Capítulo 20 - Amaterasu
“Há muito tempo atrás, vivíamos um período de paz. Os bruxos conduziam pesquisas revolucionárias, a Ilha de Raven se tornava cada vez mais a nação mais poderosa do mundo, tudo graças a sua Bruxa Celestial, Viollet, A Bruxa Iluminada.
Viollet conquistou respeito por todos os seres pensantes, seu poder e sabedoria fez com que fosse nomeada a Bruxa Celestial com apenas 25 anos, a mais nova de todos os tempos. Durante seu período como Alta Sacerdotisa, Viollet fez negócios por todo o mundo, a fim de expandir suas relações comerciais. Aqueles que se negavam a aceitar seus acordos, eram comprados facilmente com uma aliança militar que os beneficiassem.
Mesmo com toda sua força, a tão aclamada Filha de Balder, o Deus da luz, não usava de seu poder para conseguir o que quer, por isso, os únicos que a temiam, eram seus inimigos.
Em uma de suas viagens, encontrou uma criança perdida, sem pais e sem família. Em um ato de compaixão, criou aquela criança como seu próprio filho. Boatos diziam que ela viu uma figura familiar naquela criança e que isso era apenas um erro de seu passado que tentava consertar. A criança nunca quis aparecer ao público e poucas pessoas acreditavam que ela de fato existiam, até mesmo, a tornando um mito.
Quando completou 5 anos no topo, Viollet preparou um grande anúncio. Todos seus amigos íntimos foram convidados ao salão, enquanto seu povo aguardava suas palavras serem transmitidas. A festa se iniciou, o salão esbanjava alegria e então, Viollet em frente a todos, anunciou que aguardava uma criança em seu ventre.
Os sentimentos do povo foram divididos em inveja e alegria, alguns festejavam a boa notícia, enquanto outros viravam seus olhares, porém também houve aqueles que se sentiram confusos, afinal, quem seria o pai dessa criança? Esse mistério nunca foi revelado e a criança nasceu sem um pai aparente.
Poucos dias após a criança ter nascido, uma figura maligna, veio para Raven. Ele trouxe a destruição e discórdia para o povo, o desespero assolava a nação dos bruxos. Para proteger seu povo, Viollet deu as caras, combatendo as trevas. Luz contra a escuridão.
A batalha durou por horas, sua filha, aos cuidados do irmão adotado, chorava por sua mãe. Sem poder sequer desviar o olhar, Viollet cantava uma bela canção para a criança dormir enquanto sua magia era pouco efetiva em seu oponente. Contra sua vontade, ela recorreu ao seu último recurso, selando o “demônio da escuridão” e pagando um preço para isso.
Sua vida foi tomada em troca da segurança e prosperidade da ilha. Seus filhos nunca mais apareceram ao público e a reconstrução de Raven estava sendo um processo doloroso e sombrio, e foi nesse momento de fraqueza que fomos atacados pela maldição da névoa negra.
Tudo que tocava a névoa se tornava morto e dessa forma, estamos presos aqui para sempre.”
Essa foi a história que o barman nos contou. Mesmo que meu interior estivesse cheio de dúvidas e aflições, mantive a calma.
— Então existe alguém mais forte do que a própria Bruxa Celestial?
— Sim, ninguém até hoje descobriu quais são os limites da magia. Pensávamos que um núcleo desperto seria o auge de seu poder.
— Um nú…
— Com licença — Noelle me interrompeu — Há quanto tempo tudo isso aconteceu?
— Não me recordo exatamente, mas acredito que tenha se passado uns 18 anos.
Os olhos de Noelle mostravam um vazio, como se ela não estivesse ali conosco e estava imersa em sua própria mente.
— Já chega de histórias, velhote, isso não vai ajudá-los em nada! — exclamou Karayan ao sair do banheiro.
Ponto de Vista de Noelle:
Milhares de coisas vieram à minha mente naquele momento, então fiz o que pude para ignorar esses pensamentos, deixando os eventos passados para trás e focando no presente.
— Se acharmos quem lançou a maldição, podemos desfazê-la.
— E se ele se negar? — retrucou Saki
— Vamos forçá-lo.
