Capítulo 25 - Fantasma do Passado.
Entre as densas árvores, Kurth corria em alta velocidade, disparando seus tiros de vácuo em várias direções.
O som penetrante dos projéteis cortando o ar ecoava pela floresta, perfurando até os troncos mais robustos das árvores.
A escuridão dificultava sua mira, então ele confiava em seus ouvidos, tentando acertar os alvos com base no sussurro das folhas e no estalo dos galhos.
O pandoriano com quem ele lutava era ágil e veloz, deslizando habilmente entre as árvores. Embora as copas densas atrapalhassem um pouco seus movimentos, isso não o impedia de brandir suas lâminas afiadas, cortando os troncos ao meio com golpes precisos.
A floresta se tornava um campo de batalha caótico, com árvores partidas e galhos espalhados pelo chão.
Após uma longa corrida frenética, a dupla finalmente chegou perto de uma lagoa cristalina. A luz fraca da falsa lua refletia na superfície serena, criando uma atmosfera mágica. Kurth sentia-se exausto, seu corpo pesado e seus músculos cansados pela intensa atividade física e pela tensão da luta.
A respiração ofegante escapava de seus lábios, enquanto ele lutava para recuperar o fôlego e encontrar forças para continuar a batalha. A lagoa oferecia um breve momento de trégua, mas ele sabia que não podia se permitir descansar por muito tempo.
Ele havia corrido bastante e estava usando quase que incessantemente sua magia de disparo de vácuo. O suor escorria por seu rosto ruivo, encharcando seus cabelos que grudavam em sua testa. Suas roupas estavam encharcadas, gotejando de tanto esforço.
Kurth buscava desesperadamente uma estratégia viável para derrotar seu oponente. Seus pensamentos se entrelaçavam em meio à exaustão, tentando encontrar uma brecha, um plano que pudesse lhe dar a vantagem necessária.
Finalmente, ele chegou a um campo aberto, onde o terreno se estendia além das árvores. Parando ao lado do lago, Kurth sabia que tinha que usar aquele espaço para sua vantagem.
O pandoriano, que mais parecia uma criança humanoide louva-deus, abriu um sorriso exibindo aquela abobada dentária pontiaguda. Pela experiência ele sabia que no campo aberto o garoto ruivo tinha clara desvantagem.
— Você perdeu! — disse o pandoriano com uma voz infantil preparando-se para avançar.
Fuiim!
Sem nem ao menos perceber, Kurth recebeu um corte profundo no tórax.
Tentando apontar o indicador para o vulto na sua frente, Kurth sentiu um golpe brutal no estômago e quicou na água até afundar no lago.
Skid! Skid! Splash!
Enquanto afogava, Kurth apoiou a mão no abdômen e sentiu que algumas de suas costelas haviam quebrado com aquele golpe.
Seu sangue juntou-se a água do lago e, fazendo um esforço quase descomunal, ele começou a nadar até imergir na superfície.
Ele nadou até a margem e deitou-se, tentando recuperar o fôlego, mas esquivou-se para o lado, safando-se de outro corte que veio de cima.
Apontando o dedo para cima, Kurth disparou mais uma vez, mas nada atingiu além de ar.
— Você é muito lento! — disse o pandoriano em cima de uma pedra próxima ao lago.
Kurth não ligou para as provocações e manteve-se calmo.
Ele sabia que seu oponente tinha a vantagem da velocidade. Colin disse que cuidaria de Barone, e Kurth não estava a fim de perder ali.
Inexperiente em batalhas, Kurth aprendeu tudo com seu pai que tinha a mesma árvore que ele. Um dos principais ensinamentos de seu pai, era o de que inimigos poderosos precisavam ser vencidos com um único golpe, mas como vencer algo que ele não conseguia ouvir e nem enxergar?
O pandoriano havia ficado invisível e o seu golpe também. Foi quando Kurth sentiu dois profundos cortes nas costas.
Woosh!
