Índice de Capítulo

    Uma semana já havia se passado desde a chegada de Colin e seus amigos ao castelo do conde Graff. Eles já estavam familiarizados a todo ambiente que os cercava. Passavam bastante tempo treinando e pouco tempo praticando seus passatempos. Até mesmo Alunys havia dado certas pausas em suas leituras para se dedicar de corpo e alma ao treino.

    Sentada em um banco de concreto, Safira observava o céu estrelado. O céu estava tão cheio de pontinhos brilhantes que era fácil se hipnotizar ao encarar aquilo.

    Olhando para o lado, ela viu alguém se aproximando.

    Como quem não queria nada, Kurth sentou-se ao seu lado e ergueu a cabeça olhando para o céu.

    — É bonito aqui, não é? — Ele perguntou um pouco nervoso.

    — Sim. — Ela respondeu sucintamente.

    Kurth engoliu o seco.

    — Já faz um tempo que a gente não se fala…

    — Claro, você ficou viajando com Colin um tempão.

    Mesmo sem querer, Safira o cortou.

    Hehe, é verdade. Até que foi divertido…

    — Imagino.

    Kurth não sabia o que dizer. Safira era o tipo de garota que era grossa sem querer ser. Mesmo sendo colegas de equipe a quase meio ano, os dois não se conheciam tão bem assim. Kurth a achava bonita, e ele era um adolescente. Seus hormônios estavam a flor da pele.

    Pigarreando, ele virou a cabeça a olhando nos olhos.

    — Legal que o senhor Colin e senhorita Brighid estão juntos… fiquei muito feliz quando soube.

    — Fiquei feliz por ela, mas isso não foi muito bom para mim.

    — Por quê?

    Ela deu de ombros e olhou a grama abaixo de seus pés.

    — Brighid está sempre com Colin e Colin está sempre com ela. Eu tinha saudade quando tinha os dois para mim… não sei se vai entender.

    Kurth assentiu.

    — Entendo, sente que eles deixaram você de lado, né?

    Safira franziu os lábios.

    — É, mas não gosto de dizer coisas desse tipo, me faz parecer mesquinha. Eu os amo, mas… não me sinto incluída no plano deles, me entende? Digo… no futuro eles podem acabar ficando juntos, construir uma família e eu farei o que na vida deles além de atrapalhar?

    — Não acho que eles vejam dessa forma. Senhor Colin e senhorita Brighid estão sempre fazendo o melhor para que todos se sintam à vontade. Eles devem ver você como uma filha.

    Safira abriu um sorriso de canto de boca e assentiu com a cabeça.

    — Acho que você tem razão. Desculpa dizer essas coisas para você, mas é que Alunys agora parece que arranjou outra melhor amiga e mal fala comigo.

    — Está falando de Liena?

    — Sim, ela só fica junto daquela princesa mimada. E ainda por cima vivem de sorrisinhos e risadinha. Entende o que quero dizer, né? É como se todo mundo me abandonasse, me deixando sozinha.

    Aproveitando o momento, Kurth arredou um pouco para o lado, ficando quase colado a ela.

    — Eu não abandonei você…

    Safira franziu o cenho.

    — Abandonou, sim, parece que o outro príncipe roubou você também. Vive andando com ele para cima e para baixo, nem se lembra que eu existo. Aliás, é um milagre você está aqui conversando comigo e não com um daqueles gêmeos mimados.

    Kurth olhou o céu mais uma vez e abriu um sorriso.

    — Tem coisas que dá para se fazer com você e que não dá para fazer com eles.

    Safira ergueu as sobrancelhas.

    — Tipo o quê?

    Kurth olhou no branco dos olhos dela. Engoliu o seco e franziu os lábios. Então avançou dando um selinho na amiga, um selinho bem rápido.

    Ele ficou a encarando, observando o rosto de Safira assumir um semblante de surpresa para um de fúria em fração de segundos. Num movimento rápido, ela deu um tapa na cara de Kurth, quase o jogando no chão.

