Capítulo 95 - Contrato
Conjurando uma espada, Colin avançou tão rápido quanto um flash celeste. Girando a espada, ele tentou acertar Jane de todas as formas possíveis, mas ela sempre se defendia com suas patas de aranha.
Mesmo com ela interceptando todos os seus golpes, Colin não podia se sentir mais feliz. A sensação daquela batalha percorria todo seu corpo, a sensação de apostar sua vida em uma batalha, era disso que ele estava sentindo falta.
Jane sentia o mesmo, embora ainda estivesse pegando leve. Seu oponente continuava tentando atacar, indo de um lado para o outro, usando a força, agilidade e tudo que podia.
Os movimentos dele continuavam previsíveis, mas a velocidade dele aumentava aos poucos. Jane esboçou um sorriso de canto.
— Ainda não me disse o seu nome…
Thing!
Com o braço, ela se defendeu da espada de raios de Colin e o rebateu para longe. Colin saltou, avançando em direção de Jane mais uma vez.
Thing! Thing! Thing!
Enquanto seus braços estavam cruzados, as patas de Jane continuavam a defender dos golpes de Colin. Tudo isso enquanto ela achava graça. Ela estava em partes intrigada com aquela perseverança. Se fosse qualquer outro já teria desistido, mas ele ainda insistia em algo visivelmente impossível.
— Garoto… sua mana vai descer até acabar. Não é melhor desistir?
Colin girou a espada, e assim que terminou o giro ela se tornou uma foice.
— Uma foice? Acha que fará grande coisa com isso?
“Esse pirralho está muito confiante” ela pensou “Ele não é como os outros usuários da pujança que só usam força ao invés da cabeça, o pirralho está pensando. Pois bem, me mostre qual o seu plano, garoto, vamos nos divertir enquanto me aqueço!”
Vush!
Colin abriu um sorriso de orelha a orelha e Jane saltou para trás.
As patas dela avançaram contra Colin como se fossem lanças fincando na areia, mas ele se esquivou de todas sem problema. Chegou próximo a Jane e saltou sobre ela, cingindo a foice acima da cabeça e descendo com tudo.
Crash!
Uma das patas dela atravessou o peito de Colin. Jane achou aquilo estranho. Ela claramente o atravessou, mas não sentiu peso e então Colin se desfez em faíscas.
“Um clone?”
Sentiu um arrepio na espinha e olhou para trás. Moveu suas patas para se proteger. Colin saiu debaixo da areia e num único golpe decepou todas as patas de Jane que a protegiam.
“Esperto! Seus golpes anteriores não eram para me ferir diretamente, mas sim para enfraquecer minhas juntas. Muito esperto, eu quero mais!”
Colin levou a foice lá atrás e mirou no pescoço dela. Jane abriu um sorriso de canto. Seu oponente estava ali, entregue de bandeja a ela.
Por um instante, tudo parecia em câmera lenta e ela se sentiu incomodada com aquela sensação de angústia.
“O clone, as juntas, esse garoto se escondeu debaixo da areia para me atacar, mas com certeza ele sabe que sou capaz de me defender disso e isso não vai me machucar. Desde o começo da luta as ações dele foram bem pensadas, então ele se revelar para mim agora também foi algo pensado por ele, certo? Isso é um clone, ou é o verdadeiro? Minhas outras patas não vão se mover tão rápido para me defender disso, terá que ser com minhas próprias mãos! Espera… o garoto está tão confiante que pensa que essa foice pode realmente me matar? Hehe, que besteira… exceto se ele realmente possa… Merda!”
A areia abaixo dela brilhou, e correntes saíram da areia prendendo Jane. Mesmo que não fosse realmente segurá-la, Colin conseguiu a fração de segundo que queria. Jane estava tão atônita que não soube como reagir ao efeito surpresa.
Apertando o cabo da Foice, as veias do braço de Colin saltaram, seus olhos ficaram brancos e ele colocou metade da sua mana restante naquele golpe a fim de cortar Jane ao meio ao som do ressoar de um trovão.
Cabrum!
O estrondo fez poeira subir junto a pedaços de terra. Areia começou a cair do céu como chuva, e continuou caindo por alguns segundos.
Boom!
Jane saiu de dentro da areia enquanto arfava. Suas patas não estavam mais ali. Seu cabelo estava desgrenhado e ela suava como se estivesse em uma sauna. Havia um corte profundo que começava em seu ombro direito e ia até sua cintura esquerda.
Ela abriu um sorriso de canto.
“Muito bom! Um usuário da pujança somado a árvore-do-céu, sem falar que ele é um errante, tá aí uma combinação perigosa. Estranho que ele não usou nenhuma habilidade de errante até agora. Será que ele está me subestimando? Não, não é isso.”