Rolando no chão, Kurth ficou de pé de imediato e tentou mirar para onde estava seu inimigo, mas ele havia desaparecido novamente.
“Ele é mais rápido que eu, e para piorar, consegue ocultar seus golpes e seus movimentos. É como papai me disse, usuários da árvore do silêncio são perigosos demais. Não acertei um único golpe até agora e se eu não pensar direito acabarei perdendo. Quando eu o acertar, tem que ser um nocaute. Já sei o que fazer!”
Com um suspiro profundo, Kurth concentrou sua energia mágica na sola dos pés, sentindo-a pulsar com poder. Num estrondo ensurdecedor, ele saltou para cima com uma força impressionante, impulsionando-se ao máximo de sua capacidade.
Enquanto estava no ar, seu corpo flutuando temporariamente em meio à gravidade, Kurth lançou um olhar para baixo, admirando a vista do enorme lago que se estendia abaixo dele.
Ele juntou as mãos, como se estivesse preparando um ataque devastador.
Mesmo em queda livre, sua mente permaneceu focada e sua concentração inabalável. Ele canalizou a mana que fluía em seu ser, reunindo-a em suas mãos unidas, como se estivesse moldando uma esfera de poder.
A sensação de queda rápida não o abalou, pois estava imerso em seu propósito, pronto para desencadear um ataque poderoso assim que alcançasse seu alvo.
Era um desafio e tanto usar aquela habilidade enquanto ainda estava em queda livre, e seria ainda mais desafiador fazer com que seu ataque funcionasse da maneira que queria.
Quando estava a dois metros do lago, ele lançou o seu ataque.
[Eco Final].
Kurth estendeu as palmas das mãos à frente, concentrando uma poderosa rajada de ar em seu interior.
Com um movimento rápido e preciso, ele lançou a rajada diretamente no lago, desencadeando uma cena impressionante.
A força do sopro foi tão avassaladora que a água do lago foi instantaneamente dispersada, como se um imenso vendaval tivesse surgido do centro e se propagado para todas as direções, varrendo tudo em seu caminho.
Enquanto a água caía em cascata ao seu redor, Kurth pousou com firmeza no fundo do lago. Ele juntou novamente as mãos, desta vez posicionando-as de costas uma para a outra.
Com movimentos sutis para a direita, ele curvou levemente o corpo e ergueu as mãos à altura do peito.
O resultado não tardou a se manifestar.
A água dispersada do lago começou a cair do céu em um ritmo constante, iniciando uma leve garoa que envolvia toda a área. As gotas cristalinas dançavam no ar, criando um efeito mágico enquanto refletiam a luz da lua.
Era uma visão encantadora
Chuaa!
Kurth fechou os olhos e mergulhou em um estado de concentração profunda, bloqueando todos os estímulos visuais ao seu redor.
Seu foco se fixou exclusivamente no sentido da audição, e ele se tornou sensível a cada som ao seu redor. As gotas d’água ecoavam em sua mente, colidindo contra folhas, pedras e a terra.
Por sorte, o formato do lago criava um efeito acústico peculiar, amplificando e tornando cada som nítido e discernível.
Foi então que, entre o coro de gotas de chuva, Kurth percebeu um padrão diferente, um som característico de algo se movendo em um padrão zigue-zague vindo por trás dele.
Embora não pudesse ver com os olhos, sua audição aguçada lhe fornecia informações valiosas. Sem hesitar, ele abriu os olhos e girou rapidamente em direção ao som.
Mesmo sem enxergar claramente o que era, ele sabia instintivamente que apenas o pandoriano possuía a velocidade necessária para se mover daquela maneira.
[Canhão Galick].
Os golpes de Kurth normalmente careciam de cor e não exibiam nenhuma manifestação visível de mana, mas desta vez era diferente.
Uma energia púrpura começou a percorrer seu corpo, fluindo em suas veias e concentrando-se em seus braços, antes de ser liberada com intensidade pelas palmas de suas mãos.
