Anexo TLM-003-NNGY: Górgona e Zombie - 3.3
—Petrificação—
―石化3.3死死―
—Morte—
Estive pensando.
Pensando por algumas horas, repensando minha situação de vida atual e coisas que eu deveria rever, problemas que ando deixando de lado. Finalmente tive um tempo mais tranquilo para processar algumas informações recentes e coisas que estão me prejudicando, e depois pensando em soluções, que me levam ao fato.
Eu nunca tive dificuldades em afastar pessoas.
Raros foram os que quiseram ter algum laço comigo, eu nunca tomei realmente iniciativa, mas às vezes surgia um cavaleiro branco.
É porque eu tenho sangue frio, eu acho.
Despedidas não doem, nunca doeram.
Quando minha mãe me abandonou na cabana, sem se explicar, não doeu, só foi um empecilho fazer a minha própria comida e pescar os meus próprios peixes com mãos tão pequenas.
A gente se reencontrou, apenas para ela partir novamente.
E não doeu. A mamãe me ensinou a não ser egoísta.
Muitos cavaleiros brancos vieram, todos voltaram. Eu não tenho dificuldade em cortar relações, nunca realmente tive, não dói.
Não sou exatamente um solitário, é mais auto-suficiência, só eu e a minha consciência.
Eu penso um bocado racionalizo tudo que acontece. Se algo é problemático, eu corto.
Simples assim.
Não há algo errado nessa lógica. Eu creio. Realmente creio.
É o tipo de coisa que gera estresse, se eu já não estivesse estressado por outra coisa.
Impaciente e sufocado, eu estive abraçado de maneira sufocante…
Um carro passou por trás de nós, um grande e branco, senti olhares de ternura atingirem minhas costas, antes de, de repente, se tornarem hostis.
Não julgo, é uma situação que pode facilmente ser confundida, eu estava sendo abraçado por uma garota em frente a uma casa, onde a placa ‘for sale’ estava sendo arrancada.
Não, eu precisaria explicar melhor a situação.
Lillet. Começaremos por Lilith.
No auge dos seus quinze anos (e meio), como a mesma gosta de ressaltar, ela morreu. Ah não se compadeça, ela não merece.
Quando viva, em seus quinze (e meio), ela era uma garota problema, aparentemente Yanderu (não yandere, isso seria fofinho demais para descreve-lá), esta foi trocada por um namorado de escola.
Supondo que este era um motivo suficientemente bom para se vingar, ela convidou ele para uma despedida, disse algo como não possuir ressentimentos ou algo assim, e com essa mentira atraiu este até um lugar isolado e escuro atrás de um cemitério.
Como o imbecil acreditou? Bom, ela sempre foi assim. Cheia de tatuagens, piercings, os documentos escolares dela são sempre sobre advertências, discursos de ódio ou suplica para que os pais tomassem uma decisão, mas nunca a tomaram. Nesta época ela possuia um nome comum japonês, ‘Agatsuma Sayuri’, mas se recusava a atender por este, só respondia às chamadas se usassem o nome que ela mesmo se pôs, Lilith.
Bom, fato é que o seu antigo namorado foi atacado e, em legítima defesa, acertou uma pancada certeira com uma pedra próxima na cabeça.
As coisas começaram a fazer sentido?
Por ser um local escondido, atrás de um cemitério, demoraram a achar o defunto, é como esconder um faber castell numa pilha de Leo&Leo, isso explica como se tornou um jiangshi. Enrijeceu sem ser enterrada e então se pôs a andar.
Parece que este ocorreu à alguns meses, e então, o que sabemos.
Lillet, por sua vez é consequência da pancada, não da transformação, seu comportamento infantil, bobo e curioso é por só deter as memórias mais importantes, como falar, andar e etc, coisa que se aprende antes de formular uma personalidade psicopata e tentar assassinar um ser humano.
Ela é carente de afeto e melosa, antítese de Lilith, que é agressiva e Yanderu.
Ao ponto.
Se eu mesmo tivesse passado de carro em frente a uma grande casa onde um casal está parado e de pé, eu também sorriria.
