Capítulo 27 - Então essa é a sensação.
A mana de Colin estava por um fio.
Mesmo após treinar por dias com Safira, uma luta real com inimigos poderosos era diferente de um treino casual. Os músculos de seu corpo estavam começando a latejar e o cansaço já havia o alcançado.
A dor não o deixava pensar direito, sua única opção era ir com tudo para terminar o mais rápido possível.
“Certo, relaxa, Colin, concentre-se e faça como nos treinos. Sinta mana percorrer seu corpo e dê forma a ela com sua mente.”
Faíscas celestes circundavam o corpo de Colin e uma adaga de raios ganhou forma em sua mão direita antes de ele partir para cima de Anton que estava distante.
Ting!
O poder dos dois se chocou.
Anton segurava uma espada invisível com uma linha bem fina saindo do punhal. Por sorte, Colin aprendeu a lutar contra coisas nas quais ele não conseguia enxergar.
O olhar dos dois cruzou-se.
“Não tenho tanta mana sobrando”, pensou Anton, “Parece que o Elfo também não, hehehe!”
Pulando para trás, Colin avançou em uma estocada, mas Anton cortou de cima para baixo, destruindo a adaga de raios que se chocou com sua lâmina invisível.
Ting!
Jogando a adaga que sobrou para sua mão dominante, Colin girou sobre o calcanhar e tentou atingir o pescoço de Anton.
Em um movimento rápido, até mesmo para Colin, Anton agarrou o pulso de Colin e exibiu um largo sorriso. Abrindo a palma da mão, a espada de Anton desapareceu.
Os dois ficaram ali, disputando força. Apesar de ser um usuário do vácuo de nível 7, era quase impossível vencer um usuário da pujança em uma disputa física sem usar magia. Anton apertou o pulso de Colin e o lançou para longe, mas ele recuperou o equilíbrio de imediato.
“Ele parece cansado”, Colin derrapava, “Se eu forçar um combate corpo a corpo consigo vencer!”
Recuperando rapidamente seu equilíbrio, Colin instantaneamente materializou-se diante de Anton, como se desaparecesse e reaparecesse em um piscar de olhos.
Com a determinação estampada em seu rosto, ele lançou um soco certeiro em direção ao rosto de Anton, buscando acertá-lo em cheio. No entanto, Anton reagiu de forma surpreendente, segurando firmemente o punho de Colin, interrompendo o golpe em pleno ar.
Grab!
Desta vez, ele estava notavelmente mais rápido do que antes, superando as expectativas de Colin. Era como se Anton tivesse a capacidade de antecipar os movimentos do adversário, vislumbrando alguns segundos à frente.
“Ele consegue acompanhar minha velocidade?”
Anton aproveitou que seu oponente estava abalado e apoiou sua mão livre sobre o abdômen dele.
[Dança do Deus Vazio].
Boom!
Uma rajada de força incrível, comparável a um tiro de canhão a queima-roupa, atingiu Colin com uma ferocidade avassaladora.
O impacto foi tão devastador que o lançou para trás, rompendo a densa vegetação e fazendo-o atravessar várias árvores como projéteis descontrolados.
Seu corpo foi arremessado impiedosamente em direção a uma área desprovida de vegetação, onde apenas terra batida prevalecia.
Com a certeza de sua vitória, Anton abriu os braços, exibindo um sorriso largo e triunfante em seu rosto.
A expressão de confiança era evidente, refletindo sua convicção absoluta de que havia alcançado a supremacia no confronto. Era como se o resultado já estivesse predestinado
— O que foi?! Achou mesmo que um usuário de nível 2 com uma mana tão merda quanto a sua teria chance contra mim? Que piada! Saia de onde estiver seu rato, ainda não acabei com você!
Colin ouviu a provocação de seu oponente em alto e bom som. Seu corpo estava afundado na lama. Ele estava quase desmaiando.
No meio de um turbilhão de pensamentos, Colin buscava encontrar um meio de derrotar seu oponente, mas a velocidade era seu único trunfo, e Anton conseguia sem muito esforço acompanhar o seu ritmo.
