Capítulo 270 - Pai.
O sol mal havia despontado no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e rosados, quando Colin e Ayla se encontraram sentados em uma mesa redonda no meio de um jardim exuberante do palácio.
A área escolhida era um refúgio aconchegante, repleto de vida e beleza, com plantas exóticas e flores de cores vibrantes que dançavam suavemente com a brisa matinal.
A área florida e até mesmo primaveril, exalava uma atmosfera encantadora, com uma profusão de cores vibrantes e fragrâncias suaves que preenchiam o ar.
Essa beleza era protegida por uma redoma mágica, que mantinha o clima ameno e agradável, independentemente das condições climáticas externas.
Apenas os regentes e os habilidosos jardineiros tinham o privilégio de adentrar aquele santuário floral.
Enquanto lá fora o frio glacial assolava a paisagem, dentro da estufa mágica era como se estivessem em outro plano.
O calor suave e reconfortante abraçava os visitantes, criando um refúgio acolhedor e paradisíaco. A vegetação exuberante, com flores de todas as cores e tamanhos, se erguia majestosamente, criando um cenário deslumbrante e exótico.
O som sutil da água corrente em pequenos riachos e cascatas acrescentava uma sensação de serenidade ao ambiente, enquanto os raios de sol filtrados pelas paredes de vidro conferiam uma luminosidade suave e mágica.
A cada novo amanhecer, Ayla irradiava uma beleza ainda mais deslumbrante, revelando uma conexão profunda com sua feminilidade desde o momento em que uniu sua vida a Colin. Cada detalhe de sua aparência refletia sua dedicação em explorar e aprimorar sua essência feminina.
Usava um vestido escuro, que envolvia seu corpo que deixava os músculos darem espaço as curvas, já que a gravidez havia avançado. Feito de um tecido fino e suave, o vestido possuía um design refinado, com um decote modesto que preservava a seriedade e a reverência do seu papel como rainha.
O tom escuro do vestido realçava a palidez da sua pele, criando um contraste encantador.
Seus olhos amarelos, vibrantes como o sol nascente, transmitiam uma aura serena.
Era um olhar que não carregava preocupações.
Seus cabelos brancos, perfeitamente cortados na altura dos ombros, irradiavam uma pureza cristalina. Cada fio era como flocos de neve brilhantes, dando-lhe um ar de nobreza.
Sutilmente, seu cabelo se movia ao ritmo suave da brisa, como se estivesse dançando em harmonia com a natureza.
Já Colin estava vestido de forma impecável.
Ele usava uma blusa preta de gola alta, que se ajustava perfeitamente ao seu corpo esculpido, realçando sua forma atlética e robusta.
Complementando o traje, uma calça escura, cinto e botas pretas conferiam um toque de elegância à sua figura.
Seu cabelo escuro, perfeitamente penteado para trás com uma mecha caindo sobre sua testa, acrescentava um toque de mistério à sua aparência, enquanto seus olhos amarelos intensos pareciam penetrar a alma de quem os encontrasse.
— Então é isso? — disse Ayla apoiando sua xícara na mesa de madeira. — Marcellus se vendeu assim tão rápido?
Colin deu de ombros.
— Não dei escolha a ele.
Ayla afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha.
— Vai continuar sem responder à carta dos oito países que tomaram parte da antiga Ultan? Já fazem semanas, eles podem começar a se mobilizar, isso, se já não tiverem o feito.
— Sei disso, mas não vamos responder. — Colin tomou um pouco do chá. — Estou pensando em ir até o ducado, levar a família de Alunys para morarem com ela.
Ela sorriu.
— O pai dela ainda te importuna?
— Não muito, mas sempre que me vê oferece suas filhas. Pelo menos com Alunys eles vão ficar bem. — Ele fez uma pausa. — E então, Eithel tem alguma informação importante de Alexander?
Ela fez que não.
— Alexander tem ficado quieto, e as rebeliões dos escravos diminuiu, apesar de ainda ter alguns arruaceiros. — Ela também bebeu do chá. — Alexander pode estar planejando algo grande, nem mesmo retaliou quando mandei destruir os Agoureiros. Ah! — Apoiou a xícara na mesa. — Isabela me escreveu, ela disse que Lumur tem acumulado cada vez mais e mais soldados, mas não tem feito movimentos bruscos, nem mesmo contra as milícias que percorrem aquele país aos montes, sabe em que isso implica, não sabe?
