Índice de Capítulo

    Na da sala do proprietário do bordel, Ayla estava sentada na poltrona de frente para uma enorme mesa de madeira com diversos calhamaços e livros espalhados sobre ela.

    Era uma sala luxuosa.

    A cor roxa das paredes criava uma sensação de opulência e extravagância, enquanto os móveis de madeira exibiam uma aparência clássica e atemporal. Grandes espelhos adornavam as paredes, refletindo a luz que entrava pela janela e ampliando ainda mais o espaço.

    No centro da sala, havia um imponente sofá de veludo roxo, rodeado por poltronas de madeira escura e almofadadas com tecido de padrão suave. A mesa de centro é um objeto de destaque, com detalhes em latão e um tampo de vidro espelhado.

    Atrás do sofá, havia um aparador de madeira escura com um grande espelho adornado com moldura de ouro. Sobre o aparador, uma seleção de objetos de decoração adicionava um toque pessoal ao espaço, incluindo vasos de porcelana, esculturas e velas perfumadas.

    A iluminação da sala era suave e aconchegante, com luminárias de chão e mesa que criavam um ambiente agradável. Nas paredes, pinturas emolduradas em ouro e prata refletiam o bom gosto e o refinamento do proprietário.

    Nervoso, o proprietário afastou os papéis e uma de suas garotas trouxe uma bandeja com café. Suas mãos trêmulas seguraram a jarra e ele encheu duas xícaras, colocando uma frente a Ayla que permanecia inexpressiva.

    — E-Então — gaguejou. — O que a rainha de Runyra faz aqui?

    — Anoitecer Florido, o que sabe sobre isso?

    Ele quase cuspiu o café.

    — O-O quê?

    — Não se faça de idiota, essa mensagem estava explicita em uma carta que recebi endereçada diretamente ao meu marido.

    Ele bebeu o café sem encará-la diretamente nos olhos.

    — O-Olha, não tenho nada a ver com isso, provavelmente você não devia estar aqui — ele finalmente a encarou nos olhos — C-Como chegou até mim?

    Ayla assentiu.

    — Pode fazer, não quero ficar jogando com ele.

    — D-Desculpa, não entendi…

    O demônio onírico apareceu atrás daquele homem e colocou a mão esquelética em sua cabeça. Os olhos dele reviraram e seu corpo ficou molenga.

    Ele parecia em transe.

    Ayla continuou quieta, observando o Pandoriano efetuar seu trabalho. Assim que retirou a mão da cabeça dele, o proprietário desabou, dormindo em cima de sua mesa.

    — E então?

    — Anoitecer Florido é um nome de fachada para um grupo significativo de espiões espalhados pelo continente. Este homem tem espiões sobre seu comando, espiões que inclusive ficam de olho na senhora, mas ele não é o cabeça de toda operação.

    Ayla fez muxoxo.

    — Ótimo, pelo visto teremos que continuar procurando. O que mais descobriu?

    — O proprietário tem parentesco com uma mulher que vive no Império do Sul, pelas memórias dele, ela é a pessoa por trás do Anoitecer Florido.

    — Entendi, vamos dar um fim a essa busca, já estou ficando exausta. Aqueles três devem estar executando a missão que dei a eles, teremos que correr contra o tempo.

    O demônio retornou para a sombra de Ayla e ela se ergueu, enfiando as mãos nos bolsos do casaco. Passou pela porta e uma das garotas gritou ao ver seu senhor desacordado.

    Outras garotas passaram por Ayla, verificando se estava tudo bem com aquele homem.

    Já fora do estabelecimento, o corpo de Ayla energizou-se com faíscas amarelas e, em um trovejar, ela desapareceu.


    No território de Alexander, em um forte próximo à fronteira com Runyra, soldados faziam a ronda de rotina vestindo roupas grossas e amadura de couro por cima das roupas. Era uma informação sigilosa, mas o líder dos Agoureiros residia ali, protegido pelas forças do pontífice.

    O líder dos Agoureiros, do forte, controlava seus homens, indicando aonde deveriam atacar, em quem deveriam ficar de olho e atuavam em pequenos ataques, sobretudo ao território situado perto do ducado do novo rei de Runyra. No entanto, com a ascensão repentina dos Carniceiros, sua tentativa de pressioná-los não estava sendo bem-sucedida.

    Alexander não cobrava resultados, pois o acordo que fez com os nobres deixou o pontífice em uma posição favorável. Ele se apossou de mais terras enquanto deixou a proteção dos nobres nas mãos dos Agoureiros.

    Eles seriam úteis enquanto estivessem incomodando Runyra. Haviam também Nortenhos no forte, presente de Yanolondor devido à aliança com o pontífice.

    Os Agoureiros estavam se fortalecendo lentamente, e Ayla sabia disso. Com as informações recebidas de Ethel, era tentador demais ficar parada.

    Num quarto de luxo, o líder dos Agoureiros estava de robe enquanto se olhava no espelho. Ele era corpulento, cabelo ralo e olhos esverdeados.