Da poeira, Jane viu Colin se aproximar a passos lentos e focou seus olhos nele. Abriu um sorriso e o encarou de maneira provocante.
— Ainda está viva? — Zombou Colin.
— Acha que sou tão fácil de matar? Sou uma rainha, garoto.
“Acho que está na hora de parar de brincar” Pensou Jane “Mostrarei ao pirralho a força de uma rainha, mas antes preciso descobrir se ele sabe usar portais ou não, então vou pressioná-lo um pouquinho”.
— Reconheço o seu esforço — ela disse — Por isso mostrarei a você a minha verdadeira força, que tal?
Colin não tinha muita mana sobrando.
Usando a análise, ele viu o quanto sua oponente ainda poderia resistir.
HP: 420. 100
MP: 1.750. 320
“Sério? Tudo isso para essa desgraçada nem se arranhar? Acho que não consigo vencê-la sozinho. Talvez se Leona estiver aqui eu consiga. Espero que eles tenham ouvido o trovão e estejam vindo para cá, ou vou me complicar”.
Duas patas saíram das costas de Jane e se tornaram mãos. Nestas mesmas mãos foram criadas máscaras da carcaça de aranhas minúsculas.
As máscaras eram simples, brancas com buracos nos olhos.
— Não me decepcione, garoto!
Jane colocou uma das máscaras e depois colocou a outra por cima. As duas se fundiram ao rosto dela e desapareceram em sua pele.
As duas patas enormes retornaram para dentro de suas costas.
Ela ergueu o indicador na direção de Colin.
Uma chama surgiu na ponta de seus dedos. Aplicando um pouco de magia, o fogo começou a girar em sentido horário, crescendo exponencialmente, como se tivessem tacado gasolina.
— A última vez que usei isso foi quando enfrentei Drez’gan. Usarei o mesmo que usei nele em você. Sinta-se honrado. Esse é o sinal de que reconheço sua força, errante.
Aquele rastro de mana não era só da flama, mas também era do vácuo. Eram magias de tríades diferentes, então como ela conseguia dominar as duas ao mesmo tempo?
— Seja devorado pelo fogo!
[Tormenta do juízo final].
Um círculo mágico se formou na frente do dedo de Jane e um tornado de fogo gigantesco avançou na direção de Colin.
Ainda se recuperando do último golpe, Colin não tinha força para sair correndo, precisava de mais alguns segundos, e infelizmente ele não tinha esse tempo.
Cruzou os braços frente ao rosto e cobriu seu corpo com toda mana que lhe restou. A tormenta de fogo o engoliu e foi além, cruzando parte do deserto até desaparecer no horizonte.
O poder não deixou um rastro de destruição, mas um rastro lustroso. A tormenta era tão quente que conseguiu aquecer a areia a seu extremo, transformando-a em vidro.
Clap! Clap! Clap!
Jane bateu palmas enquanto abria um sorriso de orelha a orelha.
Colin estava ajoelhado com os braços cruzados frente ao rosto. Sua camisa estava destruída e seu corpo cheio de queimaduras superficiais.
Ele queimou o que sobrava de sua mana transformando o corpo em uma super armadura.
“Era mais fácil absorver meu poder como um errante faria, mas ele recebeu todo aquele poder de frente. Ele é bom, muito bom mesmo!”
— Incrível! — ela disse empolgada — Não esperava menos de você, garoto!
Havia manas poderosas se aproximando.
“Se ele é um errante incompleto, então talvez eu consiga tirar alguma vantagem disso, e tem que ser rápido!”.
Erguendo a mão, Jane apanhou outra máscara e a colocou em seu rosto.
Ela levantou o indicador e um círculo mágico lustroso cobriu o castelo e parte do deserto. Gelo começou a se formar na borda do círculo e pouco a pouco uma redoma se formou.
Quem o avistasse de longe veria um globo de neve imenso no meio do deserto.
— Não vai mesmo me dizer seu nome? — perguntou num tom sedutor. — Fui tão boazinha com você até agora. — Ela fez beicinho — Vai mesmo magoar a titia aqui?
“Tsc… Essa desgraçada continua brincando comigo. Essas máscaras… parece que dão a ela a habilidade de um monarca de cada árvore, e para piorar minha mana está zerada. Ela me prendeu aqui para me matar? Não faz sentido, se ela me quisesse morto eu com certeza já estaria. Não sei qual é a dela, mas é melhor eu enrolar até que os outros cheguem.”
Suspirando, Colin se levantou apoiando as mãos na anca.
— Meu nome é Colin, vossa alteza…
Ela deu um risinho de canto.
— Combina com você, mas e então, Colin, o que veio fazer aqui na minha casa além de destruí-la?
Ele deu de ombros.