Colin assentiu.
— Que Lumur e Alexander podem estar fazendo um movimento coordenado?
— Isso! Sem falar que não se ouve mais sobre a guerra dos gigantes no Norte.
Colin cruzou as pernas, apoiando o calcanhar no joelho.
— Yanolondor acabou com a guerra no Norte?
— Acho improvável — respondeu. — Deve tê-la abafado, mas não a terminado.
— É, parece que estamos ficando cercados, sem falar nos conspiradores aqui dentro.
Apesar do teor preocupante, a conversa se desenrolava e a atmosfera na sala de chá permanecia serena e tranquila.
O som dos pássaros cantando lá fora ecoava suavemente, criando um ambiente reconfortante.
Ayla encheu novamente sua xícara de chá.
— Tenho um plano, na verdade, já o coloquei em execução. — Ela bebeu do chá novamente. — Comprei terras no Reino Esquecido.
Colin ergueu uma das sobrancelhas.
— Por quê? O Reino esquecido fica do outro lado do Continente, não é?
— Exato, é um país com montanhas majestosas cercando suas fronteiras, protegendo-o das ameaças externas. Além de planícies vastas que se estendem além das colinas ondulantes, pontuadas por rios sinuosos e lagos serenos. Também há florestas antigas cobrindo uma parte significativa do território, onde criaturas residem.
— Vai usá-lo para quê? Fugir?
Ayla deu de ombros.
— Você sabe que meus conselheiros e alguns nobres nos odeiam, mesmo que tenhamos melhorado a vida deles. Podem armar contra a gente, tentar um golpe e nos destituir. Você legitimou todas as crianças como herdeiros, né? As fez carregar o seu sobrenome, o meu e o de Brighid, a Santa de Valéria. Sei que foi uma boa intenção, mas todos somos alvo, estou apenas pensando no bem da nossa família.
Com uma das mãos no queixo, Colin desviou o olhar.
Apesar de perspicaz, ele nunca havia pensado por esse lado.
— Está me dizendo que no caso de um eventual golpe, você deixaria tudo que seu pai construiu para trás?
— Amo essa cidade e tudo que estamos construindo aqui, mas não trocarei minha família por muros de pedra e pessoas que mal vejo. — Ela desviou o olhar. — Não quero fazer como o meu pai… não quero uma vida com poder, mas sem valor algum…
Colin coçou a nuca após um suspiro.
— Tá, também tenho um plano, mas primeiro preciso ir até o ducado, ver como estão as coisas, e depois ir até o território hostil. Vou expandi-lo até os domínios de Ultan que estão à mercê de demônios e bandidos.
— Vai expandir o país? Os oito países que ocupam parte da antiga Ultan no Oeste podem agir.
Colin estalou os dedos.
— Esse é o ponto. Mobilizarei alguns soldados, apesar de não precisar tanto, pedirei mais recursos aos nobres e aos conselheiros, e como eles me temem, duvido que irão negar. Um burburinho deve começar entre eles, os pressionando. Seja como for, conspiradores vão ficar ainda mais evidente.
Ayla bebeu do chá novamente.
— Está mesmo tão confiante assim? Planeja partir quando para o ducado?
— Não antes de terminar o meu treinamento. Relaxa, ficará tudo bem.
— Confio em você.
— Sei que confia. — Colin se ergueu e foi até Ayla, dando nela um beijo na testa.
— Querido, a catedral, com a minha ajuda, conseguiu alguns mantimentos para serem doados entre a população mais carente. Com tantas pessoas novas em Runyra, há alguns mais necessitados que ainda não se estabeleceram por completo. Conseguimos comida e alguns brinquedos.
— Sério? Não sabia que a igreja era tão influente assim.
Ayla abriu um sorriso resplandecente, e o quarto pareceu se encher de uma luminosidade suave. Seus cabelos brancos caíam graciosamente sobre seus ombros, destacando a delicadeza de seu rosto.
Seus olhos amarelos brilharam intensamente, irradiando uma energia cativante. A luz que atravessava a janela parecia encontrar nela um reflexo perfeito, realçando sua beleza de maneira sublime.
