Índice de Capítulo

    Ponto de Vista de Galliard:

    Aproveitando o tempo que tinha até Elliot nos enviar o sinal, eu trabalhava em um projeto onde enfim poderia me redimir dos meus pecados cometidos nos últimos anos.

    — Galliard! — Viollet gritou.

    Larguei tudo que estava fazendo naquele momento e corri para o salão destruído. Melissa e Viollet observavam o feixe de luz criado por Elliot e ao vê-lo, não perdi tempo, criei uma fenda espacial, encurtando o espaço entre nós.

    Viollet e eu pulamos rapidamente para o outro lado, porém, apenas encontramos nosso pequeno amigo encarando a pilha de corpos perfurados no chão.

    — Elliot? O que houve?

    — E- Eu não sei! Quando olhei para trás, eles já estavam mortos e a Elena desapareceu!

    — Merda! Viollet, leve-os para Shryne, quero que cheque suas condições e faça o possível para salvá-los — ela prontamente conjurou um círculo marcado com runas ao redor da pilha de corpos — Elliot, fique aqui e vasculhe novamente cada canto dessa cidade.

    — Entendido!

    — Galliard… — minha amiga bruxa segurou meu braço trêmulo — Você já deve saber, mas o meu transporte de matéria não é como o seu. Se algo acontecer, não vou conseguir chegar a tempo para te ajudar.

    — Apenas esteja pronta para quando eu voltar, não sabemos o que pode ter acontecido.

    Viollet atravessou novamente a fenda que poucos segundos depois se fechou. Eu me concentrava ao máximo em minhas capacidades de percepção, tentando encontrar rastros da mana da Elena.

    — Merda… a maioria dos meus equipamentos estão em Raven, sem contar que a maioria dos meus encantamentos e feitiços ensinados pelos bruxos da ilha não são úteis em busca e rastreio…

    Alguns bons minutos após procurar Elena por todos os lados, senti fracos sinais de sua mana, não tão longe de mim.

    De repente, deixei de sentir sua mana por completo novamente e passei a ouvir os gritos desesperados de Elliot.

    — O que foi? O que aconteceu? — perguntei preocupado.

    — A Elena… Ela… — sua voz trêmula não o deixava falar corretamente, além de seus olhos lacrimejarem sem parar.

    Ao olhar para o chão, com medo do que poderia ser, encontrei o corpo de Elena caído entre as areias. Seu rosto pálido e olhar sem vida destruíram todas as minhas esperanças, eu não podia, eu não QUERIA acreditar no que estava bem diante dos meus olhos.

    Cuidadosamente, virei seu corpo para cima e rapidamente chequei seus sinais vitais, buscando por uma mísera gota de esperança.

    — N- Não há nada que eu possa fazer daqui — com uma voz chorosa, ofegante e descrente — tenho que levar ela de volta.

    Sem pensar duas vezes, rasguei o espaço agressivamente, gerando uma fenda.

    — Galliard! O que foi isso? Não sinto a mana da Ele- — Melissa cessou ao ver o corpo de sua amiga em meus braços.

    — Diga para Viollet me encontrar no laboratório imediatamente! — tentei manter a calma, mesmo que meu coração estivesse no ápice de sua frenesia.

    No momento em que pus os pés no laboratório, afastei todos os móveis para as paredes e coloquei uma cama bem no centro do quarto. Iluminei o seu corpo com o máximo de luzes disponíveis, preparei todos os meus equipamentos e enfim comecei uma jornada de horas para tentar salvá-la.

    Seu corpo estava gravemente ferido, mas nada incomum, afinal, ela não era o tipo de pessoa que teria seus braços e pernas perfurados e morreria. Seu abdômen também estava com a marca de dois punhos afundando seu estômago, fora os vários cortes por todo seu corpo.

    Poucas horas depois, Viollet chegou ao laboratório e começou a me ajudar durante todo o processo, foi então que encontrei o que mais temia. Por um descuido da minha parte, dado ao meu emocional instável, esbarrei-me com a cama em que o corpo de Elena repousava, gerando o sutil som de um chocalho.

