Índice de Capítulo

    — A sua variação primária, qual é? — indagou Ayla com as mãos apoiadas na anca. — Normalmente nós, usuários do céu, nascemos com inclinação a variação azul, amarela ou vermelha.

    Estavam em um pequeno salão sem acabamento.

    — Azul… — respondeu o Errante.

    — Entendi, é a variação primária mais comum. É excelente para aumentar a velocidade do usuário, mas é a variação mais fraca — ela ergueu o indicador manifestando faíscas douradas na ponta do dedo. — Minha variação primária é o amarelo, isso significa que a minha mana é refinada, chega a ser quase uma mana completamente pura.

    Colin assentiu.

    — E as outras variações — disse ele. — O que significam?

    — A vermelha é a variação mais rara. Com ela é possível usar ao máximo suas habilidades de árvore, além de também servir como uma variação de cura.

    “Variação de cura? Interessante.”

    — Você comentou das variações primárias, mas consigo usar a roxa e a preta, por que consigo isso?

    Ela apoiou o indicador frente aos lábios enquanto continuava pensativa.

    — Mostra que você provavelmente consiga ativar tanto a variação amarela quanto a vermelha. A roxa e a preta são ramificações da vermelha, mas você ainda não consegue usá-la, certo? Talvez algo esteja faltando em você.

    Colin coçou a nuca.

    — Certo… o que acha que falta?

    — Hum… provavelmente subir o nível de sua árvore, mas você também precisará treinar.

     — A variação roxa e a preta têm algo especial ou são puramente estéticos?

    Ela ergueu uma das sobrancelhas.

    — Nenhuma variação é “estética”, todas têm uma finalidade, por exemplo, o vermelho é chamado de “variação nobre”, assim como o roxo e o preto.  Dessas três, o roxo é a mais perigosa, já que afeta a mente do usuário, dando a ele sensação de invencibilidade. Isso pode ser bem prejudicial. E a variação preta é focada no aumento de poder destrutivo.

    Colin desviou o olhar e alisou o queixo.

    “Agora faz sentido… foi assim contra Leyvell e Alistar, a sensação de invencibilidade…”

    — Sua variação primária é o amarelo — disse ele. — Assim como existem essas “sub variações” do vermelho, devem ter do azul e amarelo também, certo?

    Ayla assentiu.

    — Tem a verde, laranja e branco. A verde é um caso à parte, pois está normalmente ligada a usuários de magia profana, se ver alguém usando a variação verde, é provável que tenha ligação com o abismo. A branca ajuda na regeneração de ferimentos durante uma batalha, talvez bem melhor que a vermelha. E por último o laranja, que é uma variação inferior do vermelho.

    “Entendi, sete cores ao todo com cada uma tendo uma finalidade.”

    — Me deixe adivinhar, nenhuma descende do azul, né?

    Ela coçou a bochecha com o indicador.

    — Infelizmente não, mas você já domina duas variações inferiores, só questão de tempo até conseguir o vermelho.

    Colin a encarou no fundo dos olhos.

    — Quantas variações você sabe?

    Convencida, Ayla abriu um sorriso.

    — Todas, exceto a verde.

    — Sabe todas as variações e nem monarca é?

    Ela continuou com seu sorriso convencido.

    — Sim! O nome disso é talento, e também é culpa do sangue.

    “Sangue?”

    — Isso tem relação em você ter o sangue Élfico?

    — Também — ela apoiou o indicador na testa dele. — Eu e você temos o sangue dos Altmers, os altos Elfos. É comum que evoluamos tão rápido, mas você também é um Errante — ela suspirou. — Você tem o melhor dos dois lados, por isso é tão forte sendo tão jovem.

    — Você também é jovem, mas é uma Monarca e nível alto em sua árvore primária. Nível oito na árvore-do-céu com vinte e sete anos é surpreendente para mim.

    Ayla apoiou as mãos na anca, convencida.

    — Minha mãe era uma Elfa da neve, mas também tinha sangue Altmer, mesmo meu pai sendo humano, isso não pesou para mim. Mestiços nunca foram bem vistos, pois a maioria prefere manter a raça pura, mas mestiços acabam tendo o melhor dos dois mundos. Você, por exemplo, se fosse um Elfo de sangue puro ou um Errante de sangue puro, pode ter certeza que não teria metade do poder que tem.

    Colin cruzou os braços e assentiu.

    — Entendi, no momento preciso treinar minha árvore primária, aprender a variação das outras cores. Meu foco é aprender a vermelha.

    Ayla apoiou uma das mãos no queixo e desviou o olhar pensativa.

    — Você não é um cara que treina, correto? Então é provável que tenha aprendido as variações naturalmente enquanto lutava, estou certa? Você já tem a mana necessária, falta treinar para aprender as variações.

    — Treino além de meditação?

    Ela ergueu o indicador.