— Bom, a religião da Deusa da Neve está sendo bem difundida em Runyra. Não só Elfos da neve que estão aderindo a ela, como também Elfos da floresta, Elfos Negros e até alguns humanos. O importante é que estamos cuidando dos nossos. Planejo entregar tudo que juntamos amanhã para o pessoal, você vem?
— Claro, vou aproveitar e levar as crianças, será bom para elas, agora treinarei um pouco.
— Tá, que os Deuses o protejam.
[…]
Colin adentrou o salão de treino particular de Ayla e seus olhos foram imediatamente atraídos para Tobi.
Com sua espada de madeira em mãos, ele executava movimentos de ataque precisos no boneco de madeira, revelando uma destreza impressionante para alguém de sua tenra idade.
Tobi, aos poucos, ia adquirindo uma musculatura notável, evidenciando seu comprometimento com o treinamento.
Parado na entrada, Colin vestia apenas uma regata, calça e chinelos, uma aparência despojada contrastando com a determinação do filho. Ao avistar o pai, Tobi abriu um sorriso radiante e correu em sua direção, envolvendo-o em um abraço afetuoso.
[…]
Sentados lado a lado, Colin e Tobi engajaram-se em uma conversa animada sobre treinamento. Enquanto Colin compartilhava mais detalhes de suas emocionantes aventuras, Tobi se entregava à narrativa com uma atenção quase sobrenatural, seus olhos fixos no pai, sem sequer piscar.
No entanto, assim que Colin concluiu sua narrativa, o sorriso contagiante de Tobi se desvaneceu gradualmente, substituído por uma expressão de melancolia. Seus olhos desviaram-se para o lado, sua postura cabisbaixa indicando que algo mais pesava em sua mente.
— Pai… eu estava conversando com alguns nobres mais velhos e eles se afastaram de mim, não que eu me incomode com isso, mas uma garota me disse que eles não queriam minha companhia porque disseram que você é perigoso, e por isso disseram que sou perigoso também… — Ele fez uma pausa, buscando as palavras certas. — Sei que o senhor faz de tudo para nos ajudar, mas… pai… — Ele o encarou nos olhos, em busca de uma resposta sincera. — Ser forte é isso? Afastar as pessoas porque te acham perigoso?
Colin sentiu um turbilhão de emoções se agitando dentro dele naquele momento tão singular de conexão entre pai e filho. Enquanto coçava a nuca, procurando encontrar as palavras adequadas, assentiu com a cabeça duas vezes.
Colin ponderou por um instante, os olhos perdidos em pensamentos profundos antes de responder.
— Quando você morava no ducado com Potter e os outros, como você viu aqueles que tentavam fazer mal a vocês? — indagou Colin, observando atentamente as expressões do filho.
Tobi franziu a testa, mergulhando em lembranças sombrias. Seus olhos percorreram o horizonte distante antes de retornarem ao pai. O menino parecia pesar cada palavra com uma seriedade além de seus anos.
— Perigosos, eu acho… — respondeu Tobi, sua voz carregada de uma mistura de cautela e compreensão.
Colin assentiu lentamente, sentindo o peso das palavras do filho.
Era um fardo pesado para alguém tão jovem carregar, mas Tobi mostrava uma maturidade além de sua idade. Colin sabia que era necessário transmitir a ele uma visão clara da realidade, sem perder de vista os valores que os guiavam.
— Exato, e Potter também tinha que ser forte para levar comida para vocês, tinha que ser perigoso para protegê-los daqueles que os queriam fazer mal — explicou Colin, sua voz calma e carregada de experiência. Ele estendeu a mão e colocou-a gentilmente no ombro de Tobi, transmitindo um senso de segurança e compreensão. — Olha, filho, a vida não é fácil, você mesmo sabe disso, mas não estou colocando Potter na mesma balança daqueles que queriam fazer mal a vocês. Existe um abismo nessa comparação.
Tobi parecia mergulhado em pensamentos, tentando assimilar as palavras do pai. Colin notou o esforço mental do garoto e compreendeu a complexidade daquilo que tentava transmitir.
