Capítulo 35 - Mano a Mano
Ponto de Vista de Noelle:
Eu estava próxima aos 7 cavaleiros quando a luta estava prestes a começar. Me sentei ao lado de uma mulher de cabelo ruivo e armadura esverdeada. Sua armadura coberta por vinhas e espinhos chamava a atenção, mas permaneci quieta e vi o início da batalha.
Saki e Shosuke deram um salto para trás, tomando uma boa distância do Sr. Frost, que por sua vez, cerrou seu punho e o estendeu para frente.
— Este será o meu mundo! — gritou com um sorriso no rosto. Ao abrir a mão, uma nevasca caiu sobre a arena, tornando a arena em um nevoeiro denso e gelado.
— Saki! — eu gritei preocupada.
— Você é a filha de Viollet? — a moça de cabelos ruivos olhou para mim.
— S-Sim, sou eu — seu olhar era intimidador, seu semblante era sério, como alguém que não via a felicidade há muito tempo.
— E esses são seus subordinados?
— Não! São meus amigos!
— Por que uma Bruxa Celestial precisaria de amigos? — voltando seus olhos para a arena.
— Isso importa?
— Não é óbvio? Se qualquer um deles afundar, vão te arrastar para o fundo do poço também.
Suas palavras me irritavam, mas sem perder a calma, respondi.
— Mas, por outro lado, se um deles alcançar seus objetivos, eles também vão te ajudar.
— Hunf! — bufou — Você é inocente, criança, é igual a sua mãe.
— Conheceu minha mãe?
— … — ela permaneceu calada.
Minha atenção voltou para a luta. Saki e Shosuke pareciam em apuros, sem conseguirem encontrar seu oponente naquela nevasca. De repente, um buraco se abre em meio a neve, minha amiga estava lá, com seu punho erguido e um sorriso convencido.
— Eu abro o caminho! — ela gritou.
Seus braços se enchiam de mana, a cor única da sua mana ainda me trazia curiosidade, mas sempre que a via, não podia deixar de me impressionar.
Com mais um soco, Saki abriu o caminho à sua frente, separando a neve para dois lados. Shosuke, por sua vez, investiu rapidamente em direção ao Frost, que deslizou suavemente pela arena, deixando um rastro congelado para trás. Ele patinava de forma magnífica ao mesmo tempo que se esquivava dos ataques.
Cansada, Saki finalmente se deu conta de que a neve estava diminuindo, logo, ela aproveitou essa oportunidade para atacar seu oponente. De forma desorganizada e bruta seus golpes chegavam a Frost, mas facilmente ele os defendia ou desviava.
— Hm, é forte, porém sem técnica.
— Cala a boca e luta!
— Tá legal — respondeu rindo.
O cavaleiro rapidamente tomou uma grande distância, sua armadura exalava uma fumaça azulada e gélida, ele respirou fundo — Jardim das Rosas Congelantes — e com um único passo para frente, o chão à volta congelava lentamente.
Saki disparou atacando sua perna em alta velocidade com um chute rasteiro. Ela conseguiu deslocar seu oponente e interceptou sua magia antes mesmo que ele a concluísse.
— Você só vai ficar aí atacando de longe? — perguntou tirando o resto de neve em seus ombros — Vem na mão, otário — provocou.
— Ha! — gritou convencido — Você é rápida, garota, mas é ousada demais — Frost acabou com o nevoeiro. Shosuke estava próximo a ele, esperando o momento certo para atacá-lo — Muito bem, um mano a mano, 2 contra 1 — erguendo seu punho na altura do rosto, chamou ambos para a luta.
Saki atacava incessantemente pela frente, seus golpes não eram refinados, porém, eram suficientes para causar um bom impacto com força bruta, suas técnicas eram de fato incomuns e cada um de seus golpes emitia uma pequena onda de choque que perdurava por toda a arena. Mas mesmo com ambos atacando com punhos e espada, Frost defendia todos os ataques com facilidade.
Em meio a troca de punhos, Saki desferiu um soco direto em seu estômago, finalmente o acertando. No mesmo instante seu corpo se tornou gelo e começou a derreter ali mesmo. A armadura vazia deixou uma dúvida em nossas cabeças, mas em poucos segundos uma grande sombra cobriu todo o local. Todos olharam para o céu, dando de cara com um gigantesco escudo de gelo inclinado para baixo. Atrás dele, Frost estava lá, em cima do escudo com uma roupa inteiramente preta colada em seu corpo.
— Vamos ver o quanto pode resistir! — exclamou sorrindo.
O escudo começou a cair rapidamente sobre as cabeças de Saki e Shosuke.
— Não dá pra desviar! Fudeu! — ela gritou.
— Tsc.
— Consegue cortar?
Shosuke saltou sacando sua espada pútrida e cortando superficialmente o gelo.
