Capítulo 97 - Chamas Azuis
Apesar da vantagem numérica, a desvantagem era evidente. Sua oponente não morria, não importa quantas vezes suas lâminas a atravessassem ou quantas vezes ela fosse desmembrada, Thaz’geth sempre se reconstituía.
Sem perder tempo, Leona e Safira avançaram brandindo suas espadas. As duas eram bem rápidas e eram habilidosas, mas Thaz’geth conseguia ler seus movimentos, não importa o quão rápidas fossem.
Conforme Colin e as meninas evoluíam, Thaz’geth parecia evoluir o dobro.
Mesmo que tivessem mantido o equilíbrio no começo, esse equilíbrio se desfez minutos depois. Enquanto a mana deles descia rapidamente, o contrário acontecia com sua oponente, no qual a reserva de mana pareceu não diminuir em nada.
Bang!
Numa estocada, Thaz’geth lançou Leona longe, mas ela se recompôs e partiu na direção de Thaz’geth mais uma vez.
Thaz’geth ainda tinha vantagem para contrapor a velocidade de seus oponentes, principalmente a velocidade de Colin, então ela decidiu o tirar de cena o mais rápido possível.
Como um habilidoso analista, Colin não conseguia vislumbrar uma vitória.
O problema não era as habilidades de Thaz’geth, e sim sua mana que não saía do lugar. Aquela era uma batalha de resistência que não havia como vencer.
— Leona, Safira! Recuem!
As duas saltaram para longe, ficando ao lado de Colin. Ambas estavam ofegantes e suadas. Thaz’geth não havia derramado sequer uma gota de suor.
— É o seguinte, achem uma saída desse lugar.
— O quê? — disseram as duas ao mesmo tempo.
— Não temos escolha, só estamos perdendo tempo aqui. Thaz’geth não vai deixar vocês simplesmente irem, então vou segurá-la. Cheguem ao vilarejo e avisem Lars. Diga para ele abrir um portal para a capital e peçam ajuda a Lina, Hodrixey ou quem quer que seja.
— Não! — disse Safira olhando para a oponente a sua frente — Você sempre faz isso e fica todo detonado depois. Não quero dizer a Brighid que deixei você para morrer. Vamos ficar e derrotar essa mulher!
— Não seja teimosa, você não percebe que não adianta? Ela acabará nos vencendo pelo cansaço.
— Desculpa Colin, mas não vou obedecer a você.
— Desculpa, mestre Colin, mas eu também não. — disse Leona.
Aquilo deixou Colin furioso. Aquele plano era o melhor a ser executado em um momento como aquele. Se recuassem poderiam ter uma chance com os reforços.
— Que inocentes — disse Thaz’geth — Acham mesmo que eu os deixaria ir embora assim? Parece que está na hora de parar de brincar.
Vush!
Thaz’geth se moveu tão rápido que quebrou a barreira do som. Num movimento rápido, ela rebateu Colin para longe de suas companheiras, fazendo a onda de choque dispersar as duas. Flexionando os joelhos, Thaz’geth avançou indo em direção a Colin, que tentava se recompor.
Ele havia defendido aquele poderoso golpe com sua espada de raios que havia sido destruída no impacto. O golpe também havia sido bem mais forte do que o previsto.
Seus ossos do pulso haviam trincado.
Após um giro no ar, Colin se recompôs e apoiou os pés gentilmente na parede de uma casa de pedra. Um círculo mágico se formou abaixo de seus pés e ele foi de encontro a Thaz’geth.
Cabrum!
O punho de ambos se chocou no ar, se ouvindo o som reverberante de um trovão. Os olhos de Colin arregalaram quando ele pôde confirmar uma coisa que o espantou. O corpo de Thaz’geth também emitia faíscas, porém, elas eram esverdeadas.
Grab!
Agarrando o pulso de Colin com uma mão, ela cerrou o punho livre e socou o rosto de Colin, ouvindo mais uma vez o som assustador de um trovão. Desta vez Colin não conseguiu resistir e seu corpo foi de encontrou a inúmeras residências, fazendo a caverna toda tremer em um estrondo ensurdecedor.