    Ele achou a atitude compreensível, mas aquele tapa o pegou de surpresa.

    — Porque fez isso? — ela perguntou furiosa.

    Kurth alisou a bochecha vermelha e desviou o olhar.

    — Bem… achei que podia…

    Safira se ergueu.

    — Nunca mais faça isso!

    — Não precisa ficar tão brava, foi só um beijo… e eu gosto de você, desde a primeira vez que a vi na prova de seleção…

    — Mas eu não gosto de você!

    Safira não disse mais nada, se virou de costas e saiu batendo os pés. Kurth coçou a nuca e suspirou. Aquelas últimas palavras o machucaram, mas ele não iria desistir tão fácil depois de uma primeira rejeição.





    Brighid estava mais ao longe meditando com Lei Song de frente para um lago cristalino iluminado pela luz da lua. Depois de uma semana ela conseguia sentir bem sua árvore de mana e conjurar magias básicas sem muito problema. Seu povo se acostumou a seguir uma meditação rigorosa, então a concentração dela só deixava tudo mais fácil.

    — Acabamos por hoje. — disse Brighid desfazendo a posição de lótus e erguendo-se devagar — Onde aprendeu a meditar assim? Sua concentração é excelente.

    Lei Song se ergueu.

    — Passei minha infância com os monges do meu país. Meu pai sempre disse que bons líderes não são apenas fortes, mas sim sábios.

    — Seu pai tem razão, mas mesmo assim, estou impressionada.

    Lei Song abriu um sorriso, se sentindo extremamente grata em ser elogiada por uma usuária tão experiente em magia quanto Brighid.

    — Aprendi a meditar com os monges da floresta de bambu. O monastério só aceitava meninos, e não abriam exceção nem para a filha do imperador. Tive que raspar a cabeça e me disfarçar.

    Brighid pegou os lençóis no chão e elas lentamente começaram a se afastar.

    — Os monges Shumi, não é? Ouvi falar que eles eram bem durões. É uma pena o que aconteceu. Eu soube que o processo de seleção deles é bem rígido.

    O hanfu de Lei Song parecia brilhar com o toque da lua. A parte superior era branca e a inferior era rosada. Seu cabelo preto estava preso em uma trança que cobria toda sua costa.

    Brighid já preferia algo mais solto, como uma camisa branca que era tão grande que tapava o seu short curto, dando para ver só as bordas pretas dele.

    Ele pegou a camisa emprestado de Colin, mas àquela altura ela já podia se considerar a nova dona. Assim como Lei Song, ela preferia treinar de cabelo preso em uma trança. Isso ajudava a meditar, evitando colocar mechas atrás da orelha o tempo todo.

    — Sim, para me aceitar como aluna, tive que meditar durante cinco dias e cinco noites dentro de uma caverna, sem comida e nem água. Quase morri. — Lei Song coçou a bochecha abrindo um sorriso — Fui expulsa quando descobriram que eu era uma garota, mas deu para aprender muitas coisas.

    — Como o quê?

    Elas calçaram seus chinelos de palha e pegaram a trilha de volta ao castelo.

    — Eles lutam bem, seus corpos são treinados desde que eram crianças, além de saberem usar os mais variados tipos de armas. Cresci… tive afazeres no império de meu pai e deixei os ensinamentos dos Shumi de lado. Mas parece que é algo que está enraizado em mim, devo conseguir entrar em forma em alguns meses.

    Há alguns anos, Brighid ouviu sobre os ataques aos Shumi quando era prisioneira de uma trupe de circo. Ataques que tiveram centenas de vítimas.

    — O monastério foi atacado algumas vezes, certo? Eu soube que dissolveram os Shumi depois disso.

    Lei Song assentiu.

