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    A cada vez que caminhavam para mais fundo daquele túnel, mais frio parecia ficar. Era difícil controlar os movimentos involuntários do corpo tentando se aquecer. Alunys se abraçava, esfregando os braços para se manter aquecida. Ela respirava cadenciadamente, expelindo um vapor tórrido pela boca.

    Era como se estivessem dentro de um frigorífico. As paredes eram úmidas e a pressão que aquele lugar emitia era assustadora.

    Mesmo sendo em parte ideia dele, Kurth relutava em continuar, mas sua curiosidade era maior que seu medo. Então, ele seguiu adiante a passos lentos.

    De repente, eles foram açoitados por uma intenção maligna que veio do final do corredor, direto da penumbra. Aquela pressão foi como uma brisa, agitando a roupa deles, uma brisa congelante. Foi como se eles se sentissem na toca de um predador poderoso.

    Alunys engoliu o seco e desfez seu orbe, se afundando no absoluto breu. Com a mão próxima aos lábios, ela começou a soprar vapor quente nelas. Mesmo para usuários de magia, ser atingidos por aquilo não foi nada fácil. Todos ficaram tensos, até mesmo Loaus que era o mais determinado em continuar, pareceu relutar por um instante.

    Inclinando a cabeça, Loaus viu uma fagulha de luz no fundo, e prontamente se escondeu em um vão da parede. Alunys e Kurth fizeram o mesmo. Ouviu-se o barulho de rodas e de botas pesadas.

    — Eu disse a você. — disse o magrelo — Aquilo come para um caralho, não demorou um minuto para devorar todos aqueles membros.

    Aqueles dois homens pareciam acostumados à labuta, mal sentiam frio, e se sentiam, não demonstravam.

    Segurando firme a alça do carrinho, o gordo soltava agressivamente a fumaça do cigarro pelo nariz.

    — Não sei porque mantém uma criatura como aquela aqui, ainda bem que ele está preso.

    — Não esquenta, ainda temos que alimentá-lo mais quatro vezes antes de irmos para casa.

    Os homens caminhavam tranquilamente, quando olharam para o lado, vendo Kurth iluminado pela pouca luz da vela. O corpulento se assustou e soltou o carrinho de mão, caindo de costas no chão. O magricela saltou para trás pegando o cutelo da cintura.

    — Q-Quem é você? — perguntou o magrelo.

    Kurth nada disse, seu olhar sério fez aqueles dois homens tremerem de medo. Virando a cabeça, Kurth olhou para o fundo do corredor escuro.

    — O que guardam lá?

    — Por que não tenta descobrir? — disse o magrelo girando o cutelo e partindo para cima de Kurth com um golpe rápido.

    No nível atual de Kurth, um golpe bem-dado poderia matar um humano comum, mas ele se conteve. Apenas desarmou o magricela dando-lhe um golpe no pulso. O cutelo cravou no chão. Aquele homem berrou de dor enquanto segurava o próprio pulso.

    O corpulento se levantou e tornou a correr para o fundo do corredor. O cutelo que o magricela havia soltado estava fincado no chão de ladrilho ao lado do pé direito de Kurth. Ligeiro, Kurth apenas chutou o cabo do cutelo e ele girou, raspando na perna do corpulento, fazendo-o desabar no chão úmido.

    — É melhor vocês não fazerem nada! — disse Kurth — Eu não quero machucar vocês. — Kurth olhou para o magricela — Levante e me leve até o fundo do corredor, quero ver o que tem lá.

    Eles não poderiam mais retroceder.

    — Quem é você para decidir isso? — perguntou o magricela furioso — Não passa de um pirralho de merda!

    Em passou calmos como os de um leão, ao se aproximar da presa já abatida, Kurth ficou ante ao magricela que suava frio.

    — Tudo bem, eu levo vocês…

    — Ótimo, você também, gordão, você vai junto.

    Aquele homem de bunda no chão, estava com mais medo de Kurth do que da própria criatura. Ele estava acostumado com o monstro que mantinha aprisionado, mas essa era a grande diferença. O monstro estava aprisionado, enquanto Kurth estava livre e de pé em sua frente.

