Índice de Capítulo

    Uma situação um tanto quanto tensa se instaurou no ambiente em segundos. Ranga mantinha seu braço firme, mirando a arma em minha cabeça.

    — Melhor soltar a arma… — Noelle rangia seus dentes ao ordenar furiosamente.

    — Sigh! — suspirou — Tá legal — levantando seus dois braços.

    — Não viemos lutar ou nada parecido — continuei — só queremos ajuda.

    — E eu só não quero sujar o meu apê de sangue!

    Com apenas poucas palavras, o desgraçado já me fez não ir com sua cara.

    — O Dullaham e toda a Nebuloria tá em perigo.

    — As festas dele são a única coisa que coloca essa cidade em perigo — cuidadosamente voltou para sua cadeira.

    — Ele não parece estar curtindo nenhuma festa ultimamente.

    — Não acredito em você — desdenhou enquanto fuçava em sua arma.

    Eu já estava chegando no limite da minha paciência.

    — Noelle… — minha amiga se aproximou rapidamente ao chamá-la — se eu passar mais um segundo falando com esse cara, eu juro que vou derrubar esse prédio.

    — Pode deixar — em um calmo suspiro.

    Noelle tomou o meu lugar na conversa antes que o pior acontecesse comigo e educadamente ela perguntou.

    — O que vai fazer você acreditar em nós?

    De repente, em uma fração de segundo, Ranga apontou sua arma para Noelle e disparou sem hesitar. Agilmente, a Jovem Bruxa se esquivou levianamente sua cabeça, deixando apenas o rastro de fumaça entre o cano aquecido da arma e o buraco de bala na parede.

    — VOCÊ PERDEU A NOÇÃO DO PERIGO, SEU FILHO DA PUTA? — soltei um berro do fundo do meu coração.

    — SAKI! CALMA AÍ! — Akira me segurava com todas as suas forças.

    — SE ESSA PORRA PEGA NELA CÊ TÁ FUDIDO!

    — Eu gostei de vocês…

    — NÃO PARECE!

    — Se me fizerem um favor, ajudo vocês.

    — NEM FODENDO!

    — Aceitamos — Noelle concordou sem pestanejar.

    — NOELLE!

    — Me encontrem nesse local em 1 hora — entregando para minha amiga um pedaço de papel rasgado — sejam discretos.

    — Não vem com essa! Não confio em você!

    — Sempre honro os meus favores, eu gostando ou não, minha palavra é a única garantia que tenho a oferecer.

    — 1 hora é o suficiente para nos prepararmos — respondeu Noelle em um tom sereno.

    Eu saí de lá resmungando, ainda incomodada com as decisões da minha amiga.

    — “Eu gostei de vocês” — o replicando com uma voz infantil — Vai à merda!

    — Noelle — chamou Akira — por que aceitou a proposta do Ranga? Ele não parece ser muito confiável.

    — Não confio nele tanto quanto vocês, mas dada a situação atual, acho que vamos precisar de toda a ajuda que encontrarmos.

    — Ele tentou atirar em você! — retruquei agressivamente.

    — Não senti sede de sangue naquele disparo…

    — O quê?

    — Aquele tiro… ele não teria me acertado mesmo se eu ficasse parada.

    — Tsc! — eu não tinha mais argumentos para dar — Vamos logo com isso.

    Exatamente uma hora depois, nós estávamos no endereço que nos foi dado. Era um galpão velho e abandonado em uma parte isolada da cidade, o cheiro de ferrugem corria ao redor do galpão, o deixando ainda mais assombrado.

    — Foi o Ranga que chamou vocês aqui? — um homem apareceu repentinamente atrás da gente, caminhando com uma postura desconfiada e séria, olhando sempre para os lados.

    — Quem é você? — perguntei tentando me lembrar se já havia o visto antes.

    O homem desleixado, repleto de tatuagens, vestia uma regata preta combinando com uma calça larga e cobria sua clara falta de cabelo com uma touca.

    — Relaxa, não tô a fim de brigar com ninguém — passando direto por nós e indo em direção ao portão.

    — Onde é que tá o Ranga?