    — Bem, as outras dinastias os enxergavam como possíveis inimigos que poderiam ser um empecilho, então eles sofreram diversos saques e ataques. O imperador do leste, Hei Lee, ordenou a execução de todo monge que soubesse a arte de combate dos Shumi.

    Brighid fez que sim. Hei Lee não era um nome estranho para ela. Foi então que ela ligou os pontos.

    — Hei Lee não é aquele cara que controla a irmandade dos corvos?

    Lei Song assentiu com a cabeça.

    — Eu soube que eles fizeram um grande forte neste continente após massacrarem o povo dragão. Qual mesmo o nome deles?

    — Asmurgs?

    Lei Song estalou os dedos.

    — Isso! Aquela garota é uma, não é? Uma Asmurg?

    — Ela é. Diria que também é uma sobrevivente do tal massacre…

    — Sinto muito…

    Brighid abanou as mãos.

    — Tudo bem…

    O silêncio reinou por alguns segundos. Mas se tratando das duas, momentos de silêncio eram raridades. Ele somente imperava nas meditações, mas tirando isso, as duas adoravam conversar. Brighid falava sobre o continente, sobre seu conhecimento, sobre seu lar e histórias do passado. Já Lei Song falava abertamente de sua cultura, seu povo e sobre experiências que viveu sendo a filha do imperador.

    Lei Song às vezes observava Colin e Brighid conversando entre si. Ela achava lindo como os olhos de Brighid sempre brilhavam quando ela estava perto dele. Chegava até ser esquisito como o sempre sério Colin desarmava sua guarda por completo quando Brighid estava por perto.

    Ela nunca se apaixonou ou gostou de verdade de alguém. As uniões, matrimonias que viu, não passavam de uniões arranjadas para manter a linhagem da família real. Até mesmo entre os camponeses era difícil de se ver uma relação genuína. Por seu país estar sempre em guerra, era comum maridos oferecerem dotes aos pais de esposas para se casarem.

    Dificilmente os casais gostavam de verdade um do outro e raramente se via felicidade genuína ali.

    O casamento de seus pais eram um exemplo perfeito disso. Eles mal se falavam, e quando falavam eram sempre assuntos relacionados a política. Ela nunca ouviu sua mãe dizer amar o seu pai, e nunca ouviu seu pai dizer amar sua mãe. Era um casamento bem frio e distante.

    A cada dia que passava ela se surpreendia com aqueles dois. Havia uma diferença gigantesca de habilidade entre eles. Em sua terra natal, era o homem que precisava ter mais status e ser mais forte que sua parceira, mas ali era justamente o aposto, e isso a deixava intrigada.

    — Como se conheceram… Você e o senhor Colin?…

    Brighid abriu um sorriso de canto, se recordando do ocorrido.

    — Bem, ele me salvou de um nobre. Eu era bichinho de estimação de um nobre, e então ele e Safira lutaram contra eles e me libertaram. Desde então a gente anda junto.

    Lei Song assentiu.

    — Entendi. Vocês parecem confiar bastante no senhor Colin, mas confesso que ele me dá medo às vezes.

    — Que nada. Ele tem toda aquela marra, mas é inofensivo.

    Elas chegaram até outra área, onde Samantha, Wiben e Liena treinavam com Lestat. Os três seguravam espadas de madeira e seus corpos estavam cheios de vergões devido as pancadas que levaram.

    — Vamos lá garotos, é esse tipo de luta que ensinam na porcaria do império? Até aquela baboseira de mi chi chuan é mais útil do que esse jeito ridículo de lutar de vocês.

    Lestat viu Brighid e abriu um sorriso.

    — Veio se juntar a nós, fadinha? Que tal lutar contra um homem de verdade, hein?

    — Obrigada, mas dispenso. Vim trazer Lei Song para treinar com vocês.

    — Olha só! — disse Lestat abrindo um sorriso de orelha a orelha. — A oriental resolveu colocar a mão na massa. Pensei que fosse só uma imprestável que prefere meditação a uma ação de verdade.