Uma dor lancinante percorreu todo o abdômen, fazendo com que ele se curvasse instantaneamente, dominado pela agonia. A sensação era como se uma lâmina afiada tivesse rasgado seu ventre, deixando um ferimento profundo e sangrento.
Com a respiração ofegante e o coração acelerado, ele baixou o olhar para observar a origem da dor. Seus olhos se fixaram no local do impacto, onde uma ferida aberta jorrava sangue incessantemente, manchando suas vestes e suas mãos.
Movido por uma mistura de surpresa e horror, ele instintivamente colocou a mão sobre o ferimento, buscando conter o sangramento e aliviar a dor lancinante que o dominava. Por um momento, o silêncio foi quebrado apenas pelo som ritmado do sangue escorrendo pelos seus dedos, formando pequenas gotas vermelhas que ecoavam a gravidade da situação.
“Porcaria… preciso pensar em algo…”
— Achei você!
Bam!
Colin ergueu a cabeça sendo recebido com um soco imbuído de mana que o fez rolar.
Ele caiu na terra e rolou até parar de barriga para cima.
Esforçando-se, ele tentou se erguer, mas a dor era forte demais. Anton já havia se aproximado e chutou Colin com tudo na ferida de seu abdômen, fazendo rolar mais alguns metros na terra batida.
— Arrghh!
Colin cerrou os dentes.
Os cerrou tão forte que eles quase se quebraram. A dor era demais para suportar. Ele era só uma pessoa comum de outro mundo que aprendeu magia por acaso.
Ele nada tinha de especial, apenas gostava de fantasiar seus diversos planos, mas entendeu naquele instante que existiam oponentes que não podiam ser vencidos somente com estratégias.
Era necessário força e poder, mas infelizmente Colin não tinha isso no momento.
Aproximando-se, Anton encarava Colin contorcer-se no chão.
— A monarca, ela segue você… por que ela segue um lixo como você?
Colin sentou-se e encarou Anton. Seu semblante estava abatido, mas ele não desfez seu sorriso de canto, e isso irritou o nobre.
— Qual a graça?
Puft!
Colin virou para o lado e cuspiu sangue.
— Você é forte, deu pra ver isso quando vi Brighid naquele estado, é justamente por isso que não posso perder.
Anton cerrou os punhos e ainda mais mana foi concentrada neles.
— Vai vingar a namoradinha? Hehehe, depois que eu acabar com você, será a vez dela!
— Vocês, nobres, tem o soco mais fraco que de uma garota de seis anos.
Crash!
Anton afundou a mão no rosto de Colin.
Após capotar por alguns metros, Colin cuspiu sangue e sentou-se novamente.
— É como imaginei, você é mais fraco que Safira.
Aquela foi a gota d’água.
Com um ímpeto furioso, Anton se lançou em uma investida implacável contra Colin. Seu punho se projetou com violência, encontrando o abdômen do oponente em um impacto poderoso.
O golpe foi tão contundente que Colin foi lançado para trás, desequilibrando-se e capotando no solo.
Num esforço árduo, Colin se ergueu em meio ao tombo, derrapando enquanto tentava se recuperar.
No entanto, antes que pudesse reunir suas forças, Anton o surpreendeu com um soco fulminante no abdômen, seguido por dois golpes impiedosos no rosto. Cada impacto era marcado por um som abafado de contato violento, ecoando pelo ar como um sinal de agonia.
O corpo de Anton estava gradualmente salpicado pelo sangue de Colin, formando uma terrível imagem de violência. No entanto, para a surpresa de todos, Colin não demonstrava sinais de rendição ou fraqueza.
Sua determinação feroz parecia inabalável, alimentando a irritação crescente de Anton, que se via desafiado por tanta resistência.
“Por que esse merda não cai?”, os braços de Anton eram rápidos, atingindo todo rosto e tórax de Colin quase incessantemente.
— Morra de uma vez, Elfo maldito!
Os movimentos de Anton estavam se tornando repetitivos e previsíveis, e era isso que Colin queria. Após levar tantos golpes, ele havia mapeado o estilo de combate de Anton.
Vush!
