tremia.
A demonstração de poder entre aqueles dois durou poucos segundos, mas foi o suficiente para deixar os caçadores em alerta.
A escala de poder daquele combate estava longe de qualquer batalha que já presenciaram. No topo das montanhas que cercavam o desfiladeiro, bem nas beiradas, alguns engoliam o seco, outros suavam frio, mas o espanto era unanimidade.
Leyvell gargalhou.
— Devo admitir — disse com um sorriso de orelha a orelha. — Você me assustou quando repeliu o meu poder, mas no fim, você não é nada de mais.
A poeira abaixou e Colin estava enterrado no meio das pedras. Seu braço esquerdo estava quebrado, e ele sentia pra valer aquela dor, uma dor que não sentia há muito tempo.
Quebrar o braço de um usuário avançado da pujança era um feito e tanto. Colin olhou para seu braço e depois olhou para Leyvell ao longe. Saiu dos escombros e ergueu a mão, apanhando Gram que veio voando em sua direção.
“Ele é um monarca do céu? E esse martelo é bem poderoso. Será que é feita da raiz da grande árvore como Claymore?”
— Assustado, Elfo? — zombou o caçador. — Quero ver você se desesperar!
Leyvell apertou o cabo de seu martelo e outro raio caiu sobre ele, energizando-o novamente.
“Entendi. Ele sabe que o ataque não vai me atingir, então é provável que faça como antes, me atacando através de um ponto cego.”
Colin girou a espada e a soltou. Ela flutuou até a bainha em suas costas.
Um sorriso desabrochou no rosto de Leyvell.
— Quer lutar comigo sem uma arma? Ótimo! Isso facilita meu trabalho!
Leyvell sentiu um arrepio na espinha e saltou para trás. Um corte de mana amarelo passou a centímetros dele, arrancando pedras do chão e explodindo na beirada de uma das montanhas que cercavam o desfiladeiro.
Boom!
— Quem ousa! — Um círculo mágico abriu debaixo dele, prendendo-o em um cubo rúnico.
— Preparem-se! — Os caçadores estavam prontos para saltar.
Cykna derrapou e segurou sua espada na forma de saque. Olhou para o cume das montanhas e cortou o ar duas vezes.
Boom! Boom!
Os caçadores saltaram antes dos cortes explodirem nas montanhas, trazendo desabamento. Enquanto as pedras caíam, Cykna correu até o sobrinho.
— Seu braço! — exclamou assustada.
— Tia? — ele estava furioso. — O que está fazendo aqui? Era pra ter ficado com Leona e os outros!
Cykna ficou ainda mais furiosa que o sobrinho.
— Não fale desse jeito comigo, mocinho! Seja mais gentil com quem veio ajudar! — ela estendeu a mão sobre o braço de Colin e começou a curá-lo. Ele ficou quieto, sentindo como se levasse bronca da própria mãe.
— Tsc… — ele desviou o olhar. — Desculpa por gritar com a senhora…
Cykna terminou de curá-lo e abanou as mãos.
— Tudo bem. — ela olhou para os caçadores que começaram a se organizar. — São os caçadores de espectros?! Bem que notei algo estranho há alguns quilômetros.
A rainha dos Elfos da floresta amarrou o cabelo loiro e liso como vidro em um rabo de cavalo, concentrando bastante mana em seus olhos.
Scrash!
Leyvell quebrou o cubo mágico e seus homens se reuniram perto dele.
Colin transformou Claymore em uma espada e foi para frente de sua tia.
— O idiota com o martelo é o problema. — ele encarou Cykna por cima dos ombros. — Se a senhora continuar me curando, consigo aguentar os golpes dele, não importa o quão destrutivos sejam.
— Colin, não preciso que me proteja, sei me protege-
— Não discuta comigo. — disse num tom firme. — Apenas continue me curando e isso vai acabar rápido.
Desde que o conheceu, Cykna não pensou que Colin fosse o monstro das histórias pelo jeito que ele a tratava. No pouco tempo que estiveram juntos, o seu sobrinho sempre a ouviu com atenção, conversaram sobre diversos assuntos e ambos passaram a gostar da companhia um do outro.
Ela não estava acostumada com alguém a dando ordens. Normalmente ela retrucaria, mas o sobrinho estava bem sério. Ela não queria provocá-lo, então resolveu fazer o que ele pediu.
— Eu curo você, mas os outros caçadores também são bem fortes. Um deles conseguiu quebrar seu braço, imagine o que todos eles podem fazer…
Colin segurou Claymore na mão direita e a lâmina Gram na mão esquerda, preparando-se para avançar.
— Agora que sei que posso me machucar, serei cauteloso em relação ao homem com o martelo. Consigo absorver magia, então os outros não devem ser um problema tão sério. Se o líder cair, o grupo desmorona.
Cykna assentiu e segurou sua espada com as duas mãos.
— Certo, vou curar você e focaremos no homem do martelo, mas qual o plano para derrubá-lo?
Colin abriu um largo sorriso.
— Não é óbvio, tia? Vamos tentar matá-lo de todas as formas, uma hora a gente consegue!
— E-Espera, esse é o plano?
Woosh!
Colin dobrou os joelhos e avançou.
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