    Brighid deu dois tapinhas no ombro de Lei Song e abriu um sorriso de canto.

    — Mostra para ele quem é que manda. — Sussurrou Brighid dando uma piscadinha para a amiga que abriu um sorriso de canto.

    — Eu ouvi isso! — retrucou Lestat.





    As horas foram passando, consequentemente passaram os dias, as semanas e quando perceberam havia se passado três meses. A interação daquele grupo se tornou algo extremamente natural e todos se respeitavam mutuamente.

    Com professores com mais de um milênio de existência, Lei Song pegou novamente o jeito do seu Ui tuy mhay aprendido na infância com os Shumi. Também despertou para sua árvore da penumbra, subindo um nível por mês.

    Alunys treinava toda noite, e às vezes perdia horas de sono para treinar ao dia. Carmilla foi essencial para seu desenvolvimento e para que a mesma ganhasse a confiança arrancada por Doran. Seu mi chi chuan avançou bastante, de maneira gradual.

    Elhad e Sashri não só ficaram mais fortes, eles também absorveram grande conhecimento arcano de Orlok, que era um vampiro bastante sábio.

    Com a ajuda de Brighid, Kurth conseguiu aperfeiçoar sua técnica de arco e flecha. Ele não só os conseguia criar com magia como conseguia criar outras armas e usar o vácuo para o combate corpo a corpo.

    Samantha, Wiben e os gêmeos também souberam unir bem suas técnicas de combate que aprenderam com Lestat a seu jeito de lutar, já que todos eles optavam por um combate de curta distância.

    Safira, Colin e Leona continuaram treinando com Morgana, que a cada confronto pegava mais pesado com eles. Leona e Colin conseguiram uma sincronia quase perfeita, chegando ao ponto de saber o que o outro iria fazer somente pelo olhar. Já os golpes de Safira ficavam mais brutais, pressionando Morgana em certas ocasiões, mas nada que a fizesse usar toda sua força. Morgana era excelente em combate, e isso fez com que os três precisassem ser mais espertos para saírem de algumas situações.

    Todos estavam se ajudando, progredindo a sua própria maneira. Em algumas noites eles se juntavam em fogueiras e trocavam experiências, às vezes compartilhavam histórias. Havia momentos em que os vampiros se juntavam a eles, e todos se divertiam em grandes banquetes.

    Samantha e Wiben às vezes desapareciam pela manhã, e retornavam horas depois, dizendo que estavam apenas explorando o castelo. E havia momentos que Liena e Alunys diziam que caçariam o jantar e sumiam sem deixar rastro.

    Colin e Brighid raramente passavam um tempo a sós, mas às vezes acontecia de ambos sumirem por aí durante a manhã e antes de anoitecer. Leona estava quase sempre junta de Colin, andando com ele para cima e para baixo. Às vezes ela até relutava em dormir junta das meninas e separada dele. Aquela dependência emocional dos pandorianos a seus mestres era algo bem comum no primeiro ano. Eles eram como crianças que não conseguiam ficar longe dos pais.

    Às vezes, antes de dormir, Safira pensava no beijo de Kurth e ficava confusa. Uma parte dela estava furiosa, a outra parte queria outro beijo como aquele, não só isso, ela queria algo mais intenso. Com quase quinze anos, ela era uma adolescente. Assim como Kurth, seu corpo estava mudando rapidamente, e ela havia entrado na transição de garota para mulher.

    Uma característica desta transição eram seus chifres, que caiam na adolescência e começavam a crescer quando os Asmurgs estavam prestes a entrar na fase adulta.

    O corpo dela começou a ansiar por coisas que nunca ansiou antes. Seus desejos passavam a ser outros além do combate. Havia momentos que nem mesmo ela sabia o que queria.





