Capítulo 43 - O Reflexo de um Verdadeiro Rei!
Ponto de Vista de Akira:
Layla e eu corríamos pelos corredores da instalação seguindo o ansioso som da bomba.
— Tem certeza que tá lá em cima? — perguntei após subir algumas escadas.
— Tenho! — por onde passávamos, Layla roubava algo no chão ou nas paredes — Estamos perto!
Subindo uma última escadaria, chegamos ao terraço, o vento forte da noite batia em nossos rostos, enquanto o céu estrelado era ofuscado pelos fogos de artifício que ainda eram queimados. Olhando para o extenso e plano topo do prédio, avistei em seu meio um grande objeto metálico e oval, com alguns botões e outros dispositivos acoplados ao seu redor.
— Ali está! — Layla correu até a bomba.
— É isso aí? — a acompanhei.
A bomba era mais ou menos da minha altura, sendo poucos centímetros maior. Eu a rodeava, procurando algum encaixe para que pudesse colocar minhas mãos, enquanto isso, do outro lado, escutei sons de metal, parafusos, martelos e tudo que poderia ser usado em uma fábrica.
— Aqui — Layla chegou ao meu lado, estendendo para mim dois cilindros ocos por dentro, tendo em sua ponta um gatilho semelhante a uma barra para apoiar as mãos — Isso deve servir.
— O que é isso? — perguntei levemente confuso.
— Vai ajudar a acessar o núcleo interno dela. É idiotice, mas não impossível.
— C-Como você sabia?
— Já te vi fazendo isso — enquanto falava, ela tateou a armadura externa da bomba — Você é um divergente, ainda que não tenha total controle sobre a manipulação da chama, conhece bem suas propriedades. Como eu disse, não é impossível.
— Eu treinava escondido! Tem alguma coisa que esses olhos não veem?
— Não foram eles, você só não sabe ser discreto.
Suspirei meio desapontado, mas o tempo não me deixava continuar pensando nisso.
— Vai lá, é sua vez — os cilindros já estavam encaixados entre as aberturas da armadura externa.
O som incessante da contagem regressiva soava ainda mais alto, minhas mãos tremiam com um certo medo, o suor frio escorria pelo meu rosto e minha garganta secava rapidamente. De repente, antes que pudesse pôr minhas mãos na bomba, o terraço foi atravessado rapidamente por Welt, que arrastava o rosto de Kaiser pelos ares.
Ponto de Vista de Noelle:
Saki disparou rapidamente em direção ao rapaz de cabelo laranja, também, em um piscar de olhos, a garota surgiu de repente em minha frente. Bloqueei seu ataque instintivamente e por um breve momento, notei garras afiadas na ponta de seus dedos.
Eu a afastei segurando seu braço e jogando-a para a direção oposta, ela se recuperou agilmente no ar e pousou com tranquilidade no chão. Um pelo branco começou a crescer na superfície de seus braços, os cobrindo parcialmente, seus dentes se afiaram e seu cabelo loiro se alongou até o quadril.
— Um demi-humano? — sua aparência havia se tornado semelhante à dos demi-humanos, assim como eu, aquilo colocou uma grande incógnita na minha cabeça
— Um pouco melhor — ela riu com satisfação no rosto.
Existem poucas formas de alterar sua forma original conhecida pela humanidade além de nascer com tal habilidade. Durante meus estudos, confesso que adquiri um conhecimento extremamente superficial quanto a esse assunto, mesmo assim eu temia que aquilo poderia se tratar de um tabu, a magia proibida da metamorfose.
A garota avançou agilmente, cortando o ar de baixo para cima com suas garras. Eu esquivei a tempo, mas ela não parava de atacar com giros e acrobacias mirabolantes, para ela o ar parecia ser o seu domínio, visto que em nenhum de seus golpes seus pés pararam no chão. Seu estilo de luta era como uma dança, fluida como a água, porém forte como uma rocha.
Em nossa luta não houve uma única gota de magia usada, era uma troca de golpes inteiramente físicos, onde tudo que importava eram as artes marciais. Eu estava claramente em desvantagem naquela situação e no momento que percebi, passei a marcar runas em seu corpo.
— Anular! — mais uma vez o feitiço básico de interferência, capaz de neutralizar magias e feitiços alvos.
Estranhamente, ao invés de sua transformação ser anulada, cada parte de seu corpo se transformou em criaturas diferentes.
— UGH! NÃO! — ela gritava em agonia.
Seus braços se tornaram tentáculos, suas pernas tomaram a forma de um touro e em suas costas cresceram asas de morcego. O cabelo loiro caiu por cima do rosto enquanto ainda gritava de dor. Não havia baixado a guarda até aquele momento, mas estava presa em meus pensamentos, tentando entender o que havia dado errado. Ela levantou seu cabelo com um dos tentáculos, revelando seu rosto com um nariz de leão, mais ainda com boca e olhos humanos.
