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    Na suavidade de um crepúsculo que se insinua por meio de cortinas levemente entreabertas, o quarto revela-se. Ali, Colin estava acomodado em uma poltrona espaçosa, vestindo uma regata simples e calças confortáveis, suas mãos repousando relaxadamente sobre os braços da poltrona.

    A sua frente, em poltronas igualmente convidativas, estavam suas esposas.

    Ayla, com uma barriga proeminente, trajava um pijama que abraçava suas formas com gentileza. Seu rosto irradiava uma mistura de cansaço e felicidade, características tão comuns às expectativas de uma mãe prestes a dar à luz.

    Ao seu lado, Brighid exibia a elegância tranquila de um vestido de pijama de seda branca, cujo tecido capturava a luz suave do ambiente, conferindo-lhe um brilho etéreo.

    No fundo, o quarto abrigava três berços, sentinelas de madeira guardando seus preciosos ocupantes. Lá, os bebês repousam em paz.

    Aqueles três agora compartilhavam o mesmo espaço. Colin,

    Decidiu que seria a melhor escolha para que aqueles três passassem horas juntos, e ambas aceitaram sem pestanejar.

    Colin estava sempre pronto a se levantar ao menor sinal de desconforto dos bebês, deixando suas esposas descansarem, já que dos três, ele era o que mais tinha tempo livre.

    No espaço aconchegante, ele revelou sobre seu plano e as conversas com Valagorn haviam deixado Ayla e Brighid com os olhos arregalados.

    — Uma conversão? — A voz de Ayla cortou o silêncio, carregada de ceticismo e uma ponta de desdém, como se estivesse ponderando as peças de um tabuleiro de xadrez em sua mente. — Isso não seria precipitado?

    — Seria, mas ainda é a nossa melhor escolha — Colin respondeu com calma.

    — De fato… — Ayla concordou, a mente já calculando os próximos movimentos, os riscos e benefícios.

    — Sua mãe era da religião da deusa da neve — Colin revisitou um fato, observando atentamente a reação de Ayla. — Quer mesmo fazer isso?

    Ayla, com um brilho calculista nos olhos, não mostrou hesitação. Sua resposta veio firme.

    — Não vejo problema — disse ela. — Mal me lembro dela, e na política não há espaço para sentimentalismo. Se essa é nossa melhor saída, então eu faço.

    Brighid estava inquieta. Reforçar sua posição de Santa criaria um estigma que ela teria que sustentar, afinal, ela seria um símbolo.

    — Brighid — disse Ayla. — Não hesite. Temos que usar as nossas armas, e o plano do Colin é o melhor que temos. Eu adoraria confiar na igreja e nos nobres, mas infelizmente temos que priorizar nossa família.

    Colin inclinou-se na poltrona, tocando as mãos de Brighid.

    — Você não é o Drez’gan, ele seria incapaz de ser amorosa como você é, ser pura como você, gentil, carinhosa, acima de tudo, seria incapaz de amar outra pessoa como você.

    Brighid abriu um sorriso gentil, seus olhos brilhando. Colin não era o tipo de homem que elogiava, mas sempre que o fazia, a deixava toda derretida.

    — Tá… tudo bem, mas o que vai fazer com os sacerdotes?

    — Ainda não me tornei uma sacerdotisa da deusa da neve oficialmente — disse Ayla. — Já que minha indisposição não permite. Você e Valagorn querem deixar as coisas para depois, certo, Colin, mas estamos em um período de transição importante. É melhor que seja feito agora antes que tudo se acalme de vez.

    — Certo, qual o plano?

    Ayla suspirou. — Pensarei em algo, pode deixar comigo. Brighid, não pense tanto sobre isso, e Colin, não dê nenhum passo, a partir de agora sou eu quem agirá.

    — Você está grávida, devia descansar.

    — Estar grávida não me deixa totalmente inválida. Ainda controlo um império de dentro do quarto. Como vai o andamento da enciclopédia, Brighid?

    — Mais algumas semanas e eu termino.

    — Perfeito, a universidade levará cerca de uma quinzena para ser finalizada, e não falta muito para que eu dê à luz a esses dois que não ficam quietos. — Ela suspirou. — Graças aos deuses que estão saindo.

    — Isso é tudo que eu tinha para tratar — disse Colin, indo até Ayla e a pegando no colo. — Deixarei esse assunto na sua mão, Ayla, amanhã irei com Brighid para a creche. Há alguns enfermos lá que precisam de cuidado.

    Ele a colocou na cama com cuidado e Brighid deitou-se ao lado da amiga, cobrindo ambas.

    — Tem certeza de que quer dormir no chão…? — indagou Ayla.

    — A cama é bem grande — completou Brighid. — Não seria incômodo ter você aqui…

    Elas ficaram ali esperando uma resposta dele e Colin suspirou. No meio daquelas duas, seria impossível somente dormir.

    — Tá tudo bem, o chão é confortável, e se precisarem de alguma coisa, eu estarei aqui, podem ficar tranquilas.

    — Você quem sabe…

    Elas viraram-se de costas para a outra e o orbe apagou-se.

