Índice de Capítulo

    — Sério que vocês não estão enjoados com isso? — Akira, com o rosto esverdeado, se segurava firme nas escamas da serpente tentando não cair.

    — Fui pega desprevenida no início, mas meio que me acostumei com isso.

    Noelle continuava desacreditada com a bela visão do mar. Me aproximei para ver o que tinha de tão bonito naquilo, mas assim que olhei para baixo e vi a imensidão do mar, minhas pernas tremeram de medo. Tentei desviar o olhar e continuei olhando para o horizonte.

    — Hm?

    — O que foi Noelle? Viu algo?

    — Ali — estendendo sua mão, apontou para o corvo que sobrevoava os mares sozinho.

    — Nossa! Tá muito longe, mal consigo ver ele!

    — Dizem que a Ilha de Raven é rodeada por corvos, estamos perto.

    Ao ouvir as palavras de Noelle, Akira correu como um louco e se jogou da serpente para o mar.

    Felizmente, consegui agarrá-lo pelo braço, mas seu peso fez com que também me derrubasse.

    — TÁ MALUCO, PORRA?

    — SAKI?

    — EU VOU NADANDO!

    — TU VAI MORRER!

    Em uma tentativa desesperada, Noelle pulou para nos salvar em pleno ar.

    — VOCÊS COMERAM MERDA? — gritei ao ver que todos estavam em queda livre

    Vendo que nós estávamos caindo, a serpente mergulhou em nossa direção. Eu gritei balançando o corpo de Akira enquanto ele já parecia estar desacordado. Quando estávamos prestes a bater com tudo na água, nossa grandiosa salvadora passou rapidamente, rasgando as águas e nos levando de volta aos céus.

    — EU VOU LHE MATAR! EU VOU LHE MATAR! EU VOU LHE MATAR! — eu gritava enfurecida segurando o causador desse desespero pelo pescoço.

    — Saki! Se acalma! — Noelle tentou me parar, mas não o largava por nada.

    Após alguns bons minutos, finalmente nos acalmamos. Noelle suspirava aliviada por eu não ter estrangulado Akira e deixei o mesmo sentado e imóvel enquanto o ameaçava apenas com o olhar.

    — Estamos chegando, já tem muitos corvos por perto.

    À medida que nos aproximávamos, vimos uma névoa densa rodar todo o território de Raven, a serpente se inclinava e diminuía sua velocidade para perto de um cais de madeira na costa da ilha. Assim que pousamos, a atmosfera mudou drasticamente, o ar se tornou pesado, o clima escureceu subitamente e o céu estava coberto por nuvens carregadas.

    “Que estranho, minha mana…”

    — É um pouco diferente do que imaginava.

    — Saki? O que ele tá fazendo? — antes mesmo que pudesse olhar para a ilha, Akira beijava o chão agradecendo a todas as divindades.

    — Eu nem conheço esse cara…

    — Obrigado por nos trazer até aqui — Noelle agradecia a serpente que logo levantou voo novamente.

    — O que aconteceu aqui? Árvores mortas, ossos pelo chão, é até mesmo difícil de respirar.

    — Aquela moça nos disse que a ilha não é visitada há anos, talvez tenha sido abandonada.

    — Melhor acharmos logo um lugar para ficar.

    — Não tem nenhum mapa na sua mochila? — Akira enfim se levantou.

    — Cala a boca antes que eu te jogue no fundo do mar.

    — Fale o que quiser, mas você também estava com medo.

    — Com medo? Aquilo não era medo, apenas não sou a maior fã do mar aberto.

    — Sei…

    — Saki, você estava com o mapa da floresta e o da cidade, talvez tenha algum dessa ilha.

    — É possível, vai ser difícil procurar por algo que não tenho certeza se possuo, ainda não me acostumei totalmente a usar essa mochila.

    No fim, não encontrei nenhum mapa em específico, tudo que consegui foi pegar todos os papéis de uma vez.

    — Vamos ter que procurar um a um, me ajudem aqui.

    Havia dezenas de mapas, dei alguns deles para Noelle e Akira e procuramos pelo o que precisávamos. Estava passando as folhas uma por uma até olhar para o lado e perceber que entre os papéis que Akira carregava havia algo que ele não deveria ver, uma carta que escrevi durante meu treinamento com Elena.

    — Já terminei por aqui, Akira, me dá uma parte — sutilmente, peguei a carta assim que ele me passou os outros mapas.

    “Seria constrangedor se ele visse isso, melhor guardar direito”

    — Achei! — gritou Noelle.

    Fomos rapidamente até ela e vimos o mapa. Não era uma ilha tão grande e parecia um pouco diferente do que estava no mapa, além disso, três pontos marcados no mapa me chamaram atenção.

    — Bar do Lírio Verde, Gioll e Biblioteca… Para onde vamos?

    — Melhor irmos para o bar buscar informações, confesso que tô um pouco curiosa sobre o que é Gioll.