A capa preta cobria seu torso, trazendo um leve mistério para si.
— Desgraçada — em um grunhido de dor — O que você fez?
— Por que a magia não se anulou? Alguma coisa deu errado… mas o quê? — eu estava tão confusa quanto ela.
— Não… sem desespero, ele ainda pode consertar isso…
Mais uma vez estava perdida em meus pensamentos e nem mesmo estava escutando suas palavras. Ela arrancou em minha direção mais uma vez, rasgando o ar com seus tentáculos, quando percebi já era tarde demais e não consegui evitar o ataque. Fui jogada para longe rapidamente, o brilho das faixas azuis em volta do meu corpo oscilava e ficava cada vez mais fraco, meu tempo estava curto e enfim entendi que não poderia mais me segurar.
Com suas novas asas, a garota quimera voou até mim, me agarrando pelo pescoço com suas ventosas. Sua garganta exalava um intenso brilho vermelho, ela abriu a boca repentinamente prestes a soltar toda sua fúria. Em um movimento ágil e cauteloso, ergui seu queixo com a palma da mão, a fazendo cuspir toda a chama para cima. No minúsculo tempo que consegui, segurei firmemente seu torso e em pleno ar comecei a girar. Seus tentáculos não eram capazes de me fazer parar e em meio aos raios azuis, voltei nossas cabeças para o chão.
— Desgraçado! Não tem permissão para fazer isso! — ela olhava para o lado enquanto dizia.
Não prestei atenção em suas palavras naquele momento e as ignorei.
Uma farta e densa quantidade de energia era acumulada em meus membros inferiores e tal qual como uma tempestade, atirei-me para baixo. Em um piscar de olhos a luta terminaria, mas por algum motivo, antes que pudesse chegar ao chão, senti meu corpo inteiramente paralisado.
Ponto de Vista de Shosuke:
Enquanto Saki e Noelle brigavam com seus respectivos oponentes, eu fiquei frente a frente com um homem coberto por seu manto negro. Ele ficou um bom tempo me encarando, enquanto apenas esperava seu primeiro passo.
— Me avisaram sobre você — sua voz era tão grave que reverberava em meu peito — pensei que nunca iria chegar.
Um portal se criou ao meu lado repentinamente, trazendo consigo um punho em alta velocidade. Sem dificuldade alguma, bloqueei o ataque com o lado sem fio da minha espada. Seu braço voltou rapidamente, caindo aos pedaços e perdendo toda a sua vida.
— Entendo… — respondeu sem muita surpresa, fechando o portal com seu pulso dentro dele — seu toque exala a morte, era esperado — sua mão pútrida caiu ao meu lado.
— Não estou tentando matar ninguém…
— É uma missão difícil para quem porta essa espada.
A lendária Odachi, dita pelas lendas, sendo uma espada longa que corrói e destrói tudo que toca e carrega dentro de si uma maldição que acaba até mesmo com aquele que a empunha. Envolvendo faixas brancas no início de sua lâmina, eu a segurava com metade do tamanho que deveria ter originalmente.
— Somos homens de poucas palavras, vamos parar com a enrolação — ao erguer sua outra mão, um grande portal se abre, trazendo do outro lado, um imenso arsenal de armas mágicas.
“Respira e concentra… Sem sangue… Sem morte…” Meus olhos se fechavam enquanto repetia isso em minha mente diversas vezes.
Quando os abri, vários projéteis de diferentes elementos e propriedades avançaram contra mim. Agilmente cortei e esquivei um por um, mantendo o ambiente ao meu redor intacto.
— Cortando até mesmo o impalpável, é uma espada interessante — disse, invocando outro portal idêntico nas minhas costas.
Ambos os portais tinham o mesmo conteúdo do outro lado, eram como se estivessem se refletindo um ao outro. Novamente, de dentro deles, uma chuva de ataques veio em minha direção.
“Enclausuração” Tocando a espada na ponta da minha sombra, a girei em minha volta, cobrindo meu corpo com uma esfera sombria e opaca.
Os golpes atingiram o casulo em que me protegi e logo após o impacto, imbuí toda a sombra na lâmina da Odachi e em um único e simples movimento, canalizei essa escuridão e lancei contra meu oponente. O corte em alta velocidade o atingiu em cheio, formando uma nuvem de poeira em sua volta
— Hehe — riu tenebrosamente — é uma honra poder lutar contra o portador da Lendária Espada Odachi.
— … — O silêncio constrangedor perdurou.