— Como eu disse antes… preciso chegar ao sétimo fosso. Tem um portal de sétimo nível no meu mundo e preciso fechá-lo fechando o portal do sétimo fosso.
As patas de aranha surgiram novamente nas costas dela e ela rapidamente se aproximou de Colin. Ele se manteve calmo, já que a mulher aranha parecia mais curiosa sobre suas ações do que em querer outro combate.
— Corajoso, mas idiota. Todos os arquiduques dos fossos superiores são antigos reis do abismo. — Erguendo a mão, ela conjurou uma mesa pequena com duas cadeiras de gelo, se sentando em uma das cadeiras, cruzando as pernas torneadas — Desculpa pela barreira, é que senti algumas manas poderosas se aproximando e presumi que assim como você, elas não vão querer papo.
Jane encarou Colin de maneira provocante e jogou uma mecha de cabelo para trás da orelha. Em seguida, apoiou os cotovelos sobre a mesa e entrelaçou os dedos abaixo do queixo.
— Por que não se senta? Quero fazer um acordo com você.
Colin ergueu uma das sobrancelhas.
— Acordo… é por isso que ainda me mantém vivo?
— Por qual outro motivo seria? Vai, senta, temos muito o que conversar.
Depois de coçar a nuca, Colin se sentou.
— Sabia que sou famosa no seu mundo? Vocês adoram venerar coisas, né? Devem ter até estátuas em minha homenagem.
Colin espremeu a vista, encarando o olhar sedutor de Jane.
— Famosa?
Ela fez que sim duas vezes.
— Acho que me chamam de “Entidade dos mil nomes” no seu mundo. Sabe como é, humanos são um pouco exagerados com nomes, mas tenho pacto com algumas pessoas de lá.
A mulher que antes tentou matá-lo parecia extremamente passiva.
— Vossa majestade…
Ela abriu um sorriso e abanou uma das mãos.
— Bobinho, não precisa me chamar assim, só Jane está bom.
— Certo, Jane… Você disse que os fossos superiores são comandados por antigos reis, certo?
— Isso. Depois do meu reino você encontrará o reino de gelo do rei Arthur. Ele é um arrogante, um otário prepotente que se acha melhor do que eu. Acredita que ele disse que sou uma imprestável?
Colin abriu um sorriso de canto.
— A senhora se mostrou bem capaz para mim…
Ela retribuiu o sorriso.
— Não é para tanto, você tem seu mérito. Conseguiu resistir a um dos golpes mais poderosos do meu arsenal.
— Jane… preciso passar pelo portal do seu fosso. Você disse ter um acordo a propor, certo?
Ela não disse nada, só manteve um olhar fixo nele. Incomodado, Colin olhou para o lado.
— Tá com vergonha de mim, garoto? Eu não mordo… às vezes, sim, porque se não morro de fome nesse lugar que não tem tanta abundância de alimento assim. — Ela olhou para cima e depois olhou para Colin — Sabe, nesse momento Drez’gan deve estar de olho na gente, mas ele não deve conseguir nos ver devido à redoma. A projetei justamente para bloquear esse tipo de magia. Para ser sincera, eu não gosto nem um pouco daquele reizinho metido, mas assim que você passar pelo meu fosso, serei morta por algum dos apóstolos dele. Se a gente, os arquiduques, perdem, então não temos mais serventia ao “grande rei”.
Pensativo, Colin apoiou uma das mãos no queixo.
“Se ela não gosta de seu rei, então por que o serve? Medo?”
— Jane… por que serve ao Drez’gan?
Ela deu de ombros.
— Eu não o sirvo, isso aqui é uma prisão. Ele deu os fossos aos reis mais fortes e praticamente nos obrigou a servi-lo. Alguns como Arthur até gostam, e de algum modo conseguem atravessar para o seu mundo.
Ela apontou para o braço dele.
— Você é um errante com a chave incompleta, certo? Isso não deve ser um problema para você, já que provavelmente eu não influenciarei na sua personalidade.
Colin ergueu uma das sobrancelhas.
— Do que está falando?
Ela lançou outro olhar provocante.
— Sabe, há várias formas de evocar demônios. Alguns conseguem com rituais, outros com sacrifícios, mas só seres de baixo nível é que podem ser evocados dessa forma. Sou um ser poderoso, posso fazer coisas que você nem imagina, posso fazer de você um homem poderoso. Sou velha, garoto, mais velha que a queda do véu, eu sei de muitas coisas, conhecimento que seu povo levará séculos para descobrir. O que me diz, quer fazer um pacto comigo?
Em silêncio, Colin pensava em tudo no que ela havia dito. Jane sem dúvidas era forte, mas ele não confiava totalmente nela, afinal, ela era um demônio.
— Farei o pacto com você, mas caso isso aconteça você terá que me obedecer quando for evocada.
Ela deu de ombros.
