Índice de Capítulo

    Um grupo continuava a cavalgar por uma estrada recém-construída. A estrada era ladeada por uma série de marcos de pedra, que indicavam a distância percorrida e forneciam referências para os viajantes.

    A superfície da estrada era feita de grandes lajes de pedra, cuidadosamente ajustadas umas às outras, proporcionando uma superfície plana e uniforme. Era uma estrada ampla o suficiente para a passagem de dois carros puxados por cavalos lado a lado.

    Ela também era longa, atravessando colinas e vales, cortando caminhos por florestas densas e vales pitorescos. As laterais da estrada eram emolduradas por valas e muros de pedra, que forneciam proteção e ajudavam a drenar a água da chuva. Em alguns trechos, a estrada seguia paralela a rios e riachos, oferecendo um refresco agradável para os viajantes.

    Pessoas transitavam com suas carruagens de bois carregando coisas para vender. O estranho, era que todas as carruagens havia o brasão de um lobo uivando para uma lua carmesim.

    Lina e as crianças estavam vislumbradas de ver vales verdes, estradas bem feitas e terras aráveis desde que adentraram o território dos carniceiros. Os viajantes mantinham um sorriso característicos em seus rostos, um sorriso que eles não viam há muito tempo.

    — Já estamos chegando? — indagou Brey empolgada.

    — Estamos — respondeu Lina apontando com o queixo.

    Havia uma cidade logo a frente.

    Empolgadas, as crianças balançaram as rédeas e os cavalos trotaram.

    — Tenham cuidado! — alertou Lina. — Não vão muito rápido!

    — Tá! — assentiu Tobi assumindo a dianteira.

    — Faz tempo que eles não se empolgam assim — Comentou Celeste. — E você, está empolgada, mestra?

    Lina deu de ombros.

    — Não como as crianças, mas estou. O único empecilho é que estarei levando ainda mais problemas para o garoto.

    Eilika, que estava sentada nas costas de Celeste, espreguiçou-se.

    Colinzinho fez um bom trabalho por aqui. Reparam até como ar está mais limpo desde que adentramos o território dele?

    — Ele deve ter amadurecido um pouco — comentou Lina. — Para alcançar algo assim é necessária uma boa mente.

    Nhá, conhecendo o Colinzinho, tenho certeza que ele é os músculos e outra pessoa é a mente. Ele não faz o tipo que pensa, não para administrar uma cidade.

    — É, talvez você tenha razão — Lina balançou as rédeas. — Vamos apressar, aqueles pestinhas já estão muito na frente.


    Em uma sala reservada, Ayla estava em uma reunião com Yuki, que havia retornado da sua missão para matar Glorino e acabar com a base principal dos agoureiros.

    Apesar de ter retornado recentemente, ela ainda tinha que resolver algumas coisas antes de tomar um banho e descansar como planejava.

    Ela ouviu detalhes sobre o ataque e mais um pouco daqueles que escolheu para integrarem sua guarda de elite. Gostou do que ouviu e dos resultados alcançados, só esperava que seu primeiro ataque surtisse algum efeito em Alexander, já que seu ataque interno estava dando frutos pelo que soube.

    — Então isso é tudo?

    — Sim, majestade, isso é tudo.

    — Entendi, procure minhas secretárias amanhã, leve a ruiva e o Elfo Negro com você. Terão suas moedas e suas terras.

    Yuki curvou o corpo.

    — Agradeço, minha rainha.

    O Janesi deixou o quarto e Ayla suspirou alisando a testa. Tinha quase quatro dias que ela não pregava os olhos. Sentia que se os cerrasse, acabaria dormindo.

    — Ainda está aí? — indagou olhando para sua sombra.

    — Sim, senhora.

    — Tem notícias sobre o ducado de Colin? Como está a Elfa, os carniceiros, as obras…

    — A Elfa está se saindo bem, se virando com o que tem. Os carniceiros continuam se fortalecendo e é questão de tempo até as estradas ficarem totalmente prontas. Julgo duas ou três quinzenas.