    Com o passar dos dias, o outono se foi, e enfim, chegou o rigoroso inverno. Tanto Safira quanto Kurth haviam crescido neste meio tempo, tanto fisicamente quanto mentalmente, mas os dois raramente ficavam sozinhos em algum lugar.

    Ambos se sentiam estranhos, sentiam até mesmo vergonha de cruzar olhares. Eles estavam morando naquele castelo, mas depois de um tempo desde o começo do treino, cada um focava no que achava melhor.

    Haviam grupos que passavam mais tempo juntos, outros, raramente se falavam, mas sempre havia uma confraternização que reunia todo mundo ao menos uma vez por semana.

    A floresta estava pintada de branco, e no meio dela, Colin cutucava uma minúscula fogueira com graveto para que o fogo não apagasse.

    Mesmo bem agasalhado, ele soprava o ar quente nas mãos.

    Leona estava logo a frente. Como Colin, ela estava bem agasalhada, mas não estava tão incomodada com o frio. Cantarolando, ela fazia um boneco de neve.

    A pandoriana também havia crescido e o corpo dela havia entrado na puberdade aceleradamente, pois Colin havia ficado mais forte. A força de Colin refletia diretamente no corpo de sua pandoriana. No momento, ela parecia ter seus treze anos e estava com três caudas.

    Crack!

    Colin se virou e viu Safira se aproximando. Ela vestia um grande casaco de pele e estava com cachecol sobre o pescoço.

    Se aproximando, ela estalou o dedo e a fogueira de Colin cresceu.

    — Valeu… — gracejou Colin.

    Ele se sentou em um tronco de madeira e ela sentou-se a seu lado enfiando as mãos no bolso.

    — O que vocês estão fazendo? — ela perguntou.

    — Eu… estou tentando não morrer de frio.

    — Por que não fica no castelo que é mais quente?

    Colin deu de ombros.

    — Gosto daqui. Com a chegada do inverno ficou bem silencioso.

    — Entendi…

    Colin ergueu a cabeça e a encarou nos olhos.

    — O que foi?

    — Não é nada… eu só… não sei…

    — Diz logo.

    Ela suspirou e manteve os olhos nas chamas.

    — Acho que tem algo de errado comigo…

    — Como assim?

    Safira se sentia um pouco constrangida de falar sobre ela ou como se sentia. Se sentia mais à vontade para conversar sobre isso com Brighid, mas a amiga estava sempre ocupada, e ela não queria incomodar.

    — Bem… eu sei que estou crescendo, mas não sei se esse tipo de coisa é normal… Às vezes estou sozinha na banheira, e começo a pensar em coisas e meu corpo fica quente. — Ela franziu os lábios e tirou as mãos do bolso, apoiando-as um pouco abaixo do umbigo — Vem uma vontade enorme de fazer algo para fazer o que sinto ir embora, mas eu não sei o que fazer…

    Colin engoliu o seco e focou nas chamas. Para ela vir até ele com esse tipo de assunto, só poderia significar que ela estava mesmo desesperada.

    Aquilo era um pouco constrangedor, ainda mais porque ele não sabia explicar o que ela estava sentindo, apesar de ter a ciência do que se tratava.

    — Eu… — murmurou Colin.

    Antes que pudesse continuar, Safira prosseguiu.

    — Há alguns meses, eu… e Kurth…

    Leona parou de fazer o boneco de neve e se virou, prestando atenção na conversa. Naquela fração de segundos que Safira levou para terminar a frase, Colin começou a pensar coisas absurdas.

    “Há alguns meses… ela e Kurth…”

    Os olhos dele se arregalaram ao ver que ela estava com a mão no ventre. Leona cruzou olhares com Colin e os dois olharam para Safira.

    — Você está grávida? — perguntaram ao mesmo tempo.

    Quem se assustou com aquilo foi Safira.

    — C-Claro que não! Eu não… “coisei” com ele, foi só um beijo!

    Suspirando, Colin apoiou a mão no peito e abriu um sorriso sem graça.