    — Volta pra cama, meu amor! — disse uma mulher loira no fundo, com voz sedutora. — Ela já tá começando a esfriar.

    — Já estou indo — disse com um sorriso de orelha a orelha. — Dessa vez eu não vou pegar leve, hehe!

    A mulher sorriu, mas o sorriso dela se desfez quando viu um homem sentado na janela, tapando a luz da lua. Ele estava de Haori escuro, braços cruzados e portava um sorriso de canto assustador.

    Aaaaa!

    Ela berrou e apontou o indicador para o homem na janela. Assustada, ela levantou-se e correu até a porta, mas parou ao ver uma mulher imponente e misteriosa, com cabelos ruivos e ondulados caindo até seus ombros. Seus olhos eram verdes e brilhantes, e sua pele era clara e delicada, contrastando com o tom escuro da capa que a envolvia.

    Woosh!

    A ruiva passou a mão pelo rosto da mulher, e seu rosto foi apagado. Os joelhos dela bateram no chão e seu corpo desabou. O sangue da face apagada começou a escorrer pelo chão do quarto.

    O Agoureiro perguntou-se do porquê os guardas ainda não haviam adentrado o quarto, eles não haviam ouvido o grito?

    — Q-Quem são vocês? F-Foi Alexander que os mandou aqui?

    — Alexander? — indagou Yuki, o rapaz na janela. — Não. Você tem sido um rapaz muito levado, Glorino. Estamos aqui para puni-lo.

    — E-Eu tenho dinheiro, é isso que vocês querem?

    O sorriso de Yuki foi de orelha a orelha.

    — Dinheiro? Ei, Sekya, é isso que você quer?

    A ruiva riu baixinho, deixando Glorino ainda mais assustado.

    — Guardas! Andem logo, apareçam!

    Yuki e a ruiva riram baixinho. As pernas de Glorino começaram a tremer.

    — Ninguém vai ouvir nada que acontece nesse quarto, pode gritar à vontade.

    — Seus… — Glorino estendeu a palma na direção de Yuki e começou a concentrar mana. — Vão se arrepender de-

    Woosh!

    A ruiva moveu-se, apagando o braço de Glorino. Sangue foi esguichado do braço do Agoureiro e ele berrou, indo com os joelhos no chão.

    — Merda! Merda! Merda! Socorro! Guardas!

    — Você não ouviu o que acabei de dizer?

    — Vocês estão mortos! Mortos! Pensam que vão ficar impunes se me matarem? Sabem para quem trabalho?

    Yuki desencostou do parapeito da janela e caminhou até Glorino.

    — E você sabe para quem trabalhamos? — Yuki ficou em cócoras, encarando Glorino no fundo dos olhos. — Rainha Ayla manda lembranças.

    — Já está tudo pronto — disse outra voz que veio do fundo do quarto. — Também peguei todo dinheiro.

    Era um Elfo Negro.

    Sua aparência era de um homem elegante. Seus cabelos brancos eram longos e finos, parecendo seda quando eram balançados pelo vento. Seus olhos rosados, um tom único entre os elfos negros, eram vívidos e brilhantes, contrastando fortemente com sua pele escura.

    Ele era alto e esguio, com uma aparência ágil e atlética. Seus movimentos eram graciosos e fluidos, como se flutuasse pelo ar. O Elfo vestia uma roupa elegante e discreta, com tons de preto e cinza que contrastavam com seus cabelos brancos. Seu casaco de couro era ornamentado com detalhes prateados que reluziam tanto sobre a luz da lua quanto a do sol, e por cima do casaco usava uma capa escura.

    Yuki assentiu e ergueu-se.

    — Parece que está na nossa hora de ir.

    A ruiva e o Elfo desceram o capuz até a testa e de repente, sem aviso, eles simplesmente deixaram de ser vistos, desaparecendo sem deixar rastros.

    — O-O que vocês estão fazendo? — Glorino levantou-se e correu até a porta, a abrindo violentamente. — Guardas! Guardas! Onde vocês estão? Droga!

    Ele ficou em silêncio ao sentir um cheiro forte.

    O corredor era estreito e escuro, iluminado apenas por tochas de fogo que tremulavam nas paredes de pedra. O ar estava pesado e cheirava a sangue. Seus olhos seguiram, encarando a cena horripilante.

    Ao longo do caminho, estavam guardas derrotados, caídos no chão em posições diversas. Seus rostos estavam apagados, mas seus uniformes permaneciam intactos.

    O som de botas ecoava no fim do corredor. Finalmente guardas haviam aparecido, ficando horrorizados com o que viram.

    Como algo assim havia acontecido debaixo de seus narizes e ninguém ouviu absolutamente nada?

    — O senhor Glorino está ferido! — berrou um dos guardas — Ajudem-no, agora!

    — Lá dentro! — berrou Glorino. — Tem um homem lá dentro!

