Índice de Capítulo

    Eu vi o corpo desacordado da Saki caído no chão. Minha mente se encheu de raiva e sem conseguir conter minhas emoções, Eu explodi em uma onda de raios para todos os lados. Minhas presas se afiaram e minhas unhas, imbuídas com relâmpagos, se tornaram de fato garras polidas, prontas para cortar.

    Em meio a fúria, senti uma leve dor de cabeça, que antecedeu a aparição de faixas azuis, da cor da mana, envoltas em meu corpo. Meus cabelos se arrepiaram, junto com minhas roupas que esvoaçavam no centro da tempestade.

    — Aí está ela! A Bruxa Celestial! — a voz abafada de um deles chegou a mim.

    — Sua magia cresceu significativamente! Ela tava se segurando?

    Eu saltei agressivamente no pescoço daquele que tinha um cabelo alaranjado, arrastando-o pelo chão.

    — Gah! Que rápida! — ele resmungou.

    Meu corpo desacelerou rapidamente, mais da metade da minha velocidade foi reduzida, mas mal pude pensar na minha situação e apenas continuei atacando. Um portal se abriu abaixo de nós que nos puxou para perto das outras túnicas. O maior deles me jogou em direção à parede, tirando seu companheiro das minhas garras.

    — Cê tá legal? — a garota perguntou.

    — Foi só um arranhão — seu ombro, rasgado em três cortes, sangrava.

    Da parede onde fui lançada, me impulsionei de encontro aos três, mais devagar do que deveria, porém, rápida o suficiente para não lhes dar tempo de reação. O maior se defendeu erguendo o seu braço e naquele momento, rapidamente aproveitei para marcar uma runa no mesmo.

    — Pensei que tinha desacelerado ela.

    — A redução de velocidade em humanos é limitada, isso foi o máximo que consegui!

    — Só falta ela! Vamos acabar logo com essa palhaçada! — a garota impaciente gritou.

    Ela se transformou em um enorme rinoceronte que disparou em minha direção como um tiro. O impacto causou uma enorme dor nas minhas mãos que a seguraram pelo chifre. Nós fomos arrastadas por alguns metros e novamente, um portal se abriu atrás de mim. Eu cravei minhas garras em seu rosto e liberei toda a eletricidade que pude antes de atravessarmos o portal.

    Eu firmei meus pés no chão, impedindo que fossemos mais um metro adiante e saltei para o lado, tomando uma distância segura dos três. A garota voltou ao seu estado humano, com a fumaça e cheiro de queimado a rodeando.

    Com a própria mana em seu estado básico, gravei uma runa mágica em meu braço.

    Anular! — Em um único grito, ativei o feitiço contido na runa, libertando-me da magia temporal.

    — Merda! Maldita bruxa — reclamou.

    Num piscar de olhos, eu estava de frente para o cabelo laranja da túnica negra que sorria como se estivesse em uma brincadeira de criança.

    Interligar! — as runas que marquei em meus oponentes se uniram com correntes.

    As correntes que ligavam os três os deixavam paralisados e fazia com que todo dano causado a eles fosse compartilhado. Assim, pus a palma da minha mão para cima, invocando uma pequena nuvem carregada. Com um grito estridente, descarreguei toda a eletricidade contida na nuvem em cima de mim.

    Minha imunidade aos raios me protegeu, porém, todos eles foram atingidos através do seu companheiro.

    — Ugh! Isso foi complicado — a garota resmungou.

    — Então esse é o poder de uma bruxa? Não é nada mal — seus corpos que cheiravam a fumaça ainda tremiam com o choque.

    — Esse ataque realmente doeu… Essa merda me deixou puto de verdade! — gritou.

    “Quanta resistência… Esse feitiço me custou muita mana…” Minha mente se acalmava aos poucos enquanto pensava.

    Eu não podia parar, Saki ainda estava apagada, mas acreditava cegamente que não havia morrido.

    Meu corpo estava prestes a partir em direção ao ataque novamente, mas acima de mim, escutei o som de um pano sendo rasgado agilmente, seguido do caminhar calmo sobre o teto.