Mas ao passar mais perto e perceber que, na verdade um deles tem altura, fisionomia (Entre algumas ressalvas, visto que Lillet tem um corpo mais desenvolvido que Suzamine) e trejeitos de menor de idade, enquanto o outro é sério e mais velho, eu também concederia olhares hostis.
Casa, eu repeti essa palavra por tres vezes, mas é uma mentira.
É claramente uma mansão.
Namae-nai, meu mentor, no dia anterior a este destruiu, com um soprar de seu golpe, toda a minha residência.
Isso ainda não fazia sentido na minha cabeça, tudo se passou como se fosse um sonho estranho onde seu corpo age por si só e você não contesta por que parece ser a decisão mais normal.
Desde o momento que a minha casa subiu para altas aventuras quais eu não poderia participar, Lillet retornou a si, como se fosse um ‘switch’ lógico, um clique.
E então, voltou a melação.
Acontece que Suzamine não pode pegar sol, Mazou e Sthenno são suspeitas demais para ficar em público ou num hotel, a R/E encontrou uma mansão e enfurnar as três o mais rápido possível e eu estive durante esse último tempo na empresa, discutindo sobre como eu não queria fazer parte deste.
Um é pouco, dois é bom, três é demais. Quatro? Absurdo, eu não quero participar desse laboratório sádico e nem ser babá de tantas entidades.
Eles me deram a resposta que “Amanhã viria uma representante”, alguém que lidasse com o problema, que por hora eu deveria dormir.
Desculpas esfarrapadas.
Isso não muda a situação.
A porta está lá, ali perto, é só entrar.
“Eu…”
“Você?” Lillet estava curiosa, como sempre.
Ela passou um bom tempo falando sobre roupas, moda gótica, unhas, tatuagens. Ela é sempre muito disposta a receber e doar informações.
Fala tanto que, num futuro próximo não haverão mais informações para ela doar.
Talvez eu esteja rabugento.
Minha casa… Quitada, isolada, linda.
Respirei.
“Nada, não é nada.”
“Oh! Tudo bem.” Ela relaxou. Acreditando sem nem processar a frase e então se aconchegou no meu ombro.
Parece um gato.
—Corte—
―切―
—Corte—
Eu finalmente me encorajei o suficiente e entrei, a casa estava silenciosa, o tapete estava com rugas que eu consertei com os pés enquanto caminhava. Um cheiro de chá caminhou até minhas narinas. Todas as luzes internas pareciam apagadas e somente a luz do sol entrava por algumas das janelas.
“Brr… Que medo.”
Lillet, resmungou se escondendo nas minhas costas.
“Então você é do tipo que faz os outros de escudo num momento de perigo?” Ri, pensando que ela se envergonharia e sairia detrás de mim.
Como faria Suzume ou Mazou com uma provocação simples dessa.
“Mas o dever do namorado não é proteger a namorada?” Ela me abraçou pelas costas.
“Nós namoramos?!”
“Nós passamos a noite toda juntos! Você não lembra?” Olhei o seu rosto, ela parecia convicta.
“Eu passei a noite toda discutindo com meu chefe e pensando na vida, você estava lá de acompanhante.”
“Então eu não passo de uma mera acompanhante?!” Desmanchou, seu olhar se curvou para baixo e creio que se ainda fosse viva, começaria a chorar.
“Ouça bem, há duas pessoas dentro desta casa que matariam nós dois se ouvissem que você é meramente uma acompanhante.”
“Os amores mais bonitos são os impossíveis.”
“Pera, que?! Não, não, não! Ouça, você é pálida, mas não é a branca de neve. Essa história de amor não termina com um beijo na morta, termina com você, Julieta e eu morto.”
“Eh? Eu não quero beber veneno!” Ela pestanejou, como se só absorvesse metade da frase dita.
“Pois bem, então diga que não há nada entre nós.”
“Mas há!”
“Pelo amor de deus, mulher. O que há entre nós?!”
Ela me abraçou mais firme.
“Cloches.”