— Parece que eu os julguei mal — disse o barman com um riso sarcástico.
— Vocês enlouqueceram? A pessoa que fez isso deve ser estupidamente poderosa! — Akira interviu
— A Noelle tem razão. É a forma mais segura de sairmos daqui.
— Eu tô fora! É suicidio!
— Akira… vamos precisar de você — assim que o disse, ele logo mudou sua feição, parecendo ir de bom grado.
— Tá — seu rosto avermelhado explicou perfeitamente a repentina mudança de opinião — A gente meio que já fez o que tínhamos para fazer aqui, então não vou ficar olhando pro teto…
— Você muda de ideia muito rápido… — Saki provocou.
— Cala a boca!
Sem perder mais tempo, saímos do bar em busca do feiticeiro que lançou a maldição sobre a Ilha de Raven.
Ponto de Vista de Karayan:
— Se me lembro bem, um dia você me disse que havia perdido sua irmã para a névoa negra, não? — questionou o barman.
— Sim — respondi acendendo um cigarro.
— E isso foi há 18 anos, certo?
— Sim.
— E por que não contou a ela?
— Ela iria me encher de perguntas… — a fumaça escondia meu leve sorriso arrogante.
— Você realmente não vale merda nenhuma — me insultou jogando um jato d’água, apagando o cigarro.
Ponto de Vista de Noelle:
— Então como vamos achar a origem da maldição? — perguntou curioso.
— Eu tenho uma ideia. Toda magia vem de algum lugar, a névoa negra nunca está parada, se seguirmos o fluxo contrário, podemos achar o “ponto zero”
— Então é só encontrar e forçá-lo a parar a névoa — Saki exclamou batendo os punhos.
— Vai ser muito perigoso seguir a névoa de perto. Como vamos fazer isso sem termos o risco de tocar nela?
— É uma boa pergunta, também não temos certeza se a origem é dentro da ilha, se tivermos que sair vai ser um problema — apontou Saki.
— Vocês têm razão, Raven é uma grande nação, caso a pessoa não esteja aqui, iria demorar dias dando voltas na ilha em vão.
Todos nós tentávamos pensar em uma maneira eficiente para encontrar a origem da névoa, sem muitas respostas, uma voz outrora escutada recentemente veio aos nossos ouvidos.
— Não há névoa negra fora desse lugar — a voz calma e serena de Shosuke disse exatamente o que precisávamos saber.
— Quê? Você de novo?
— Qualé! Cê tá seguindo a gente?
— Antes tinha sido coincidência…
— ENTÃO VOCÊ TÁ SEGUINDO A GENTE! — os olhos de Akira arderam em chamas.
Eles eram como cão e gato, tinham uma adversidade natural, mas o gato não parecia se importar tanto com a existência do cachorro.
— Então a névoa deu início aqui mesmo na ilha, mas… como você sabe disso?
Ignorando completamente a fúria dos dois, Shosuke se virou para mim.
— Viajei por vários lugares desse mundo e não vi nenhuma maldição como essa.
— Espera aí, você também passou pela névoa?
— Sim…
— Como fez isso? Talvez possa ajudar a salvar a ilha!
— Salvar a ilha? Não há motivos para salvar algo que já está morto.
Suas palavras pesaram em meu coração. As histórias cantadas que ouvi em minha infância estavam destruídas?
Desde pequena ouvi as histórias das gloriosas bruxas de Raven, seus feitos majestosos e compaixão pelos fracos. Sonhei que um dia poderia me libertar das amarras de meu pai e me tornar uma bruxa como aquelas que admirei, mas ao ouvir isso, vi minhas ambições devastadas.
“Você sempre será fraca!” “Nunca será suficiente!” eram coisas que minha mente pensava constantemente. Mesmo assim, fiz o que fiz durante toda a minha vida e enganei a mim mesma, dizendo que tudo era mentira.
— De qualquer forma, eu devo fazer isso.
— Mas por que? Que obrigação você tem com uma ilha destruída? — Akira perguntou confuso.
Saki tomou a frente se aproximando de mim. Pondo a mão em meu ombro, perguntou:
— Noelle, você quer fazer isso? — em um tom sério, diferente do seu habitual.