    — É por isso que não tem nenhum pingo de mana circulando em seu corpo! — gritei desesperado.

    — Do que você está falando?

    — Após a morte, a mana presente no corpo não desaparece de repente, ela- 

    — Sim, eu sei! Vá direto ao ponto! — Viollet interrompeu.

    — Com o que tenho aqui não consigo ter certeza sobre isso! Precisamos voltar para Raven!

    — Galliard! — segurou o meu braço mais uma vez — Já conjurei mais feitiços nesse corpo do que posso contar, estou fazendo tudo que posso para salvá-la ou ao menos atrasar a morte da minha amiga! Então por favor, me diga o que está acontecendo!

    — Sigh! — suspirei, escondendo os olhos com minha mão — S-Seu núcleo mágico… ele foi completamente estilhaçado… — os olhos de Viollet se arregalaram com medo — no pior dos casos… ela já está morta.

    Eu queria chorar, mais do que tudo, nunca havia me sentido tão incapaz quanto naquele momento, mesmo assim, eu não podia descansar, não até tentar tudo que estava ao meu alcance.

    Engolindo o choro, atravessei uma fenda diretamente para Raven, levando-a para um lugar com todos os meus equipamentos e novas chances de sobrevivência. Eu corria contra o tempo, quanto mais os exames demorassem e as tentativas de reanimá-la falhassem, menor eram as possibilidades de sucesso.

    Em dado momento, percebi o estado de seu corpo, repleto de dispositivos e equipamentos acoplados em si, com tubos e fios trabalhando incessantemente para sua salvação.

    — Eu acho que… — com lágrimas entaladas na garganta — não exista mais nada que possamos fazer — disse para minha melhor amiga.

    Viollet estava imersa nas ínfimas chances que a rodeava e ignorou minhas palavras.

    — Viollet! — agarrei seu braço, a assustando.

    — Não… — ela chorava como uma criança — deve ter algum jeito! — aos gritos desesperados.

    — Infelizmente…

    — O núcleo, não é? Esse é o problema, seu núcleo foi despedaçado, mas o resto do seu corpo não foi ferido o suficiente para matá-la. Sendo assim, ainda existe uma chance, ainda podemos salvá-lá.

    — Não me diga que…

    — Não finja que não entende, Galliard. Essa é sua especialidade, certo?

    — Não posso, prometi que pararia com os experimentos, depois do que aconteceu com Ego em Nebuloria…

    — NÃO SEJA IDIOTA! VAI DEIXAR A ELENA MORRER POR CONTA DE ALGO ASSIM? — seu grito deixou um grande silêncio no ambiente — também não concordo com esse tipo de ciência inumana, mas é a nossa única esperança.

    — Mas, nunca deu certo antes, se falhar, ela pode acabar virando uma carcaça inconsciente.

    — Não podemos perdê-la. Querendo ou não, ela se tornou uma figura importante e continua com assuntos pendentes em Eryndor, além disso, ela é nossa amiga, me recuso a deixá-la morrer sem tentar tudo que estiver ao meu alcance — seus pensamentos egoístas tomaram conta de si.

    Suas palavras relembraram meus sentimentos por Elena e assim, mesmo que hesitante, preparei-me para a cirurgia. Uma técnica proibida que eu mesmo criei, onde mesmo que houvesse uma taxa de 100% de falhas, apenas o seu conceito já é um perigo para a humanidade, A tão hedionda Manipulação do Núcleo.

    — Não crie expectativas — as palavras que dirigi para Viollet serviam como um conselho para mim mesmo — caso eu falhe, prepare-se para enfrentar uma besta selvagem jamais vista antes.

    Após o recado, dei início ao procedimento. Abri seu corpo ao meio, buscando em seu interior, os estilhaços de seu núcleo. A estrutura de um núcleo de mana é semelhante a uma pequena esfera, protegida por uma fina e misteriosa camada do que classificamos como “mana”, além disso, essa esfera também é rodeada por cristais mágicos, derivados da alta condensação da mana gerada pelo corpo ao longo dos anos.