“P-pare com brincadeiras, agora são cloches, logo serão colts.”
Ela não me deu ouvidos.
Ouça, se você escreve ‘hoje eu entrei na sala da minha nova casa sendo agarrado por uma menor e seis pares de olhos que compõem a minha estranha, hiperativa e feminina família’, a pessoa que entrou no seu escritório para te ver escrever por que ‘haha, tem um escritor na família!’ vai te julgar, como se você fosse pior que um ditador asiatico, colonizador europeu ou comediante brasileiro. É uma aposta unânime, ninguém jamais foi absolvido e a pena é de oitenta anos sendo o esquisitão da família.
Mas aconteceu, foi exatamente isso que aconteceu.
Eu paralisei com os — Na verdade dois — pares de olhos e um rosto virados para nós. Estavam todas na sala, bebendo um chá que baseado na baixa qualificação de Suzume e no alto interesse por café de Mazou, deve ter sido preparado por Sthenno.
Não foi a recepção mais agradável.
“T-tadaiama…”
Não fui eu, essa foi Lillet.
De começo eu não compreendi, ela não é o tipo que se envergonha, eu poderia imaginar essa expressão no rosto de Sthenno, na Mazou talvez, considerando seus surtos recentes. Suzamine não, não há um pingo de vergonha naquela garota, se houvesse alguma maneira de por um holofote nela a cada vez que abria a boca, ela o faria sorridente.
Isso foi bom, eu parecia estar entendendo melhor as garotas ao meu redor, Lillet o fez não por ter uma personalidade vergonhosa, ela é literal… Demais. Ela pensa simples demais sobre o que ouve e faz, para seu cérebro esse acontecimento era ‘eu passei a noite fora com meu namorado e estou sendo julgada por isso’, como uma adolescente se sente pressionada ao topar com os pais enquanto porta um chupão no pescoço.
Fofa, inocente e problemática, e ainda tem os gatilhos.
Bom, amanhã aquele alguém virá, que sabe lidar com essas todas, até lá eu preciso resolver esse problema.
Eu segui ignorando, fugindo, dando desculpas, mas infelizmente eu preciso tirar esse peso das costas, veja, não seria bom para ninguém se eu não acordasse no amanhã por causa de maus entendidos e ciúmes vindo de mulheres que eu nem mesmo tenho um relacionamento.
“Lillet, eu te odeio, nunca mais fale comigo.”
Ela é literal, palavras fáceis facilitariam.
Quer dizer…
“Ouçam, Mazou e Suzume.”
Arrastei os pés no carpete desgrudando de Lillet, enquanto olhava a decoração, uma mansão de madeira bem polida, o verniz reluzia marrom, a decoração era simples com vasos, poucas plantas e muitos móveis com gavetas, parece palco de algum bom jogo de terror com corredores e esposas psicóticas.
Sentei sobre o sofá, havia nessa sala dois sofás com uma mesa entre eles e nas laterais duas poltronas, todas marrons. De frente às três eu comecei.
Eu preciso cortar as ervas daninhas.
“Eu não sou posse.”
“Discordo.” Prontamente, veio a possessiva mais ativa.
“Suzu, não era uma pauta, é só um fato, eu não sou de ninguém, estou cansado de ter que mediar à quem dou atenção, se faço ou não um cafuné, se durmo ou não na minha cama.” Naquela hora do chá, somente Sthenno continuou saboreando seu chá.
Ela levava a xícara à boca, depois de um sopro e um gole curto ela levava para as cobras, uma a uma, sem esquecer de ninguém.
Não é tão difícil não esquecer de dar atenção a nenhuma quando elas são quietas e organizadas como as serpentes verdes. Sthenno parecia uma encantadora de cobras, fazia elas se sentirem alegres e confortáveis sem uma flauta.
Não pode ser ajudado, as serpentes ariscas que eu domo são só duas, e elas não conseguem fazer o mínimo pela convivência.
