Índice de Capítulo

    Colin estava absorto no jogo, sua expressão era um reflexo da intensa batalha mental que se desenrolava diante dele.

    Seus olhos estavam fixos nas peças do tabuleiro, que pareciam ganhar vida sob seu olhar atento.

    A cada movimento de Valagorn, Colin calculava as possibilidades, antecipando as consequências de suas próprias ações.

    Atento, seu dedo indicador pressionava levemente o queixo.

    O silêncio pairava entre eles, apenas os pássaros lá fora marcavam o tempo que parecia se estender infinitamente. 

    Colin sabia que cada jogada era crucial e que não havia espaço para erros. Ele ponderava meticulosamente, considerando não apenas o movimento imediato, mas também as jogadas subsequentes, como um mestre de xadrez que visualiza o jogo muitos passos à frente.

    Do outro lado, Valagorn, com uma postura impecável e uma calma inabalável, observava cada pequeno sinal de decisão no rosto de seu rei.

    “Não há dúvida, ele melhorou muito, mas ainda tem muito o que aprender.”

    Colin fez seu movimento, comendo a peça de Valagorn.

    — Está mais atento — comentou Valagorn, movendo uma de suas peças e finalizando o jogo por meio de uma abertura. — Mas falta administrar melhor as peças, ganhei, novamente.

    Suspirando, Colin coçou a nuca.

    — Nunca te vencerei nisso… é impossível.

    — A vitória, majestade, é como o horizonte; sempre à vista, mas nunca ao alcance. — Valagorn sorriu, os olhos refletindo anos de experiência. — O que importa não é apenas a conquista, mas a jornada que nos leva até ela. Cada peça no tabuleiro tem seu papel, e cada movimento reverbera em consequências imprevistas. Aprender a dançar com as sombras do tabuleiro é uma arte que transcende o jogo; é uma lição para a vida. 

    Com um gesto suave, Valagorn reposicionou as peças no tabuleiro, preparando-se para uma nova partida. 

    — Falou como um mestre agora… — comentou Colin, observando o tabuleiro com um misto de admiração e frustração. — A gente está aqui há quanto tempo? 

    — Duas horas e trinta e seis minutos para ser mais exato — respondeu Valagorn, sua voz calma como um rio antigo.

    Colin, porém, mudou o rumo da conversa, como se uma inquietação o movesse.

    — Enquanto jogava, minha mente estava distraída com outra coisa, algo que venho ponderando antes de chegarmos aqui. Diga-me com sinceridade, o que acha da igreja da deusa da neve?

    Valagorn relaxou em sua poltrona, os olhos fixos no rei. 

    — A igreja da deusa da neve… — Ele ponderou por um momento, como se buscasse as palavras certas. — Uma instituição poderosa, com segredos enterrados sob suas paredes de gelo. Mas, como tudo que brilha, há sombras também. O que você deseja saber, Colin? 

    — O que a deusa da neve representa para você? — perguntou o rei.

    — É verdade, majestade. A igreja da deusa da neve é uma instituição poderosa, com suas próprias regras e ambições. Ela o apoiou até que chegasse ao trono, e sua influência é inegável, especialmente por ser a frente da principal religião do país. Mas compreendo que, às vezes, acordos políticos podem ter consequências inesperadas.

    Valagorn afastou o tabuleiro e serviu chá para ambos. —Está considerando se casar novamente?

    — Não é isso. — Ele olhou para o chá, como se buscasse respostas nas folhas. — Por ser batizado na religião oficial, sinto-me obrigado a seguir suas regras. Mas a verdade é que não creio na deusa da neve. É mais uma jogada política. Além disso, eles querem um acordo para construir templos por todo o norte.

    Valagorn bebeu do chá, pensativo. — Teme que a igreja da deusa da neve ganhe mais poder do que você?

    — Não exatamente. — Colin recostou-se na poltrona. — O que me preocupa é o futuro. Se eu não estiver aqui, os nobres que me odeiam podem tentar um golpe. E suspeito que as próximas gerações também não serão minhas maiores fãs.

    Valagorn sorriu, intrigado. — Já pensando no futuro? Interessante.

    — Sim. — Colin olhou para o horizonte. — E aqui está minha ideia: veio uma leva de Valéria para Runyra, e eles seguem Brighid como uma Santa, quase uma Deusa. A igreja da deusa da neve tem sua importância por causa de Ayla.

    Colin bebeu do chá.