    Seu núcleo estava aos pedaços, não havia muito o que pudesse ser feito com ele. Tentei ao máximo preservar a essência individual da esfera e logo parti para construção de um novo núcleo.

    Horas se passaram, Viollet mal conseguia manter sua concentração e tomou um tempo para si fora do laboratório. Enfim, ainda com tensão e medo estampados em meu rosto, cheguei ao fim da operação. A construção de um núcleo artificial é feita a partir dos mesmos itens que compõem um núcleo natural, porém, fabricados por meios não naturais e ineficientes.

    A esfera artificial, principal parte do núcleo, conseguiu replicar cerca de 97% da esfera natural, uma porcentagem incomum, o que me fez ver uma pequena fagulha de esperança. Os cristais foram as partes mais fáceis de se produzir, apenas acelerando o processo de condensação e solidificação da mana. O maior problema foi a fina camada de mana que cobre a esfera.

    A cobertura contém as mesmas propriedades da mana como a conhecemos, mas seu propósito para a composição do núcleo era desconhecida. Eu queria desvendar esse mistério, foi um dos motivos para ter continuado diversos experimentos no passado, porém, não poderia me dar o luxo de gastar o tempo que me foi dado e desperdiçar a última chance que tinha.

    O núcleo estava pronto. Viollet rangia seus dentes amedrontada, segurando firme em meus braços. Cuidadosamente, forcei a entrada do núcleo artificial em seu corpo. Ele não parecia ser rejeitado e pouco a pouco as chances dela voltar a vida aumentavam. Finalmente, o momento tão esperado chegou, com o núcleo inserido em seu peito… nada aconteceu. Nós falhamos.

    Eu me perguntava o que tinha dado errado, mesmo sabendo que esse seria o final provável. Eu não queria aceitar, eu me recusava a acreditar nesse destino. As lágrimas desoladas escorriam pelo meu rosto, minhas pernas desabaram, sem forças para me levantar novamente. Viollet se lamentava junto a mim, apenas deixando toda a tristeza nos consumir.

    — Puta Merda! — a voz, já nostálgica, de Elena correu pelo laboratório — Eu morri?

    Nosso lamento cessou por um instante, desacreditando do que estava acontecendo.

    — E-Elena? — levantei meus olhos marejados.

    Ela olhava ao redor, se situando do lugar onde estava.

    — Esse é o seu laboratório, não é? — olhando para mim — Tinha certeza que tinha morrido, não conseguia me mover nem sentir meu fluxo de mana.

    — ELENA! — Viollet, chorando como uma criança, pulou em seu pescoço.

    Ambas caíram no chão, minha amiga chorava desesperadamente, enquanto Elena ainda não entendia o que estava acontecendo. Eu a olhava assustado, incrédulo com a situação e segurando minhas emoções.

    — O que foi? Parece que viu um fantasma.

    — É por que você é um.

    — … — sem palavras, ela aturava o choro de Viollet em seu ombro — Dá pra tirar essa garota de cima de mim?

    Elena me contou com detalhes o que havia acontecido assim que chegou naquela cidade com Elliot. Uma luta intensa que a colocava como seu próprio oponente.

    — Pelo visto, o efeito do Pacto de Restrição era o atraso e a eficiência do rebote. Assim que revelou o pacto, o rebote demorava a acertar, criando um blefe — explicando brevemente — além disso, o ataque atingia diretamente o seu núcleo, ignorando qualquer barreira, manto de proteção ou resistência mágica.

    — Faz sentido. Mas se meu núcleo foi destruído, como ainda posso estar viva? — eu hesitava em falar, enquanto nesse meio tempo, ela fez um breve raciocínio e logo questionou — Você fez aquilo, não foi? — gritando.

    — Fiz.

    — VOCÊ PROMETEU!

    — Eu sem bem o que prometi, mas se não fosse por isso, você não estaria aqui agora!

    — E eu agradeço por isso. Não me entenda errado, não estou lamentando por estar viva, mas você sabe as consequências que terá que enfrentar, certo?

    — Não me arrependo de nada do que fiz, fico feliz por poder te ver de novo.

