Índice de Capítulo

    — O Selo foi enfraquecido e seu corpo já está 100% estável, em outras palavras, finalizamos todos os procedimentos médicos — Eco, espelhando a imagem de Galliard, deu seu resultado final.

    — Finalmente, pensei que isso nunca acabaria — suspirei aliviada.

    — Foram apenas 3 dias desde que você acordou — disse Akira.

    — Você não sabe o quão desconfortável é tudo isso.

    — Espero que eu continue assim.

    — E a Saki? Onde ela está?

    — Desde que recebeu alta, ela está indo treinar todos os dias pela manhã.

    — Ótimo, sabe onde é?

    — Vem comigo.

    Akira me levou a uma área repleta de destroços espalhados em um ambiente plano, lá, Saki e Shosuke trocavam golpes freneticamente.

    — Eles estão lutando?

    — Por algum motivo, Saki é a única pessoa que esse cara pode tocar sem que ele faça um escândalo. Quando descobriu isso, ela não o deixou em paz. Não que eu me importe, na verdade, essa tem sido minha diversão nos últimos dias.

    — Entendo… É uma espada na mão dele?

    — Pelo visto, ele é um espadachim ou algo do tipo.

    Saki pressionava Shosuke durante toda a luta, fazendo ele usar apenas sua espada para se defender. Os punhos pesados da minha amiga criavam pequenas ondas de choque que reverberavam pela lâmina da espada.

    — Nossa, ela não tá pegando leve.

    — Mesmo assim, ela ainda vive repetindo que não é suficiente.

    No momento em que Saki desferiu seu golpe final, Shosuke moveu seus pés suavemente, como se estivesse seguindo o fluxo do vento para trás de sua oponente, tomando a distâncias de poucos metros.

    — Merda! — ela resmungou.

    Os dois avançaram um contra o outro, preparando um golpe definitivo. Shosuke cortou com sua espada de baixo para cima, enquanto Saki saltava e girava sua panturrilha para baixo como um machado. Antes que seus golpes se chocassem, Karayan, com sua pele e roupas completamente pretas e olhos amarelos, parou ambos os ataques com sua mão nua.

    — Já chega vocês dois — a sua voz ecoou pelo ambiente, mas seu corpo não parecia nem mesmo abrir a boca — Isso é apenas um treino — seu corpo se derreteu como cera no fogo.

    Em segundos, como se fosse um ninja, ele apareceu logo atrás de mim.

    — E o que você tá fazendo aqui?

    — Ela já está bem, Eco terminou o seu trabalho — Akira respondeu.

    “Como ele apareceu aqui? Não consegui sentir sua presença em lugar algum” eu me questionava assustada.

    — Já que é assim, seu corpo precisa se acostumar com a sua nova força.

    — N-Nova força? Do que está falando?

    — Você quebrou os seus limites quando lutou contra aquele demônio, isso significa que está mais forte do que antes.

    — Eu… quebrei os meus limites?

    — Todos vocês chegaram à exaustão que nunca haviam visto antes, logo ficaram mais fortes.

    — Eu não sei se é bem assim que funciona…

    — Vai entender quando lutar novamente.

    — Não liga pra isso agora, ele tá falando coisas sem sentido desde que acordou — alertou Akira.

    Enquanto conversávamos, Saki e Shosuke se aproximaram.

    — Noelle! E aí? O que Eco disse? — perguntou Saki, com seu sorriso radiante de sempre.

    — Ele disse que já estou 100%, É impressionante como um ferimento profundo como esse foi curado em dias — respondi passando a mão por cima da cicatriz em meu ombro —  mas acho que preciso me aquecer um pouco antes de sair daqui.

    — Isso é ótimo, eu te ajudo!

    — Você não acabou de lutar com Shosuke? Não está cansada? — perguntei preocupada.

    — Não, ainda não é o suficiente… — Seu olhar foi tomado por melancolia por um instante, até Akira nos interromper.

    — Agora é a minha vez, é melhor você descansar.

    — Merda nenhuma! Todo esse tempo você ficou sozinho no meio das árvores! Por que quer fazer isso só agora? — gritou enfurecida.

    — Acontece que eu estive praticando algumas coisas e essa é uma boa oportunidade para testá-las.

    — Tsc, tanto faz! — Saki deu com os ombros.

    — Então já decidiram? Podem ir com tudo, eu vou estar aqui e impedir que se matem — disse Karayan.

    Ainda um pouco hesitante, afinal, fazia dias que nem mesmo via a cor dos meus raios, eu fui ao centro da arena empoeirada.

    Ponto de Vista de Saki:

    Distante da arena, enquanto virava uma garrafa de água, eu observava a luta dos dois. Ao se reverenciarem, Akira deu sua primeira investida em direção a Noelle como um foguete, usando suas duas mãos para disparar chamas e se impulsionar.

