Índice de Capítulo

    Sentado na cadeira de frente para Brighid, Colin estava pensativo. Sua namorada era a prometida de algum rei louco super poderoso, mas isso não era o pior. Ele tentava digerir que ela comandava parte de um exército de almas cuja função era varrer o continente.

    E, de alguma forma, seu destino se cruzaria com o rei. Brighid não falou sobre onde seria essa luta contra o rei, apenas que aconteceria. Outra coisa se confirmou, Colin seria morto por Safira em algum momento.

    Aquele era um futuro que ele ainda planejava mudar.

    Ele cruzou os braços e suspirou, observando Brighid o encarar enquanto ela segurava uma xícara de chá. Colin continuou em silêncio e isso a deixou ansiosa.

    — Tá bravo comigo?

    — Não…

    — Então, por que não disse nada ainda?

    — Estou assimilando a história que você contou, e meu Deus… essa é uma baita história…

    — Sei que parece difícil de acreditar, mas é verdade, estou sendo sincera com você.

    Colin fez que sim com a cabeça.

    — Por que não me disse isso antes?

    — Eu queria dizer, mas fiquei com medo da sua reação…

    Colin estava longe de estar bravo. Sua reação era a de surpresa. Sua namorada era bem mais forte do que ele achou que seria. Se ela não tivesse a maldição de ferir humanos, seu poder poderia alcançar coisas que ele jamais imaginou.

    Ele encarou o rosto gentil de Brighid e achou ainda mais difícil de engolir tudo que ela disse.

    — Acho que preciso de um tempo para digerir tudo isso…

    — Então eu estava certo! — disse Stedd encostado na parede. Ele havia ocultado sua presença com sua árvore. — Você tem pacto com o senhor dos apógrafos, que para minha surpresa é o rei do abismo. Eu disse a você Colin, as santinhas sempre são as piores.

    — E-Eu não sou como eles!

    — Será mesmo? — Ele caminhou para próximo de Brighid — Colin vai enfrentar o rei e a chifruda vai matá-lo. O que mais escondeu de nós?

    Brighid apertou a xícara que segurava e franziu os lábios, desviando o olhar. Ela havia contado tudo que guardou por séculos, a única coisa que Stedd não estava ciente era de que Safira era um caído.

    — Viu! — disse Stedd — Ela ainda está escondendo alguma coisa, não dá para confiar nessa mulher. Vamos lá bonitinha, o que mais tem a esconder?

    — Nada…

    Stedd crispou os dedos e suas unhas pontiagudas se revelaram.

    — Se eu matar a chifruda, então Colin sobrevive, certo?

    Brighid apoiou a xícara na mesa e se ergueu, assumindo um semblante bem sério. Ela não deixaria que Stedd fizesse algo assim.

    — Aí está! — Stedd abriu um sorriso — A verdadeira Brighid! Prefere deixar Colin morrer, não é? Diz a verdade, você nunca se importou com ele!

    Inconscientemente, ela desviou o olhar e recuou um passo. Aquilo não era verdade. Ela o amava, mas também amava Safira. Aquele impasse só a colocava contra a parede. Sua boca abriu, e ela tentou dizer algo, mas não conseguiu. Se afastou mais um passou e levantou as mãos na altura no busto, como se quisesse se proteger daquelas acusações.

    Com apenas aquelas palavras, Stedd havia a deixado pensativa. O destino dizia que Safira não só mataria o homem que amava, mas que traria uma enorme catástrofe ao mundo. Mas não era fácil presumir que ela era uma pessoa ruim, até porque ambas se davam bem, não só como melhores amigas. Ambas tinham um laço forte, um laço como o de uma mãe e uma filha.

    — Ei, Stedd — disse Colin — Já chega. Não tem nada a ver com se importar comigo ou não, as coisas são bem mais complexas que isso.

    — A é? Então, por que não me conta?

    Colin ponderou que aquela seria uma boa escolha. Stedd era um tanto instável, mas mesmo assim parecia ser uma boa pessoa. Se lançou ao perigo para proteger a honra de Alunys, então talvez ele pudesse confiar o segredo de Safira a ele, mas o melhor era que ele não soubesse, não dessa maneira, não por agora.

    — Não posso te contar ainda…

    Stedd cruzou os braços e fez que sim com a cabeça.

    — Você quem sabe, mas não precisa se preocupar em esconder segredos de mim, eu sempre descubro.