    Ponto de Vista de Saki:

    Meus sentidos voltaram pouco a pouco, primeiro, um zumbido em meus ouvidos, como se estivesse debaixo d’água, seguido por uma pulsação dolorosa na cabeça. Eu tentava abrir meus olhos lentamente, buscando focar a visão turva enquanto minha mente se recobrava dos acontecimentos anteriores.

    Ao abrir os olhos por completo, tentei me levantar, sentindo uma leve dor nas costas. Quando pude enfim perceber o que estava acontecendo, avistei Noelle, com seu cabelo arrepiado, arrancando de um lado para o outro, atacando a túnica negra. Raios a perseguiam, seu corpo estava coberto pelas marcas que outrora apareceram em Raven, seus olhos inteiramente brancos, mostravam sua ira, o que a motivava a atacar incessantemente.

    Minha mente ainda estava confusa, e as memórias iam se encaixando como um quebra cabeça ao som dos trovões invocados pela minha amiga.

    O cheiro de queimado pairava pelo ambiente, eu tentava me reerguer ainda que mal entendesse o que estava acontecendo. Minha audição abafada não me deixava ter uma ideia clara sobre a situação, apenas sabia que Noelle estava sozinha lutando contra as túnicas negras. De repente, cortando o telhado da instalação secreta, uma espada foi fincada no chão, corroendo os destroços caídos ali.

    — Noelle! — meu corpo se moveu sozinho, disparando em direção a minha amiga em meio a destruição.

    Eu a procurava enquanto a poeira ainda limitava a visão de todos. Ao meu lado, o som de um pouso suave, virei-me rapidamente, já imaginando quem estaria se juntando a nós. A poeira baixava lentamente, a espada cravada no chão foi retirada da maneira mais calma possível, seu dono, com maestria, cortou a cortina de fumaça que nos cegava, revelando seu cabelo negro e caído sobre os olhos, em uma pose calma e serena.

    — S-Saki! Shosuke! — Noelle que estava bem atrás de mim, exclamou.

    Seus olhos, antes inteiramente brancos, voltaram ao normal, com exceção do olho direito, que ainda possuía a marca que ganhou em Raven. Um sorriso então chegou em seu rosto, seguido de uma pequena lágrima que escorregava solitariamente em seu rosto.

    — Que bom que está bem.

    — Heh! Não vou morrer tão fácil assim!

    Noelle e eu nos aproximamos de Shosuke, agora, mais confiantes do que nunca.

    — Vou deixar as perguntas pra depois. Agora que você tá aqui, vamos focar em acabar com esses caras! — Novamente, meus ombros foram tomados pelo brilho violeta, que minha mana, tal como labaredas de fogo, exalavam.

    Os cabelos de Noelle, que estava entre mim e Shosuke, se arrepiava. Suas garras afiadas e cobertas por raios estavam prontas para cortar tudo em seu caminho. Shosuke posicionava um de seus pés para trás, firmando sua base e empunhando sua espada para frente.

    — Isso tá ficando divertido! — o garoto de cabelo laranja gritou enquanto sorria.

    — A do meio é minha! — disse a metamorfa.

    — Deixe-me cuidar do espadachim.

    A adrenalina em meu corpo me deixava ansiosa para o combate, Eu sentia um calafrio percorrendo minha espinha e por algum motivo estava mais calma e confiante.

    — Seu corpo está gelado — disse Noelle ao encostar seu dedo levemente em minha mão.

    — Eles não vão nem me ver chegando… — um sorriso veio ao meu rosto em instantes.

    Sem nem pensar duas vezes, disparei em direção ao garoto de cabelo laranja. Ele bloqueou meu punho com seus dois braços e rapidamente girou seu corpo para o lado, voltando com seu calcanhar em minha cabeça.

    — Bom chute! — disse em um tom irônico enquanto segurava seu pé próximo a mim.

    Eu o joguei para cima e saltei para acompanhar sua trajetória, trazendo comigo um gancho de direita, pronto para esmagar seu crânio. Porém, antes que pudesse o acertar, seu corpo parou no meio do ar, me fazendo passar direto por ele. Em seguida, ele aterrissou instantaneamente, ainda com um sorriso empolgado.