    Noelle parecia surpresa, assim como eu, a última vez que o vimos lutar ele apenas atirava chamas em seus oponentes e estancava o sangue de nossas feridas.

    — Talvez esse papo de quebrar os nossos limites seja verdade, não é? — disse esperando uma resposta de Shosuke.

    — Isso não é nada — respondeu um grunhido.

    Por algum motivo, os dois pareciam ter criado uma rivalidade desde que se viram pela primeira vez e em nenhum momento eles esconderam isso.

    Em resposta ao avanço de Akira, Noelle optou por um ataque direto, o que por sua reação, ele não esperava. Com um raio se aproximando rapidamente, aquele que disparava chamas cobriu seu rosto e peito com os braços. Aproveitando-se da fumaça do golpe, Noelle surgiu em suas costas com ambos os braços abertos e antes que Akira pudesse reagir, em um bater de palmas, invocou um som tal qual ao de um trovão.

    — Mas que merda! — gritou Akira pondo as mãos em seus ouvidos.

    Todos estavam surpresos com aquela velocidade, mas Akira não baixou sua cabeça e ao lançar seus dois braços para frente, levantou uma parede de fogo que não parava de ir para frente, assim, aumentando a distância entre eles.

    — Desde quando você consegue fazer isso? — perguntou Noelle impressionada.

    — A única que ficou parada foi você — provocou.

    — Ha! Não mesmo! — respondeu invocando suas garras trovejantes.

    Suas garras, que outrora eram inconsistentes e frágeis, pareciam mais refinadas, sólidas como o aço e afiadas como um raio.

    Noelle desapareceu com o vento, deixando apenas poeira para trás, aparecendo novamente bem abaixo do queixo de Akira, fazendo assim mais um golpe direto. Por pouco ele conseguiu se esquivar de seu ataque e a contra-atacou com um chute na barriga, que para sua sorte, ela conseguiu bloquear com uma de suas mãos.

    — Eu esqueci o meu bastão, então talvez isso sirva! — disse ao conjurar um bastão de chamas em sua mão — você não vai mais conseguir chegar perto de mim.

    De fato, uma arma como um bastão dá uma grande vantagem ao usuário, impedindo que seu oponente se aproxime com facilidade, mesmo assim, Noelle não parecia preocupada. Ela avançava contra Akira repetidamente, independente de quantas vezes ele a afastava.

    — Ela só está usando ataques diretos… — disse Shosuke.

    — Não é só isso, a Noelle é inteligente demais pra lutar desse jeito, me pergunto o que ela tá pensando.

    De repente, em um único salto, Noelle chega aos céus, usando a gravidade ao seu favor para executar seu ataque. Com o peso de seus braços, ela fez seu corpo girar rapidamente.

    — Eu já disse! Você não vai conseguir me tocar! — ao gritar, Akira foi preso por correntes elétricas que seguravam seus braços e pernas, mas ao liberar suas chamas em grande escala, foi capaz de se soltar facilmente — Você não tá me ouvindo, é? — preparou-se para dar o seu golpe final.

    — Ela não vai conseguir desviar em pleno ar, ela perdeu — confirmou Shosuke.

    — Ainda não… — eu ainda acreditava em sua vitória.

    Se aproximando do chão, Akira já estava prestes a acertar o lindo rosto da Noelle com sua arma, mas no último segundo, seu bastão flamejante desapareceu e Noelle o levou ao chão.

    — Mas o quê? Que merda aconteceu? — Akira se perguntava revoltado, com Noelle apontando suas garras afiadas para o seu rosto.

    — Conjurar uma arma por tanto tempo gasta uma grande quantidade de mana, sabia? — perguntou com deboche.

    — Como você sabia que minha mana iria acabar no momento exato? — ainda mais revoltado.

    — Não tinha como ter a resposta exata, por isso, marquei o chão com runas para fazer aquele feitiço de aprisionamento simples, o que te forçou a consumir a mana que ainda restava.

    — Como eu não vi essa desgraça de runa?

    — Você estava tão confiante com a situação que nem mesmo olhou para o chão. Sem contar que a poeira que você mesmo fez cobriu as runas — Karayan interrompeu

    — Merda…

    — É isso aí, Noelle! — eu fui correndo em sua direção — Eu sabia que você tinha pensado em alguma coisa!

    — Acho que não vou demorar tanto pra entrar no ritmo — respondeu ajudando Akira a se levantar.

    — Não mesmo! Seus ataques estão ainda mais fortes.

    — Parece que controlar a circulação da mana no meu corpo me ajudou a ter um maior domínio sobre ela, era como se fosse uma extensão de mim.

    — É assim que deve ser — disse o fumante acendendo um cigarro — O seu ki É uma extensão do seu próprio corpo.