Ele desviou de um dos socos de Anton e deu uma bela cabeçada no nobre.
Crash!
Anton deu alguns passos para trás e caiu de bunda no chão apoiando a mão no nariz.
— Seu miserável!
Colin apenas sorriu.
“Vou acabar com isso!”
Faíscas dançaram ao redor do corpo dele e Colin desapareceu. Como um raio azul aparecendo e reaparecendo nas árvores, Colin decidiu usar tudo que tinha para liquidar seu inimigo de vez.
Mesmo sendo nível baixo, Colin conseguiu alcançar um nível elevado na manipulação de mana graças as visitas em planos alternativos. Conforme ir de um lado para o outro, concentrava uma energia massiva na mão direita.
Anton levantou-se em fúria.
O dito Elfo estava com uma velocidade impressionante até mesmo para Anton, que segundos atrás conseguia ler os movimentos de seu oponente com extrema facilidade.
Perdido olhando de um lado para o outro, Anton esforçava-se tentando acompanhar sem sucesso com os olhos.
A verdadeira surpresa, era Colin ter mana para fazer algo assim.
— Ainda quer continuar com esse joguinho inútil? — disse Anton furioso. — Não vai me vencer com esse truquezinho de nível 2, já enfrentei Monarcas, já venci Monarcas! Quem você pensa que é? Você é um nada! Um Elfo Negro com uma reserva de mana de dar pena! Não passa de lixo!
Anton estava com medo por não conseguir compreender como seu oponente ainda estava de pé, e isso o levou a tomar uma atitude que raramente tomaria em situações como essa.
Com uma expressão de concentração intensa, ele uniu as mãos em um gesto poderoso.
A partir desse gesto, uma esfera surgiu, emanando uma aura opressiva e avassaladora. Era como se um pequeno buraco negro tivesse sido criado ali, pulsando com uma energia destrutiva que desafiava qualquer medida.
A esfera era um turbilhão de forças gravitacionais inimagináveis, parecendo distorcer o espaço ao seu redor. Sua presença era tão imponente que a atmosfera ao seu redor parecia se curvar e se comprimir, como se cedesse à sua imensa pressão.
O diretor Hodrixey ponderou intervir no combate, já que aquele poder oscilaria sua dimensão simulada, mas ele não impediu o desfecho.
— Está na hora de você conhecer uma magia de nível 7, seu rato! Mostrarei a você o que é poder de verdade!
Colin surgiu na frente de Anton num piscar de olhos, nem mesmo ele esperava por isso.
— Conheça uma magia de nível dois, filho da puta!
Seu braço direito emitia poderosas descargas elétricas, então ele tocou o rosto de Anton.
Cabruum!
Viu-se uma poderosa explosão e faíscas percorreram parte da floresta até desaparecerem.
Não foi como a explosão de Safira, mas para o estado atual de Anton, aquilo tinha a capacidade de deixa-lo em um estado crítico.
Os professores não esconderam o espanto. Até mesmo Hodrixey estava impressionado.
A fumaça baixou, revelando um Anton ainda consciente.
Suas roupas estavam aos farrapos e seu corpo não continha mais que alguns arranhões. Incrédulo com o que via, Colin sorriu de nervoso, mas de sua boca saiu uma quantidade exagerada de sangue. Mesmo para uma pele morena, Colin estava começando a ficar pálido.
Ele perdeu muito sangue quando lutou contra Barone, sem contar que sua mana estava praticamente zerada e seu oponente ainda estava de pé.
Em contrapartida, mesmo que aparentasse estar bem, Anton havia zerado sua reserva de magia por completo.
Ele usou toda sua mana para cobrir seu corpo contra aquele ataque. Por sua experiência em combates, Anton sabia que aquele golpe era sério, portanto, se precaveu com tudo que tinha.
Para sua sorte, Colin parecia nocauteado.
— Você está completamente acabado! — Anton abaixou as mãos. — Descarregar toda sua mana em um único ataque foi burrice, eu venci!
Colin ergueu-se, enquanto gotas de sangue caíam de seus lábios.
Ping! Ping!