Leona e Safira encaravam aquilo boquiabertas.
Thaz’geth de pé no ar, em cima de um círculo mágico que emitia faíscas enquanto seu cabelo esvoaçava com a brisa que Colin trouxe com seu impacto no solo.
Assim que esticou o braço, sua lâmina negra retornou para sua mão. Assumindo sua posição de saque, Thaz’geth passou o indicador da base até a ponta da espada. Logo toda lâmina foi envolta por raios esverdeados.
Ela cingiu a lâmina que fulgurava como um segundo sol e a desceu, mandando um corte na direção das duas. Aquele golpe foi tão rápido quanto um relâmpago cruzando o céu.
Cabrum!
Pedras caiam do céu e a poeira aos poucos se dispersava. Safira e Leona estavam livres de perigo, enquanto na frente delas estava Colin com os braços cruzados frente ao rosto. Havia um corte que passava por seu braço e ia até seu abdômen, um corte que sangrava demasiadamente.
— Sempre priorizando as companheiras — zombou Thaz’geth — Um verdadeiro cavalheiro. Uma pena que provavelmente você não durará mais que cinco minutos.
Ofegante, Colin olhou para as companheiras por cima dos ombros.
— Ainda tenho um pouco de mana sobrando, então achem uma saída e façam o que eu pedi. É uma ordem!
As duas não retrucaram, apenas fizeram que sim com a cabeça.
Leona foi até a parede de rocha bruta e concentrou mana nos punhos. Já que aparentemente não havia uma saída, então ela criaria uma.
— Está tão desesperado assim, Colin? — Thaz’geth apoiou a espada no ombro — Pode tentar escapar se quiser, mas creio que será inútil. Se quer morrer tanto assim, então posso ajudá-lo.
Zush!
[Julgamento do Monarca]
Como se tele-portasse, Thaz’geth apareceu na frente de Colin. Sua espada se assemelhava a um chicote, e num simples balançar ela o mandou na direção de Leona e ouviu-se mais um estrondo ensurdecedor de trovão.
Cabrum!
A parede que Leona esmurrava quebrou de vez com Colin e ela se chocando. Ambos saíram do outro lado. Rolaram em direção a ponte que ficava do lado de fora daquela estranha caverna.
Leona se levantou com uma das mãos nas costas.
— Colin! Você-
— Tô bem. — disse ele ao lado dela. — Consegui me defender a tempo.
Os olhos de Leona encararam o corpo de Colin e focaram em seu braço esquerdo retorcido como pano molhado.
— Colin… o seu braço…
— Eu sei.
“Que merda, isso tá doendo muito! Acho que se eu arrancasse meu braço sentiria menos dor. Essa mulher parece que não vai nos deixar fugir… Tsc então não tem outro jeito.”.
Escutaram o tilintar de lâminas vindo de dentro da caverna e logo depois Safira foi para perto deles derrapando após um salto. Thaz’geth tinha golpes pesados. Por não ser usuária da pujança, Safira se viu em desvantagem, decidindo recuar.
A reação dela foi a mesma de Leona ao ver o braço de Colin.
— Leona! — disse Colin — Comigo e você atacando juntos tenho certeza que a vantagem física é nossa. Safira! Você tem bem mais mana que nós dois somados. Ataque Thaz’geth sem se preocupar conosco. Não se segure, vá com tudo!
Safira engoliu o seco e fez que sim com a cabeça.
Com a mão direita, Colin retirou a adaga ante magia da cinta e jogou para Leona.
— Leona, vamos!
— Sim, Senhor!
Colin ergueu a mão e conjurou uma espada de raios, a segurando pelo cabo com os dentes. Logo depois conjurou mais uma espada, segurando essa na mão direita.
Cabrum!