    Tremendo, o homem se levantou. Kurth apontou para o corredor com o queixo e eles tornaram a caminhar cautelosamente. O gordão segurava a tocha na frente, e ao seu lado, o magricela caminhava segurando o próprio pulso.

    Como esperado, ficou ainda mais frio e aos poucos, fora revelado uma gaiola enorme de ferro que era iluminada por velas suspensas que pareciam flutuar. Eles passaram por um portal de concreto e ficaram frente a enorme jaula cujo topo estava coberto por selos escritos em línguas antigas.



    O covil dos vampiros estava agitado, em breve o grande eclipse aconteceria e eles estavam conseguindo parar a rebelião humana que já se estendia fazia alguns dias. Mesmo se sentindo confortável, Colin ainda era prisioneiro naquele quarto. Por sorte, Morgana parecia ter uma enciclopédia de histórias, já que ela tinha séculos de existência.

    Ele ouviu histórias de todo tipo. Ouviu ela dizer empolgada quando enfrentou povos extintos, de povos cujo jeito de fazer magia não se igualava a nenhum outro. Até mesmo Eilika estava entretida com as histórias, dava para ver isso pela cauda dela que não parava de balançar.

    Cansadas de brincar com o urso de pelúcia, Brey e Melyssa se juntaram a eles para ouvir as histórias. Por serem crianças, a imaginação delas ia longe.

    Algumas horas após partir, Graff adentrou o quarto, se deparando com rostos que ele nunca viu antes. Num primeiro momento ele não se incomodou.

    — Amigos seus? — perguntou ele a Morgana.

    — Sim! — respondeu ela — Essas são, Eilika, Brey e Melyssa, minhas novas amigas!

    Ele focou seu olhar em Eilika e depois olhou para Colin.

    — É sua pandoriana?

    — Não, eu ainda não tenho um. Ela é só minha companheira.

    Graff assentiu.

    — Entendi, bem, preciso conversar com vocês.

    — Vocês vão brincar de quê? — perguntou Brey a Graff.

    O fato de Graff se parecer com uma criança fazia as pessoas abaixarem a guarda em relação a ele, principalmente as próprias crianças que se sentiam bastante à vontade perto do pequeno Graff. Ele tinha um rosto inofensivo enquanto seus outros companheiros pareciam bem intimidadores.

    — A gente não vai brincar de nada. — respondeu ele um pouco irritado — Os adultos têm que conversar agora.

    — Então você vai brincar com a gente, né? — perguntou Brey encarando Graff com aqueles olhos inocentes.

    Fazendo biquinho, Graff cruzou os braços e virou a cabeça.

    — Depois brinco com você, mas não agora.

    — Tá!

    Graff se moveu para fora do quarto e os outros o seguiram enquanto Brey e Melyssa foram correndo em direção ao grande urso de pelúcia no canto do quarto.

    — É o seguinte — disse Graff — A gente se encontrou com os caídos e chegamos a um acordo.

    Colin ergueu uma das sobrancelhas.

    “Caídos? Como Safira?”

    — O acordo foi o seguinte, a gente dará um jeito nos clãs e encerrar o plano do eclipse.

    Aquilo foi uma surpresa, principalmente para Colin. A principal coisa que martelava em sua cabeça agora era do porquê vampiros da terceira geração concordariam se virar contra sua própria raça. Do que a terceira geração estava atrás para acordar algo daquela magnitude?

    Por outro lado, Eilika viu aquilo de forma extremamente positiva, a única coisa que a incomodava era o fato de terem citado os caídos. Já Morgana continuava neutra. Ela estava ali para acatar ordens.

    — O eclipse é daqui a algumas horas, não é? — Ela olhou para Colin com os olhos brilhando — Vamos lutar juntos, não vamos, Colin? Eu e você contra todos os clãs?!

    Colin engoliu o seco e desviou o olhar.

    — Não acho que eu consiga lutar contra os líderes de clãs…

    Morgana se aproximou dele e pegou suas mãos, o encarando com aquele sorriso de dentes pontiagudos.

    — Deixa comigo! Protejo você se quiser. Viu como sou forte, não viu? Pode deixar que luto contra todos os líderes de clãs sozinha!

    Colin engoliu o seco.

    — Não precisa me proteger, se lutar contra eles, eu cubro você.