Enquanto a mana pulsava através de suas veias, elas se tornaram proeminentes, inchando e se destacando sob sua pele.
A tensão era tão intensa que parecia que a qualquer momento as veias em sua têmpora poderiam explodir. Kurth concentrou toda a sua força e poder em seu golpe, preparando-se para lançá-lo no momento certo.
O pandoriano, que se preparava para investir contra Kurth, foi atingido em cheio por esse poderoso golpe concentrado.
O impacto foi tão devastador que o pandoriano foi lançado a uma velocidade impressionante, colidindo violentamente com as paredes úmidas do lago.
A terra ao redor, amolecida pela água, cedeu sob a força do impacto, criando um buraco profundo no solo após um tremor intenso.
Rumble! Rumble!
Uma poderosa onda de choque irrompeu do golpe de Kurth, fazendo seus cabelos e roupas sacudirem violentamente. Seus músculos, já sobrecarregados pela intensidade do combate, começaram a se rasgar e os ossos de seus braços emitiram um estalo perturbador.
Uma dor aguda percorreu suas articulações, fazendo-o cair de joelhos no chão, buscando desesperadamente recuperar o fôlego.
Sua energia mágica estava quase completamente exaurida, e suas roupas estavam reduzidas a trapos após inúmeros cortes e rasgos sofridos durante a batalha desgastante.
Os espectadores que observavam a luta ficaram boquiabertos.
De fato, o nível estava alto este ano. A pipoca de Stedd havia acabado, então ele começou a pegar da Elfa ao seu lado que o encarou com desdém.
— Por que não vai pegar mais para você? — perguntou ela.
— E perder esse show?
— Sei… — Ela voltou os olhos para o telão. — É raro ver um novato do vácuo nível 2 conseguir usar o canhão Galick.
Terminando de mastigar, Stedd assentiu.
— Por isso usuários do vácuo são irritantes. Quando sobem de nível, o poder destrutivo das habilidades deles praticamente dobram.
A Elfa apontou com o queixo para o telão que exibia Anton.
— Isso explica porque Anton é tão forte, né?
— Exatamente, imagine esse canhão Galick 7 vezes mais forte. Ia ser um poder e tanto.
Exausto, com a mana quase zerada e com o corpo aos frangalhos, Kurth caminhou para fora do buraco e esforçou-se para apanhar algo em seus bolsos. Apanhou uma foto em que estava ele, seu pai e sua mãe.
Enquanto a observava, ele abriu um sorriso.
Olhar para aquilo lhe dava forças.
— Certo! Agora tenho que ajudar o senhor Colin… — Kurth mal conseguia ficar de pé.
Sentindo o tremor, Barone olhou para trás na direção onde seu pandoriano havia partido atrás do pirralho ruivo.
Ele dividia a alma com seu pandoriano, por isso era fácil sentir quando algo estava errado. Ao julgar por sua expressão, ficava evidente que algo sério havia acontecido com seu companheiro.
Distraído, Colin conseguiu aparecer na frente de Barone e o socou com tudo no rosto.
Bam!
Barone derrapou alguns metros.
— O que foi? — debochou Colin estalando os dedos. — Preocupado com o garoto louva-a-deus? Melhor que se preocupe somente com você!
Barone nunca foi de perder a compostura em uma luta, mas especular o que havia acontecido com seu companheiro começou a afetar seu estado mental, desviando seu foco de atenção.
Ele mordeu sua mão tentando se acalmar. Agora, ele tinha que se preocupar com o homem na sua frente, um homem que portava um sorriso irritante desde o começo da luta.
Mesmo que estivesse levando uma surra, Colin não diminuiu nem um pouco sua arrogância, e isso estava começando a irritar Barone profundamente.
Girando as adagas, Barone ficou invisível e partiu em direção a Colin.
Ting!
Erguendo as sobrancelhas, Barone ficou surpreso de Colin defender aquele golpe, mesmo que ele tivesse ocultado sua presença.
Vush!