    Apressados, os guardas adentraram o quarto sacando suas espadas. Encontraram o corpo da mulher, a janela aberta e mais nada.

    — Soem o alarme!

    Os guardas avançaram pelo corredor e o alarme foi soado, acordando todo o forte. Os homens começaram a se armar, vasculhando cada parte do forte atrás dos invasores.

    Fora do forte, o grupo de Yuki observava toda comoção. O barulho dos sinos ecoava por quilômetros. Algumas vilas próximas até pensaram que o território de Alexander estava sendo invadido.

    — A gente continua esperando? — indagou o Elfo.

    — Sim, senhora Ayla pediu por algo extravagante — ele olhou para a ruiva. — Sua vez. Consegue acertar daqui?

    Ela empinou o nariz. — Quem nomeou você o chefe?

    Yuki suspirou — Olha, está frio aqui e quero voltar logo para Runyra e receber o pagamento, você não quer? — ela fez beicinho e cruzou os braços desviando o olhar. — É, foi o que pensei.

    — Tá, tá, se afasta — ela deu dois passos à frente.

    Ergueu o braço direito e começou a concentrar mana na ponta de seus dedos. Ergueu o indicador e uma esfera minúscula de ar foi concentrada ali. A ruiva fez um sinal de arma com os dedos e disparou no muro do grande forte.

    Bam!

    Ouviu-se o som de um baque seco nas muralhas do forte.

    Parte da parede do forte desapareceu, junto a soldados que perambulavam pelo perímetro. Sem parte do muro, as estruturas se abalaram e a muralha desabou em um grande monte de entulho e poeira. O som da queda foi tão alto que pareceu que o próprio chão estava tremendo. Poeira, neve e fumaça se levantaram, obscurecendo a visão e dificultando a respiração.

    — Certo, eles vão tentar se reagrupar. Vocês vão para a saída norte e sul, matem os soldados que saírem de lá, só deixem um ou dois vivos — Yuki enfiou a mão no interior do Haori e retirou uma pequena adaga. — Também vou fazer a minha parte.

    Eles se dispersaram.

    Soldados estavam confusos sem saber o que fazer, já que não tinham ideia de onde o ataque estava vindo. Alguns se erguiam dos destroços, tirando poeira de seus uniformes, enquanto outros estavam caídos no chão, gemendo de dor.

    Yuki já estava no forte, vendo destruição, confusão e morte. Sua adaga mudou de forma, remodelando-se em uma Catana. A confusão não permitiu que a guarda fosse organizada, então Yuki avançou, rasgando os guardas mesmo que eles estivessem usando armaduras de prata.

    Boom!

    Uma explosão foi ouvida no portão sul, e com ela pedras em chamas caíram por todo forte como chuva. O lugar que antes estava apenas destruído, agora também estava começando a ser incendiado.

    — Tsc! Aqueles idiotas estão mesmo se divertindo.

    Após um tempo os guardas decidiram não se aproximar de Yuki e foram direto para as saídas norte e sul. O invasor caminhou entre os corpos com a catana em mãos e usou a análise tentando encontrar o rastro de mana de Glorino.

    Caminhou mais um pouco até o destroço de uma torre.

    Glorino estava ali, preso debaixo dos escombros da cintura para baixo. Sua aparência estava abatida e seu corpo ensanguentado. Seu braço decepado continuava esguichando sangue, mas ele ainda estava vivo.

    — Uau, você é mesmo durão! — zombou o invasor.

    Cof! Cof!

    O líder dos Agoureiros tossiu e seus dentes ensanguentados cerrados em fúria entregavam seus sentimentos.

    — Vocês serão caçados até o inferno! Vocês e os regentes de Runyra, farei questão de isso acontecer!

    Yuki abriu um sorriso de canto.

    — Mesmo com todos esses ferimentos, você tem força para destilar ódio, hehe, fantástico. Últimas palavras?

    — Vá para o inferno!

    Girando a Catana, Yuki apoiou na testa de Glorino e a cravou em sua cabeça.

    Crash!

    Girou a Catana novamente, resvalando o sangue da lâmina no solo. Transformou-a em uma pequena adaga, devolvendo-a ao Haori.

    A destruição do forte e a aniquilação completa dos Agoureiros marcava o início oficial da guerra do centro-leste. Alexander havia feito duas tentativas de ataque contra os reis de Runyra. Uma delas mirou o território do Carniceiro, e o mais recente aconteceu bem na capital, quando Yanolondor e Ayla acabaram se enfrentando brevemente.

    Ayla não queria que seus ataques fossem ataques quaisquer, e ela era bem paciente quando precisava. A população escravizada de Alexander estava se rebelando, e ela havia atacado a principal mente por trás dos ataques de menor grau ao seu território.

    Com tantos empecilhos pelo caminho, não apenas Ayla, mas Yuki e o grupo de elite estavam curiosos para saber qual seria o próximo passo do pontífice.

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