Anexo TLM-001-NNGY: Fantasma - 1.2
—Ambição—
―欲1.2望―
—Desejo—
“Namaueuchi.”
“Chora.”
“Café.”
Ela apontou para a prateleira, com marcas diferentes de café.
A primeira vez desde que eu alertei que sairíamos de casa que ela falou algo.
Aprendi algo novo sobre Mazou, ela geralmente não é ativa pela manhã.
Dizem que a noite é o horário dos mortos, isso deve ser verdade, pois eu nunca vi tanta resistência para sair da cama.
Eu me levanto às cinco, todos os dias.
Por algum motivo, não consigo permanecer dormindo quando o sol nasce, e mesmo que tente voltar ao sono, não funciona. Então sempre saio da cama às cinco, independente do horário que dormi.
Meu desempenho nunca caiu por mal dormido, a propósito, eu deveria perguntar ao mentor se tem algo haver com o sangue frio.
Bom, isso não importa. O ponto é que, eu entendo que acordar no nascer do sol não é para todos, por isso levantei sozinho, deixei ela dormir até as nove enquanto estendi as roupas e organizei a bagunça, até que notei, se eu não a tirasse da cama, não sairia.
Assim, prontamente a acordei, cuidadoso, dei leves puxões na roupa e no braço.
Nem se moveu.
Por um segundo pensei se fantasmas poderiam morrer uma segunda vez, mas seria uma possibilidade muito absurda presenciar um fantasma morrer dormindo, então presumi que era só ser mais extremo.
Chamei. Toquei o rosto. Ameacei. Tirei os lençois. Derrubei da cama. Água fria. Berro. Água quente. Cócegas. Absolutamente nada acordou essa forte candidata à protagonizar ‘Sleeping ranker’, nada.
Até que eu desejei tão profundamente, que ela acordou.
Simples assim.
Ri amargo.
Mesmo acordado ela permanece sonolenta, eu precisei ajudar ela a se vestir melhor e até a carreguei por metade do caminho, só quando estávamos próximos ao mercado ela começou a agir de fato.
E então, suas primeiras palavras após acordar são…
“Namaueuchi, café.”
“Eu não bebo café.”
“Eu bebo.”
Ela respondeu me olhando nos olhos, fixa.
Não iria desistir. Ela pareceu mais intensa sobre o café. Durante as voltas pelos corredores ela somente apontou para os produtos que queria, sem me chamar em nenhum momento.
“Qual marca?”
“Qualquer uma, desde que não seja extra forte.”
“Você não gosta de café forte?”
“Eu não gosto de café queimado.”
“Queimado?”
“Você não sabia? Isso é conhecimento básico.” Ela falava despretensiosa, como sempre, como se dissesse que o planeta terra é esférico e que o capitalismo exarcebado é escravidão. “Café de mercado geralmente é de má qualidade, tendo cascas, folhas e grãos ruins na composição. Eu não sou a mais exigente com café, mas os extra-forte são os piores, eles são torrados ao extremo, e isso abre margem para várias impurezas porque no fim, o gosto que prevalece é o de queimado.”
“Oh, isso é um conhecimento bem aprofundado.”
“Não, todos sabem disso, todos que conheci sabiam.”
Ela disse outra vez coisas que me chamaram atenção.
O quanto Mazou se lembra de quando ainda era viva? Essa é uma dúvida cruel, de uma pergunta que eu nunca devo fazer.
Isso.
Eu não preciso saber.
Ela não me é hostil, isso é suficiente.
Tateei a prateleira, peguei dois pacotes de um café qualquer e coloquei no carrinho.
“Esse é caro… Isso deve dar vários dólares…”
“Não são dólares, aqui no Japão nós usamos ienes.”
“Oh! E quantos ienes ficaria essa compra?”
Avaliei o carrinho copiosamente.
“Oito mil ienes, mais ou menos.”
“O iene é uma moeda desvalorizada?!”
“Não, você que gosta de coisa cara.”
O carrinho médio de dois compartimentos, estava cheio de doces, guloseimas, energéticos e idiotices, tendo algumas verduras e legumes na parte debaixo e alguns poucos mantimentos alimentícios, os quais Mazou afirmou saber cozinhar.