    — É eu sei…

    Stedd encarou Brighid.

    — Eu não farei nada contra a chifruda, não por enquanto, e você mandou bem, subjugou Loafe sem muito esforço. Não esperava menos da prometida do rei do abismo.

    — Eu não sou a prometida dele.

    — Ele não deve achar isso hehe. O que fará, Colin? Imagina quando a criatura mais poderosa do abismo descobrir que você se deitou com a prometida dele? Chuto que ele não ficará nada feliz com isso. Que homem ficaria, né? Hehe

    Esse era um problema que Colin teria que enfrentar. Ele nem conseguiu vencer Loafe em uma luta. Teria que se fortalecer bastante até enfrentar o rei do abismo. Ele encarou Brighid mais uma vez. Colin ainda não conseguiu engolir que ela era tão forte, uma general de alguém que comandava os mortos.

    [Estrondo!]

    Liena e Loaus entraram correndo no apartamento.

    — Onde está Alunys? — perguntou Liena ofegante.

    — Millie tá cuidando dela agora, mas ela tá bem. — respondeu Stedd.

    Enfurecida, ela se aproximou de Colin.

    — Como o senhor deixou isso acontecer?

    — Ei, ei se acalma aí princesa — disse Stedd se erguendo — Ninguém aqui é onipresente. Já está tudo resolvido.

    — Está? Com uma amiga nossa na enfermaria?

    — Mandei os principais líderes deles para lá, então fica calma. Seus amiguinhos ricos vão pensar duas vezes antes de se meterem conosco.

    Suspirando, Liena se sentou no sofá e colocou as mãos na testa. Ela se sentia culpada por não estar lá no momento do incidente. Então sentiu a mão de Brighid sobre seu ombro.

    — Tá tudo bem agora, já foi resolvido. Alunys ficará bem, tá?

    Liena encarou o rosto meigo de Brighid e se sentiu um pouco aliviada.

    — Se é assim, então acho que tudo bem… desculpa senhor Colin, não sei o que deu em mim…

    Colin abanou uma das mãos.

    — Não precisa se desculpar.

    Stedd estalou os dedos e se ergueu, enfiando as mãos no bolso retirando um papel.

    — Já que a gente tá fora da universidade, olha, arrumei uma coisa para a gente. — Ele entregou um papel a Colin e ele o abriu.

    — Como assim a gente tá fora? — perguntou Liena.

    — Fui expulso e vocês foram suspensos. — respondeu Stedd sem cerimônia.

    — Espera, o quê?

    — Uma missão? — perguntou Colin cortando os dois.

    — Não é uma missão qualquer, é uma PUTA MISSÃO!

    Todos olharam para Stedd sem entender nada.

    Stedd olhou para Liena e abriu um sorriso.

    — Uma missão em Rontes, mais precisamente naquele país ao leste que Rontes controla. Seu futuro marido é de lá, princesa Liena. Eu soube que ele é um porco gordo e passa a maioria do tempo fedendo a vinho barato hehehe, ainda bem que não sou você.

    Liena o encarou com o cenho franzido e Stedd ergueu os braços em rendição.

    — Relaxa princesa, é brincadeira.

    — Pare de provocá-la. — disse Brighid como se chamasse atenção de um filho que estava provocando a irmã — Diz logo que tipo de missão faremos em Rontes do Leste.

    — Ganharemos uma fortuna se conseguirmos limpar aquele país pequeno.

    Brighid ficou sem palavras, aquilo era loucura. Uma coisa era ajudar diligências a atravessar Rontes do Leste, a outra era enfrentar as criaturas daquele lugar, um lugar infestado de bruxas, gárgulas, harpias e outros seres horripilantes.

    Parte do treinamento dos guerreiros de Rontes era passar alguns dias em Rontes do Leste. Aqueles que sobrevivessem conseguiam alcançar altos cargos no império militar de Rontes, e para a surpresa de ninguém, somente um número ínfimo retornava.

    Em outros tempos, Leste de Rontes já foi um lugar habitável, mas se reduziu a um lar de criaturas horríveis depois que o mago local teria feito um ritual para liberar algum ser do abismo.

    Haviam rotas de comércio que passavam longe daquele país, passando a quilômetros de distância, pois ataques naquele lugar aconteciam com frequência, e a taxa de mortalidade era bastante alta.