“Eu, mesmo que não saiba como dizer isso, aprecio a companhia.” As duas suavizaram as expressões rígidas com a confissão. “Suzume é uma peste, uma pirralha, mas é divertida às vezes. Mazou dorme mais que existe, mas eu ainda aprecio as conversas contigo. Mas eu estou farto, essa guerrinha é um saco, parem, pelo amor. Eu não tenho dona.”
“Bom… O velho contrato diz outra coisa.” Suzamine argumentou.
“Quais eram nossos termos?”
“Ehh… Cônjuge? Algo assim.”
Mazou ergueu as sobrancelhas. “Casados?”
“Mazo. Eu não me caso com garotinhas.”
“Você sempre teve essa mania de justificar sua perversão numa ética moral e traí-lá depois, mas dessa vez foi surpreendente.”
“Hey!” Eu e Suzume chamamos, ambos ofendidos, por motivos diferentes.
Eu vou precisar ser mais sério e direto aqui.
“Os termos eram uma parceria, sangue e proteção desde que ela não atacasse nenhum civil, certo?”
“…É, é.” Talvez coagida pela minha seriedade, Suzu confessou.
Perfeito.
“Certo, partindo disso, você não tem direito sobre a minha vida romântica ou nada parecido.” Ela parecia um pouco derrotada, Mazou pareceu sentir pena ao seu lado, mas ainda estava feliz demais com a declaração para se preocupar de verdade. Eu tive a impressão de ver um sorriso malicioso de canto.
Atuando, no fim, ela está só fazendo tudo isso para se divertir.
Suzamine estava podada. Isso era suficiente.
“Contudo isso vem ao outro ponto, Mazou.”
“Yup—!” Ela voltou o olhar para mim mais atenta.
“Nós não…” As palavras me engasgaram, grudaram na garganta e eu precisei cuspi-lás. “Nós não temos nada.”
“A-a-ah?” Ela não sabia onde olhar.
“Não se aproxime romanticamente de quem não tem apreço, não há nada entre nós.”
Nada.
Vamos aos fatos, fora do mundo da fantasia.
Eu vivi pregando que yokais podem sim viver em comunhão, talvez não integrados na sociedade, mas que podem viver sem se degladiar com os humanos? Podem.
Nos meus últimos anos eu repeti que um dia poderia surgir um mundo onde os yokais sentiriam e poderiam ser sentidos, onde árvores de amor, comunhão e fraternidade poderiam germinar. Ponto é, esse mundo ideal não é este que vivemos.
Eu sou e sempre fui racional, mesmo por uma causa muito sentimental, Namae-nai me ensinou que você será sempre subestimado trazer suas causas pautadas só em emoção, o mundo tem engrenagens, você tem que substituí-las pelas que quer, não arrancar todas e deixar que a sociedade funcione. No mundo da fantasia, há uma ou outra árvore de bons sentimentos crescendo e sufocando em meio às engrenagens.
Mas isso não é como o mundo atual funciona.
Mazou é possessiva, mas é de uma maneira diferente, e eu demorei a notar alguns pequenos traços.
Nunca errava, nos primeiros dias ela agiu errática, mudava de opinião como quem troca de roupa, numa hora eu era um pervertido por insinuar uma piada sexual, noutra, ela andava semi-nua em minha frente dizendo ‘a carne só cai no prato do vegano’.
Ela estava testando, ela queria saber como agir, qual modus operandi usar, que personalidade eu gostava.
Pelo amor. Eu realmente precisei refletir por um dia sobre a ideia do ‘A yokai que come desejos tem seu próprios desejos’ pra compreender que não, ela não tinha mudado, a minha percepção sobre ela tinha.
Oh céus, Mazou não come desejos, ela precisa ser desejada pra se alimentar.
Não seu corpo físico exatamente, eu demorei pra entender.
Sempre que contrariada demais, ela cedia. Se havia algo que eu não gostava nela, ela cedia. Sua forma fantasmagórica, frio do corpo, a falta de expressão no rosto, o beijo, tudo foi lapidando até eu gostar dela, ou melhor, de como agia.
“Mas…”
“Exatamente o que eu disse, nós não somos nada.”
Mazougaharachou, o demônio encasulado da borboleta, petrificou como se estivesse de volta à crisálida.