    — Tá lá dentro — abrindo o portão enferrujado que rangia como se nunca tivesse sido aberto antes — podem entrar, eu já vou indo.

    — Você veio aqui só pra isso?

    — Eu tava devendo um favor pra ele.

    O rapaz foi embora o mais rápido que pôde.

    Dentro do galpão havia luzes estranhamente bem posicionadas iluminando o centro dele, além do reflexo da luz também revelava o quão sujo estava o lugar.

    — Isso não tá me cheirando bem.

    — Esse lugar tá nojento — comentou Akira se esquivando das poças de água suja.

    — É por isso que é perfeito! — Surgindo do nada pelas nossas costas, Ranga exclamou, nos dando um leve susto.

    — O que vamos fazer exatamente? — Noelle perguntou.

    — Recentemente surgiu um problema pelos becos de Knux e eu fui contratado para lidar com ele.

    — Vai contando…

    — Vários moradores foram atacados por uma criatura que acreditam ser um vampiro. Minha tarefa é capturar, eliminar o problema e fazer uma grana com isso.

    — Vampiro? Vampiros não exist- 

    — Na verdade, existem sim — a jovem bruxa interrompeu — digo, existiram. Eles foram extintos há centenas de anos! Não tem como ser um vampiro.

    — Também duvido muito que seja um, mas eu aceitei esse favor, então prefiro não arriscar.

    — Tá legal, vamos supor que vampiros ainda existam, qual é o seu plano?

    — O cheiro de ferrugem afeta seus sentidos e percepção da mana, então é um lugar perfeito para uma armadilha. Só preciso que vocês o distraiam o suficiente para o capturar. É bem simples.

    — Eu entendi a parte de distraí-lo, mas como espera que um vampiro venha pra um lugar assim?

    — Por causa disso! — erguendo sua mão com um livro incomum.

    A capa do livro possuía um tom azul-claro, com alguns símbolos desconhecidos contornando seu formato retangular. No centro da capa havia um núcleo mágico que era rodeado por fios de mana tal como um átomo.

    — C-Como assim? — Noelle parecia surpresa.

    — Você conhece esse livro, Noelle? — perguntou Akira.

    — Claro! Esse é o motivo de estarmos aqui!

    — Não vai me dizer que- 

    — Etheris, o Códex da Magia! — afirmou com uma mistura de empolgação e medo no olhar.

    — Esse é o nome dele? — Ranga o girava em seu dedo como uma bola de basquete — Não consigo ler esses símbolos da capa e também não consegui abrir ele de jeito nenhum.

    — Toma cuidado com ele! — gritou em desespero — C-como você conseguiu isso?

    — Ah isso… foi um favor que me pediram, pagavam bem demais pra roubar só um livro, então aceitei, mas quando fui receber a recompensa, o contratante já tava morto. No fim, fiquei sem o dinheiro e com esse livro que ninguém quer comprar.

    — VOCÊ TENTOU VENDER ELE? — nunca tinha a visto tão furiosa.

    — Eu tinha que conseguir meu dinheiro de alguma forma, não é? — retrucou sem culpa.

    — A gente tem sorte que nada de ruim aconteceu ainda… — em um suspiro desolado.

    — Voltando ao que importa, o vampiro já caiu na armadilha.

    — O que quer dizer com isso?

    — Já estamos no segundo passo do meu plano. O primeiro, já foi concluído ontem a noite, quando ele atacou um conhecido meu e acreditou que o livro estaria nesse galpão aqui.

    — Você fez um conhecido seu ser atacado por um vampiro? — Akira perguntou chocado.

    — Algo de errado nisso?

    — Tem muita coisa errada com- — Ranga o silenciou com seu dedo indicador.

    — Silêncio, não temos mais muito tempo — com seriedade no olhar — Não sei com que tipo de coisa já lidaram, mas conseguem lutar com um vampiro por alguns minutos, não é?

    — Tsc — resmunguei com raiva — é claro que sim.

    — Vou deixar isso com vocês — jogando o livro para o alto em minha direção — façam ele de bobo ou que seja, apenas tomem toda a sua atenção.

    Apontando seu braço para cima, disparou um gancho para uma das vigas de ferro enferrujadas.