    — Não vamos até lá! — esbravejou Brighid. — Sem ofensas, mas até mesmo os monarcas se recusam a ir naquele lugar. Por que acham que nenhuma guilda de renome aceitou limpar aquele país até hoje? É um lugar difícil de ir, e se formos, provavelmente não voltaremos, não no nosso nível atual.

    — Estraga prazeres… — balbuciou Stedd.

    Brighid não ficava nervosa daquele jeito. Ela aumentar a voz para alguém já era algo bem raro. Colin resolveu levar o que ela disse em consideração, afinal, ela tinha autoridade para ditar o que era e o que não era perigoso.

    — Vamos recusar essa oferta por hora. — disse Colin — Brighid é experiente, se ela disse ser perigoso, então provavelmente é verdade. Amanhã a gente parte em direção ao castelo dos vampiros. Será uma viagem longa, então descansem.

    — Vou acompanhar vocês até a metade do caminho — disse Stedd. — Vou dar uma passada em casa, já que agora ganhei uma folga prolongada.

    Colin deu de ombros.

    — Vai pelo menos voltar para capital durante o torneio de guildas? — Perguntou Colin.

    — Se a suspensão de vocês tiver sigo revogada, então estarei na plateia torcendo para você quebrar a cara do Loafe. E vocês dois — disse encarando os gêmeos — Não vão voltar para o castelo do papai?

    Loaus fez que não.

    — Estamos com o senhor Colin agora. Seria um pouco vergonhoso retornar depois do julgamento.

    — Entendi.

    Stedd se afastou para os fundos, indo em direção a seu quarto.

    — Boa noite, covardes, espero que tenham pesadelos.

    Brighid deu de ombros e se ergueu.

    — Vou pro meu apartamento hoje, arrumar as coisas, espero que não se importe.

    Colin abanou uma das mãos.

    — Pode ir.

    — Vamos com você. — disse Liena seguindo Brighid para fora junto a Loaus, que deu um tchauzinho.

    Colin aproveitou o tempo livre e se trocou. Apanhou sua jaqueta preta e foi com pressa até a biblioteca. Todo aquele papo do país de Rontes do Leste havia o deixado animado de uma forma indescritível.

    Passou pelo bibliotecário que o encarou com o cenho franzido e seguiu para uma sessão no segundo andar procurando por livros que explicavam sobre algumas cidades e países do continente. Andou por um tempo até que encontrou o livro que queria.

    “O pequeno país amaldiçoado de Rontes, segredos e mistérios”.

    Já era quase noite, então a biblioteca estava vazia. Ele se sentou em uma mesa qualquer e devorou o livro em algumas horas.

    Descobriu que Brighid havia falado a verdade, porém, conseguiu uma informação ainda mais valiosa. Há cerca de duzentos anos, os moradores disseram terem visto uma fênix sobrevoando o país. Fênix eram animais místicos tão raros quanto dragões, mas ao contrário dos seres hediondos que circundavam o país, fênix são geralmente descritos como bondosas nas poucas interações que tiveram com humanos.

    “Uma fênix e um dragão…”

    Colin começava a avaliar as opções de seus possíveis pandorianos, mas como sempre, ele queria o impossível. Para achar o dragão ancestral, primeiro ele teria que encontrar a masmorra do infinito localizado em algum lugar do deserto do oriente, e sua desejada fênix estava “supostamente” em um país onde nem mesmo monarcas se atrevem a pisar.

    Perigoso ou não, ele teria que se arriscar, mas primeiro teria que ficar mais forte. Fechando o livro, ele se ergueu. Devolveu o livro a estante e deixou a biblioteca com a mente borbulhando, mas ele precisava passar em um lugar antes de ir.

    O frio começava a ficar rigoroso na capital. Em algumas semanas a neve enfeitaria cada esquina. Colin seguiu pela rua e bateu na porta de uma mansão. A porta se abriu lentamente.

    — Senhor Colin! — disse a empregada — Que surpresa boa, entre!

    — Tudo bem com você, Deb?

    — Comigo, está ótimo, e com o senhor?

    — Tô legal. — Colin retirou o casaco preto e pendurou no cabideiro. Ele ouviu madeiras se chocando e olhou para Deb. — Tem visita?

    — Sim, princesa Lina está lá nos fundos, por que não vai dar um oi?