— É fundo demais. Não vai dar.
— Merda…
Sem escolha, Saki reuniu toda a mana que podia e fortaleceu seu corpo e esperou o impacto. O escudo de gelo chegou ao chão e o segurava como se sua vida dependesse daquilo. Ela empurrava para cima com toda a força que tinha, mas mal conseguia resistir.
— Não… vou deixar — ela grunhiu em rebeldia.
Para a surpresa de todos, o gelo começou a rachar, Sak,i que já estava deitada no chão, não havia cedido e seus braços começaram a tomar uma cor azulada.
— Hunf! Magnífico — Ao ver aquilo, Frost desfez o escudo, espalhando neve por todo o lado.
Preocupada, olhei atentamente para a arena, mas não pude identificar minha amiga, nem mesmo pude sentir sua mana.
— Vocês se saíram bem, mas temo que tenham perdido — Ele se aproximou de Shosuke estendendo sua mão.
Shosuke se negou, como sempre.
Em um piscar de olhos, Saki o atacou pelas costas, rápido como nunca, mas seu braço, ainda em um tom de azul, foi bloqueado mais uma vez. Frost segurava seu punho trêmulo, Saki tentou novamente atacá-lo como o outro braço, que para o estado em que estava, foi estranhamente rápido.
— Acabou, garota. Descanse — Saki caiu de joelhos, apagando completamente.
Com Shosuke ofegante no chão e Saki inconsciente, o árbitro declarou vitória ao Sr. Frost.
— Guldaf, leve esses dois, cuide para que acordem bem.
— Não… me toquem — Shosuke ainda falava com o resquício de sua força.
— Tá legal, cuidado com esse rapaz.
O plano havia falhado, Saki havia sido derrotada e, ao mesmo tempo, eu hesitava em continuar.
— Não se preocupe, garota — a cavaleira disse ao ver meu rosto preocupado — Não é tão ruim assim ficar sozinha.
Todos os cavaleiros saíram dali assim que a luta havia acabado. Eu os acompanhei e logo fui atrás de onde Saki e Shosuke estavam. Em um corredor, vi Guldaf passando com uma equipe médica levando os dois em macas.
— Jovem mestra! O que está fazendo aqui?
— Como eles estão?
— Deveria esquecê-los — disse em um suspiro — não vai vê-los por mais muito tempo.
— Como. Eles. Estão? — perguntei sem me importar com suas palavras.
— Estão bem. Parece que a garota fez força demais para resistir ao ataque de Frost, sua pressão caiu na mesma hora. Me impressiona que tenha ficado de pé por mais tempo.
— E como o Shosuke está?
— Eu tô bem — respondeu ainda com seus olhos fechados.
— Ainda bem — eu respirei aliviada — Eu vou dar um jeito na situação de vocês, por favor, descansem.
— …
Eles foram levados para a ala médica, Guldaf permaneceu onde estava e assim que ficamos sozinhos, ele disse.
— Jovem Mestra, deve entender que não vai adiantar pedir para ficarem. Temos regras muito rígidas aqui e não podemos quebrá-las facilmente.
— Eu entendo… — mesmo assim, eu não queria aceitar aquele fato.
— Espero que isso não atrapalhe seu treinamento, no mais, tenho que ir agora. Procure pelo Sr. Frost, ele insistiu em levar você pessoalmente ao rei — O militar foi embora, marchando sem olhar para trás.
Ainda decepcionada, procurei pelo coliseu que portava a arena e o encontrei em outra ala médica passando algumas faixas em seu pulso e mão direita.
— Sr. Frost? O que está fazendo aqui?
— Ah! Noelle, não é?
— Uhum — afirmei com a cabeça.
— Bom, não é nada de mais, apenas um incômodo — ele passava um spray no curativo recém-feito, finalizando o tratamento.
Sua mão estava avermelhada e seu pulso parecia levemente inchado, eu me perguntava como ele havia se machucado mesmo sem ter dado chance aos seus oponentes.
— O senhor se machucou? Como?
— Já disse, não foi nada, mas parece que subestimei seus amigos.
— O que tá querendo dizer?
— Quero dizer que por mais que eu tenha vencido, se tivesse sido um pouco mais descuidado eu poderia não estar aqui agora.
— Fala como se não estivesse brincando com eles o tempo inteiro.
— No início eu realmente não esperava nada, pensei que eles estariam fazendo golpes aleatórios e sem sentido, mas percebi que enquanto aquela garota atacava ela me levava para perto do seu parceiro toda vez, como se estivesse me encurralando. O garoto também não era pouco coisa, meu escudo de gelo estava se desintegrando no momento em que se aproximou do chão, e olha que poucas pessoas no continente são capazes de derreter minha magia.
— Então ficou impressionado?
— Sim — meus olhos se abriram animados — mas não se precipite, eles perderam, não serão recrutados — toda minha alegria foi tirada do corpo.