    — Então vamos logo, preciso beber algo logo.

    Deixei o mapa nas mãos de Noelle, se eu os guiasse, certamente estaríamos perdidos. Ela tinha um forte senso de direção, o que nos ajudou a chegar no bar em poucos minutos.

    Um estabelecimento um pouco desgastado, uma placa pintada com tinta neon verde estava pendurada por teias de aranha que iriam cair a qualquer momento. A frente do lugar possuía uma porta como aquelas vistas em filmes de velho oeste, mas apenas seu lado direito estava firme na parede, enquanto o outro lado estava jogado no chão.

    — Acho que eu consigo passar mais alguns dias sem água…

    — Ainda vamos entrar? — perguntou Noelle.

    — Vamos só fazer umas perguntas e sair rápido, nada de mais.

    Quando entramos, nos surpreendemos com o ambiente bem cuidado, diferente de sua fachada, as mesas e cadeiras estavam em bom estado e os drinks atrás do Barman pareciam de ótima qualidade. Em toda extensão do lugar, havia apenas um homem bebum de cabelos negros largado do balcão coberto por um sobretudo bege e uma máquina de dança isolada no fundo.

    — Talvez não seja tão ruim assim.

    Ficamos aliviados com a surpresa e decidimos entrar e tomar uma bebida. Nos aproximamos do balcão onde um Barman limpava restos de bebidas jogados ao redor do homem desacordado.

    O Barman aparentava ser um senhor de idade, com um cabelo grisalho e jogado para o lado tentando esconder a falta de cabelo. Ele usava um monóculo dourado que se apoiava em seu grande nariz redondo. Ao nos ver, parou tudo que estava fazendo e disse:

    — Oh! Clientes! Sejam Bem-Vindos!

    Após cumprimentá-lo, sentamos rapidamente nos bancos.

    — Me vê uma água, por favor, campeão — Akira pediu sua bebida antes mesmo que o Barman pudesse perguntar.

    — Claro! E as senhoritas? O que vão querer?

    — Só um suco, por favor — pediu Noelle educadamente.

    — Alguma preferência?

    — Qualquer um que esteja gelado.

    “Uau, ela realmente tá pedindo” Eu me perguntava como Noelle iria interagir com outras pessoas, quando saímos para passear pela cidade ela sempre estava indecisa e eu tinha que pedir tudo. Vê-la tomando decisões por conta própria me deixou aliviada.

    — Sem problemas!

    — O que tem de bom pra beber?

    — Além de suco e água, temos bebidas gaseificadas e vários drinks.

    — Tem saquê?

    — O melhor da região!

    — Vou querer uma garrafa.

    — Certo, um momentinho.

    Com nossos pedidos anotados, ele desceu de um banquinho e foi pegar as bebidas. 

    “Um anão?” era o que nossas expressões diziam.

    As bebidas chegaram em poucos minutos, o pequeno senhor subiu em seu banco e nos entregou com copos de diferentes tamanhos.

    — Aqui está!

    — Obrigada.

    — Ei, velho, esse cara tá aqui há quanto tempo? — perguntou Akira apontando para o bebum ao seu lado.

    — Já tem algumas horas, mas ele tá respirando, não tem problema — respondeu enquanto dava alguns tapas em seu rosto.

    — Ele tá babando…

    — É sempre assim. Deixem ele, não vai incomodar.

    Passamos um bom tempo descansando em um espaço com um sofá, algumas poltronas e uma mesa, e sozinha, tomei toda a garrafa de saquê e o álcool começou a subir para a cabeça. Como resultado, avistei a máquina de dança ligada tocando algumas músicas.

    — Eu vou tentar… — Ainda estava meio sóbria, então estava consciente das minhas ações futuras.

    — Tem certeza? Ainda temos que procurar um lugar para ficar — perguntou Noelle preocupada.

    — Tenho. Relaxa.

    A máquina era ligada a um piso onde tinha gravado setas em várias direções, olhei para aquilo e pensei:

    “Não deve ser tão difícil”

    Escolhi qualquer música que o jogo me permitia e comecei a remexer aos poucos e lentamente fui pegando o jeito. Eu já estava fazendo altas pontuações no placar de jogadores, subindo cada vez mais no ranking.

    — Deixa eu jogar um pouco — Akira chegou cortando a minha diversão ao meio.

    — Pera aí! Tô quase batendo o recorde!

    — Nem se esforça muito, você não vai me passar — uma provocação bem sucedida.

    — Como é? Tenta aí então!

    — Hehe! — um sorriso maldoso veio em sua face

    Assim que o deixei jogar, me arrependi instantaneamente. Ele estalou todas as juntas do seu corpo, o que logo me fez engolir seco.

    — Tá tentando se aparecer? — tentei fazê-lo parar ao ver que ele estava colocando todas as opções na maior dificuldade possível.

    “Em 3, 2, 1 VAI!”

    Seus passos assustariam até mesmo o deus das danças, fiquei de queixo caído com seus movimentos.