    — E se Ayla se convertesse à religião da Santa de Valéria? — Colin ponderou, como se as peças do tabuleiro estivessem se realinhando em sua mente. — Acho que a popularidade da deusa da neve cairia. No plano astral, entendi o poder da fé… não sei exatamente como funciona, mas crer em algo parece ser uma espécie de magia. Drez’gan, com seus cultistas, é um exemplo disso. Se Brighid fosse esse ponto de foco, eu me livraria da igreja da deusa da neve e ainda fortaleceria minha esposa.

    Valagorn assentiu, criando um silêncio dramático. 

    — Sabe que isso causaria mais problemas internos, certo? — Ele apontou para a xícara de chá, como se a resposta estivesse ali. — Apesar de muitos seguirem a rainha, a igreja ainda tem muita influência. Mesmo que você dê um jeito nos sacerdotes, comprar essa briga não acabará nada bem. Mas entendo o seu ponto.

    — Vou conversar com elas, Brighid e Ayla. — Colin parecia determinado. — Sem falar que há uma universidade enorme sendo construída, onde a base didática serão os livros de Brighid. A longo prazo, isso é ótimo.

    Valagorn tomou do chá. — Por que decidiu mudar a postura, pode me dizer?

    Colin deu de ombros, como se a resposta fosse tão complexa quanto o próprio jogo de xadrez. 

    — O conselho, as novas formas de ensino que estão por vir, minhas esposas, meus filhos… tenho controle sobre tudo isso. Minha palavra é lei. Mas… — ele continuou — é diferente com a igreja e os nobres. Com eles, não há confiança; é apenas troca de favores e política. E quando eu não tiver mais nada a oferecer, eles se voltarão contra mim.

    O elfo do mar suspirou, coçando a ponta do nariz. 

    — O que quer fazer pode ser uma decisão sábia a longo prazo — disse Valagorn —, mas assim que a rainha Ayla fosse convertida à religião da Santa de Valéria, os sacerdotes poderiam fazer a cabeça dos fiéis. Não se esqueça de que você tem o povo, controla o conselho, mas os nobres o odeiam. Nobres raivosos e sacerdotes amargurados podem acabar sendo uma pedra em seu sapato. Runyra é enorme, e uma crise interna poderá fazer tudo isso desmoronar.

    Colin assentiu, alisando o queixo.

    — Então, o que eu faço? Busco harmonia com os nobres?

    O conselheiro Valagorn inclinou-se sobre a mesa de carvalho. Seus dedos longos traçaram padrões invisíveis na madeira gasta.

    — Bom, Brighid tem uma vantagem em relação à deusa da neve — começou Valagorn, escolhendo cada palavra com cuidado. — Ela está viva. Minha recomendação é que ela se dedique ao povo, aos enfermos. Que cure feridas, passe mais tempo com crianças, com o povo. A popularidade dela iria escalar, superando a da deusa da neve. Quando isso acontecer, então faça Ayla, a rainha, se converter. A igreja não terá tanto poder para contestá-lo a essa altura.

    Satisfeito com o que ouviu, Colin abriu um sorriso. — Conversar com você é sempre esclarecedor. Agora tem outra coisa que eu queria tratar exclusivamente com você. É um arquiteto, certo? Ajudou a construir aquela torre onde o encontrei.

    Valagorn assentiu, lembrando-se dos dias em que suas mãos haviam erguido aquelas pedras. — Sim… agradeço por ter me libertado.

    — A universidade terá uma ponte no exército de Runyra. Queria que construísse uma torre para mim. Ela servirá de treinamento para os alunos, soldados e graduados. Pensei em várias torres diferentes, uma para cada nível de árvore e outra para cada árvore.

    Valagorn ponderou a possibilidade, coçando a bochecha com o indicador calejado. — Construir algo assim não é fácil, mas não é impossível. No entanto, creio que levará algum tempo até que eu a finalize.

    Colin se levantou, esticando as pernas. — Tudo bem, leve quanto tempo quiser. Amanhã treinarei com meus filhos, faremos mais algumas partidas.

    — Certo — concordou Valagorn. — Começarei a projetar a torre em breve, e então apresento os rascunhos.

    Após um último aceno, Colin deixou o quarto.


    Safira abriu os olhos abruptamente, como se o próprio destino a tivesse sacudido.

    A luz, suave como um suspiro, infiltrou-se pelas frestas das cortinas, pintando o quarto em tons de melancolia. O cheiro de madeira antiga flutuava no ar.