    Ponto de Vista de Frost:

    — É uma pena que não esteja lá, sem reforços, eles não têm chance alguma — uma voz perversa e maligna ecoou na escuridão que me encontrava.

    Eu não conseguia me mexer, meu corpo estava amarrado e preso com algemas poderosas que limitavam minha força e circulação de mana no corpo.

    — Então você é a famosa “Serpente do mal?” — perguntei sem medo do que pudesse acontecer.

    Uma mão pálida e fria encostou em meu pescoço, deslizando para cima e tocando suavemente meu rosto.

    — Rótulos e mais rótulos, isso nunca foi importante — era possível escutar seu corpo se rastejando ao meu redor — deixe-me checar… — a mão pálida expandiu minhas pálpebras repentinamente.

    — Sua voz e seus olhos vermelhos não me deixam mentir… Além disso, sua pressão mágica consegue ser assustadora.

    — Você fala demais — disse calmamente.

    — Não me leve a mal. Apenas sou um pesquisador e observador, e um pouco tagarela.

    — Suas pupilas tem vida, não é um clone.

    — Se fosse um clone, essas algemas já teriam me matado.

    — Não vou me dar ao luxo de lhe subestimar.

    — Esperto de sua parte.

    Sua mão desprendeu-se do meu rosto, ouvi seu corpo rastejando pelas paredes até o chão, seguido de passos leves caminhando à minha frente.

    — Me conte um pouco sobre… Saki Nakamura — sua caminhada cessou bruscamente.

    — Ah, ela é meio idiota, mas é bem inteligente…

    — Me refiro às suas habilidades mágicas.

    — Xii… Ai você me pegou. Não tenho nada pra te dizer.

    — Como imaginei… de qualquer forma, meus dados apresentam uma certa evolução nesses 2 anos, mas nada muito significativo.

    Enquanto o enrolava, tentei desprender-me das algemas. Já as havia utilizado antes, então sabia os macetes para me livrar delas e com certa dificuldade, consegui me soltar. O homem que havia me capturado, projetou a sua frente uma tela holográfica que mostrava a luta de Saki, Noelle e Shosuke contra pessoas que eu nunca havia visto.

    Silenciosamente, me aproximei dele enquanto os assistia, formando uma lâmina de gelo em minhas mãos. Ocultei meus passos para que não me escutasse e no momento certo, perfurei seu coração de forma rápida e precisa.

    — Tsc, e eu achando que você era inteligente — reagiu sem esboçar uma única reação.

    De repente, senti um calafrio tomando minha espinha, seguida de uma fraqueza por todo o meu corpo. Eu caí de joelhos no chão, suportando uma dor que jamais havia sentido.

    — Desgraçado! O que fez comigo!

    — Ruptura cerebral. Apenas um teste.

    — É um encantamento proibido! — eu tentava resistir à perda de meus sentidos — Sabe as consequências!

    — Te vejo mais tarde — seus passos se distanciavam cada vez mais.

    — AAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH! — um grito de pura dor e agonia antes da minha consciência se esvair por completo.

    Ponto de Vista de Saki:

    A luta estava intensa, meus socos alcançaram uma velocidade que nem mesmo eu acreditava. Meu oponente, por sua vez, também acelerava a cada segundo. Aquela troca de golpes não estava levando a lugar algum, ambos com suor e sangue em seus rostos, saltaram para trás recuperando o fôlego.

    — Ele é resistente demais, está aguentando todos os meus socos — ofegante, pensava em alguma forma de vencê-lo.

    Enquanto recuperava brevemente minhas forças, veio uma ideia à mente, assim avancei em sua direção.

    — Por quê não faz efeito em você? Hein? — gritou ao se esquivar do meu chute.

    — O que foi? Não tá conseguindo usar o tempo a seu favor?

    Girei meu corpo agilmente, usando a gravidade para acertar um soco em cheio no seu rosto, levando-o para o chão. Ele ricocheteou no solo me dando mais uma abertura.