    Ela suspirou.

    — É bom ouvir isso, acho que vou tomar banho e dormir um pouco — Seu semblante entristeceu e ela olhou para o lado. — Já fazem dias desde que Colin partiu, será que aconteceu alguma coisa?

    — Acredito que não, senhora. O rei é bem competente, posso não confiar nele, mas ele sabe se virar.

    — É, ele tá bem.

    Blém! Blém! Blém!

    Os sinos da catedral no centro de Runyra começaram a tocar. Tocaram lentamente, soando como uma batida rítmica que crescia em intensidade a cada badalar.

    Conforme a batida dos sinos aumentava, eles começavam a criar uma harmonia complexa de sons, com diferentes tons e ritmos se entrelaçando em uma música única e poderosa. O som se espalhou pelo ar, reverberando pelas paredes da catedral e ecoando pelas ruas próximas.

    O som era tão intenso e envolvente que parecia encher todo o espaço ao redor, deixando todos os presentes com uma sensação de admiração e reverência.

    Os cidadãos saiam de suas casas, acenando com lenços e bandeiras em uma demonstração de respeito e gratidão. As crianças corriam para ver a chegada do Rei, excitadas com a ideia de ver de perto o homem de quem sempre ouviam falar.

    Colin estava em cima do enorme cavalo e Leona dormia atrás dele com a cabeça apoiada em suas costas. Coberto por uma capa escura, o Rei de Runyra abriu um sorriso de canto ao ver tanta comoção com sua chegada. Ele não esperava que as coisas fossem ficar tão diferentes em sua ausência.

    Ao seu lado, em cima de um cavalo pardo, estava a Rainha dos Elfos da floresta. Seu cabelo liso e brilhante, quase como seda dourada, caía em cascata por suas costas, enquanto seus olhos amarelos brilhantes eram enigmáticos e misteriosos.

    Também era a primeira vez que ela presenciava tal comoção.

    Algumas pessoas chamavam o nome do Rei, outras davam tchau, e as crianças subiam em caixotes para ver aquele homem de perto.

    Continuaram sendo ovacionados, enquanto os peregrinos ficavam perdidos nos detalhes arquitetônicos da bela capital de Runyra.

    — Nossa… — murmurou Cykna. — Essas pessoas… estão comemorando a sua chegada? Pensei que habitantes do continente fossem hostis com Elfos da floresta.

    — A rainha é parte Elfa e o povo de Runyra confia nela. Eles não seriam hostis com vocês — Colin encarou a tia por cima dos ombros. — Alguns pensam que sou meio Elfo negro, e mesmo sendo a raça mais odiada do continente, eles foram bem acolhedores comigo.

    Há poucos metros do palácio, Colin avistou Ayla ao lado do chefe da guarda Tulin e do conselheiro Nilsson.

    — Leona! A gente chegou.

    A pandoriana abriu o olho e o coçou, dando um bocejo.

    — Finalmente, minha bunda já está doendo de ficar tanto tempo em cima de um cavalo.

    Colin desceu do cavalo junto a Leona. Sua tia fez o mesmo, ficando ao lado do sobrinho. Ele percebeu o rosto cansado de Ayla, mas mesmo assim sorriu para ela, com ela acenando com a cabeça e sorrindo de volta.

    — Tia Cykna, essa é Ayla, rainha de Runyra, e Ayla, essa é minha tia Cykna, rainha dos Elfos da floresta.

    Ambas se cumprimentaram com um aperto de mãos.

    — Muito prazer! — disseram ambas em uníssono.

    — Aconteceu alguma coisa? — indagou Colin. — Você parece estar exausta.

    Ayla continuou sorrindo e abanou com uma das mãos.