— Não se metam nisso! — disse olhando para Safira, que estava há alguns metros atrás de Anton. Ela estava furiosa e se lutasse com um Anton sem magia venceria sem problemas.
Brighid e Kurth chegaram correndo em seguida, horrorizados com o estado agonizante do companheiro.
— Posso curar voc-
— Não! — disse Colin interrompendo Brighid. — Anton não foi curado desde o começo da luta dele com vocês, né? Então continuaremos como está… e vocês não se metam nisso. A luta é entre mim e ele!
Erguendo a sobrancelha, Anton abriu um sorriso de canto.
Ele havia ouvido que Colin era alguém sem escrúpulos, mas resolver enfrentá-lo em batalha após se ferir tanto não era atitude de alguém que faria de tudo pela vitória.
— Quer me enfrentar nesse estado? Então você é mesmo o maluco das histórias! — Anton preparou-se ficando em guarda. — Pois bem, vamos terminar com isso! Apenas eu e você, dois homens resolvendo as coisas com os punhos, que tal?!
— Você não pode lutar contra ele! — Safira ainda estava um pouco tensa. — Olha o seu estado…
Colin fez muxoxo e respirou fundo.
Ele não tinha forças para discutir com Safira. Era sabido que, com seus amigos recuperados, Anton não tinha a menor chance, mas, apesar de tudo, Colin estava se divertindo.
Ele nunca pensou que seria pressionado a tal ponto em um combate. Não saía de sua cabeça que se Anton estivesse 100%, a luta já teria terminado.
— Que saco, Safira, só me obedeça e fique onde está.
— Não é sobre te obedecer, você é sempre imprudente e ignora tudo que está a sua volta! — A voz de Safira estava começando a soar como se ela implorasse. — Eu só não quero que você se machuque mais pra proteger a gente…
— Proteger vocês? Eu não estou fazendo isso por vocês, estou fazendo por mim! — Colin encarou Safira com um olhar furioso. — Então vê se não se mete.
Brighid tocou o ombro de Safira e fez que não com a cabeça. Não importava quanto insistisse, Colin não mudaria de ideia.
Safira mordeu os lábios para segurar o choro e cerrou os punhos, ficando ali, apenas observando Colin.
Para ela, aquilo soou como se tudo trata-se somente dele e sobre as vontades dele. Ela se sentia profundamente magoada, fazendo-a sentir até mesmo um aperto no peito.
Porém, a parte dela que admirava Colin continuava bem viva.
Ela disse para si mesma que Colin estava mentindo, e que aquela atitude imprudente era sim para salvá-la e salvar os outros, afinal, ele sempre se jogava na frente de uma situação de vida ou morte antes de pensar nas reais consequências daquilo.
Depois de não ouvir mais nada, Colin abriu um sorriso de canto. Como líder daquele grupo, ele priorizava que suas ordens não fossem questionadas.
Era a primeira vez que Kurth via algo assim no campo de batalha.
O correto, seria finalizarem o inimigo o mais breve possível. Seu pai havia dito-lhe existirem guerreiros que priorizavam a honra em combate. Esses guerreiros eram poderosos, mas a maioria morria cedo, justamente por manterem a honra em um mundo que já apodreceu.
Isso só fez Kurth ficar confuso em relação a Colin.
Parte disso era por achar Colin imprevisível.
Ele o viu atacar pessoas por trás, usar de truques sujos para liquidar inimigos a distância e fazer de tudo para alcançar a vitória. Kurth questionava se a atitude de Colin no momento se tratava de honra, de uma birra ou de um plano.
— Então, onde a gente estava? — Colin tirou a camisa, exibindo um corpo cheio de feridas e cortes profundos.
Anton ergueu os punhos e ficou em guarda.
— Colin, né? Você é mais interessante do que pensei que fosse!
A plateia inteira focava na luta dos dois, aquela era sem dúvida a atração mais interessante de toda a prova.
Os dois já haviam zerado suas reservas de mana, mas Anton estava em melhor condição física, porém, Colin era usuário da árvore da pujança, seus golpes tinham bem mais impacto.
A luta estava equilibrada.
Ambos avançaram contra o outro.
Bam!