    Mesmo sem um pingo de confiança, continuamos ali esperando, Noelle parecia preocupada com o que acabara de escutar sobre o livro e passou um bom tempo averiguando cada centímetro dele.

    “VUUSH!” de repente, o portão enferrujado fez um som estrídulo que correu por todo o galpão.

    O sol se pondo no horizonte reproduziu a silhueta do vampiro, sua capa esvoaçando com a brisa forte da cidade, assim como sua pressão mágica que sentíamos.

    — Aí está! — me preparei para o que estivesse por vir.

    Calmamente, destruindo todo o clima de sua grandiosa chegada, o vampiro fechou o portão com o barulho que rasgava nossos ouvidos. Agora, com apenas a luz do galpão o iluminando, vimos o seu curto… cabelo rosa.

    — Você! — Noelle gritou vendo um rosto familiar — Gwen, não é?

    — Você! — o vampiro gritou de volta com uma voz estridente.

    — Conhece? — perguntei confusa.

    — Foi ela que tentou nos roubar na floresta!

    — Ah… acho que sei quem é! — eu não fazia ideia de quem se tratava.

    — Eu ainda não faço ideia de quem seja — concluiu meu amigo.

    — Então são vocês que estão com o livro? — gritou — passem ele pra cá agora!

    — Nem pensar!

    — Grrr… — seus olhos azuis se contorciam em fúria.

    Em um salto vigoroso, se aproximou de Noelle, prestes a pôr as mãos no Etheris. Agilmente a jovem bruxa se esquivou evitando o contato, a vampira derrapou no chão  deixando a marca de suas garras no piso e sem nem mesmo olhar para mim e Akira, saltou novamente.

    — Saki! — minha amiga arremessou o livro em minha direção, fazendo a vampira correr para cima de mim.

    Sua mobilidade era superior à minha, então ao invés de me esquivar de seus golpes, os defendi enquanto recuava. Em um simples piscar de olhos, ela desapareceu da minha frente, deixando apenas sua capa para trás, e reaparecendo novamente nas minhas costas.

    Com suas unhas afiadas, tentou um ataque letal em meu coração, que quase não fui capaz de bloquear, deixando 3 arranhões em meu braço.

    Antes que o pior acontecesse, joguei o livro nas mãos de Akira.

    O foco da vampira foi novamente desviado. Agora, sem sua capa, pude ver mais atentamente suas roupas. Suas pernas eram cobertas por uma calça legging acompanhada de um short curto em um tom azul-marinho bem escuro, assim como sua regata de gola alta, tendo um design gótico único.

    Akira se atrapalhava de forma desastrosa, quase deixando o livro cair no chão. A vampira correu para agarrá-lo, mas ainda assim falhava.

    — Calma aí! Pra quê essa agressividade? — clamando por paz.

    — Akira, passa pra cá! — Noelle gritou.

    Mais uma vez, o livro era jogado de um lado para o outro.

    — Você! — exclamou enfurecida — Eu disse que da próxima vez que te visse, iria te matar! — seus olhos se enchiam de fúria enquanto tentava cortá-la.

    — Não sei o que eu te fiz — a jovem bruxa conversava ao mesmo tempo que evitava os ataques da vampira — mas não tenho tempo pra isso agora!

    Invocando suas garras trovejantes, Noelle parou com facilidade os cortes da sua oponente. Sem ao menos dar uma brecha para contra ataque, ela rapidamente golpeou sua barriga com a palma da mão, deixando uma marca no local. Já sabendo o que iria acontecer, apenas continuei acompanhando a luta, vendo a garota de cabelo rosa determinada a matar a minha melhor amiga.

    — O que tá fazendo? — Akira me perguntou desesperado — Não vai ajudar?

    — Relaxa, já tá tudo sob controle!

    — Como assim?

    Poucos segundos após o primeiro golpe da Noelle, ela esbravejou seu feitiço.

    Cessar! — Um brilho azul surgiu aos pés da vampira, seguido de um círculo mágico com diversas runas ao seu redor.

    De cada runa no círculo, uma corrente de mana foi invocada, prendendo o corpo do alvo em cada marca gravada. Sua cintura foi cercada pela corrente, assim como ambos braços e pernas.