— ISSO TÁ FICANDO MUITO DIVERTIDO! — seu companheiro gritou
— Temo que… nossa luta deverá ser breve. O tempo passa rápido quando nos divertimos, não é mesmo?
— Não sei do que está falando.
— É uma pena.
— Não parece ser um homem de poucas palavras.
— Estou apenas tentando ser simpático. — Mais uma vez, mais dois portais surgiram, agora formando um retângulo ao meu redor.
Os portais ligavam-se uns aos outros, formando um único portal tridimensional com seu fundo inteiramente opaco. Eu sentia o perigo iminente e sem muito analisar a situação, avancei agressivamente contra ele.
De dentro do seu espaço criado, o ambiente começou a se moldar a sua própria vontade, criando um caminho irregular e perigoso. Pedras pontiagudas viravam-se para mim, mesmo que pudesse cortá-las para me defender, os projéteis anteriores eram disparados mais uma vez.
“Colapso Menor” eu cravei a Odachi no chão, corroendo tudo que se aproximava de mim em alguns metros.
Os projéteis e pedras afiadas se foram, porém, minha espada não saía do chão. Tentei puxá-la com mais força, mas ela estava presa demais. De repente, tentáculos negros saíam das faixas que enrolavam a lâmina, curvando-se em minha direção. Eles se enrolaram em meus braços e pescoço e sussurraram dentro da minha mente. Segurei a espada firmemente, tentando me levantar e me livrar dos tentáculos, mas os mesmos me puxavam para baixo.
— Não, de novo não!
— Minha chance! — meu oponente exclamou, fazendo as pedras afiadas a sua volta voarem para cima de mim.
Os tentáculos que saíam da espada se desenrolaram e agarraram as pedras em pleno ar, lançando-as de volta para a túnica negra. Rapidamente, ele se livrou de quase todas as pedras as transportando com portais, sobrando apenas uma, que em instantes atingiria seu rosto.
Ponto de Vista de Kaiser:
Eu tentava segurar o Rei pelo maior tempo que pude, mas mesmo com meu poder amplificado, Welt tirava forças de algum lugar para continuar lutando. Com um sorriso insano, ele segurou meu rosto e saltou, quebrando os 4 andares acima com minha cabeça. Nós atravessamos o térreo, chegando ao local onde estava a bomba.
— Olha, como são sortudos! Ela podia estar em qualquer lugar, mas veio parar aqui! Quanta conveniência! — exclamou.
Em um momento de vulnerabilidade, perfurei sua costela com uma lâmina formada em minha mão, mas por algum motivo, o corte não atravessou nem mesmo um centímetro.
— O quê!
— Tenho vários truques que você não conhece! — disse me mandando de volta para o chão com um soco no estômago.
— Cof! Cof! Cof! — eu tossia com a poeira levantada — Você é louco!
— Kaiser! — Akira gritou.
— Não se preocupe comigo! Apenas se apresse!
— Louco não… São o suficiente — por debaixo de suas unhas, uma fina camada de metal cobria seus dedos.
Uma leve luva se formou em sua mão, levando o resto do metal para uma sutil proteção na lateral de seu torso.
O Rei caminhava lentamente até mim, enquanto eu lutava para me manter de pé. O alarme da contagem regressiva ficava cada vez mais intenso, Akira gritava para mim, enquanto Layla segurava suas mãos dentro da bomba. Minha visão ficava turva e minha audição abafada, os passos pesados do maldito rei ecoavam em meu coração, até o mesmo agarrar meu braço sem que eu percebesse.
— Isso vai ser útil — disse ao arrancar agressivamente o tungstênio de minha lâmina.
Ele o usou para formar espinhos em sua luva e me ergueu no ar como um pedaço de carne no açougue.
— Kaiser! Não! — Akira tentava se desprender,
— Você não pode sair! Fica quieto! — Layla tentava o impedir desesperadamente.
Um forte e ágil soco atingiu minha costela, eu sentia minhas forças indo embora a cada porrada que levava e uma poça de sangue se formava aos pés do rei.
— Bip! — o som da bomba lentamente contava.
Tudo estava devagar, eu via cada soco vindo em minha direção, mas não tinha forças nem para sentir dor. Ao meu lado, Akira e Layla choravam sem saber direito o que fazer. Restavam 3 segundos para que todo o lugar fosse pelos ares, mesmo assim, eu confiava em meu amigo e apenas rezei para que nada tivesse sido em vão.
— Está vendo agora irmão? — faltando 2 segundos para a explosão, Welt enfim largou meu braço — Era isso que você queria? — Os olhos de Akira se fecharam repentinamente ao soar do último segundo.
Uma torre de chamas se criou ao seu redor, os tons de vermelho e laranja tomaram o céu, gerando uma onda de choque forte o bastante para rolar meu corpo alguns metros adiante.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.