Foi difícil racionalizar até aqui, o sentimento de estar enganado a cada curva no raciocínio.
Mas faz sentido, agora que ela está solta do selo, seu comportamento tem que imitar coisas desejadas não por mim, mas por todos. Isso inclui dormir o dia todo, jogar um videogame e se encher mais ainda de porcaria, minha teoria é que esses traços sumiriam se continuássemos com o selo, mas como foi tirado, pioraram.
Eu estive pensando.
Pensando por boas horas, repensando minha situação de vida atual.
Não faz sentido que Mazou, que segue o princípio de imitar desejos, tenha desejos.
Isso é, desde que ela saiu do selo, toda e qualquer interação comigo foi fruto de desejo alheio, desejo reprimido, libido, o desejo por um relacionamento, o desejo sexual, o desejo da fidelidade.
Mazou é um Oni, e durante todo esse tempo recebeu um tratamento vip por este, mas isso trás velhos dilemas.
Onis são criados pelos humanos, reflexos dos humanos, Mazou pode ter tido uma vida antes daquele dia em Vegas, quando o conceito foi enfraquecido ao máximo e ela foi reduzida à fantasma.
Sempre foi monstro. Mesmo antes de ser fantasma, ela não poderia ter desejos próprios se isso fosse verdade. Ou um, ou outro, ou ela sempre seguiu essa regra de sua existência, ou nunca foi presa a ela.
E se ela nem sempre foi monstro? Você pergunta.
Nunca houve nenhum relato, não há como provar essa possibilidades, e eu fui ensinado a correr pelo caminho racional até nas causas mais emocionais.
A teoria mais provável, como sendo um jovem de dezoito anos, ainda com hormônios e desejos, além de ser solitário, eu não notei nada disto. Mas nunca houve reais sentimentos da outra parte e eu não deveria investir nessa relação interpessoal mais que já investi.
São boas conversas, eu não pretendo abandoná-las, mas não posso continuar nessa brincadeira ecchi harém, não enquanto não houver uma reciprocidade, eu não vou medir atitudes ou palavras, pisar em ovos por relações que não vou levar em frente.
Eu não estou matando laços, eu estou matando problemas.
Eu…
Eu permaneci preso nos meus pensamentos, ensaiando de novo o discurso que pensei durante o caminho, esperando sair de sua boca somente um ‘por que?’, e então eu lhe bombardearia com todas essas informações que foram pensadas muito previamente para provar que eu não estava louco.
Eu não sou um louco solitário que afasta os outros, sei disso, são as pessoas que são disfuncionais demais, é um laço que não vale, simplesmente não vale.
Todas estavam lá, paradas.
As três principais, petrificadas, o único som audível era a língua da serpente dançando suave sobre chá.
Eu estava abandonando esse romance agridoce que se formou sem que eu percebesse.
Não haveria mais melação vindo de Suzamine, talvez em uma piada ou outra, mas ela geralmente fazia para provocar.
Mazou, a principal afetada estava estática, Sthenno estava à parte da conversa, mas também parecia tensa, Lillet esteve num estado estranho desde a rejeição.
Abandono de possíveis futuros.
Morte de mentiras.
Petrificadas com palavras.
Enfim, eu entendi que não era a mesa que faltava espaço.
Um silêncio que durou uma eternidade, antes de um choro infantil cortar a tensão.
Ouça, eu fiz uma outra descoberta.
O gatilho que troca Lilith e Lillet é abandono. Talvez seja algum paralelo com a sua morte ou algum trauma parental, mas a R/E não me deu essa informação.
A cada soluçar fraco e tosse no meu peito, a garota pequena e cheia de tatuagens desabava ainda mais em lágrimas, não tinha forças para segurar o próprio corpo e caia sobre mim.
Essa não era Lillet, essa era Lilith.
—Corte—
―切―
—Corte—
A escada de três degraus parecia ainda firme, como sempre foi. Confiável mesmo sem corrimão.
Confiável?
Eu não sou covarde.
Eu apenas estou saindo de uma furada, não é covardia, é racionalidade.