    Colin retirou as botas e as deixou na porta. Caminhou de meias sobre o soalho de madeira e foi até a sala de estar. Todos os moveis estavam afastados e Lina se vestia casualmente. Ela estava usando saia rodada preta, meias calça e uma blusa de manga longa preta. Em sua mão direita ia uma espada de madeira. A sua frente, Tobi e Potter também empunhavam espadas de madeira, enquanto o resto das crianças estavam afastadas, sentadas no sofá.

    — Se prepare! — disse Tobi, partindo para cima de Lina.

    Ela só deu um passo para o lado e Tobi passou direto, mas não sem antes de Lina colocar o pé na frente para ele cair no tapete e deixar a espada de madeira rolar pelo chão.

    Potter balançou a espada fazendo uma cruz e Lina somente deu um passo para trás. Em uma estocada, Potter avançou e Lina girou sobre o calcanhar, deixando Potter passar direto. Ela bateu com a chapa da espada de madeira na bunda dele e foi a vez dele de cair no chão.

    Lina se virou para sua plateia mirim e fez uma reverência. As crianças bateram palma. Deb e Colin que estavam na porta fizeram o mesmo.

    — Não quer duelar contra mim, cavalheiro?

    — Não! — respondeu Colin — Não quero me juntar ao time dos derrotados. Sem ofensa, garotos.

    — Senhor Colin! — disseram as crianças.

    — Senhor! — disse Potter — Quem é mais forte, você ou senhorita Lina?

    Colin apoiou a mão no queixo pensativo. Ele fez um pouco de drama, mas a resposta era bem óbvia.

    — Lina venceria, mas não seria nada fácil.

    — Eu sabia! — Gritou Meg — Eu te disse, não disse Melyssa? As mulheres são melhores que os homens.

    — Deixa de ser chata! — disse Tobi irritado — Você nem é uma mulher ainda.

    Meg fez beicinho e virou o rosto. Lina levou a mão cerrada aos lábios gargalhando disfarçadamente e Colin abriu um sorriso de canto.

    — O Jantar está pronto! — disse Deb.

    As crianças correram até a cozinha passando por Colin na porta. Sempre, na hora de comer, elas esqueciam de tudo ao redor.

    Brey puxou a saia de Deb e ela se abaixou. A pequena cochichou algo no ouvido da empregada e logo depois saiu correndo para a cozinha.

    — Oi, papai!

    — Oi…

    — Vocês dois — Disse Deb — Venham jantar conosco!

    Lina prendeu o cabelo em um rabo de cavalo.

    — Acho que é melhor eu ir. — Ela disse.

    — Eu insisto, você também, senhor Colin… — Deb limpou as mãos no avental e desviou o olhar — As crianças consideram bastante vocês dois… por favor, só por hoje…

    Depois de um suspiro, Lina deu de ombros.

    — Tudo bem, e você Colin, o que me diz?

    — Vamos lá.

    Eles se sentaram a uma mesa farta. A maioria das crianças sentou em uma cadeirinha. Brey estava sentada no meio. Potter e Tobi não paravam de falar, dizendo a Lina que daqui a alguns anos eles a venceriam em um combate. Melyssa ainda tinha dificuldade em comer com apenas uma mão que não era a sua dominante, e Bill a ajudava com as colheradas e Meg às vezes limpava a boca dela com um babador.

    As crianças convenceram Lina a contar suas histórias de glória, e ela exagerou um pouco sobre si mesma e as crianças acharam aquilo fascinante. Depois foi a vez de Colin contar suas histórias, e ele contou da vez que Lina o salvou do vampiro no ducado, elevando ainda mais a moral dela com as crianças.

    Deb trouxe algumas velas e logo depois apagou os orbes batendo palmas duas vezes. Ela foi até os fundos e voltou trazendo um bolo decorado.

    — É aniversário de alguém? — Colin perguntou.

    — O meu papai! — Brey ergueu os dois braços e exibiu aquele sorriso janelinha.

    — O aniversário dela de cinco anos, na verdade, é daqui há alguns dias, mas como ouvimos os boatos de que viajaria, Brey decidiu fazer hoje, já que você e Lina estão aqui, este é um momento especial! — Respondeu Deb. Ela colocou uma vela na frente de Brey — Faça um pedido, mas não conte para ninguém!