    — Tsc! Ela só ganhou porque eu esqueci de trazer o meu bastão.

    — Para de chorar por um segundo. Só aceita — retruquei rapidamente.

    — Mesmo se não tivesse esquecido, duvido que a Noelle tivesse perdido — Shosuke o provocou.

    — E quem você pensa que é, hein? Vem pra cima, seu palhaço! — ele pulou em sua direção, mas Karayan o segurou pela cabeça como uma criança.

    — Já chega disso, saiam logo daqui.

    No fim, todos voltaram para as tendas e finalmente nós conseguimos relaxar. Quando a noite caiu, montamos uma fogueira para que os 4 se sentassem ao redor.

    — Agora que não temos mais o que fazer nessa ilha, pra onde vocês vão? — perguntei despretensiosamente.

    — Antares, esse é o destino da minha viagem — respondeu Akira.

    — Aquele monte no “continente nevado”… fiquei sabendo que é um lugar gélido e misterioso, não é?

    — Sim, tenho alguns assuntos pendentes por lá, então…

    — É um pouco longe, não sei se alguém como você conseguiria chegar lá — eu ri de forma sarcástica, claramente o provocando.

    — Vocês me subestimam demais — disse cruzando os braços indignados.

    — Eu estive vagando sem rumo por muito tempo, mas acho que finalmente encontrei um caminho — comentou Shosuke

    — Falando nisso, como diabos você conseguiu passar pela maldição da névoa?

    — Pergunto o mesmo a vocês… — retrucou.

    — Isso é… é algo que não temos respostas…

    — Imaginei… — disse em um suspiro.

    — E você, Noelle? Galliard já te disse qual o seu próximo passo?

    — Na verdade… eu não perguntei nada pra ele. Li as anotações que a minha mãe deixou para mim e descobri que tenho um longo caminho a seguir.

    — O quê?

    — É chamado de “Jornada do Céu” isso vai me levar a “Casa Celestial”. Como o nome sugere, é um lugar onde só uma Bruxa Celestial pode entrar.

    — Se é algo assim, vai ser um longo caminho…

    — Não é como se eu estivesse com pressa, afinal, ainda não sei nada sobre ser uma Bruxa Celestial. Por isso, Eryndor vai ser o lugar onde vou começar esse caminho.

    — Pelo que parece temos muito o que fazer…

    — Então vamos continuar juntos por um tempo, afinal, Antares é a capital Eryndor — Akira comentou — e você, Saki? Pra onde pretende ir?

    As memórias daquele dia passaram por mim em um segundo, trazendo toda a minha frustração com elas. Eu acreditava ser forte, mas fui obrigada a ver o quão arrogante estava sendo, no fim, eu era apenas uma tola ignorante.

    — Ugh — suspirei angustiada — eu acho que tenho um encontro marcado, ou algo assim…

    Todos me olharam confusos.

    — O que foi? — perguntei com o mesmo olhar.

    — Do que você tá falando?

    — Vocês não… ouviram ele?

    — Samaell? A última coisa que me lembro foi de ser esmagado por sua pressão mágica antes de apagar.

    — Entendo…

    Eu expliquei a Akira e Shosuke o que Samaell havia me dito e como já era esperado, eles ficaram espantados.

    — Mas o quê você roubou? Por que fez isso? E como diabos você pretende encontrar essa tal de Lilith? — Akira não parava de perguntar, perguntas que nem mesmo eu tinha a resposta.

    — Eu não sei! Eu não fiz nada disso, tá legal? — respondi agressivamente — De qualquer forma, não pretendo fazer o que ele disse.

    — Mas se não fizer, ele vai emergir tudo em escuridão, ou até pior… — disse Shosuke.

    — É por isso que não posso simplesmente ir até lá do jeito que estou, preciso ficar mais forte — Em nenhum momento eu cogitei em me entregar para Samaell e sua rainha.

    Ponto de Vista de Galliard:

    Assim que Eco terminou seus serviços em Raven, ele retornou a Shryne. Em seu inventário, assim como eu pedi, ele trouxe uma prisão dimensional, um cubo capaz de prender seu alvo inconscientemente em uma dimensão artificial.

    — Ótimo, entregou para eles o encurtador que pedi?

    — Sim, mestre.

    — Enfim, deixe-me ver quem estava por trás disso — eu peguei o cubo em minhas mãos.

    Dentro do laboratório, Elena estava observando a uma certa distância para caso o alvo apresentasse perigo.

    Transmitindo minha mana através do cubo, o prisioneiro foi solto, com suas mãos ainda amarradas. Eu não conseguia acreditar no que via. O rosto desconhecido daquele homem, era a primeira vez que eu o via, mas… a sua presença, eu não conseguiria esquecê-la, não teria como eu não reconhecer o meu velho amigo.

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