    Suas bochechas ficaram avermelhadas rapidamente, tentando buscar palavras para me responder.

    — Agora que os pombinhos já tiveram seu momento, temos que dar a notícia para o resto! — Viollet interrompeu.

    Nós voltamos para Shyrne através de meu portal, dessa vez, com Elena viva, com apenas algumas dificuldades para andar.

    Melissa e Elliot pareciam preocupados quando chegamos, mas assim que a viram, seus rostos fizeram expressões aliviadas, relaxando seus ombros.

    — Como está se sentindo? — Melissa perguntou.

    — Ainda é estranho me mexer e parece que minha mana ainda está fraca, mas vou ficar bem.

    Melissa entortava seus lábios ao segurar o choro, tentando manter sua pose de líder. Elas se encararam com seriedade, enquanto a princesa caminhava em direção à guerreira.

    — Idiota! — surpreendendo a todos com um forte abraço em Elena — Nunca mais me assuste desse jeito.

    — Achou mesmo que eu morreria só com isso? — sorriu confiante.

    — É claro que não! — Elliot interviu — Você é idiota, mas é durona. A tão temida Amaterasu! — em um tom debochado

    — Moleque irritante! — grunhiu como um lobo, soltando chamas pelos seus punhos — GAH! — um gemido dolorido

    De repente, uma poça de sangue se formou em seus pés.

    — Elena! — todos gritamos.

    — Relaxa, eu tô legal.

    — É a primeira vez que um núcleo artificial funciona ativamente em um corpo humano, não exagere.

    — Do que você ta falando? — Melissa, confusa, indagou.

    Expliquei a ela e aos outros o que exatamente aconteceu, sem tantos detalhes sobre a cirurgia. Melissa teve a exata mesma reação que Elena ao descobrir sobre o núcleo artificial, mas logo se acalmou.

    — O motivo pelo qual você não deve usar tanto da sua mana é esse. É como se você tivesse acabado de nascer, seu núcleo não está desenvolvido e pronto o suficiente para suportar todo o seu poder.

    — Então é por isso que ela não consegue usar as explosões…

    — Não exatamente — Elena interrompeu — consigo sentir a fissão acontecendo, porém, em uma escala estupidamente mais baixa. A verdade é que talvez eu não consiga alcançar a mesma força que tinha antes.

    — Seu núcleo agora é, em maior parte, a essência de um Divergente das Chamas, então é melhor que se adapte a sua nova situação. Mesmo que ainda consiga usar a Conjuração da Luz, tente não depender tanto disso.

    — Já estou acostumada a usar fogo, não será um problema.

    — Mas, Sr. Galliard — gritou Elliot — Se poderia usar qualquer outra essência de núcleo para complementá-la, por que escolheu justamente um Divergente das Chamas.

    — Apesar de que Elena já tenha certa facilidade com o elemento, em teoria um núcleo também carrega consigo informações individuais que afetam a personalidade de uma pessoa. Então escolhi o que mais se encaixaria com sua personalidade atual.

    — Vou tentar levar isso como um elogio — Elena sussurrou.

    — Mas e esse tal de Ezequiel que vocês tanto falam? Ele era uma variação da manipulação da terra, o metal, não é?

    — Não leve isso no sentido tão literal da coisa. No fim, isso não passa de uma teoria, só não quis arriscar em um procedimento tão arriscado quanto esse. Ezequiel tinha uma convicção de ferro inabalável, mas não tinha uma mente tranquila e racional, como deveria ser.

    — Vamos deixar toda essa ciência de lado por agora! — Viollet gritou — A guerra enfim terminou e a Elena está viva! Devemos comemorar!

    — Ela tá certa! Assim que terminarmos de reconstruir Shryne, vamos organizar uma bela festa com um enorme banquete! — Melissa concordou.

    — Daqui pra lá você já vai ter se tornado rainha de tão velha — Elliot resmungou.

    Elena, sem hesitar, acertou um cascudo na sua cabeça, deixando um enorme galo. E enfim, com aquele clima descontraído, eu ria aliviado, feliz por podermos rir juntos finalmente.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota