Capítulo 282 - Devastação.
Ambos continuaram parados, com seus olhos vidrados um no outro. Ninguém queria o primeiro passo, já que um reconhecia o quão destrutivo o outro poderia ser, e se tratando daqueles dois, um erro milimétrico poderia ser fatal.
— Quando recebi a notícia que estava atrás de Morgana, eu me perguntei qual seria o motivo, mas não consegui pensar em nada concreto. Pensei que seria para me enfraquecer, mas isso não faria sentido, já que Morgana havia ido com a fada. — Graff fechou os olhos inspirando profundamente. — Então tive meu momento de clareza, você quis atingir a fada, não é? Minha Morgana só estava no seu caminho… Claro, uma criatura tão poderosa do abismo naquela situação vulnerável… é tentador demais para que você pudesse deixar passar, não é?
Coen continuava atento a cada movimento de Graff.
— Então vampiros conseguem pensar? — zombou. — Pelo visto você não é só músculo como aquela vampira.
As sombras começaram a se agitar.
— Não, eu não sou.
Woosh!
Em uma velocidade inimaginável, Graff foi para as costas de Coen, mas o Errante se virou movendo sua lâmina do sol na direção do pescoço de Graff, porém o vampiro segurou a lâmina com as mãos nuas.
Coen arregalou os olhos.
Mesmo com aquelas mãos pegando fogo, Graff não parecia ter sido afetado consideravelmente. O sorriso aterrorizante de Graff formou-se em seus lábios e ele cerrou o punho da outra mão, pronto para golpear Coen, que fora envolto por mana elétrica carmesim.
Booom!
Uma nuvem de fogo engoliu o recinto, e Graff deixou a fumaça, saindo pelo buraco feito pela explosão e indo em direção aos céus enquanto observava o esconderijo localizado na montanha aos escombros.
“Isso não foi um golpe puramente de raios, ele usou fogo também… isso é estranho, a tríade dele não é a do verão?” Graff abriu um largo sorriso, “Esse Errante maldito, sempre cheio de segredos!”
A fumaça se dissipou, e ao lado de Coen estava uma criatura grotesca. Era alta e corcunda. Tinha um par de pernas, mas dezenas de pares de braços. Era branca como a neve, e parecia ser feita de madeira.
Seu rosto de madeira era claro com uma expressão sutil, como o de uma boneca de porcelana. Sua testa era longa, com seu cabelo começando no meio da cabeça e escorrendo pelos ombros até se arrastar no chão. Sua expressão não alterava, permanecendo sempre com um sorriso sutil.
Já em frente ao buraco feito pela explosão, Coen abriu um sorriso de canto. Graff notou que a lâmina do sol não estava mais nas mãos dele, mas ela não era problema.
— Vai começar com os seus truques, Errante?
Coen estava em silêncio, analisando o vampiro enquanto suas vestes eram agitadas pelo vento.
“Preciso de mais mana, fazer a lâmina do sol trabalhar ao meu favor”, Pensou Coen, “Ele é mais forte que Morgana, sem falar que a lâmina do sol detém os próprios raios de sol em seu interior. Isso significa que ele poderia sobreviver ao sol? Não, deve resistir por alguns minutos, mas deve acabar virando pó se a exposição for grande demais.”
Mana elétrica carmesim começou a percorrer o corpo de Coen e uma espada de raios carmesim ganhou forma em suas mãos.
“Não importa o que ele fizer, o resultado dessa luta já foi decidido quando eu me tornei o seu oponente!”
[Senhor dos relâmpagos.]
As nuvens acima deles começaram a ficar carregadas, e trovões ribombaram ao redor, trovões carmesim. As nuvens cobriam toda montanha e além dela, iniciando uma rigorosa ventania, fazendo trovões caírem pelo vale nevado como chuva, destruindo partes das montanhas ao redor, causando avalanches devido aos barulhos ensurdecedores.
“Certo, tudo que preciso é de um golpe certeiro”, pensou Coen cerrando o punho sobre sua espada carmesim, “Se eu banhar a lâmina do Sol com mana no momento do ataque certeiro, consigo decapitá-lo, e em teoria, ele não poderá voltar a vida ao ser decapitado por essa lâmina que detém os raios do próprio sol”
Com as mãos nos bolsos, Graff recolheu suas asas e ficou em cima de seu círculo mágico, observando as nuvens carregadas e a chuva de trovões.
— Hehe, vai focar tudo em um único ataque, Errante? Como se eu fosse deixar! — Tirando as mãos dos bolsos, Graff cerrou o punho direito, e em seguida ergueu o indicador e o mindinho. — O mundo teme a minha ira, pois galopo sobre tempestades e carrego ventanias e relâmpagos em meus passos, atenda ao chamado do seu senhor, fera que devora divindades!
O céu estava coberto por densas nuvens escuras, anunciando uma tempestade iminente, quando Coen testemunhou um evento que jamais esqueceria. Um círculo mágico, incrustado com runas antigas e resplandecente em um tom púrpuro, surgiu no ar acima das nuvens carregadas.