Também tinha um jogo de talheres, alguns temperos e três Cup Noodle’s, para caso de, talvez, não ter Mazou para cozinhar.
É trabalho, de repente, tudo pode mudar.
Aquele desejo flácido sobre ela desaparecer sem explicação pode se concretizar de repente, e se acontecer, eu não posso me sentir dependente.
Me senti mal, mas responsável.
É assim que deve ser.
“Já está bom, vamos pro caixa.”
“Mas e aquele doce de mentol bonito e verde neon?”
“Você já pegou três desse.”
“Não de mentol!”
Suspirei.
Se ela realmente sumir, que diabos farei com tanto açúcar?
A operadora parecia surpresa, encarou Mazougaharachou estupefata por uns bons segundos.
Sorri para ela como quem diz ‘eu te entendo’, tentei parecer reconfortante.
Não é todo dia que se encontra uma assombração de um e sessenta, ou nesse caso para ela, alguém muito parecido com.
Logo pela manhã e já com as roupas secas, ela vestiu o haori de novo, então caminhamos pelos corredores com ela vestindo somente um haori fechado com um obi laçado nas costas e uma cueca box. Extremamente vulgar, suas curvas voluptuosas quase corriam para fora do haori, seu busto avantajado ficava demarcado no tecido. Parecia alguém que acabou de sair dum motel.
Isso é, qualquer mulher que não fosse Mazou.
Mazou tem orelhas de elfo e chifres de diabo.
Era muito mais bizarro que só exibicionismo barato.
Cocei a nuca, levemente envergonhado.
“É cosplay moça.”
Vi seu olhar alternar entre nós dois repetidamente.
“Ela é uma otaku de cosplay, como pode ver, gastou todo o estojo de maquiagem só pra deixar natural a transição entre a tirara de chifres… Um caso perdido.”
“Eh… E-ela é boa nisso. Ha ha.”
Ela acreditou?
O atendimento ao público é tenso, talvez essa nem seja a coisa mais bizarra que ela já viu.
Bom, é japão, Hokkaido em dois mil e vinte quatro, com a ascensão dos youtubers, tiktokers e Streamers, não deve ser tão incomum encontrar pessoas vestidas como diaba safada na rua, eu mesmo quase matei um cosplayer uma vez achando que era um yōkai.
Em minha defesa, aquele jiangshi parecia extremamente convincente. Para ser sincero, nem sei se foi a decisão certa deixá-lo ir embora.
Ainda duvido da integridade daquela maquiagem.
“Namaueuchi.”
“Sim, sou eu.”
“Quero ver aquilo.”
“A máquina gachapon? Tudo bem.” Entreguei uma moeda e ela caminhou animada, esboçou um leve sorriso.
“Moça?”
“Uh, sim?” A mulher do caixa se assustou quando a chamei.
“Eu quero cigarro, daquele ali.”
“Ah… Sim sim, do qual?”
“Filtro azul, maço.”
“Certo, o senhor possui vinte anos?”
“Vinte e um.”
Mentira.
Eu não sou o maior mentiroso que conheço, na verdade, eu não seria mentiroso se não fosse pelo maior mentiroso que conheço.
Minha mãe me ensinou a ter valores, os bons, acordar cedo, ser educado, atencioso, sempre falar a verdade.
Meu mentor me ensinou a quando usar, e quando não usar, que nem todo tempo é necessário ser honesto e principalmente, que cigarros são importantes.
‘Cigarros são a garantia de que você não vai precisar sofrer até os cem anos, e o pouco que viver, será sem estresse’. Ele disse.
Apanhei o documento falso do bolso e a apresentei.
É mesmo, ele também me deu um documento falso.
Pensando melhor, o meu mestre é a minha maior má influência.
“Namaueuchi! Eu tirei o azul!”
Mazou voltou correndo animada, abriu a palma e me mostrou uma miniatura do mudkip.
Feio, sua cauda era vermelha e ele tinha um acabamento terrível, mas ela parecia feliz.
“Você vai cuidar do azul?”
“Vou!”
“Tudo bem então, pode ficar.”
Que criançona, nem parece a mesma Mazou que metralhava confiante sobre cafés.
“É para entrega?” Perguntou a caixa.
“Não, eu vou levar.” Ela me olhou incrédula, como se disse-se: ‘Tudo isso?’, mas apenas sorri, peguei todas as sacolas fui seguido até fora por Mazou, que tropeçava desatenta brincando com o ‘Azul’.
—Corte—
―切―
—Corte—
O caminho de volta foi calmo. Mazou estava brincando com o mudkip, ela colocava ele em cima de muretas e fazia como se estivesse seguindo a gente, andando lado a lado.
Eu traguei um cigarro enquanto carregava as compras sozinho.
“Namaueuchi.”
“Hm?”
“O azul… Morreu.”
“Gasp! Morreu?” Cuspi o maço pela metade.
Olhei para as mãos dela, o pokémon parecia mal feito, como sempre foi.
Tentei pensar em algum acontecimento diferente, nada veio, ele parecia igual, ela parecia idêntica.
“Ele não está respirando!”
Ah.
É a Mazou.
“Ele estava respirando antes?”
“Eu não lembro.”
Kek, ‘é porque não estava’.
Era o que eu queria dizer, mas nada mudaria se eu dissesse.
“A raça dele não precisa de respirar.”
“Ah.”
Ela voltou a sorrir como quem acreditou fielmente no que disse.
Não sei se sorrio com a inocência, choro com a estupidez ou me revolto por ter sido dobrado frequentemente por uma garota tão ingênua.
Ingênua? Só quando quer, na verdade.
Paciência.
Suspirei, o caminho até a casa mais isolada ao sul foi longo, mesmo que não morasse distante do mercado, fiz algumas curvas desnecessárias para ela não saber o caminho exato, ela não pareceu perceber, frequentemente durante o caminho ela apanhava algum pirulito ou biscoito das sacolas, e comia numa velocidade absurda.
Chegamos à porta, mas Mazou estava focada demais no novo brinquedo.
Ela não parecia interessada em me ajudar, então chutei a porta com força, o ferrolho não aguentou e abriu passagem..
“Namaueuchi.”
“O que foi agora?”
“Eu tô com fome.”
“Você não sabia cozinhar? Cozinhe algo.”
“Eu não consigo me concentrar com fome.”
“Você veio o caminho todo pegando doces. Quando foi a última vez que comeu?”
“Ontem.”
Ontem? Ontem…?
Oh.
Como se fosse um detetive, uma suposição clicou para mim.
Coloquei os itens na mesa da cozinha.
“Mazou-san, você se alimenta de desejos?”
“Sim.”
“E por que não disse isso antes?”
“Você não perguntou.”
“Estúpida.”
Sentei na cadeira, comecei a pensar de olhos fechados e cabeça baixa.
Desejos, desejos. Eu não possuo desejos de fácil acesso.
Talvez se…
Quando abri meus olhos, Mazougaharachou Omeniuxalia estava quase esbarrando o nariz ao meu, me encarava fixamente os olhos.
“Mazou-san?”
“Sim?”
“Qualquer desejo?”
“Sim.”
Ela falou, rosto estava próximo, senti um cheiro enjoado de açúcar e sabores tutti-frutti sintéticos.
Tateei sua nuca, aproximei meu rosto mais, nossos narizes se bateram.
“Namaueuchi?”
“Sim?”
“Sua boca tá com cheiro de cigarro, eu não vou te beijar.”
“Tsk—. E o que você vai comer?”
“Você só tem desejos lascivos?”
“Poucas coisas me faltam.”
“Tsk—.”
Ela entrelaçou sua mão com a minha e encaixou o rosto com o meu, fechei os olhos. Doce, sabor de bala, aquelas que grudam no céu da boca e o sabor só sai quando você come outra coisa.
Senti um peso, ela pôs suas coxas sobre as minhas e travou a minha cintura, eu estava preso ao banco.
Mazou não é quente. Na verdade, tocar nela é como sentir almofadas ou roupas.
Macio, mas sem vida. Fria como um objeto inanimado.
Isso não é excitante.
E outra, eu não gosto de ser submisso.
[Arte em desenvolvimento]
—Desejo—
Soltei sua mão e agarrei sua cintura, ela soltou o aperto das pernas e amoleceu no beijo. Abri os olhos, ela me encarava, todo esse tempo, seu olhar era estoico.