    — Minha cabeça… — murmurou, tentando reunir os fragmentos de memória.

    As roupas que agora vestia eram diferentes, e ataduras habilmente envolviam seus ferimentos. Alguém a havia cuidado com esmero, como se ela fosse uma relíquia perdida.

    Curiosa, Safira deslizou os pés até o chão macio. O calor da cama ainda a envolvia, como se a própria madeira sussurrasse: “Descanse, pequena viajante.”

    Risadas ecoaram do andar inferior.

    Safira desceu as escadas com passos cautelosos, seguindo o som. E lá, na penumbra da sala, encontrou uma cena calorosa.

    A pequena pixie, Nix, dançava no ar, suas asas iridescentes refletindo a luz. Ao lado dela, uma mulher de olhos profundos e cabelos trançados. E o homem, com mãos calejadas e um sorriso enigmático, observava tudo como um guardião silencioso.

    — Sim — disse a mulher, Yebella, com um tom tão calmo quanto gentil. — Não é fácil, mas a gente se vira.

    Safira piscou, reconhecendo a voz da pixie.

    Yebella acenou para Safira, convidando-a a se juntar à mesa. Uma xícara de chá fumegante esperava, um elixir para a alma cansada.

    A caída se sentou, sentindo-se parte de um conto.

    — Você está bem? — perguntou a pixie, preocupada. — Você dormiu por muito tempo.

    — Eu… eu não sei — respondeu Safira, confusa. — O que aconteceu comigo?

    — Você e sua amiga foram encontradas debaixo de uma nevasca — explicou Wilster. — Nós as encontramos desmaiadas e as trouxemos para cá.

    — Obrigada… — agradeceu Safira. — Acho que… Vocês me salvaram.

    — Não foi nada, só achei estranho alguém do ocidente parar em um lugar como esse.

    “Ocidente?”

    Safira piscou, processando a observação. Então, como um lampejo, uma memória apareceu. Os traços dele eram surpreendentemente semelhantes aos de alguém que ela pensou ter se esquecido, Stedd.

    — Vo-Vocês! — Ela ergueu-se apontando o indicador. — Essa pele pálida, esses olhos vermelhos… são Ubitsys?

    Ambos abriram sorrisos.

    — Achei que nunca fosse descobrir, pirralha.

    — Co-Como sabem quem sou eu?

    Wilster apontou para a pixie com o queixo. — Sua amiga nos contou, mas a vimos no torneio de guildas. — Como você veio parar aqui?

    Safira sentiu uma pontada de dor em sua cabeça ao tentar recordar os eventos recentes. Sua pixie, Nix, também parecia inquieta.

    — Eu… não consigo me lembrar direito. — A caída apertou os olhos, tentando dissipar a dor. — Minha cabeça dói…

    — Magia de bloqueio — disse Nix. — Desfazê-la é como montar e remontar um quebra cabeça centenas de vezes, um quebra cabeça que sempre muda a forma.

    Nesse momento, a porta se abriu, revelando um homem robusto que entrava no recinto. Ele retirou seu casaco grosso e se acomodou em uma cadeira.

    — Parece que nossa hóspede finalmente acordou. — O homem falou com uma voz profunda e tranquila, observando Safira. — Sou Jack, como está se sentindo?

    O olhar daquele homem era familiar, o mesmo olhar de predador de Colin, seu antigo tutor.

    Com o cabelo prateado partido ao meio e barba cerrada, Jack se tornava um homem charmoso, até mesmo sua voz e seu porte contribuía para isso.

    Corada, Safira desviou o olhar, nervosa.

    — E-estou…

    — Que bom, meus filhos devem ter dito que estamos em guerra contra a Encruzilhada, certo? Há um acampamento deles há alguns dias daqui, vamos atacá-los. Queria que você estivesse melhor, desculpe, não somos tão bons com hospitalidade.

    Safira afastou uma mecha de cabelo para trás da orelha.

    — E-eu me sinto ótima, obrigada…

    — Queria ter mais tempo de conversar com você, vocês duas, mas acho que teremos isso depois da missão, alguma objeção a isso, mocinha?

    Safira balançou a cabeça.

    — Na-não, senhor, nenhuma.

    — Muito bem, descanse, tome um banho, partiremos ao anoitecer.

    — Ce-certo…

    Safira, ainda um pouco confusa, olhou ao redor, encontrando-se em uma situação rodeada por mistério, rostos conhecidos e um acolhimento inesperado.

    Nota: Brighid Feita por IA.

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