Anton acertou um soco no abdômen de Colin, mas não fez tanto efeito quanto seus socos imbuídos com mana.
Aproveitando a proximidade de Anton, Colin segurou a cabeça de seu oponente com as duas mãos e deu-lhe uma baita cabeçada no nariz.
Crash!
Após recuar dois passos, Anton sentia o sabor metálico do sangue escorrendo do seu nariz. No entanto, um sorriso decidido estampava seu rosto enquanto cerrava os punhos com firmeza. Com determinação renovada, ele desferiu dois poderosos socos no rosto de Colin, buscando retribuir o dano sofrido.
No exato momento em que Anton lançou seu punho em direção ao maxilar de Colin, este segurou a mão de seu oponente com uma destreza surpreendente.
Aproveitando a abertura, Colin retaliou com um soco potente, atingindo em cheio o rosto de Anton.
A batalha se estendeu em uma dança furiosa de golpes, em que ambos os lutadores se entregavam a uma sucessão cada vez mais brutal de socos e pontapés.
A troca intensa de golpes se prolongou por um tempo considerável, enquanto suas forças diminuíam gradualmente.
O cansaço começava a se fazer presente, deixando-os com a respiração ofegante e os músculos exaustos. Apesar da fadiga, nenhum deles estava disposto a ceder terreno.
O embate adquiriu uma qualidade caótica, quase semelhante a uma briga de bêbados, com movimentos descoordenados e reações instintivas.
A plateia se concentrou naquela luta de punhos nus onde nenhum dos dois parecia ceder.
O rosto de Colin estava menos ferido em comparação ao de Anton, mas ele estava bem mais cansado. A luta com Barone praticamente assinou sua sentença. Seu corpo inteiro estava ardendo e seus ferimentos não paravam de sangrar.
Mais dois socos bem dados no rosto fizeram Colin cambalear para trás. Seu corpo estava pesando toneladas e sua consciência começava a apagar lentamente.
Colin tossiu sangue mais uma vez e tocou seus joelhos no chão antes de cair de bruços.
Os dois punhos de Anton estavam sangrando demasiadamente.
O rosto de Colin era bastante rígido. Socá-lo era como socar rocha bruta.
Encarando a palma de sua mão, Anton fitou seus dedos que tremiam sem parar. Quase todos os ossos de seu punho estavam quebrados. Seu cabelo loiro estava levemente avermelhado pelo sangue e um pouco encardido pela sujeira de toda sua luta.
Olhando para trás, ele encarou Colin desfalecido e abriu um sorriso sutil.
Depois ergueu os olhos e fitou suas companheiras que continuavam imóveis.
O foco de seu olhar foi Safira, que o encarava com um descontrolado ódio.
— Devia se sentir orgulhosa desse pedaço de lixo! — Anton apontou para o corpo de Colin. — Ele é alguém que vale a pena matar!
[00].
Fuoooooon!
Ouviu-se um grande apito no céu. O contador havia chegado a zero. Colin havia conseguido ao menos garantir a vaga de seus companheiros na universidade.
A dimensão de Hodrixey se desfez, e todos os candidatos aprovados estavam na arena, até mesmo o grupo de Anton, que olhou ao redor sem entender nada. Eles avistaram seu companheiro num estado que nunca viram antes e rapidamente correram até ele.
— Que merda é essa, Anton? Como você acabou assim? — indagou a pandoriana com orelhas de coelho.
Ela passou o braço de Anton por seu ombro e o ajudou a caminhar. Os outros dois companheiros dele olharam Colin desmaiado logo a frente e lembraram-se imediatamente de seu rosto antes de serem nocauteados.
— Foi ele quem fez isso com você? — indagou Crizyus enquanto encarava Colin.
Anton olhou para trás observando Colin uma última vez. Satisfeito com o combate, ele apenas abriu um sorriso e não disse mais nada.
Desesperadas, Safira e Brighid se abaixaram para ver qual o estado de seu companheiro.
Com cuidado elas o viraram. O estado dele era crítico. A boca de Colin estava seca, e seu tom de pele estava começando a mudar.