— Filho, escuta — continuou Colin, segurando o olhar de Tobi com firmeza. — Nesse mundo existem duas alternativas. — Ele ergueu dois dedos, enfatizando o que estava prestes a dizer. — Ou você é fraco, ou é perigoso. Não quero dizer que você deva ser cruel, longe disso. As pessoas me consideram perigoso, mas já me viu fazendo mal a teus irmãos, a Ayla ou a algum inocente?
Com a mão no queixo, Tobi tentou lembrar de algum momento. Colin nunca demonstrou nenhum sinal de violência na frente das crianças, nem um único sequer. Ele não levantava a voz, não xingava, muito menos os repreendia com autoridade, e mesmo assim eles o respeitavam.
— Não… — respondeu Tobi, suas palavras carregadas de surpresa e perplexidade. — Eu nunca vi o senhor ser assim…
Colin assentiu. Ele se aproximou um pouco mais, seu olhar transmitindo calma e sabedoria.
— Exato. Ser perigoso significa isso, conseguir ser forte o bastante para machucar alguém, mas apenas aqueles que merecem.
As palavras de Colin ecoaram no ar, revelando a profundidade de sua compreensão. Um momento único de conexão pai e filho estava se formando, e Tobi sentia-se cada vez mais envolvido por ele.
Colin continuou, sua voz cheia de curiosidade genuína.
— Por que você treina, filho? O que você busca ao empunhar uma espada ou praticar seus movimentos?
Ele pensou por um instante, suas feições refletindo a profundidade de suas reflexões.
— Porque quero ser como o senhor… — murmurou Tobi, tentando encontrar as palavras certas para expressar seus sentimentos.
Colin esperou pacientemente, incentivando-o a continuar.
— Eu… — Tobi franziu os lábios, sua expressão carregada de determinação. — Eu não quero que o senhor e mais ninguém morra…
Um brilho de orgulho surgiu nos olhos de Colin. Ele sorriu e afagou os cabelos do garoto com carinho.
— É um bom motivo, meu filho, mas olhe para mim. — Colin fez uma breve pausa, sua voz carregada de afeto. — Você é o meu filho homem mais velho, mas não preciso que me proteja. Eu sou o seu pai, sou eu quem vai protegê-lo. Você, por outro lado, protege seus irmãos. É isso que os mais fortes, como nós, fazem.
Tobi ficou empolgado com as palavras de Colin, sentindo-se reconhecido e valorizado. Ele assentiu com fervor, com um ímpeto renovado em seu coração.
Ser reconhecido por seu pai significava tudo para ele, e ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance para proteger seus irmãos com dedicação e coragem, espelhando por completo em seu pai e de toda ideia que tinha dele em seu coração.
Colin inclinou-se ligeiramente, tocando a testa de Tobi com o indicador em um gesto afetuoso.
— Quando você se fortalece, meu filho, aprende não apenas a ser perigoso, mas também a controlar essa força. Preste muita atenção, Tobi. É difícil manter o controle quando se possui tanta força, mas é essencial. Você precisa se segurar, manter a calma e assumir o controle. Isso é o que os homens de verdade fazem. Tenho você, seus irmãos, Brighid que em breve se juntará a nós, meus filhos com ela, Ayla e este reino. Perder o controle não é uma opção para mim, ser perigoso sem motivo não é uma opção. Como meu filho mais velho, você tem a responsabilidade de proteger seus irmãos, os três irmãozinhos que estão com Brighid e o irmãozinho que logo chegará.
Tobi respondeu prontamente, sua voz carregada de determinação.
— Sim, senhor!
Colin bagunçou o cabelo do garoto com um sorriso orgulhoso.
— Agora vá tomar um banho.
Tobi guardou sua espada de madeira em um balde e saiu correndo da sala de treino, cheio de energia.
Colin suspirou, alisando a nuca enquanto observava o filho se afastar.
Ele se esforçava para incutir valores e ensinamentos que ele considerava os corretos nas mentes das crianças. Ele temia que, se não lhes proporcionasse proteção e força, elas cresceriam vulneráveis e indefesas diante de um mundo implacável.
Sentia o peso dessa responsabilidade e sabia que esses valores deveriam ser a base de seu aprendizado. Afinal, havia o receio latente de um futuro incerto, onde sua ausência poderia deixá-las desamparadas e à mercê das crueldades do mundo.
Ser pai não era tão simples como ele imaginava.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.