Colin desviou de uma pedra que também estava invisível, abaixando-se com tamanha naturalidade que Barone viu-se obrigado a recuar alguns metros.
— Como? — perguntou Barone, ainda invisível.
— Sério que não percebeu? Alguém tão inteligente quanto você? Estou um pouco decepcionado…
Barone estava se descontrolando, e era isso que Colin queria.
— Responda!
Colin abriu um sorriso de orelha a orelha e apontou exatamente para onde Barone estava, e isso fez Barone recuar mais alguns metros.
— Não vou mentir, você é um oponente bastante irritante. — Colin apoiou uma das adagas no ombro. — Mas o que condenou você foi seus padrões repetitivos.
“Padrões? O quê?”
— Do que está falando?
— Isso mesmo, padrões. Após lutar contra você por tanto tempo, até um macaco perceberia. Você desaparece e me ataca por frente em direção ao meu peito e não do meu pescoço. Isso mostra que você gosta de brincar com seus adversários. As pedras invisíveis sempre acertam da minha cintura para cima, isso quando estou com os pés no chão. Então não é nenhum segredo, já que você sempre usa as pedras após me atacar diretamente.
Antes de Barone mover-se, Colin estalou o dedo e correntes elétricas surgiram debaixo de Barone o segurando dos pés à cabeça, quase quebrando os seus ossos. Ele estava garantindo que Barone não escapasse como da última vez.
Colin estalou o pescoço e tornou a caminhar em direção a Barone calmamente.
— A cada vez que você se afasta de mim, você salta cinco metros, então não é difícil deduzir onde você vai estar. Não mentirei para você, você é bem mais forte que eu, mas demorou demais para me finalizar, e isso, meu caro, foi o que levou você a ruína.
Após engolir em seco mais uma vez, Barone abriu um sorriso e levantou a cabeça para encarar Colin, que estava bem a sua frente.
— Você é bom em ler padrões, Elfo.
— Treinei muito com minha parceira para isso.
Barone fez que sim com a cabeça e abriu um sorriso.
— Eu adoraria lutar contra você novamente…
— Eu não, você é o tipo de inimigo ardiloso bem difícil de lutar contra. Isso me obrigou a ser mais analista que o normal. Para ser sincero, é bem cansativo.
— Hehehe. É uma honra ouvir isso!
Colin esticou a mão e uma adaga relâmpago formou-se em sua mão direita. No momento que fora degolar Barone, Colin viu uma luz engolir seu oponente e desaparecer.
O contador desceu um número.
[96].
Kurth saiu de dentro da floresta, chegando a tempo de ver Barone desaparecer. O estado dos dois não eram dos melhores. Os braços de Kurth estavam bastante inchados, e Colin estava encharcado de sangue.
— Senhor Colin! — Kurth aproximou-se. — O senhor está bem?
Colin caiu sentado no chão e começou a arfar. Ele estava quase no seu limite.
— Tô bem, mas e você? O que aconteceu com seus braços?
— Não se preocupe comigo, consigo continuar, e o senhor?
— Eu também, mas me dê uns cinco minutos, preciso recuperar o fôlego.
Sentindo uma fisgada na mão direita, Kurth tocou os joelhos no chão e deixou a foto que segurava cair ao lado de Colin. Apanhando a foto e antes de devolver a Kurth, Colin a encarou por alguns segundos.
Ele já tinha visto aquela foto antes.
Foi quando se lembrou do homem da foto. Ele o matou quando estava a caminho da vila da estrada. Encontrou aquele homem quase morto depois de uma batalha e ainda o humilhou dizendo coisas horríveis para ele em seus últimos momentos.
Colin encarou Kurth nos olhos.
— Sua família?
Sorrindo, Kurth fez que sim com a cabeça.
— Tem algum tempo que não os vejo, mas sinto que eles estão bem. Acredito que ficarão bastante orgulhosos quando eu disser que passei na prova de seleção da capital de Ultan. O império de Ultan paga melhor que o império do sul. Se me tornar soldado, acredito que consigo dar uma boa vida para meus pais.