Sentindo como se seu peito fosse perfurado por pregos, Brighid não pensou duas vezes e apoiou as mãos no tórax dele para o curar, mas ela havia usado muita magia e seu estoque de mana também estava perto do fim.
— Colin! Por favor, acorda! — ela berrou, esforçando-se ao máximo para curá-lo, mas não obteve sucesso.
As mãos dela tremelicavam, e lentamente suas lágrimas que brotavam no canto de seus olhos deixaram sua visão embaçada.
Safira limpava as lágrimas com o que restou de suas mangas. Era frustrante somente olhar e não poder fazer nada.
Safira estava brava com Colin por ser sempre essa pessoa imprudente, que não pensa duas vezes antes de se lançar em uma situação de vida ou morte, mas isso era um fato que ela também admirava nele. Para Safira, Colin era o tipo de homem que nada temia.
Quando Colin interveio e salvou Safira daquela tentativa de estupro no sombrio celeiro, uma onda de emoções contraditórias a envolveu. Ela sentiu uma mistura complexa de admiração e medo em relação a ele.
As palavras sábias de seu pai ecoaram em sua mente, lembrando-a de que homens destemidos diante da morte são livres do medo que aprisiona a mente, do medo que impede a verdadeira liberdade.
No meio desse conflito interno, Safira começou a reverenciar a figura que a resgatou de um destino tão cruel. Em silêncio, implorava para se tornar como ele, ansiando por essa força e coragem inabaláveis. Pouco a pouco, seu desejo começou a se manifestar.
Ela se viu mergulhando no gosto pela batalha, encontrando prazer em cada golpe desferido e até mesmo no sabor metálico de seu próprio sangue na boca.
No entanto, uma incerteza persistia em sua mente. Será que essa transformação era diretamente influenciada por Colin, ou será que estava simplesmente revelando sua verdadeira natureza como uma Caída, emergindo das profundezas de sua essência?
De qualquer forma, ela teria muito tempo para pensar sobre isso no futuro.
Brighid, por outro lado, continuava esforçando-se para que seu amigo se recuperasse o mais rápido possível. Seus esforços estavam fazendo mal a seu próprio corpo, e seu nariz começou a sangrar.
— Colin, por favor… acorda… — Lágrimas faziam caminho por suas bochechas e caiam no rosto de Colin.
Lentamente Colin abriu os olhos, encarando o rosto abatido de Brighid acima dele.
Ele tentou dizer algo, mas não conseguiu. A única coisa que ele sentia era o calor das mãos de Brighid em seu tórax. Era um calor afável, como se ele estivesse coberto por uma manta quente.
Colin não mais sentia a dor de antes, apenas cansaço.
— Brighid… murmurou ele. — Não chore…
— Não fale, você não tá nada bem… — Disse com a voz engrolada.
Esforçando-se, Colin olhou para Safira com os olhos cheios d’água e para Kurth mais atrás, mordendo os lábios enquanto portava seu olhar apreensivo.
Ainda consciente, ele sentia no rosto as lágrimas de Brighid como gotas de chuva morna, e mesmo que a sua situação fosse crítica, ele sentiu-se ainda mais confuso, não só em relação a Brighid, mas a Safira também.
Ninguém nunca havia chorado por ele antes, nem sua ex-noiva e nem mesmo sua falecida mãe. O que ele sentiu foi algo extremamente novo. Colin não soube se havia gostado ou odiado aqueles novos sentimentos, aquelas novas sensações.
“Talvez eu não devesse ser tão duro com Safira… ela é só uma criança, afinal… Brighid sempre se preocupou muito comigo e sempre me respeitou… e você, Kurth… talvez seu pai não merecesse aquele destino… acredito que me apeguei a eles bem mais do que eu gostaria, que saco…”
Com a mente a milhão, Colin resolveu acalmar seus companheiros da melhor forma que conseguiu.
— Acham mesmo que vou morrer com um raladinho merda desse? — disse tão baixo que mal deu para ouvir.
Lentamente, ele sentiu suas pálpebras pesadas e começou a fechar os olhos.
“Então eu perdi…”, pensou antes de perder de vez a consciência.
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