    — Meditação e fadiga extrema dos músculos. Resumindo, você precisa alcançar constantemente o estado de quase morte, e assim, meditar repetidas e repetidas vezes. Foi assim que evoluiu até agora, né? Quase morrendo em toda luta.

    Colin cruzou os braços e desviou o olhar.

    — Basicamente… treinei algumas vezes, mas existe um abismo enorme entre treino e um combate real. Para mim, combates reais também funcionam como treino.

    “Como suspeitei.” Pensou Ayla. “Ele é anormal. Sequer treina e conseguiu derrotar Nag que daria trabalho para qualquer usuário de magia experiente. Jane, Valagorn, aqueles dois seres aceitaram se submeter a ele pelo mesmo motivo que fiz dele meu marido. Ficar contra alguém com esse potencial evolutivo é suicídio.”

    — Posso te ajudar a evoluir — disse ela. — Não será um processo comum, e sim, forçado. Se preferir, foque apenas na meditação e você conseguirá a variação vermelha, mas é um método bem mais demorado. Agora, se quiser evoluir, seu corpo precisa ser levado ao extremo, seus músculos precisam ficar exaustos a ponto de rasgar e isso pode ser doloroso.

    Colin abanou as mãos.

    — Tudo bem, dor não é um problema, mas não me leve a mal, não acho que exista alguém capaz de me deixar em um estado de morte. Se ele existe, deve estar bem longe daqui.

    Ayla abriu um sorriso convencido.

    — Você ficou bem convencido. Aposto que consigo te deixar nesse estado se pressionar um pouquinho.

    Ele encarou a esposa com descrença, balançando a cabeça enquanto sorria de orelha a orelha.

    — Sinto muito, Ayla, mas você… não tem tanta força assim.

    Ela apoiou o indicador na têmpora.

    — Nem tudo se resolve com músculos, é necessário técnica. Eu não trouxe poções de cura comigo, então vou te dar apenas uma amostra, que tal?

    Com um sorriso no rosto, Colin abriu os braços.

    — Vá em frente.

    Ayla assumiu uma postura de combate firme, afastando os pés para garantir sua estabilidade.

    Ela concentrou sua mana nos punhos, permitindo que faíscas carmesins começassem a se formar ao redor de sua mão direita.

    Através de sua análise aguçada, ela se mantinha alerta.

    “Um nível nove da Pujança, vai ser a primeira vez que socarei algo desse nível. Os atributos dele são iguais ou até superior aos de um monarca da pujança. Certo, isso servirá de treinamento para mim também.”

    — Vamos lá… — ela suspirou, soltando vapor pela boca. — Aqui vou eu.

    Colin também usou a análise.

    “O fluxo de mana dela é como um rio, mas, ao mesmo tempo, é forte e agressivo como uma cachoeira. Perfeito!”, pensou Colin enquanto observava Ayla assumir sua posição de combate.

    Com os pés afastados, ela concentrava mana em seus punhos, enquanto faíscas carmesins cobriam sua mão direita.

    A respiração ofegante e o vapor saindo de sua boca indicavam sua intensa concentração.

    Ayla dobrou os joelhos e avançou em direção a Colin.

    Com um forte golpe de pé esquerdo no chão, ela levou o braço para trás e desferiu um soco com toda a força em seu fígado.

    Cabrum!

    Colin derrapou alguns centímetros para trás.

    Formou-se um buraco na camisa de Colin, mas seu corpo não sofreu nenhum dano.

    “Não refinei minha mana o suficiente?” Pensou Ayla.

    Ambos ficaram quietos, até que Colin sentiu uma pontada no abdômen.

    Não foi tão forte, mas o suficiente para animá-lo.

    — Você pode bater mais forte que isso? — disse ele abrindo os braços.

    Ela retribuiu o sorriso.

    — Não fique animadinho, eu nem comecei a me aquecer.


    Uma ilha se encontrava envolta em uma névoa densa e esverdeada, que impedia a visão clara do ambiente ao redor.

    Um forte odor pútrido pairava no ar, tornando a respiração difícil para qualquer um que se aproxima-se.

    Ao caminhar pela ilha, podia-se encontrar vários corpos de monstros de diferentes tamanhos espalhados pelo chão, como se tivessem sido mortos em combate.

    Com as mãos para trás, Alexander caminhava pelo solo úmido e enlameado. A névoa esverdeada o envolvia, dificultando sua visão e enchendo suas narinas com um odor nauseante.

    Andando por mais alguns minutos até que encontrou uma caverna que ficava localizada no centro da ilha.

    A caverna era escura e úmida, as paredes, cobertas por musgos e o chão escorregadio com a umidade.

    A luz das tochas iluminava as paredes, mas também criava sombras escuras que pareciam se mover.

    O cheiro era forte e desagradável, como se houvesse algo podre por toda parte.