Os dois usuários do céu avançaram em velocidade máxima, explodindo o chão onde estavam. Thaz’geth inundou sua arma com mana elétrica e lançou um poderoso corte em Colin. Leona se colocou na frente do golpe e o fez sumir com a espada ante magia. Colin saiu de trás de Leona e cortou o ombro e metade do rosto de Thaz’geth, deixando-a cega de um olho.
Leona avançou pelo ponto cego da oponente e a degolou.
Vush!
Mana saiu do pescoço e da cabeça de Thaz’geth, a reconectando, mas foi a vez de Colin a degolar por trás. Enquanto a cabeça dela ainda estava no ar, Colin aproveitou a brecha e a atravessou na têmpora com a lâmina da boca. Cerrou ainda mais os dentes e girou sobre o calcanhar, jogando a cabeça de Thaz’geth o mais alto que conseguiu.
Safira concentrou mana flamejante em sua espada e lançou centenas de cortes na direção da cabeça de Thaz’geth, repartindo aquela cabeça o máximo de vezes que conseguiu, até fazê-la virar pó.
O corpo de Thaz’geth caiu no chão, soltando a espada.
Apressando o passo, Safira correu até o corpo e saltou.
Era a vez do corpo se tornar pó, mas o corpo se moveu. Em um jogo de pernas ficou de pé e apanhou sua espada, mandando um corte poderoso na direção de Safira.
Cabrum!
Em sua velocidade máxima, Leona ficou frente ao poder e o cancelou com a ante magia. Thaz’geth aproveitou que Colin estava atônito e partiu para cima dele tão rápido que a barreira do som se quebrou.
[Perfura!]
A espada negra de Thaz’geth atravessou o abdômen de Colin e logo depois parte da ponte quebrou devido à quebra da barreira do som, ouvindo-se também um som semelhante ao disparo de um canhão.
Boom!
Colin olhou para Thaz’geth sem cabeça, tentando entender como ela ainda podia ter movimentos tão coordenados estando naquele estado. Ela retirou a espada do abdômen de Colin e saltou para o outro lado da ponte.
Encostando o joelho no chão, Colin golfou sangue e sentiu a visão ficar turva. Suas espadas desapareceram, seu abdômen queimava e sua respiração estava pesada. Tanto Safira quanto Leona arregalaram os olhos. Ver Colin naquele estado foi como ver um ídolo ser destruído diante de seus olhos.
Cof! Cof!
As duas se aproximaram desesperadas e Colin ergueu a mão, sinalizando estar tudo bem. Ele respirou fundo algumas vezes e limpou o sangue da boca com as costas da mão. Depois de inspirar fundo mais algumas vezes, ele se ergueu. Sua respiração estava pesada e se seu ferimento não fosse tratado logo, ele poderia, sim, morrer.
— Quanta resistência. — Zombou Thaz’geth com sua cabeça ainda se reconstituindo — Não esperava menos de um usuário da pujança, mas infelizmente eu ainda não acabei com você.
Boom!
A barreira do som foi quebrada mais uma vez. Thaz’geth apareceu quase instantaneamente na frente de Colin e apoiou a mão no rosto dele, o levando para longe. Ela o jogou para cima, saltou, e num giro o chutou para baixo.
[Estrondo!]
Colin pregou as costas na ponte de pedra e ouviu-se a barreira do som sendo quebrada mais uma vez. Com os dois pés, Thaz’geth atingiu o abdômen de Colin e destruiu parte da ponte quilométrica que não havia cedido por completo ainda devido às centenas de pilastras de sustentação que percorriam toda sua extensão. Colin foi mandado quilômetros a baixo. Parte da ponte cedeu, enterrando Colin na neve.
Thing!
Thaz’geth se virou rapidamente, defendendo-se do golpe de Leona que estava furiosa. Seus dentes cerrados com brutalidade entregavam suas emoções.
Thing! Thing! Thing!
As duas trocaram uma saraivada de golpes, mas Leona não estava pensando direito, deixando seu corpo cheio de aberturas.
Vush! Vush!
Em dois cortes rápidos, Thaz’geth fez cicatrizes profundas no tórax de Leona.