— Sim…
— Então vamos fazer.
Decisiva, Saki foi até Shosuke.
— A maldição não o afeta, precisamos de você… Venha com a gente, por favor — seus rostos estavam bem próximos, Shosuke parecia desconfortável.
— Certo… — aceitou após se sentir intimidado.
Ela olhou para Akira com uma expressão debochada, como se ele não tivesse mais escolha.
— Tá… mas só porque eu não consigo sair daqui sem vocês.
Saki perdeu sua postura em instantes, rindo ao deixá-lo nessa situação sem fuga.
Ponto de Vista de Elena:
Eu andava apressada pelas ruas de Shryne rapidamente até a torre central da cidade.
“Sinceramente, o que Melissa quer me chamando em um momento como esse? Não é como se eu tivesse todo o tempo do mundo!”
Passei todo o caminho sem restrição alguma, minha relação com a rainha me permitia fazer isso. O elevador seria devagar demais, ficaria ansiosa se esperasse ele subir todo o caminho, então decidi subir pela escada.
O corredor com o tapete vermelho parecia o mesmo desde a última vez que a visitei, não pude reparar muito nos detalhes e logo me aproximei de seus aposentos.
— Melissa, o que foi? Não tô com muito — antes mesmo que a pudesse ver, perguntei abrindo a porta.
— Ah, por favor, Galliard poderia muito bem fazer uma dimensão onde o tempo não passa para você, é fácil para ele — retrucou em um tom divertido e infantil.
— Você realmente não mudou nada.
— Enfim, que bom que você veio, senti sua falta.
— E todos sentem a sua. Quanto tempo faz que não nos visita?
— Me desculpe, sabe que o tempo aqui é escasso.
— E é por isso que eu sei que não me chamou aqui pra botar o papo em dia.
— Aff, que reencontro menos emocionante — seus olhos esmeralda relaxaram em decepção.
— As circunstâncias não são as melhores…
— É verdade, queria que pudéssemos conversar mais, mas te chamei aqui para outra coisa.
— O que foi?
Seus olhos tomaram a expressão de uma rainha determinada, focada em seu objetivo. Em seguida, disparou as palavras que eu temia ouvir durante muito tempo.
— A Elena já seria o suficiente, mas… preciso que a Amaterasu volte.
No mesmo instante, o passado veio a minha mente em um piscar de olhos. Meu coração apertou enquanto minhas mãos tremiam.
— Como é? — cerrei os punhos a fim de me conter.
— Sei que estou pedindo muito…
— A Amaterasu se foi, já era! Desde àquele dia… não dá mais!
Ela mordeu os lábios em angústia, mas se manteve firme.
— O que está prestes a acontecer…
— Ela se foi no momento que renasci. Já devia ter superado — falei tanto para ela quanto para mim mesma.
— Você já deve estar ciente. Todo o mundo está sendo tomado por eles, o povo está em sofrimento, as capitais são os únicos lugares que estão conseguindo lidar com isso.
Melissa se aproximou de mim, seus passos suaves ecoavam pelo quarto. Segurando um pergaminho enrolado em mãos, ela o abriu em minha frente e com sua magia, fez com que ficasse paralisado no ar.
Eu o li e reli sem acreditar no que estava escrito.
— Nem mesmo eu acho que a Amaterasu resolveria a situação e mesmo se resolvesse, é impossível que ela volte.
— Eu posso financiar uma pesquisa para isso. Tenho recursos o suficiente e se Galliard comandar a operação podemos…
— Ele nunca faria isso.
— Mas…
— Olha, depois daquele dia, todos nós fizemos uma promessa, até você. Galliard parou com seus experimentos, Viollet, Ezequiel, Elliot… Todos nós fizemos uma promessa.
— Eu sei… Me desculpe te chamar aqui pra isso.
Lentamente, me virei para ir embora.
— Deve haver outras formas de fazer isso, você é inteligente, vai descobrir — tentei a consolar da decepção,
— Foi bom te ver.
— É, foi bom.
— Sabe que eles… quer dizer, “Ela” não vai parar, não é?
— Infelizmente, sim…
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