    No fundo da caverna, havia um trono feito de ossos de criaturas desconhecidas, uma mulher estava sentada lá, emanando uma aura assustadora capaz de cobrir toda ilha.

    Seus cabelos verdes caiam em cascata sobre os ombros, emoldurando um rosto pálido e anguloso.

    Os olhos dela também eram verdes, mas pareciam brilhar com um brilho sobrenatural.

    Ela usava uma armadura escura, com detalhes intricados que pareciam se mover em resposta a cada movimento que ela fazia. 

    Seus lábios estavam levemente curvados em um sorriso que parecia mais uma expressão de desprezo do que de alegria.

    Ela mantinha as mãos apoiadas nos braços do trono, como se estivesse pronta para se levantar a qualquer momento.

    — Quase não reconheci você nesse corpinho fraco! — disse ela com uma voz poderosa. — O que é isso, virou um sacerdote ou algo assim?

    Alexander assentiu com um sorriso.

    — É bom te ver também, Thaz’ geth — ele olhou ao redor. — Um lugarzinho bem decadente, combina com você.

    — Certo, certo, quero saber quando vai me tirar daqui e me levar para o continente, quero matar Kag’ thuzir com minhas próprias mãos.

    — Isso não será possível. Ela desapareceu, está provavelmente escondida em algum buraco dando à luz aos filhotes dela.

    Ela assentiu e apoiou a mão cerrada no maxilar, tombando a cabeça para o lado.

    — Todo esse tempo aqui e ainda não a encontrou? Você é bem patético, sabia? Senhor Drez’gan devia rebaixar você.

    — Tsc… você só está aqui porque sua mana é a mais fraca de todos os apóstolos, não se esqueça que seu objetivo é abrir ainda mais o véu.

    Com um suspiro, ela se levantou e desceu as escadas de ossos, caminhando em direção ao companheiro.

    Parou em frente a ele e cruzou os braços, sua estatura impressionante de quase 190 centímetros a destacando no ambiente.

    Empinou o nariz em uma expressão de superioridade.

    — Esse sempre foi o seu problema, o problema da Sor’uth e também da Kag’thuzir, vocês dependem muito de mana. Og’tharoz e eu sempre seremos superiores a vocês quando o assunto é combate.

    — É por isso que estou aqui — ela ergueu uma das sobrancelhas. — Lembra do garoto que enfrentei no sétimo nível?

    — O pirralho que deflorou a prometida de Drez’gan? — ela abriu um sorriso. — Como eu poderia esquecer, ele me deu uma luta maravilhosa apesar de ser fraco. Lutou como uma besta para sobreviver, foi divertido.

    — Ele é o Rei de um país no continente, e o meu principal oponente. Tem me causado grandes problemas, ele a rainha.

    — Kag’thuzir?

    — Não, ele se casou com outra mulher.

    — Sério? Hehe, que danadinho — ela abriu um sorriso zombeteiro. — Está com dificuldade de lidar com um pirralho e uma vadia? Você é mesmo bem inútil nesse corpinho.

    Ele deu de ombros.

    — Sim, não nego isso, mas ele não é o mesmo homem que enfrentou no abismo, ele está mais forte, até invocou Jane neste plano.

    — Quem diria que aquela aranha medrosa conseguiria escapar — ela começou a andar pela caverna com os braços cruzados. — Então é para isso que precisa de mim? Derrotar o garoto, a vadia dele e uma aranha fujona? — ela começou a tamborilar o indicador na bochecha. — Lembro que havia uma Caída com ele e uma Pandoriana raposa, tenho que cuidar delas também?

    — A Caída não está mais com ele, e a raposa por enquanto não é um problema. Ayla, a rainha, ela controla um ser do plano superior.

    Thaz’geth parou de se mover e ergueu as sobrancelhas.

    — Sério? Qual a espécie?

    — Um Planetário.

    A apóstola congelou por alguns segurou e depois gargalhou sem parar. Riu tanto que curvou o corpo e apoiou a mão no abdômen.

    — Há! Existe o que, dez Planetários? E uma das esposas do garoto tem um Pandoriano que é um, que piada de mal gosto, há, há!

    — Darei um jeito nele, só foque nos outros.

    Thaz’geth limpou as lágrimas no canto dos olhos.

    — A quem ele serve?

    — Não sei, talvez ninguém.

    — Acho improvável, deve estar no plano superior dele, mas não sei porque estou me preocupando, já que você disse que cuidaria dele.

    — Quanto da sua força total você recuperou?

    — Um pouco mais da metade.

    — Deve ser o suficiente, quando chegar o dia de agirmos eu voltarei. Até lá fique atenta, qualquer mudança no cenário você será avisada.

    — Melhor que o pirralho seja tão forte quanto você diz, não quero ficar decepcionada depois de alimentar minhas expectativas.

    — Não se preocupe, você terá o confronto brutal que almeja.

    — Acho bom!

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