O círculo se expandiu rapidamente, abrangendo toda a extensão da majestosa montanha que se erguia imponente no horizonte.
Em um piscar de olhos, uma sombra colossal começou a emergir do meio das nuvens negras. Coen mal podia acreditar no que seus olhos viam. Era a arcada dentária de uma criatura colossal, uma besta lendária que caía do céu como uma estrela-cadente desgovernada.
— Merda!
Coen esticou a mão e antes de fugir adentrando um portal, seu braço fora decepado por um corte escuro.
“O quê? De onde ele…”
Graff estava na frente de Coen.
O vampiro havia superado o Errante sem esforço algum, demonstrando que sua velocidade poderia até mesmo subjugar a velocidade de um Monarca do Céu.
— Aaaaaa!
A criatura invocada de Coen esticou seus braços na direção de Graff, cerrando toda aquela miríade de braços.
O braço de Coen mal havia sido arrancado, e Graff estava nos ombros da criatura. Com as unhas afiadas, ele atravessou o crânio dela, a despedaçando como se aquele boneco de madeira fosse um aglomerado frágeis gravetos.
Crack!
Os olhos de Coen focaram em Graff que logo desapareceu, tomado por uma sombra que envolveu todo seu corpo.
O som ensurdecedor de rachaduras e estalos ecoou pelo ar à medida que a arcada dentária gigantesca se aproximava do solo.
A criatura colossal caiu com um estrondo ensurdecedor, com sua arcada dentária abocanhando tanto Coen quanto a montanha em um golpe avassalador.
Boom!
O impacto tremendo enviou ondas de choque pela terra, rachando o solo do vale de maneira desoladora. Avalanches de neve foram desencadeadas, cobrindo tudo ao redor em um véu branco e implacável.
A força da queda da criatura fez com que a terra se agitasse como se estivesse em convulsão. Rochas se desprendiam das montanhas, árvores eram arrancadas pelas raízes, e o cenário idílico do vale coberto por neve foi transformado em um caos de destruição.
Graff estava no ar, flutuando com o bater das asas negras em suas costas. Sua visão ficou embaçada, mas ele pôde ouvir os rugidos terríveis da criatura que havia caído do céu. Parecia tão gigantesca quanto os mitos e lendas descreviam, e sua presença era avassaladora.
Aquilo era um basilisco, o maior basilisco de que se havia ouvido falar. Seu comprimento cobria facilmente três montanhas enfileiradas, e sua altura chegava aos 400 metros.
Ele se erguia imponente no horizonte como uma montanha viva e ameaçadora. Sua forma colossal se elevava dos confins da terra, dos contos antigos esquecidos, com suas escamas lustrosas brilhando com uma intensidade dourada à luz da lua.
Suas oito patas esmagavam vales inteiros enquanto suas escamas caíam entorno como chuvas rochosas ao ele sacudir o corpo como um cão.
Enquanto a poeira começava a assentar, Graff pôde observar as consequências devastadoras da queda da criatura.
O vale, antes pacífico e coberto por uma brancura imaculada, agora estava marcado por destruição e caos. Árvores partidas ao meio, rochas gigantescas espalhadas pelo solo e uma trilha de devastação que se estendia além do horizonte.
Após o estrondo ensurdecedor da queda, um silêncio tenso tomou conta do ambiente, mas logo a criatura colossal começou a se elevar do solo, envolvida por um portal de um azul intenso.
Era como se um abismo inescapável a aguardasse do outro lado, revelando um inferno de fogo ardente. O basilisco, junto com árvores e pedaços de terra, foi puxado implacavelmente para dentro do vórtice, como se estivesse sendo devorado por um buraco negro.
O portal parecia insaciável, absorvendo tudo em seu caminho. Quando finalmente desapareceu, a devastação se consumou. Árvores retorcidas desabaram novamente, levando o que restava do vale à completa loucura.
O impacto da criatura e o portal haviam deixado uma cicatriz inapagável na terra, marcando para sempre aquele lugar outrora pacífico.
Boom! Boom! Boom!
Coen estava de pé em cima de um dos seus círculos mágicos, sangrava dos pés à cabeça e seu sorriso estava estampado em seu rosto, o mesmo sorriso de insanidade de seu filho.
— Então você sobreviveu — zombou Graff. — Você é mais resistente do que pensei, mas sua condição não é das melhores.
O sorriso insano de Coen se concentrava em Graff.
Com um movimento determinado, Coen ergueu a palma da mão estendida na direção de Graff, e um círculo mágico deslumbrante surgiu no ar à sua frente. Mas, ao invés das faíscas esperadas, o que emergiu de sua mão foi uma chama ardente e avassaladora.
[Andarilho abençoado pela estrela.]
As palavras ecoaram suavemente em seus ouvidos, mas Graff teve pouco tempo para refletir sobre o que aquilo significava, pois, ao piscar os olhos, Coen já estava com a mão apoiada em seu peito.
Boom!
Uma explosão de luz iluminou os céus como um segundo sol, e da fumaça, Graff emergiu com algumas queimaduras, surpreso com o poder de seu oponente.
“Ele não usou seus portais, então o que foi isso?”, pensou, confuso e intrigado.