    SOCO LUNAR! — Com precisão, meu punho se chocou com seu estômago, criando uma grande onda de choque.

    Seu cabelo alaranjado voou metros a frente até se encontrar com uma parede, deixando um rastro de brilho violeta no caminho.

    — Tsc… Isso dói mesmo… — ele resmungou erguendo sua cabeça.

    A túnica se levantou lentamente, com seu corpo trêmulo e machucado. Além de sua cabeça, punhos e mãos, todo o resto estava coberto pela capa preta e surrada. Em poucos segundos, ele já parecia estar curado e pronto para lutar novamente.

    — Ele acelerou o processo de cura? — eu indaguei chocada — Isso é apelão demais!

    Seu sorriso louco não saía de seu rosto, eu me perguntava quantas vezes teria que bater nele para que isso enfim terminasse. Ainda me restava mana de sobra para lutar e além de mais forte, minha velocidade era capaz de o acompanhar mesmo que ele ficasse ainda mais rápido, mas ainda assim, não conseguia ver uma forma clara de vencer a luta.

    — Tá ficando divertido, talvez você seja capaz de me matar! — ele disparou até mim mais rápido do que antes.

    Agora, mal era possível bloquear seus golpes, parecia que ele estava se segurando todo esse tempo. Carregando uma quantidade considerável de mana em meus ombros, gerei uma pequena explosão ao chocar meus punhos, forte o suficiente para afastá-lo de mim.

    — Venha! — gritei ao estender minha mão para cima.

    Minha mochila, largada no chão, começou a tremer atrás da túnica negra. Ele estava focado em mim e não foi capaz de impedir um corte profundo feito em sua cintura. Perplexo, ele olhava para o corte através da capa, sentindo o sangue escorrer até seu pé.

    — Mas o quê? — gritou olhando para mim — Então era isso! — tudo fez sentido ao me ver girando habilmente minha foice acima de mim, tomando em sua lâmina, parte da chama púrpura.

    Seu rosto tomou um semblante sério de repente, sua mão coberta por sangue fresco, subiu a altura de seu peito e cravou agressivamente seus dedos em seu corpo.

    — Desgraçado! — sua companheira, com uma aparência feral semelhante a uma quimera quadrúpede, gritou – Não tem permissão pra fazer isso!

    — Que se foda as ordens… — girando a mão no sentido horário — Isso tá ficando muito divertido — seu sorriso voltou — Vou aproveitar todo o tempo que tenho!

    Seu corpo paralisou. As feridas do combate, lentamente desapareceram. Eu observava sem saber o que estava acontecendo, sem saber o que fazer. No segundo em que pisquei os olhos, ele desapareceu. Meus braços agiram em reflexo, girando a arma na minha frente, causando pequenas faíscas. Quando pude enfim entender o que aconteceu, havia um pequeno e superficial corte diagonal na minha barriga.

    — Que merda! — em um gemido surpreso.

    Seu cabelo laranja estava estático, mesmo com todo o movimento que acabara de realizar. Ele estava levemente inclinado, com uma pequena faca de lâmina curva em mãos. A faca possuía um buraco na ponta do cabo, onde seu dedo encaixava perfeitamente e a lâmina bem polida, espelhava seus olhos sanguinários em seu reflexo.

    — Que bela reação! Espero que continue acompanhando… — mais uma vez desaparecendo.

    Eu procurava ao meu redor, mas não o encontrava, apenas quando se aproximou de mim novamente sem que pudesse ver. Novamente fui capaz de bloquear seu ataque, mas a cadência de seus golpes começou a aumentar e cortes foram aparecendo em meu corpo mais do que as faíscas.

    Analisando a situação, encontrei um padrão em seus movimentos e usei isso como vantagem, encontrando o momento exato em que poderia o contra-atacar. Assim o fiz e desferi um corte preciso em seu peito.

    — Vai ter que fazer melhor que isso… — sorriu ao dizer.

    Pensei ter o acertado, e de fato consegui, mesmo assim, seu corpo estava intacto, parado completamente em minha frente, sem uma única gota de sangue ou suor.

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