    Brey fez que sim e todos aguardaram ela terminar o pedido. O sorriso em seu rosto era algo genuíno. Ela estava extremamente grata por estar em uma casa quente e poder comer com fartura todos os dias. Ela desejou que aquilo continuasse para todo sempre. Desejou também que Colin nunca a abandonasse e que, se possível, os deuses os abençoassem para que ele salvasse mais crianças que estavam na mesma situação que a dela. Agradeceu também a Lina, que visitava as crianças com bastante frequência e passava horas brincando com elas. Os pequenos a viam como uma irmã mais velha, alguns como Bill e Tobi a viam como uma mãe.

    Por fim, ela assoprou as velas e todos bateram palmas. As crianças se lambuzaram com o bolo, sujando a boca toda de chocolate.

    O bolo estava uma delícia. Colin e Lina repetiram ao menos três vezes. O clima naquela mesa era bem agradável. Aquela era uma das poucas vezes que Colin sentiu seu peito quentinho.

    Depois de mais algumas horas, as crianças se despediram de Colin e Lina com abraços apertados e foram dormir. Brey foi a última a se despedir. Primeiro, se despediu com um abraço em Lina, e logo depois Colin se abaixou para abraçá-la, deixando-a na ponta dos pés.

    — Espera, papai — Ela fuçou no bolso do macacão e retirou um colar relicário banhado a ouro — Toma!

    Colin pegou o colar oval pela corrente e o abriu. Tinha uma foto dela do lado esquerdo e do lado direito tinha a foto de todas as crianças, incluindo até mesmo Deb.

    — Deb disse que o senhor vai viajar, então ela me ajudou a preparar isso. Quando sentir saudade da gente, o senhor pode pegar e olhar a foto, hihi! — Ela terminou abrindo seu sorriso janelinha.

    Colin engoliu o seco. Aquele presente não teve um valor alto, mas para Colin, ganhar aquilo teve um significado infinito.

    Sem dizer nada, ele a abraçou, os dois deram um abraço apertado, carregado de sentimentos, ditos apenas com aquele toque. Para Brey, Colin era o pai que ela nunca teve, e para Colin, ela era a filha que ele nunca teve.

    — Te amo, papai…

    — Também te amo.

    Eles se desvencilharam e antes de Brey sair correndo, Colin afagou os cabelos dela.

    Ele se ergueu e colocou o colar no bolso.

    — Quem diria — zombou Lina — O grande Colin derretido como manteiga depois do abraço de uma garotinha. Eu não sabia que você era tão mole.

    Colin deu de ombros.

    — Pois é, coisas como essa costumam me derrubar. Quer companhia até o palácio?

    — Está maluco? Depois de você e Stedd ferrarem com Loafe e seu pessoal, terá sorte se os guardas te deixarem livre. Mas valeu, eu bem.

    Deb se aproximou e se curvou.

    — Obrigada aos dois por virem! Tenho certeza que as crianças ficaram bem contentes.

    — Que isso, Deb, não precisa se curvar. — disse Lina.

    — É — disse Colin, pegando a jaqueta do cabideiro — Isso é um pouco embaraçoso.

    Ela se ergueu.

    — Desculpem…

    — Não precisa se desculpar, só não fazer de novo. — disse Lina — Se cuida, Deb.

    — Os senhores também.

    Colin e Lina se moveram para fora da mansão e olharam aquelas ruas desertas. Com aquele frio, era difícil ver alguém que não fosse guarda perambulando por aí.

    — Até mais, Colin, da próxima vez a gente bebe um pouco.

    — Você vai pagar?

    — Pagar? Onde está o seu cavalheirismo?

    — Eu não sou um cavalheiro, você sabe disso.

    Lina abriu um sorriso e se virou de costas dando um tchauzinho.

    — É, eu sei. Se cuida!

    Colin fez o caminho contrário. Ele estava pensativo. Apesar dos acontecimentos recentes, aquela noite havia sido maravilhosa. Ele se divertiu muito com as crianças, com Deb e até mesmo com Lina. Enfiou as mãos nos bolsos e retirou o colar que Brey havia lhe entregue. Ele o abriu, abrindo um sorriso assim que avistou a foto dela e das crianças.

    Mesmo que o momento fosse agradável, ele ainda estava com uma pulga atrás da orelha. Ele tentava ignorar o que sentia, mas aquilo pulsava do fundo de seu âmago. Algo dizia que toda aquela felicidade que vivenciou momentos atrás, não passou de uma grande festa de despedida.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota