Mentiroso

    ―嘘2.2嘘―

    Mentirosa

    “Draculaura.” Chamei.

    “Quem…? Fique você sabendo que meu nome é Suza—.”

    “Certo certo, eu já ouvi o suficiente ô Suzume, não quero ter de amordaçar um vampiro, por isso, fique quieta e ouça.”

    “Hmpf.” Contra sua vontade, ela calou a boca.

    Era pequena, olhei atentamente para ela, uma tampinha, o cabelo loiro com mechas e pontas rosa subiam em twintails e caiam espalhados, balançavam de um lado para o outro.

    Por algum motivo, essa vampira hiperativa não consegue ficar quieta, sob nenhuma hipótese.

    Temos aqui o primeiro diagnóstico de TDAH em vampiros? Oh Deus, espero que não.

    Coçou a barra da saia com suas unhas longas, não pareciam ser postiças, elas tinham cores variadas, uma mão arco íris, a outra rosa choque bem forte com adesivos. Parecia impaciente.

    “E aí, babaca, vai desembuchar ou não vai?” Seus lábios com batom vermelho vivo fizeram uma reclamação, parecia envergonhada.

    É verdade, estou encarando ela, indefesa e algemada a alguns segundos.

    “Eu não vou te matar, isso é tudo que precisa saber sobre a minha índole.”

    “Ah, sim, caralho, como se você pudesse.” Ela deu língua.

    Vampira arrogante.

    Não aja como uma vampira de verdade depois de desvirtuar tanto a imagem deles. É tão desrespeitoso quanto o Sung-jin woo caçoasse do Yang kai por ele ser mal escrito enquanto usa os mesmos artifícios baratos para se promover. 

    Não, a este ponto essa comparação a favorece demais, esse caso seria o Yang kai caçoando do Cha Yeon-woo, isso seria um protagonista de power fantasy tentando explicar como ele é diferente do seu irmão de outro autor.

    Isso, ela é isso.

    Ela usa absolutamente tudo de forte dos vampiros, e em seguida cospe na cara deles, uma caricatura suja.

    Odioso, um desgosto tremendo, até Edward deve se levar mais a sério como vampiro que esse goblin.

    Contudo, é uma verdade, uma verdade incontestável que, no confronto a alguns minutos, ela não morreu.

    Talvez só não tivesse uma boa arma ou capacitação o suficiente para matar uma vampira, sendo ela de má procedência ou não. Os meus ataques foram em vão, e aconteceu algo pior.

    Eu deveria ser mais agradecido ao universo, de alguma forma, ainda estar vivo é um milagre.

    Fui capturado num domínio vampiro.

    Como se fosse uma dimensão de bolso, existe em algum lugar do universo e ao mesmo tempo, não. 

    Nem todos vampiros o tem, é uma habilidade especial, tudo que sei é que ele é manipulado pelo próprio vampiro e que só ele pode abrir e fechar o caminho.

    Isso trás o impasse, eu consegui prender uma algema que suprime aura e ela impossibilita a entidade de usar qualquer habilidade, por isso, ainda estou vivo.

    Mas não posso sair. 

    Precisaria da colaboração de Suzume, e até então ela só tem sido um pé no saco.

    Resumo da missão até o momento, a vampira possuía quatro ghouls a protegendo.

    Nunca devo ter dito isso, mas quando você não é um vampiro de descendência, ou seja, um transformado, não se torna um vampiro instantaneamente.

    O comum é se tornar um ghoul, algo no meio.

    No limiar entre os humanos e os morcegos místicos.

    Três pessoas que ela transformou em ghouls estavam a protegendo, como servos, Namae foi cuidar deles, eu fiquei encarregado da vampira.

    Ou melhor, me encarreguei da vampira sem pensar.

    Quis acabar com a luta o mais rápido possível para não ter que usar Mazou em combate direto, então, avancei contra ela.

    Meus passos de repente se tornaram mais rápidos que poderia sentir, a mera alusão de toque do meu sapato com o chão já era suficiente para dar mais um salto, queimei a neve fofa com os passos e cada tatear dos meus calcanhares formou uma poça d’água no chão.

    O cenário era uma floresta de pinheiros na neve, passos ziguezagueando os troncos se convertiam em espirais de água, a pressão do pisar gerava um esguicho de água que denunciava onde eu pisei, mas nunca a minha posição, pois quando um rastro de gotas subia, já havia outro.

    Assim foi, senti que poderia voar, uma velocidade tão intensa e absurda que pensei por um instante, ser onipotente.

    Bobo, leso engano.

    Eu nunca imaginei cair através de um buraco no chão.

    Praticamente a toca do coelho.

    No último dos meus passos, vi um olhar confiante de quem posicionou aquele maldito bispo num ponto cego, que deu xeque mate sem que o adversário sequer entendesse.

    Não, novamente, eu superestimei ela com as minhas palavras.

    Eu diria que Suzamine era pior, foi como uma pessoa que, “desatentamente” moveu o bispo para uma casa à frente enquanto o oponente bebia um gole de água, o lugar onde o bispo da casa preta não poderia estar. Numa casa branca.

    E esse bispo da casa preta deu xeque num rei na casa branca.

    Injusto, trapaceiro, mentiroso. 

    Droga, um vampiro usando táticas humanas como armadilhas no chão? Nunca mais conseguirei ver um vampiro de boa maneira após esse evento.

    Em um instante, cai no xeque injusto, o mais mentiroso.

    Eu, que me movia em velocidades absurdas, de repente não encontrei chão que meus pés pudessem pisar.

    Ah.

    Eu achei a comparação perfeita.

    Ela não me deu um xeque quando eu estava prestes a ganhar.

    Ela quebrou o tabuleiro.

    “Lie.”

    Tabuleiro… Tabuleiro… Campo.

    Ouvi sussurrar, ela disse algo quando usou, vi o tempo desdobrar e o chão abrir um buraco enquanto entrava em si mesmo, parecia algo como comprimir matéria.

    Como funciona esse lugar? Parece uma construção medieval, as paredes todas tem uma aura sobrenatural. São bem requintadas e cintilam como se lustradas, parecem falsas. Azulejos pretos e vermelho, o chão ladrilhado, nada disso parece real, somente um labirinto de corredores que se cruzam sem salas.

    Independente disso, o causo.

    Eu acertei.

    Quando o chão me faltou, tive uma ideia inusitada.

    A realidade naquele ponto específico parecia estar se esticando, dobrando, como quem estica papel com as mãos, há marca de dobras. Dissonância, não ouvi, não havia cheiro, nem som, como se fosse uma sala do meu cumprimento exato comigo preso, as sensações morreram.

    Pisei, foi surreal, por um instante eu pisei numa dobra. E essa criança teve minha machete abrindo seu crânio ao meio durante esse instante, como quando se corta uma melancia.

    Ou, foi mais grotesco que isso, estava abrindo carne, pele e ossos de uma jovem pelo rosto, foi assustador pra mim.

    E aqui está ela, tamborilando suas unhas alongadas na parede, como uma hiperativa impaciente.

    Nunca esteve lá, ferida nenhuma, intacta.

    O rosto parece tão limpo que não conseguiria nem mesmo imaginar se já foi tocado antes, se eu mesmo não tivesse o aberto ao meio.

    “Hunf.” Resmungou novamente. “Se você ficar me olhando assim, vou me sentir abusada.”

    Suas bochechas, já repletas de maquiagem, pareceram ruborizar. Seus olhos delineados pareceram afinar.

    “Pare de agir como uma garotinha colegial, por favor.” 

    “Por que disso tão de repente?” Ela sorriu, um sorriso que ando vendo muito no rosto de Mazou. Um sorriso sapeca. “Eu acertei no seu fetiche?” Seus caninos cintilaram no sorriso.

    “Não, ninguém teria interesse no seu corpo, tente de novo daqui a duzentos anos.”

    Porra. 

    Ela pode ter seus duzentos anos, mas esse corpo de colegial recém integrada ao ensino médio não dá abertura para pensamentos lascivos.

    Tampinha.

    Sua vestimenta era um uniforme de marinheira com um lacinho vermelho, agasalho rosa fechado abaixo do quadril, minissaia e sapatilhas pretas, tinha polainas bege escondendo os tornozelos e bottons espalhados pela roupa.

    Cheiro de morango. Não que tivesse cheirado, mas quando próxima, notei, o gloss ou perfume deve ter cheiro de morango.

    Kek—. Uma vampira que usa gloss.

    Essa pequena balançava suas twintails como se me analisasse, cada mínimo movimento fazia os cabelos pular para os lados. Estava sentada sobre a própria saia, suas pernas caiam para lados opostos e seus joelhos estavam colados, como uma garota de romance que cai ao esbarrar no amor de sua vida na esquina de casa, mas nenhuma torrada foi avistada, nem nenhum amor da vida, nem um romance. Ela é nova demais para tal.

    Exceto na postura de maioral, é uma criança JK gyaru.

    Sim, uma vampira Gal.

    É uma piada divina.

    Corte
    ―切―
    Corte

    “Suzume, vamos negociar.”

    “É estranho falar de negócios após abrir a cabeça de alguém, esse é outro dos seus fetiches? Você deve ser o senhor-mato-primeiro-converso-depois.”

    “Eu me redimo.”

    “QUE? Eu que deveria te perdoar, ou melhor, você deveria pedir de joelhos pela minha benevolência e aí então, te devoraria como um vampiro muito mau. Você não foi educado? Peça desculpas!”

    “Uhng…”

    “Ei ei ei, não faça essa expressão de quem está lidando com algo inconveniente, é tudo sua culpa aqui.”

    Ela se debateu repetidamente.

    Algemas negras são ótimos supressores, são do mesmo material que as armas, porém muito mais refinadas e destinadas a conter entidades que não se pode matar.

    Contudo, elas são finitas.

    Quanto mais forte o yōkai, mais rápido a aura dele sobrepõe a algema, por isso preciso convencer ela a colaborar.

    Antes que elas parem de fazer efeito.

    “Ouça… Eu peço desculpas, fui uma pessoa ruim, como posso adquirir seu perdão?”

    “Ora… Você não parece nada arrependido.”

    Eu não estava.

    Meu rosto deve ter se mantido inexpressivo durante todo o discurso.

    “Foi uma má atuação?”

    “ERA ATUAÇÃO?”

    Unhg… 

    “Vamos recomeçar. Eu sou Namae-nai.” Escrevi no chão com o dedo.

    “Você não vai nem dizer seu verdadeiro nome?”

    “Não era uma piada, eu nunca fui batizado.”

    “Oh, sinto muito, deve ter sido tãaaoo difícil… Foda-se.”

    “Não foi mesmo. O ponto, sou um caçador de yōkais.”

    “Se você não disse-se…”

    Porra.

    Ela não digere uma palavra sem devolver, demônia das ofensas.

    “Ei, estou tentando ser amigável aqui, sendo honesto, odeio meu trabalho e quase todos nele, nunca foi de fato um objetivo pessoal meu te atacar, só uma consequência das circunstâncias. Digo, ninguém caça um yōkai que não se revela. Mas você saiu matando pessoas indiscriminadamente por aí, então…”

    “Blá blá blá, não ligo, o que você quer?”

    “Eu quero sair desse lugar, com a sua colaboração.”

    “Então você realmente é o senhor-mata-e-depois-pede.”

    “Esse senhor é diferente.”

    “Não interessa! Eu não posso sair, essa merda me prendeu aqui.” Ela levou os pulsos para frente. “Vê? Você prendeu a nós dois.”

    “Ora, as algemas devem estar com defeito, se realmente funcionassem, esse lugar não estaria aqui, ele é feito da sua aura, certo?”

    “Eh? Você deve ser um estúpido, até uma criança deve saber disso.” Encarei curioso, ela continuou. “Esse lugar não é feito por mim, é mudado, isso são coisas completamente diferentes.”

    Continuei encarando como quem não entendeu nada.

    De repente me senti feliz por ela ser uma falastrona, de repente ela começou a me dar uma aula sobre um poder vampírico que não se tem explicações.

    “Imagine assim, o lugar existe, eu só mudo os móveis. Abrir a porta precisa de poder, mas se estou presa, não dá pra abrir novas portas nem mudar os móveis de lugar, mas isso não faz ele deixar de existir.”

    “Justo, nesse caso, só poderia sair se você nos tirasse?”

    “Exatamente.”

    “E o que preciso fazer pra você tirar a gente daqui?”

    “Hmm… Morrer? Digo, olho por olho né. Você me solta, eu abro a sua cabeça como retribuição e, tanto eu como o seu cadáver saímos, parece um bom trato?”

    “Parece o pior trato! Reconsidere.”

    “Você barganha com alguém que tenta matar? Senhor-mato-primeiro-depois-peço-desculpas, reconsidere toda a boa educação que sua mãe te deu e comece de novo.”

    “Certo certo, perdão.” Me curvei, inclinei perfeitamente enquanto encarava o chão, vi de relance ela levantar.

    “Ajoelhe.”

    “Oi?”

    “Você não pode ter um ouvido tão ruim senhor-mato-e-dep—”

    “OK, ok.”

    Ajoelhei, ainda olhando para baixo.

    “Quero que olhe para mim.”

    “Oh.” Levantei meu olhar.

    Foi uma cena estranha.

    Eu estava com minhas mãos sob os joelhos, levantei os olhos até a vampira, ela tinha estava com um sorriso rasgando o rosto de orelha à orelha, bateu a ponta do pé direito contra o chão. Sua sapatilha desprendeu.

    Observei atentamente ela erguer o pé marfim até meu rosto, sua perna se ergueu até uma altura onde sua calcinha roxa de babados estava exposta.

    “Você não vai pedir nada de estranho como ‘lamba meu pé’, certo?”

    “Eu tinha outra ideia, mas a sua parece mais divertida~.”

    “Ei, isso é fanservice errado, não, isso é crime, crime! Você tem cara de quinze anos, e estou te favorecendo nessa, isso é feio, pare.” A loira não respondeu, parecia entretida com minha reação exagerada.

    “Existem muitas maneiras de se redimir por um homicídio, a maioria envolve perpétua ou um outro homicídio, você tem a escolha, ser morto, continuar preso para sempre ou fazer. Acredite, Ted Bundy, Jeffrey Dahmer e muitos outros não teriam nem pensado para escolher.” Suzume brincou com minhas mechas ruivas entrelaçando seus dedos nos fios, enrolando minha franja no seu dedão.

    “Eu não sou nem meio maníaco, existem um milhão de soluções que não envolvem lamber uma criança.”

    “NÃO SOU CRIANÇA!” Deu um forte puxão no meu cabelo. “Eu só… Não cresço tão rápido. Mas vivi mais tempo que você, com certeza.”

    “Veste como criança, age como criança, fala como criança. Ou seja, criança.”

    “Hmpf—.” Ela inflou as bochechas. “Você é um servo ruim.”

    “Agora eu sou servo?”

    “Isso! Jure.”

    “O que?”

    “Jure lealdade a mim.”

    “Que porra de desenvolvimento foi esse? Você não pode sair da vampira cruel pra vampira carente em menos de uma conversa.”

    “Eu gostei de você, você é engraçadinho.” 

    “Essa é a pior justificativa desde ‘se eu for a principal tudo bem’, ou pior, desde que inventaram garotas mais novas com mais de duzentos anos.”

    “Gosto de ruivo.”

    “NÃO MELHOROU! Meu deus, só seja consistente.”

    “Você quer sair daqui vivo ou não?”

    “Eu… Não gosto de ser submisso, não pode ser uma parceria?”

    “Agora me quer como cônjuge? E eu que sou inconsistente…”

    “Isso não foi o que eu disse!”

    “Tudo bem.”

    “Eh?”

    “Serei, concordemos. Senhor-mata-primeiro-depois-pede-em-casamento.”

    “EH!? Isso é um apelido que cabe em duas linhas. Pelo amor de deus mulher, PARE!”

    “Se estiver com você, os ataques vão parar?”

    “Ataques, você diz?”

    “Sim, ataques. Repetidas vezes aparecem pessoas do teu grupo, toda hora, eu já nem consigo meditar.”

    “Oh… Sim, acho? Se você não matar civis talvez não tenha problema.”

    “Oh… Como vou comer?”

    Isso foi uma dúvida pertinente.

    Na verdade, eu só blefei a conversa inteira, um Namae-nai não tem renome para falar pela organização.

    Na verdade, se ela se rendesse, talvez a associação aceitasse ela como prisioneira ou objeto de estudo, isso seria suficiente para manter minha palavra, assim Suzamine não seria caçada todo tempo.

    Mas também não seria uma vida feliz;

    Bom.

    Uma vampira desordeira nunca foi de fato minha responsabilidade.

    “Posso te dar sangue, feito?”

    “Tudo bem, feito.”

    Isso foi mais um blefe.

    Quando sair, deixo ela com Namae.

    Sim, ele se vira com o furacão, Namae saberá o que fazer com esse problema loiro.

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