Antes que pudesse reagir completamente, Coen estava coberto por faíscas carmesim e desferiu um soco poderoso no flanco de Graff, atingindo um ponto cego.
Bam!
O impacto devolveu o vampiro ao solo em um estrondo ensurdecedor naquele vale já tão devastado. Graff bateu as asas com força, tentando se erguer novamente, mas Coen havia desaparecido, deixando-o confuso e perplexo.
As nuvens, que por um momento haviam se dispersado com a queda do basilisco, começavam a se reunir novamente, trazendo de volta trovoadas intensas e sombras ameaçadoras.
Com a boca manchada de sangue, Graff limpou-a com as costas da mão, enquanto aos poucos começava a compreender a técnica formidável de Coen.
“Ele não está tele portando…”, ele olhou para o tórax e lá estava uma marca da tatuagem de Coen, cravada em sua pele, “Uma magia de condição… entendi, ele está diminuindo a distância entre mim e ele, criando uma distorção no espaço como forma de atalho…”
— Então é isso? — debochou Graff. — Quer me vencer usando a velocidade? — Ele fez outra posição de mãos. As mãos estavam juntas, com os dedos indicadores e médios estendidos e entrelaçados. — Tenho olhado para o oceano cintilante que reflete o passado e o futuro. Minhas visões revelaram tanto esperança como desastre. Clamo pelo poder para alcançar o que não se pode ser alcançado.
Lentamente, um terceiro olho surgiu na testa de Graff, conferindo-lhe uma aparência ainda mais ameaçadora.
Bam!
Com destreza sobrenatural, Graff segurou o poderoso soco de Coen, que ficou momentaneamente surpreso com a rapidez e habilidade do vampiro em perceber e defender um golpe praticamente indefensável.
— Você ainda é lento, Errante! — provocou Graff.
Boom!
Em resposta ao soco bloqueado, Graff desferiu um contra-ataque poderoso, mas Coen pareceu não sentir o impacto, erguendo as mãos em uma posição específica.
“Tsc… esse Errante… o que está tramando!?”
Instantaneamente, dois círculos mágicos se formaram nos flancos de Graff, explodindo com força devastadora.
Boom!
A onda de choque lançou Coen pelos ares, atirando-o longe, e antes que ele pudesse se recuperar, Graff avançou com rapidez e colocou a mão em seu rosto, devolvendo-o ao solo em outro estrondo ensurdecedor.
Boom!
Mas o vampiro não teria muito tempo para comemorar, pois enormes espadas de raios carmesim emergiram da poeira causada pela queda de Coen, avançando em direção a Graff.
Entretanto, o vampiro sorriu e bateu palmas, fazendo com que as espadas desaparecessem em uma onda de choque causada pelas palmas.
Clap!
Novamente, Coen surpreendeu Graff ao aparecer atrás dele em seu ponto cego.
Desta vez, ele empunhava a lendária lâmina do sol, prestes a completar seu ataque. Mas antes que pudesse concluir o golpe, Graff realizou outra posição de mãos, evocando um círculo mágico acima de Coen.
Uma mão cadavérica enorme emergiu do círculo e afundou Coen no chão com uma força inimaginável.
Boooom!
— Não acredito que Morgana foi derrotada por você — zombou Graff. — Seus movimentos são péssimos, e você não aproveita a vantagem que permiti que você tivesse!
Lá em baixo, Coen usava a análise, observando o vampiro enquanto estava ofegante. Era a primeira vez que ele era submetido aquele estado em séculos, e de certa forma aquilo o empolgava.
“Então foi você que matou o Basilisco imperador…” pensou Coen, “pensei que ele estivesse escondido esse tempo todo, mas não, foi você que o matou, não é?”
A densa fumaça começou a se dissipar.
Os raios carmesins envolveram o corpo de Coen, um poder curativo que o deixou completamente regenerado.
Suas tatuagens brilharam intensamente, percorrendo todo seu corpo, exceto por sua cabeça. Seus cabelos escuros se transformaram gradativamente, assumindo um branco tão puro como a neve recém-caída.
Três tatuagens em seu braço esquerdo irradiaram uma luz vívida. Uma serpente feita de mana elétrica branca contornou seu torso. Atrás dele, uma criatura de estatura alta, envolta em um quimono sombrio, tomou forma. Um chapéu de aba larga escondia seu rosto, deixando-o imerso em sombras.
O brilho das lâminas das katanas em sua cintura refletia sua periculosidade, e suas mãos ostentavam uma aparência pútrida e macabra.
Outra criatura surgiu, tão imponente quanto a primeira.
Ela trajava trajes de uma sacerdotisa, com um capuz ocultando seus olhos, deixando à mostra apenas um sorriso gentil. Em suas mãos segurava uma flauta de madeira, cujo material aparentava estar deteriorado, mas ainda assim exibia uma aura poderosa e misteriosa.
— Resolveu levar isso a sério? — provocou Graff. — Já estava na hora!
Coen deu um sorriso de canto e estalou o pescoço.
— Eu só estava me aquecendo, a partir de agora não será tão fácil.
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