Colin colocou a foto no bolso da calça de Kurth e ficou em silêncio.
“Qual a chance de isso acontecer? E justo aqui… pensei que o filho daquele cara era só uma criança. Tsc! Que saco.”
Kurth olhou para o horizonte enegrecido e via alguns indícios de fumaça. Ele voltou seu olhar para Colin.
— Acredita que as senhoritas estão bem?
— Não precisa se preocupar, aquelas duas são fortes pra cacete.
Safira, com uma destreza impressionante, conjurou duas esferas de fogo em suas mãos, irradiando um calor intenso. Com um movimento rápido e preciso, ela lançou as esferas, atingindo em cheio dois oponentes, que foram engolidos pelas chamas e desapareceram em meio à combustão.
Sem hesitar, Safira uniu as mãos em um gesto estranho, como se estivesse se preparando para mergulhar, projetando uma lança incandescente em direção ao terceiro adversário, que foi atingido em cheio, desvanecendo-se em uma luz brilhante.
Em seguida, com um movimento ágil de seu corpo, ela girou e desferiu um golpe preciso na nuca do quarto inimigo, fazendo-o desaparecer da mesma forma.
Enquanto Safira enfrentava os oponentes com bravura, Brighid, sentada em uma pedra próxima, observava a luta com um entusiasmo contagiante.
Safira havia feito um pedido a Brighid para enfrentar os inimigos sozinha, mesmo que isso implicasse em ser nocauteada.
— Colin te treinou bem! — gracejou Brighid terminando de fazer sua trança que estava sob seu ombro. — Não sabia que você tinha ficado tão forte.
Safira limpou a poeira da roupa e afastou uma mecha de cabelo frente a seus olhos, movendo-a para atrás de sua orelha pontuda.
— Acredita que ele está bem? — perguntou Safira aproximando-se de Brighid.
— Colin? Não se preocupe, ele ficará bem, espero…
Safira começou a perceber que Brighid estava se comportando de forma incomum em relação a Colin. Brighid sempre teve um jeito peculiar, mas sua atitude parecia ter se intensificado desde que ela assumiu aquela forma.
— O que tem entre você e o senhor Colin?
Aquela pergunta pegou Brighid de surpresa. Ela arregalou os olhos e olhou para os lados, mexendo na trança em seu ombro sem parar enquanto balançava os pés.
— Na-Nada! Por que perguntou isso?
— Sempre que vejo vocês juntos, me lembro dos meus pais. — Safira abriu um sorriso bobo. — Acredito que vocês me fazem lembrar de casa… e isso é bom, né? — Ela colocou as mãos para trás e chutou uma pedra enquanto corava. — Parece bobo, mas é como se eu tivesse um pai e uma mãe de novo…
Brighid esquecia que Safira era uma garota traumatizada, mas ela não estava errada, tanto Colin quanto ela criavam Safira como se fossem seus pais, e ela os obedecia como se fosse uma filha.
Por perder seu pai cedo, ela enxergava Colin como um exemplo paterno a ser seguido, não importava o quão distorcido fosse esse exemplo.
— Vem aqui! — Brighid a chamou abanando as mãos e Safira foi até ela com a mão para trás toda envergonhada.
Brighid acariciou suavemente o cabelo de Safira, deixando escapar um sorriso discreto. A relação que ela tinha com Safira e Colin era muito especial, repleta de cuidado e afeto.
Às vezes, Brighid imaginava os três como uma verdadeira família, embora sentisse um certo constrangimento ao admitir isso. Afinal, não era comum para as fadas se aproximarem tanto de outras espécies que não fossem místicas.
No entanto, apesar de suas reservas, Brighid não conseguia negar a alegria e os sentimentos intensos que experimentava quando estava perto de Safira e, especialmente, quando estava na companhia de Colin.
Seu coração batia mais rápido em sua presença, e ela sentia uma sensação estranha e elétrica percorrer todo o seu corpo.