    — Menos mal… eu já estava quase infartando aqui.

    — Tá gostando do Kurth? — perguntou Leona, cara a cara com Safira.

    Ela quase caiu para trás de susto.

    — Ei! Não devia se aproximar das pessoas desse jeito, quase morri do coração!

    — Tá, tá desculpa. — Leona se sentou do lado de Safira e abriu um sorriso — Tá gostando dele, né?

    Envergonhada, Safira desviou o olhar.

    — E-Eu não sei se é o mesmo “gostar” do Senhor Colin e da Senhorita Brighid! — gaguejou. — F-Foi só um beijo e nada mais, a gente nem tá se falando…

    — Ei, Leona! — disse Colin — A deixe em paz, desse jeito você só vai deixá-la nervosa.

    — Tá, desculpa…

    Colin coçou a nuca e suspirou.

    — Se você gosta dele, por que não fala com ele? Vejo que vocês estão bem distantes naqueles jantares semanais. Na verdade, você passa bastante tempo sozinha.

    Safira engoliu o seco e seus olhos se concentraram na fogueira.

    — Alunys só treina, e quando não treina, sai com Liena… Brighid só quer saber de treinar e tem passado mais tempo com Lei Song do que comigo. Mestre Elhad não treina comigo há semanas, e você… parece sempre ocupado com Leona… Eu sei que vocês estão focados em ficar mais fortes para proteger um monte de gente. — Ela olhou para o lado e encarou Colin nos olhos — Entendo vocês… Minha única razão para treinar tanto é para proteger você e Brighid. Eu sei que você vive se metendo em confusão. Brighid não me conta, mas vejo no olhar dela que ela se preocupa bastante com o senhor.

    Colin fez que sim com a cabeça duas vezes e focou o olhar nas chamas.

    — Vou tentar me meter menos em confusão. Prometi isso a ela… Tirando os treinos, a gente não tem passado tempo junto, né? Digo… como forma de lazer… acho…

    Safira franziu os lábios e fez que sim com a cabeça.

    — Falta um mês para o festival de guildas. — disse Colin — Não sei se iremos participar, pois depende de o diretor revogar nossas suspensões. Eu estava pensando em partir mais cedo.

    Ela ergueu as sobrancelhas.

    — Por quê?

    Colin coçou a nuca mais uma vez.

    — Irei até o vilarejo que ajudamos, aquele que fizemos o trabalho com o Bakurak. Preciso de respostas. Quer ir comigo?

    Safira ficou em silêncio por um tempo.

    — Tem certeza?

    — Tenho. Será bom para gente passar um tempo junto. — Colin suspirou — Mas antes se resolva com Kurth. Converse com o garoto sobre seus sentimentos, mas me promete uma coisa?!

    — O quê?

    — Não “coise” com ninguém antes do casamento. E antes que fale de mim, saiba que sou um péssimo exemplo a ser seguido, pergunte a qualquer um.

    Após abrir um sorriso, Safira pendeu pro lado, encostando a cabeça no ombro de Colin.

    — Obrigada por sempre cuidar de mim. Não sei o que faria sem você…

    Ele abriu um sorriso de canto.

    — Provavelmente estaria apanhando feio da Morgana durante os treinos.

    Safira deu um soquinho no braço de Colin e ficou ali, em silêncio, com a cabeça no ombro dele observando as chamas.

    Ela não sabia do porquê relutou tanto em ter uma conversa assim com Colin. Ele continuava o mesmo de sempre, se preocupando com ela mesmo que ficassem semanas sem trocar uma única palavra. O começo da jornada foi somente os dois contra o mundo, e parece que a dose iria se repetir, tirando a parte que agora Leona estava junto.

    Mais nada foi dito ali. Mesmo que eles tivessem bastante assunto para conversar, decidiram conservar o silêncio, aproveitando a companhia um do outro.

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