    Morgana ficou em silêncio por alguns segundos. Ela soltou as mãos de Colin e virou-se de costas enquanto escondia o rosto vermelho de vergonha. Todos encaravam Morgana com a sobrancelha erguida.

    — Enfim, tanto faz. — disse Graff coçando a nuca — Eu estava ponderando participar da festa, então deixa que dos líderes cuido eu — Ele encarou Colin — Dois terços dos vampiros ainda estão na cidadela, então não pensem que será fácil só porque são fracos.

    Colin olhou para Eilika e depois olhou para porta onde estavam as meninas.

    — Graff. — Chamou Colin — Não sou mais seu prisioneiro, sou?

    Graff deu de ombros.

    — Nunca foi, você só estava aqui porque pensei que você fosse um errante com a chave completa.

    — Eilika! — chamou Colin — Você pode sair daqui e levar as garotas com você?

    — Posso, mas e você?

    — Vou assim que tudo estiver resolvido aqui.

    Eilika fez que sim com a cabeça. Ela se abaixou e enfiou a mão em sua sombra, retirando a mochila de Colin.

    — Suas roupas estão aí! — ela jogou a mochila para Colin — Pode deixar que tomo conta das garotas para você.

    — Conheço uma passagem segura para fora daqui. — disse Graff — posso levá-las até lá enquanto vocês se preparam.

    Colin fez que sim com a cabeça.

    — Eu agradeceria muito.

    — Certo, vamos logo com isso.

    Fazendo que sim com a cabeça, Colin entrou no quarto. Se agachou e chamou as garotas para perto dele. Elas vieram correndo e o encararam com aqueles olhos inocentes.

    — Vocês vão para casa, Potter e os outros estão com saudades de vocês. — Elas olharam uma para outra mal conseguindo conter a felicidade — Vou depois, tenho que resolver uma coisa aqui antes de ir.

    O sorriso de antes naqueles rostinhos cheios de curativos e marcas da tortura de Alistar, se desfez como uma torre de cartas depois de um sopro.

    — Papai… você não vem?

    Colin afagou os cabelos de Brey.

    — Vou em breve, Eilika levará vocês em segurança, então obedeçam a ela, tá?

    Antes de Colin se erguer, Melyssa segurou a manga de sua camisa. Pelas coisas que aconteceu com ela e pelo inferno que passou, ela estava bem mais afetada psicologicamente que Brey. Ela franziu os lábios e começou a escorrer lágrimas por seu olho direito.

    — Não vai… — murmurou ela — Por favor…

    Colin sentiu um aperto no coração ao vê-la daquela maneira. Melyssa havia passado por muita coisa, e Colin se culpava por isso, mais independente de tudo, ele queria que esse episódio com Alistar se tornasse apenas uma memória ruim.

    Ele as abraçou. Mesmo não sentindo golpes físicos devido à sua condição física, ele sentiu aquele abraço, e de todos os abraços que ele havia dado até hoje, aquele foi um dos mais pesados.

    — Vai ficar tudo bem. — disse Colin baixinho — Encontro vocês em breve.

    — Você promete? — perguntou Melyssa passando o braço ferido pelo pescoço de Colin.

    — Eu prometo! — Ele as soltou — Agora vocês vão com Eilika, sejam boazinhas com ela.

    Melyssa limpou as lagrimas com o cotoco do braço e fez que sim com a cabeça. Colin se ergueu e foi para fora do quarto. Suspirou e encostou na parede enquanto coçava a nuca. Pela primeira vez em muito tempo, Colin começou a se preocupar se voltaria vivo ou não de uma batalha. Ele não era do tipo que fugia de responsabilidades, mas começou a sentir um calor no peito que ele não sentia antes e isso o deixou um pouco confuso.

    — Que saco… — murmurou ele.

    — Tá tudo bem? — perguntou Morgana aparecendo do seu lado.

    — Tá… Não precisa se preocupar comigo toda hora.

    — Tem certeza? Posso te ajudar com qualquer coisa, tá bom?

    Colin fez que sim com a cabeça. Analisando melhor a situação, ele encarou Morgana por alguns segundos. De todas as pessoas com quem ele lutou, ela era sem dúvidas a mais forte. Se ele estivesse com ela, então estaria provavelmente seguro.

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