    — Nada de mais, mas eu gostaria de discutir algumas coisas com você mais tarde. E a sua viagem, correu tudo bem?

    — Mais ou menos. — Colin olhou para trás. — Tem aonde colocar todos eles?

    Ayla olhou para Nilsson que ajeitou o colarinho com o indicador.

    — C-Claro, posso arranjar residências temporárias. Há vilarejos inteiros sendo construídos fora da capital, se estiver tudo bem, os Elfos e a rainha podem viver lá a sua maneira. Os vilarejos ficam há algumas horas da capital e as estradas que nos interligam em breve estarão prontas.

    Colin olhou para a tia e ela deu de ombros.

    — Por mim tudo bem! — disse ela.

    O rei assentiu.

    — Certo, vamos subir, quero deixar minha tia a par de algumas coisas.

    — Tá bom.

    Colin franziu o sobrolho encarando Ayla.

    — Tá tudo bem mesmo?

    — Não precisa dessa preocupação toda, já disse que estou bem.

    Colin ficou em silêncio.

    Nilsson assentiu e Tulin deu um passo à frente.

    — Soldados! — Alguns deram um passo à frente. — Guiem os Elfos para seus alojamentos.

    Lentamente, os grupos numerosos de Elfos começaram a se separar, seguindo os guardas. A multidão ainda continuava amontoada.

    — Papai! — chamou a voz de uma garota dos fundos, competindo com o barulho da multidão. — Papai! Aqui!

    — Deem licença! — Tobi empurrava as pessoas tentando se aproximar. — Me deixem passar!

    As pessoas abriam espaço conforme os garotos se aproximavam com ímpeto. Eles o viram em cima do cavalo, mas as pessoas estavam tão amontoadas que mesmo berrando o nome de Colin, ele não os ouviu.

    Tobi cruzou o bloqueio e teve uma visão nítida de Colin antes de ele adentrar o palácio.

    — Pai! — berrou a todos os pulmões.

    Colin reconheceu aquela voz apesar de estar um pouco diferente. Virou-se e viu Tobi um pouco maior do que a última vez que se lembrava. Num primeiro momento Colin não teve reação, mas após perceber quem era, seu coração começou a palpitar.

    A carranca sisuda de Colin desapareceu e seus olhos brilharam após ele engolir em seco.

    Ayla e Cykna continuaram sem entender a situação.

    A multidão abriu espaço e as crianças avançaram correndo por aquele corredor humano. Tobi ficou parado e seus olhos se encheram d’água. O garoto fungou mais uma vez e correu até Colin pulando em seus braços.

    Foi um abraço caloroso, com ambos sentindo o coração um do outro palpitar. Tobi desabou em lágrimas nos braços de Colin e o Errante sentiu vontade de fazer o mesmo, mas manteve-se firme.

    Ele ajoelhou, colocou Tobi no chão e afagou o cabelo do garoto.

    — Você cresceu! Mais um pouco e vai me passar em tamanho.

    — Papai! — Foi a vez de Brey e Melyssa se jogarem em seus braços. Nenhuma delas conseguiu segurar o choro.

    Colin as abraçou apertado, mas não o suficiente para feri-las. Ele se desvencilhou de ambas, afagando seus cabelos.

    — Vocês também cresceram, háhá! — O pequeno Bill estava logo atrás um pouco tímido, mas continuava tentando segurar o choro. Ele sempre foi mais quieto que os outros. Colin também afagou seus cabelos enquanto Bill segurava o choro o máximo que conseguia. — Bom te ver também, Bill!

    Meg estava um pouco mais atrás com os punhos cerrados, olhos cheios d’água e lábios tremelicando. Colin era a pessoa com quem ela mais tinha conexão depois de seu falecido irmão. Por ser a mais velha, ela tentou ser forte como Colin para servir de exemplo aos seus irmãos adotivos. Até na frente de Lina ela mantinha a postura, mas na frente de Colin era diferente.