Leona moveu os braços para tentar interceptar sua oponente a tempo, mas não adiantou. Thaz’geth segurou os dois pulsos dela e os torceu, deixando os dois braços de Leona no mesmo estado que o braço esquerdo de Colin. Antes que Leona pudesse gritar de dor, Thaz’geth cerrou o punho e aquela manopla de ferro negro foi enterrado no rosto de sua oponente.
Crack!
O golpe, quebrou o nariz e vários dentes de Leona, mas ela não foi nocauteada com aquilo. Enquanto era lançada violentamente para trás, recuperou o equilíbrio enquanto derrapava. Safira estava sem reação. Seus dois amigos foram vencidos em uma fração de segundos.
Aquela era a primeira vez que aquilo acontecia, ela se recordou do povo do vilarejo sendo massacrado por bárbaros enquanto ela apenas olhava sem ter força para se defender ou ajudar. Diferente da sensação de êxtase que sentia ao lutar, o que ela sentiu foi um tremendo pavor.
Não se lembrou somente da mãe morta no massacre do vilarejo, mas da pequena vila dos Asmurgs, onde seus parentes e seu pai foram brutalmente assassinados. Suas pernas tremeram e a memória da noite em que quase foi estuprada veio a sua mente. Como naquela noite, ela se sentiu impotente, fraca demais para se proteger sozinha.
— Não… não… não… — ela balbuciava enquanto dava passos para trás.
Leona olhou por cima dos ombros, vendo a companheira totalmente em choque. Ela não sabia o que se passava na cabeça dela, então decidiu assumir as rédeas da situação sozinha, mesmo com os dois braços inutilizados.
— Parece que o tal errante já era, e sua amiguinha ali não parece nas melhores condições, nem você. É uma pena que eu tenha que, matar vocês. Sério, vocês tinham potencial.
Boom!
[Perfura!]
Foi a vez de Leona de ser tirada de cena.
A espada Negra de Thaz’geth perfurou seu peito. Leona golfou sangue e tocou os joelhos no chão, perdendo a consciência pouco a pouco.
— Impressionante! — disse Thaz’geth retirando a espada no peito de Leona enquanto ela caia de lado — Você lutou bem, menina raposa. Você e seu mestre. Lembrarei de vocês por toda eternidade.
Abaixando, Thaz’geth a pegou pelos cabelos e a tacou na direção de Safira, que largou a espada e pegou a companheira no colo.
— Seus amigos tentaram fazer alguma coisa, mas você estava aí, mijando nas calças enquanto eles eram derrotados um a um. E ainda é um caído… que piada.
Cuidadosamente, Safira retirou o casaco que usava e o enrolou em Leona, a encostando no corrimão de pedra da ponte.
Ela observou o quão longe Leona chegou. Se ela não desse o máximo de si, então não conseguiria encará-la depois. Ela não poderia depender sempre de Colin ou de seus amigos. Era a vez dela de protegê-los.
Abaixando, Safira apanhou sua espada e suspirou.
— Dar tudo de mim… tá!
— O que está murmurando aí? Está rezando, não é? Não adianta rezar, garota. Os Deuses não atendem preces vindas do abismo.
Safira suspirou. Com o indicador, ela passou o dedo na base da espada até a ponta. A espada se incendiou com uma chama azulada.
“Chamas azuis?” pensou Thaz’geth “É a primeira vez que vejo… tanto faz, a cor não vai mudar o resultado dessa batalha”.
Vush! Vush!
Safira mandou dois cortes em formato de cruz na direção de Thaz’geth. Ela ponderou deixar ser atingida, mas desviou de última hora ao sentir algo estranho. Uma lavareda chamuscou sua bochecha, deixando uma tímida queimadura.
Diferente dos outros golpes na qual ela se curava quase instantaneamente, Thaz’geth não se curou deste.
Abrindo um sorriso, Thaz’geth apertou o cabo da espada.
— O caído da essência das chamas… isso vai ser interessante. Vamos lá, pirralha, me mostre o que sabe!
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.