Contudo, de repente, ela revirou os olhos, pareceu derreter. A pele pálida parecia ter tomado certa cor.
Ela parecia mais humana.
Mazou, num instante, tornou-se quente como um humano.
Comecei a afastar a nuca, saindo do beijo, mordisquei seu lábio.
Completamente entregue.
Tão linda e sedutora, ela estava atraente como nunca antes.
As pontas de nossos narizes se esbarraram, ambos ruborizados, o filete de saliva escorria pelo canto do seu lábio agora rosado.
Mais um beijo, me aproximei com certa embriaguez, agora meio tímido, a pressão pelo desejo foi embora.
Ela pôs as mãos sobre a minha, a tirou da sua cintura com cuidado, guiando aos poucos para fora.
Smack—.
Ela saiu do beijo.
Se soltando, ela saiu do meu colo.
Natural, como quem fecha uma torneira após o banho.
Pegou uma sacola da mesa e foi até a pia, começou a cortar alguns legumes.
“Eto…”
“Você tem que usar manteiga de cacau.”
O que?
“Mazou—”
“Você deve conhecer, é como se fosse um batom.”
“E-ei!”
“Serve para não deixar os lábios ressecados.”
“Mazou-san!”
“Sim?”
“Você está saciada?”
“Sim.”
“Oh… Certo.”
É, mas eu não.
Usado.
Bom, era assim desde o princípio.
Trabalho.
Mazou é trabalho.
Não tenho contato frequente com mulheres, meus hormônios devem ter trabalhado além da conta.
Só isso.
Racional, aja racional.
Você precisa agir—
Tanranantan—.
Meu celular tocou, ele estava na sacola de compras de…
“Alô?”
Tarde demais, a Mazou atendeu.
“Namae… Ah, você está falando do Namaueuchi, só um momento.” Ela afastou o telefone. “É pra você.”
Er…
“É o meu telefone, seria inesperado se não fosse.” Peguei o aparelho da mão dela. “Quem?”
“A voz que eu acabo de ouvir é de quem imagino que seja?”
“Precisamente.”
“A firma está tomando decisões cada vez mais estúpidas, essa nova política da gerência já ocasionou três desligamentos, só neste mês.”
“Esse mês? Hoje não é tipo, dia quatro?”
“Exatamente…”
“Paciência.”
“Em todo caso, o seu equipamento já foi reparado, pegue quando quiser.”
“Tudo bem, posso pedir uma coisa?”
“O quê?”
“Eu preciso de… Nove conjuntos de haori-obi, femininos, tamanho G.”
“Você pode comprar isso numa loja qualquer.”
“Quero que eles escondam ‘cheiros’.”
“…” O outro lado da linha parecia curioso. “Tudo bem, venha buscar amanhã.”
“Eu quero hoje.”
“…” Silêncio por alguns segundos. “Você não presta.”
Tuuuu—.
Caminhei até o lixo, arranquei o chip telefônico e joguei ali.
“Mazougaharachou? Quando você termina aí?”
“Quando eu terminar.”
Séria, rispidamente séria.
“Acha que consegue ficar sem mim por algumas horas?”
“Não.”
O que? Decida-se mulher!
Olhei o relógio. Ainda eram três horas.
Em retrospecto, andei sendo conivente com toda e qualquer ideia que Mazou punha na mesa.
Geralmente seguindo a onda. Mas eu não posso negligenciar serviço.
“Que pena, vai ficar.”
Ela se virou.
“Onde vai?”
“No meu trabalho.”
“Aquele que é perigoso?”
‘Não tanto quanto você’, eu queria dizer.
“Esse mesmo.”
“…”
Ela não está expressiva, nem um pouco, mas me encarava como se visse todos os meus pecados. As maneiras de encarar dela pareciam variar de acordo com seu humor, humor esse que parece variar tanto quanto seeds procedurais.
Difícil demais.
“Tudo bem. Vou fazer frango assado com batata e cebola. Feijão com carne de porco, arroz e salada de pepino e tomate, quer algo a mais?”
“Deixe Coca-Cola pra mim.”
“Certo.”
Me senti um recém-casado.
Caminhei até a porta, peguei a chave da moto pendurada no canto. Senti estar sendo observado.
Nheec—
“Até depois.”
Blam—.
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