    Aquele era o homem que havia dado a ela uma segunda vida, a fez sentir o calor de uma família novamente, comida farta e roupas novas. Para ela, Colin era bem mais que um simples responsável, ele era um pai.

    Colin abriu um sorriso de canto e Meg foi correndo até ele. Pulou tão rápido em seus braços que quase o derrubou no chão.

    Ele acariciou suas costas enquanto a pequena desabava em lágrimas.

    — Sinto muito por não ajudar você quando a capital foi atacada… por minha culpa o Potter…

    — O senhor não teve culpa — Meg se desvencilhou dele e limpou as lágrimas com as costas da mão. — Se não fosse por Potter, nenhum de nós estaria aqui… ele foi um herói, como o senhor.

    Colin assentiu com um sorriso. Apesar de não se ver como um herói, para aquelas crianças ele era, sim, um herói.

    Haviam outras duas crianças um pouco atrás reparando naquela cena comovente.

    — Eles estão com vocês? — indagou Colin.

    Meg foi até aqueles dois e os puxou pela mão.

    — Esse é Gerrard, e essa é Nailah! Esse é o nosso pai, Colin! Agora é o pai de vocês também, não é, senhor Colin?

    O errante coçou a nuca meio sem jeito. Ele tinha bastante recurso, não seria problema criar aquele monte de criança, só faltaria tempo para dar atenção a todas elas.

    — Claro, Gerrard e Nailah, sejam bem vindos!

    Gerrard ficou surpreso em como um homem tão assustador era tão gentil e amável. Nailah sentiu-se da mesma forma, mas não ficou com a guarda tão levantada em relação a ele por justamente ele se parecer com um Elfo Negro.

    Sentiu um pouco à vontade e desviou o olhar, envergonhada.

    — Como vocês me acharam? — indagou Colin.

    — Senhorita Lina cuidou da gente desde que fugimos de Ultan — respondeu Meg. — Pai, Tobi e eu estamos treinando com ela, eu fiquei bem forte, o senhor vai ver!

    “Lina… então ela está viva.”

    Ele afagou o cabelo de Meg mais uma vez e olhou para Lina e Eilika na multidão observando aquele momento. Ambas assentiram com a cabeça e Colin fez o mesmo se erguendo.

    — Não estão com fome? Nilsson é meu amigo, ele mostrará a cozinha.

    Os olhos deles brilharam.

    — Elfos, crianças, vou apresentar vocês ao grande salão de festas, e após isso veremos suas acomodações.

    Nilsson seguiu por outro caminho. Elfos e as crianças o seguiram empolgadas, afinal, matar a fome era sempre um assunto sério.

    — São mesmo seus filhos? — perguntou Cykna com a sobrancelha erguida. — O seu ninho deve ser bem grande.

    — Não sou o pai biológico deles, mas os vejo como meus filhos. São boas crianças, é bom ver que eles estão bem.

    Cykna meneou a cabeça com um sorriso.

    — Você é sempre cheio de surpresas.

    — Tá fortão, hein, Colin! — zombou Eilika com as mãos na anca. — Está até parecendo um homem!

    — Bom te ver também, ratinha.

    Colin cruzou olhar com Lina.

    — Eilika tem razão, você está mais forte desde a última vez que te vi. Bem, para ter seu próprio reino, você precisou evoluir bastante, acredito.

    — É, tive. Valeu por cuidar das crianças por mim.

    — Aqueles pestinhas são minha responsabilidade também, mas vim até aqui porque tenho assuntos sérios a serem discutidos com você.

    — Então vem comigo.

    — Eu passo! — disse Eilika entrelaçando os dedos atrás da cabeça — Vou comer algo também, quando precisarem de ação, me procurem na cozinha, seja lá onde ela fique.

    A pandoriana despediu e o restante continuou rumo a sala de reuniões. Haviam coisas bem importantes a serem discutidas.

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