— Não precisa se preocupar, seus amigos não serão penalizados por entrarem ilegalmente em Antares. Eles são jovens promissores, suas vidas seriam desperdiçadas se ficassem presos aqui.
— Muito obrigada! — A notícia aliviou meu coração, mesmo que pouco.
— Agora vamos — disse ao se levantar rapidamente — o rei vai ficar feliz em te ver.
Sem opções, acompanhei Frost até o salão de festas da realeza, onde o portal que nos levou, nos deixou de frente com uma enorme mesa retangular com copos e pratos de luxo, onde o Rei Antariano dava um banquete aos convidados. Todos ao redor pararam imediatamente, menos o Rei, que ainda bêbado, gargalhava.
— Majestade! — Frost inclinou seu corpo para baixo em respeito a sua presença.
Sua pele clara estava majoritariamente exposta a todos, cobrindo apenas uma parte do seu tórax e cintura por um manto vermelho. No topo de sua cabeça não havia um fio de cabelo sequer, diferente de sua barba cheia e grisalha. Ele segurava uma taça dourada, com um vinho que ameaçava transbordar à medida que seu corpo embriagado balançava.
— Ah! Frost! — se espantou alegremente ao perceber que estávamos ali — Que bom que está aqui! Venha! Sente-se e beba uma com a gente!
— Temo que terei de recusar o convite. Ainda tenho assuntos a tratar essa noite e não poderei festejar com meus queridos amigos.
— Esse Frost… sempre ocupado e dedicado — seus olhos de tom lima o viram decepcionados — Então, a que veio? — perguntou ao trazer a taça para seus lábios.
— Vim apresentá-lo a nossa convidada de honra — ele estendeu seus braços apontando para mim — Noelle, a próxima Bruxa Celestial.
— É-É um prazer — me reverenciei ao rei educadamente.
— Uhum. Uhum — ele concordava com a cabeça — Ela é sem dúvida filha de Viollet, me traz uma certa nostalgia…
— Conheceu a minha mãe? — perguntei surpresa.
— Claro… anos atrás, Viollet firmou nossa aliança com Raven e os Hiberianos.
— Viollet era de fato uma mulher respeitada por todos, suas ações a faziam digna de seu título — Frost concluiu.
— E com razão — o rei assentiu — Enfim, acredito que esteja atrás de minha aprovação, correto?
— Precisamente.
— Pois bem. Eu, Welt Antares V, permito que Noelle, filha de Viollet, esteja sob proteção do Reino de Antares e tenha liberdade para estar entre as instalações reais — em meio a sua fala, ergueu a taça de vinho aos céus e exclamou — Aos frutos de Viollet, a nova geração estará em boas mãos! — brindou com todos ao redor.
— Agradeço profundamente, meu rei.
— Cuide da papelada depois, Frost, a deixarei sob seus cuidados.
— Sim, meu rei.
Encerrando desta forma, o mesmo portal que nos levou à festa, nos transportou para uma enorme casa isolada da capital.
— Bem, é aqui que vai passar o resto dos seus dias enquanto estiver aqui — disse com o cansaço claramente pesando em sua voz — qualquer dúvida que surgir pode perguntar a Guldaf usando isso — ele me entregou uma espécie de bracelete metálico, completamente prateado — é só chamar e ele vai entender.
— Mas… — antes mesmo que eu pudesse questionar, seu corpo desapareceu em meio a luz que o teletransportador emitia — deixa pra lá.
No dia seguinte eu acordei pronta para começar o treinamento, meu coração ainda pesava por ter deixado Saki e Shosuke para trás, mas segui firme, pois sabia que Saki não me deixaria voltar atrás. Em um momento, a campainha da casa tocou. Fui até a porta e ao abri-la, vi Frost em sua armadura, com seu sorriso tão radiante que poderia ser confundido com o sol.
— E aí? Pronta para começar? — perguntou gentilmente.
— Sim… só preciso de um tempo para me arrumar — eu havia acordado há poucos minutos, ainda estava vestindo meu pijama com chapéus de bruxa em sua estampa.
— Vê se não demora muito — uma voz feminina e familiar entrou na conversa.
— Saki? — gritei surpresa.
— Eu falei que ia dar tudo certo — disse convencida.
— Mas… a luta ontem…
— Não entenda errado. Eles perderam e não vão entrar como recrutas na divisão militar. Por outro lado, por alguma razão misteriosa, o cavaleiro Guldaf disse que não poderia exercer seu posto como guarda-costas da nova Bruxa Celestial e essa situação deixou uma vaga aberta.
— Isso quer dizer que…
— Exatamente. Apresento-lhe, seus novos guardiões.
— É claro que eles não iam deixar um talento puro como eu escapar — Saki afirmou com um sorriso.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.