    Colin ajeitou no chão, entrelaçando os dedos atrás da cabeça. Naquele andar estavam todas as coisas mais importantes em sua vida, as crianças, seus filhos e suas esposas, e saber que ele sozinho tinha força para proteger todos eles, era reconfortante, bem diferente de anos atrás.

    Afastando seus pensamentos, ele decidiu dormir.


    Na atmosfera sagrada de uma igreja cheia, a solenidade da missa era tecida com fervor e devoção.

    Os vitrais coloridos filtravam a luz do dia em prismas suaves, pintando o interior com um espetáculo de cores vivas. O ar estava impregnado com o aroma de incenso, que se elevava em espirais finas, misturando-se à melodia suave de cânticos que ressoavam pelas paredes sagradas.

    No centro estava o sacerdote, vestido com suas vestes cerimoniais, comandando a atenção de todos com sua voz sonora e firme.

    Ele movia-se com uma autoridade inquestionável, guiando a congregação através dos rituais e orações com mãos que gestualizavam com fervor.

    Contudo, entre as preces e os hinos, seus olhos eram frequentemente atraídos para uma figura nos fundos da igreja.

    Sedutora, com um semblante que parecia desafiar a solenidade do local, a mulher exibia uma beleza hipnotizante que capturava a atenção inadvertidamente.

    Seu vestido, embora modesto, delineava sua forma de maneira que destacava sua presença enigmática. Sua expressão era um misto de mistério e desafio, como se estivesse ciente do efeito perturbador que exercia, inclusive sobre o sacerdote.

    A missa prosseguiu, com o sacerdote lutando para manter sua concentração, dividido entre suas obrigações sagradas e a curiosidade incitada pela presença daquela mulher.

    Ao término do serviço, a igreja começou a esvaziar-se lentamente, com os fiéis deixando o local em murmúrios reverentes e passos abafados. A mulher, contudo, permaneceu nos fundos, imóvel como uma estátua, sua quietude contrastando com o movimento disperso da multidão que se retirava.

    O sacerdote, após cumprir seus deveres finais e dispensar os últimos paroquianos, permitiu que sua expressão sisuda revelasse a intensidade de sua curiosidade e perturbação interna.

    Com passos decididos, mas marcados por uma hesitação que não ousava admitir, aproximou-se da mulher.

    — Quem é você?

    Ela continuou com seu sorriso sedutor.

    — Me disseram que suas missas eram gratificantes, dá para sentir isso aqui, o quanto o senhor se dedica. — Ela ergueu-se e foi até as portas da igreja, fechando-a. — Acho que o único erro de vocês foi tentar parecer maior do que realmente são.

    Nervoso, o sacerdote engoliu em seco, dando um passo vacilante para trás enquanto a fisionomia daquela mulher mudava agressivamente.

    — Vo-você! — apontou o dedo trêmulo. — Jane, né? A cobradora de impostos!

    — Se lembra de mim? Fico lisonjeada.

    — Colin mandou você aqui para me ameaçar? Saiba que acionarei o alto clero! Ele está quebrando o nosso acordo!

    Com as mãos para trás, Jane aproximou-se, seu andar lento e sedutor.

    — Infelizmente, quando decidi servir ao meu mestre atual, acabei como objeto de toda família… isso não importa, porque quem me enviou não foi ele, e sim Ayla.

    — A rainha? Por quê? Ela já foi autorizada a voltar às missas e até a declararemos uma sacerdotisa.

    — É, mas isso não importa.

    Assustado, o sacerdote virou-se e começou a correr em direção ao púlpito, seguiu a esquerda e adentrou seu escritório, fechando a porta desesperado.

    Correu o olho por seu escritório e, com o que tinha na frente, formou desesperadamente uma barricada.

    Assim que ele acabou, virou-se rapidamente e Jane estava lá, no escritório, com as mãos para trás e um sorriso macabro.

    — Me-merda!

    Suando em demasia, ele começou a remover sua barricada como podia.

    — Demorou, mas meu Colinzinho começou a entender o que é poder de verdade. — Exausto, o sacerdote a encarou, ela estava corada, lambendo os beiços. — É como ver um filho aprendendo a dar os primeiros passos, entende, sacerdote?

    Ele começou a tremer de medo.

    — Po-por favor…

    — É difícil moldar um homem, sacerdote, principalmente aqueles como Colin. Eles nascem, crescem, se prendem a uma ideia limitante e isso os priva de alcançarem seu potencial. — Seus passos cautelosos aproximam-se do sacerdote. — Libertei o Colinzinho, ofereci a ele esse plano inteiro, e ele vai tomá-lo! Não é nada pessoal, sacerdote, é só política.


    Na frente do espelho, Jane ajeitava a batina no corpo do sacerdote. Sua missão havia sido clara, infiltrar-se no alto escalão da igreja da deusa da neve, substituí-los por marionetes que ela pudesse controlar, e no fim fazer todos eles reconhecerem a Santa de Valéria.

    Os grandes templos que serão reconstruídos no Norte serão no nome de Brighid. Ayla projetava que, em alguns meses, a religião da Santa de Valéria seria a maior do continente, e ela esperava que a força de Brighid crescesse exponencialmente como esse novo movimento religioso.

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