Para Brighid, que tinha vivido 1374 anos, era uma experiência completamente nova.
Ela tentou encontrar uma explicação para esses sentimentos, inicialmente associando-os ao fato de ter crescido em tamanho recentemente.
No entanto, rapidamente descartou essa ideia, pois já havia passado por essa transformação anteriormente sem experimentar nada parecido.
Tudo começou com um simples encontro de olhares, quando Brighid ainda era uma fada pequena. Naquele momento, algo despertou dentro dela, uma conexão inexplicável e poderosa.
À medida que o tempo passava e eles conviviam mais, as sensações que Brighid experimentava ao estar perto dele se intensificavam de maneira avassaladora.
No entanto, esse turbilhão de emoções e sentimentos conflitantes deixava Brighid completamente desconcertada. Ela queria ser normal, agir como se tudo estivesse bem, mas a verdade era que sua presença próxima a ele a afetava profundamente, tornando quase impossível disfarçar sua estranheza.
Por mais que tentasse parecer natural e não chamar atenção, seus esforços apenas a tornavam mais notável e peculiar.
O medo de parecer estranha e a insegurança que vinha com isso a deixavam ainda mais ansiosa, criando um ciclo no qual sua tentativa de ser “normal” a fazia parecer ainda mais peculiar.
— Vamos seguir! — disse Brighid erguendo-se da pedra. — A gente consegue encontrar uma ou outra equipe se formos por esse lad-
Brighid ficou séria de repente. Ela fitou o fundo da floresta e franziu o cenho.
— Tem alguém vindo, alguém forte.
Não era comum Brighid impressionar-se com a força de alguém, a última vez que isso aconteceu foi contra o Bakurak.
Do mato, despontou uma dupla de homens que vestiam-se como nobres. Um deles era loiro de cabelo cumprido, o outro, era um Elfo negro que tinha o cabelo curto e exalava uma energia sinistra.
Brighid normalmente identificava inimigos há quilômetros de distância, mesmo que usassem habilidades para se ocultar, mas ela não conseguiu sentir eles se aproximando.
Safira ficou em guarda e Brighid fez o mesmo.
— Enfim encontramos você! — disse o homem loiro. — Meu nome é Anton, meu amigo aqui é Crizyus. — Ele fez uma reverência. — Crizyus estava com medo de lutar contra vocês, mas eu disse a ele, “É só uma mulher e uma garota, não tem nada de ameaçador nisso”. Já esmaguei outras mulheres e garotas antes, não diferirá desta vez.
— Não conte muito com isso! — disse Safira conjurando uma espada longa de fogo sem recitar encantamento.
Anton sacudiu as mãos.
— Olha, garota, se eu fosse você sairia daqui o mais rápido possível, apesar de eu querer te esmagar, o meu assunto aqui é com a bonitinha de cabelo verde.
Safira sabia muito bem que Brighid era vulnerável contra humanos, e se ela enfrentasse Anton, poderia ser um problema bem grande, já que aquele rapaz loiro emanava uma das manas mais horripilantes que ela já sentiu até agora.
— Eu não vou a lugar nenhum! — Safira assumiu sua postura de luta, empunhando a espada do lado do peito e a erguendo na altura da cabeça.
— Crizyus! — chamou Anton. — Não se meta! Se a garota quer ser espancada, então ela será.
Anton abriu um sorriso e crispou os dedos enquanto flexionava os joelhos.
Brighid encarou o Elfo, mas ele não tinha sinais de que fosse interferir no combate. O que mais chamou sua atenção, foi o fato de alguém como Anton fazer uma prova exclusiva para calouros.
— Safira! — chamou Brighid dando um passo para trás. — Você sabe da minha condição, então farei o possível para dar o máximo de suporte a você! Use o que aprendeu com Colin, observe o inimigo e tente o interceptar. Não seja imprudente, e o mais importante de tudo, se mantenha calma!
— Pode deixar!
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