    — O garoto manda bem — disse o barman chegando ao meu lado.

    — Eu tenho que admitir, ele tem o gotejo.

    — É ISSO AÍ! — gritou ao bater todos os recordes da máquina — Tinha tempo que eu não dançava!

    — Isso foi do caralho! Desde quando você dança assim?

    Enquanto eu estava impressionada com os passos de Akira, dois homens entraram no bar chutando a porta.

    — Saki, calma aí… — Akira se afastou e ficou observando os dois de longe por trás de uma pilastra de madeira — Esses caras parecem problemas…

    Levemente embriagada, não me toquei no que estava acontecendo e subi na máquina de dança novamente.

    Ponto de Vista de Akira:

    — Ei, velhote! Traz a porra da minha cerveja! — o homem mais a frente, mal-educado e escandaloso, tinha um corpo largo e usava roupas sujas de vômito e bebida, também segurava uma garrafa de vidro quebrada com sangue pingando em sua ponta.

    Um outro rapaz mais alto, sua cabeça quase alcançava o teto do bar, chegou calado vestindo uma roupa escura, disfarçando de forma porca o sangue que a sujou.

    — Estão sujando todo o meu bar, peço que voltem quando estiverem limpos.

    — Eu disse, traz, a porra, da cerveja! — o ameaçou com a garrafa próxima ao seu pescoço.

    — C-Certo.

    — Saki! Quer parar com isso por um instante? — perguntei sussurrando.

    — Não!

    A voz de Saki chamou a atenção dos encrenqueiros rapidamente.

    — Olha! Tem gente que vêm a esse bar todo fudido é? — chegou cada vez mais perto do sofá onde Noelle estava — Uh? Essa cidade tem uma belezinha como essa?

    Noelle fingia que ambos nem estavam ali e continuou tomando sua bebida.

    — Não tá me vendo aqui não? — puxou seu queixo para perto de seu rosto.

    — Uhg! — ela derramou o suco em cima da mesa — Me solta!

    — Não… Hoje foi um dia estressante e tem tempo que não me satisfaço… Você apareceu na hora perfeita — com seus grandes braços, suspendeu Noelle a pressionando contra a parede e retirando a fivela de seu cinto.

    — Não! Me larga!

    No momento em que vi o desespero de Noelle, deixei de me esconder e incendei meu punho.

    — PAR…

    Antes que eu gritasse para ele parar, escutei o som de uma lâmina saindo de sua bainha e em seguida, um silêncio absoluto.

    Eu olhava para os olhos em prantos de Noelle e sua expressão de medo sendo lavada pelo sangue que escorria em seu rosto. Quando me dei conta, a cabeça do maldito estava decapitada no chão, Noelle caiu no chão tossindo com a mão em sua garganta e logo corri para ajudar.

    — Noelle? — gritei preocupado.

    Meu grito finalmente tirou a mente de Saki de dentro do jogo e ela logo se virou.

    — Quê? Noelle?

    Saki e eu ajudamos Noelle a se levantar, ela estava em choque, com o rosto coberto por sangue e sem palavras.

    — Que merda aconteceu aqui? Por que ela está coberta de sangue? — o álcool desapareceu da cabeça de Saki e ela parecia estar sóbria novamente.

    — Aquele idiota tentou estuprar a amiga de vocês — uma voz grossa e máscula com tom de seriedade entrou por nossos ouvidos.

    Assim que olhei para cima, um homem alto de cabelos negros e barba rala estava de pé segurando uma grande katana em suas mãos. Ele vestia um sobretudo bege aberto, algumas faixas que cobriam apenas sua barriga e calças também bege, porém sujas.

    — Desgraçado… Logo quando eu não estava por perto! Que porra!

    — Vi que você ia agir garoto, mas apenas queimar seu rosto não iria resolver o problema, quando atacar, tem que acertar pra matar.

    — Droga…

    — Hm? — De repente, uma grande sombra nos cobriu.

    O outro homem que havia entrado no bar estava nos olhando com ódio nos olhos, seus braços e boca estavam abertos como uma besta, assim ameaçou nos atacar.

    — Você também quer morrer, é? — disse com a katana cortando levemente o pescoço do gigante.

    Ele abaixou os braços e lágrimas escorreram de seus olhos, em um relance, consegui ver que dentro de sua boca não havia língua, por isso, sem dizer uma única palavra, deixou o bar arrastando o corpo do seu companheiro e carregando sua cabeça debaixo dos braços.

    — S-Seu nome… Como se chama? — perguntou Noelle.

    — Karayan.

    — Muito obrigada…

    — Também agradecemos, mas Noelle, agora você precisa lavar o seu rosto.

    — Certo…

    Saki se levantou com Noelle e a levou para o banheiro, enquanto eu fiquei a sós com Karayan.

    — Você disse que aqui eu precisava acertar para matar, é sempre assim nesse lugar?

    — É uma pena.

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