— Isso já acontecerá normalmente. Apesar de eu ser mais forte, você é a parte dominante do contrato, já que é você quem me evocará.
— Qual o seu plano? Por que quer fazer pacto com alguém como eu?
— Você é diferente dos outros errantes que vieram aqui. Tem um ar tão diabólico quanto os outros, mas mesmo assim continua destoante dos demais… Apesar de uma luta maravilhosa como essa, eu estaria sendo idiota se você virasse meu jantar.
Colin abriu um sorriso de canto e fez que não com a cabeça.
— Por que está mentindo para mim?
Ela franziu o cenho e Colin continuou.
— Você mesma disse que isso é uma prisão, e como sou um errante, posso evocar um ser do seu nível sem muito esforço. Pretende me matar assim que eu a evocar.
O sorriso sedutor dela desapareceu.
— Está dizendo que sou uma mentirosa?
— Talvez, mas tem algo que está omitindo, certo? O verdadeiro motivo disso é que você quer ser livre. Assim continuo minha saga pelos fossos e você se livra de Drez’gan. Em outras palavras, eu sou a chave da sua prisão.
Ela abriu um sorriso de canto e deu de ombros.
— Esperto como sempre.
Colin assentiu.
— Então eu quero colocar algumas cláusulas nesse contrato. O ser evocado estará proibido de mentir ou omitir informações ao evocador. Caso contrário ele sentirá dor extrema. — Ele fez o número dois com os dedos — Segundo, quero submissão total do ser evocado. Nada pessoal, mas não confio em você.
Jane ficou em silêncio por alguns instantes. Eram dois pontos bem pertinentes. Mentir ou omitir para ele não eram um problema, mas a submissão era. Ela já estava sujeita a Drez’gan, não queria estar sujeita a mais ninguém.
Colin percebeu que ela estava relutante e fez o, três com o dedo.
— O evocador poderá retirar as duas clausulas quando bem entender e retorná-las quando bem entender. Porém, durante o período em que o evocador retirar as cláusulas, o ser evocado será impossibilitado de ferir o evocador ou quaisquer seres que tenham vínculo com ele. Você quer ser livre, certo? Esses são meus termos.
Aquilo não era problema, já que ela não pretendia machucar ninguém. Jane não é um demônio sádico que busca a carnificina como outros. Seu objetivo principal era ver um novo mundo através de outra ótica.
— Tudo bem — Ela estendeu a mão com um sorriso no rosto — Me dê sua mão direita.
Os dois ficaram de mãos dadas e correntes feitas de mana saíram dos braços de ambos, se entrelaçando.
— Eu, Arachne Jane, aceito este errante como meu evocador e aceito suas três clausulas deste contrato.
As correntes brilharam intensamente e desapareceram. Jane levou a mão de Colin a sua boca.
— O que você está-
— Assinando o contrato de invocada e invocador.
Nhack!
Ela mordeu o peito da mão de Colin. A pele dele era dura como aço, mas naquele momento pareceu tão macia quanto um travesseiro acolchoado.
Foi a vez dela de dar sua mão para Colin morder.
Num primeiro momento ele achou estranho, mas segurou a mão dela e mordeu do mesmo modo que ela mordeu a sua.
As costas da mão de Jane queimaram, formando o símbolo de uma pequena adaga.
O braço inteiro de Colin queimou, e as falhas em sua tatuagem se fecharam. As costas de sua mão esquerda também queimaram, formando o símbolo de uma aranha junto a outros símbolos rúnicos.
Parabéns! Você completou 90% de sua chave dimensional.
Parabéns! Você desbloqueou a chave de evocação!
Parabéns! Você conseguiu fazer contrato com um demônio súcubo de nível lendário.
Todos os seus atributos subiram 20 pontos.
Novo atributo desbloqueado: Oratória.
Descrição: Será gasto 100 ponto de mana ao usar a oratória em cada ser. O usuário conseguirá ter uma melhor barganha com vendedores e comerciantes em geral, conseguirá intimidar seres abaixo de seu nível e sua persuasão será amplificada.
Bônus: Persuasão aumenta 50% ao tratar com o sexo oposto.
Colin ficou perdido com tanta notificação brotando do nada.
— Súcubo? — indagou encarando Jane — Você é uma Súcubo?
Ela deu uma piscadinha para ele.
— “Sua” Súcubo agora, Colinzinho. Acho que a gente se vê, certo? O portal para o sétimo fosso está nos calabouços do castelo. Irei me esconder, já que Drez’gan virá atrás de mim. Tchau, tchau!
Jane se desmanchou em centenas de aranhas minúsculas e entrou na areia.
Era muita coisa para digerir, mas Colin ficou empolgado com seus novos updates, e rapidamente se apressou para vê-los em sua janela de status.
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