    As correntes também liberava descargas elétricas periodicamente, imobilizando ainda mais o alvo.

    — Hehe — um sorriso sarcástico vindo da prisioneira — você é uma bruxa bem habilidosa…

    “Snap!” em um simples estalar de dedos, as correntes se dissiparam.

    — O quê? — nós 3 gritamos surpresos.

    — E ISSO ME DEIXA COM MAIS RAIVA AINDA! — preparando para atacar novamente.

    “CRASH!” uma gaiola enferrujada caiu dos céus.

    Antes que pudesse perceber, já estava presa sem nenhuma perspectiva de fuga.

    — Vocês foram bem demais! — Ranga, sentado em cima da gaiola, ria — fizeram ela de bobinho e tudo!

    — Desgraçados! ME TIREM DAQUI! — resmungou empurrando as barras da gaiola com força — ARGH! — um grito intenso de dor.

    — A ferrugem queimou as suas mãos? — perguntou curioso — então você é mesmo uma vampira!

    O mercenário descia da gaiola calmamente, com um sorriso leve no rosto.

    — Vai a merda!

    — Agora… — Ranga apontava um revólver para a cabeça da prisioneira — é só finalizar o serviço.

    O cabelo rosado da vampira escondia seus olhos com medo, ela cerrava seus punhos trêmulos, se preparando para o pior.

    Quando Ranga estava prestes a apertar o gatilho, Noelle correu para frente do cano da arma.

    — Espera aí! — empurrando o revólver para baixo.

    “BANG!”

    — Tsc! — grunhiu impaciente vendo o buraco da bala no chão — O que foi agora?

    — Não precisa disso, não é? Tenho certeza que ela vai ser mais útil viva!

    — Não preciso da sua misericórdia! — a vampira cerrou seus dentes enfurecida.

    — O quê tá fazendo, Noelle? — perguntei.

    — É, o que você pensa que tá fazendo? — Ranga olhou no fundo dos seus olhos com raiva.

    — Vocês viram suas habilidades, ela com certeza vai ser útil na nossa missão!

    — Eu só tô fazendo o meu trabalho — apontando a arma novamente — sai da frente!

    — Nos seus sonhos que eu vou trabalhar com você!

    — Você tem outra escolha? — colocando um dilema em seus ombros.

    — Ela já matou muita gente! O que garante que ela não vai nos matar também? — Akira questionou.

    — Quê? — a vampira fez uma expressão confusa — Eu não matei ninguém!

    — Ué, mas ele disse que… — apontando para Ranga.

    — Eu não disse nada disso — respondeu, também confuso ‘-’

    — Qual é! Você não disse que ela atacou um monte de pessoas? — tentando provar desesperadamente o seu ponto — Até seu amigo tava envolvido nisso!

    — Sim, mas não teve nenhuma baixa, inclusive vocês o conheceram quando chegaram aqui.

    — Que vexame, meu amigo… — dei uns tapinhas de leve em seu ombro.

    Akira não sabia onde enfiar a cara e apenas se debruçou em uma pilastra, envergonhado.

    — Ah… — Ranga abaixou sua arma — que seja, contanto que eu receba meu dinheiro, não faz diferença.

    — Ufa! — suspirou aliviada.

    — Agora podem me tirar daqui? — gritou ansiosa.

    — Ainda não, tenho algumas perguntinhas para você! — minha amiga a pressionou.

    — O que você quer? Não tenho nada para você, sua bruxa imunda!

    — Aí! — com apenas um olhar tempestuoso, emanei toda a pressão mágica que pude — Melhor pensar melhor antes de abrir a boca…

    — Grrr… — grunhiu como um cachorro.

    — Antes de tudo, qual é o seu problema comigo? — perguntou com seriedade no olhar — Diferente da minha amiga aqui, eu tenho uma boa memória e sei que nunca te vi na minha vida — me senti levemente atacada.

    — Uma Bruxa Celestial… — seus olhos perderam o pouco brilho que tinha — espera mesmo que eu confie em alguém como você? — gritou com os olhos cheios de lágrimas.

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