A madeira rangeu, a porta correu, curvando para onde já foi dentro, agora não mais, arranhou o chão e fez um som agudo como uma risada de bruxa.
Eu não sou um pervertido.
Nunca foi meu sonho ser rodeado por várias mulheres que me desejam, e mesmo se fosse, esse não é o caso, não há um real afeto aqui.
No chão, as fundações e piso de madeira indicavam que houve em algum momento uma casa aqui, uma casa com quatro cômodos, um corredor e uma varanda.
Cigarro, de novo. Eu tinha dado um tempo, talvez por medo de perder a proximidade que estávamos criando. Digo, ela reclamou do cheiro, como um bom anfitrião eu estava certo em fazê-lo, certo?
Ou talvez só quisesse outro beijo.
Eu só…
Argh, pensar não era a minha maior qualidade? Onde está meu supercérebro que derreteria qualquer neuralink?
Eu faço piadas sempre que estou estressado, tenso, prestes à morrer. Demorei a notar que nos últimos dias eu estive sendo o próprio buggy.
Fechei a porta às minhas costas, ela não bateu, o ferrolho estava quebrado a uma semana. No dia do mercado, quando eu estava com as mãos ocupadas e Mazou parecia ocupada demais com o azul eu chutei o trinco.
Mas fechei mesmo assim, com o peso do corpo.
E desabei.
Não sei como a porta aguentou o peso do meu corpo, se eu mesmo não suportei ele. Sentei no chão.
Eu pensei algo errado? Há alguma falha na minha linha de raciocínio? Alguma inconsistência? Algo que eu esqueci?
Não. Eu não consigo lembrar de nada que torne a minha tese inválida.
Então porque? Os olhares não saem.
Os olhares, o choro, a seriedade. Eu não entendo.
Não há erro aqui, porque elas agiram como se fosse um funeral?
Quem morreu?
Ha, haha. Um trocadilho besta.
Uma vampira, uma fantasma e uma jiangshi, as três estão mortas, ora.
Ouça esse outro trocadilho besta.
Eu estou petrificado, petrificado de medo, petrificado no tempo.
Não achou engraçado? Acharia se dividisse o teto com uma medusa que não petrifica.
Meu rosto se aconchegou entre os joelhos.
…
“Você quer esquecer?”
Hm?
Quem?
Olhei ao redor, não havia nenhum ser adjacente.
“Você não precisa esquecer tudo, sabe.”
Era uma voz doce, como um cântico, soava ritmada e tinha vozes a acompanhando de fundo em coral.
Olhei de novo, nada.
“Esqueça só o que machuca. Ser usado é divertido quando não se sabe disso.”
Eu pisquei meus olhos repetidamente, fios de cabelo ruivos, no mesmo tom que o meu caíram em frente ao meu rosto. Uma sombra me cobriu, a de um grande chapelão.
“Você ainda tem muito trabalho a fazer.”
Era doce, manhosa, mas não pedia.
Tinha uma autoridade inata, autoridade maior que policiais, presidentes, maior que o supremo.
Eu vi em seus olhos.
Seus olhos violeta com kanjis, um para cada.
‘記 憶’
Eu já havia visto olhos violetas antes, mas eles eram tão esquecíveis.
Aquela autoridade perdida, maior até que o meu mentor.
“Vamos, levante.” Ela disse.
E me estendeu a mão.
.
.
.
“Mãe?”
Notas do autor:
“Ah mas Dante, eu não entendi porra nenhuma!”
Pô, acontecekkkkkkkkkk
“Mas você vai explicar no 3.4, né?”
Er… O próximo na verdade já é o 4.1.
Sim amigos, bem vindos ao final do capítulo 3.
Sem boa noite e sem nada.
É definitivamente um dos finais já feitos, no arco mais difícil até agora (só deus sabe quantos rascunhos eu apaguei.)
Não há muito mais para me estender.
Eis o “new challenger”, Anexo 004: Diabo.
Estrelando a Bel- Não, mas ainda é uma Mary sue.
Até lá.
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