Capítulo 61 - Me Faça Um Favor
Ponto de Vista de Saki:
Logo no dia seguinte, após nosso encontro no Bar, me juntei ao meu companheiro
— Tá legal, o que sugere? — perguntei para Ranga enquanto caminhávamos na rua.
— Vamos mexer com suas mentes! — disse com felicidade no olhar.
— Gostei… — com um sorriso diabólico, fiquei contente com o caos que aquilo poderia causar — como pretende fazer isso?
— Precisamos confundi-los, fazê-los acreditar que estão no caminho certo.
— Antes disso, talvez seja melhor darmos um pouco de desespero a eles.
— Se fizermos com que essas criaturas cheguem tão perto de conseguirem o que querem e de repente se frustrarem, eles com certeza vão se abalar pouco a pouco.
— Assim vamos garantir que caíam em nossa emboscada final!
— Exatamente! Parece que estamos alinhados!
— Sim… — ainda com um certo pé atrás — mas ainda tem uma coisa que eu preciso perguntar.
— Manda!
— O que são… “Favores”?
— Que tipo de pergunta é essa? É uma pegadinha, não é?
— Até agora, todas as suas ações foram frutos de favores e dívidas, mas por que isso é tão importante pra você?
— Entendi… — arqueando a sobrancelha levemente surpreso — pra resumir, meus favores são como pactos, quando assumo um favor, devo cumpri-lo independente do que acontecer, caso o contrário, as leis naturais de um contrato cairão sobre mim.
— Então o “favor” é como uma garantia?
— Não só isso. Dependendo das especificações do favor, consigo aumentar meus atributos físicos ou mágicos e ao completá-lo, recebo uma recompensa que caíba a mim.
— Entendi… se é assim, qual tipo de favor você assumiu agora?
— Nesse caso, ao apertar nossas mãos, firmamos um pacto de restrição, o que significa que temos termos e condições diferentes.
— Tipo…
— Durante o tempo que estou atuando sob o nosso pacto, devo me dedicar único e exclusivamente a ele, enquanto isso, você tem direito a 5 favores que devo completar sem falhar, assim não sofrerei punições.
— E quando não tiver mais favores?
— Ficará ao meu critério aceitar ou não, mas caso aceite, se tornará uma dívida.
— Isso é perigoso…
— Não se ainda for minha aliada.
— Pensando bem, esse pacto é bem arriscado para você. Por que faria algo assim?
— Acho que só um capricho meu…
— Chega a ser fofo da sua parte.
— E também estar ao lado da Bruxa Celestial não é algo que qualquer um consiga — continuou tão empolgado que me fez lembrar que ele não era nada mais que um mercenário — além disso, era preciso um pacto forte assim para conseguir lutar contra os demônios, e também…
Sem parar, Ranga passou um bom tempo deixando claro que sua relação conosco não passava de puro interesse. Pouco tempo depois, sem perder mais tempo, fomos pôr o nosso plano em prática.
Com os contatos de uma pessoa como o Ranga, espalhar informações falsas não foi um desafio. Nós observamos de longe cada tentativa frustrante de encontrarem o livro ao mesmo tempo que também analisávamos seus comportamentos.
Em uma caverna perto das montanhas de Nebuloria, após uma série de mentiras, nós nos escondíamos entre as pedras esperando para que nossos alvos caíssem novamente na armadilha.
— É melhor que esteja certo dessa vez! Não aguento mais perambular por aí nesta forma ridícula! — um deles reclamou.
— Não sabemos se os rumores são falsos ou não, isso está me cansando!
Vendo uma luz brilhante no fim da caverna, os demônios caminharam ansiosos para o prêmio. A luz violeta emanava de uma rocha desgastada e coberta pela minha própria mana, gerando uma silhueta humanoide na parede a nossa frente.
— Agora! — Ranga sussurrou.
Lentamente comecei a separar minhas mãos entrelaçadas, fazendo com que a rocha se partisse no mesmo ritmo.
— Está se abrindo! — esbravejou com otimismo.
Eles se aproximavam com ânsia, deixando seus desejos falarem mais alto, até que de repente, a rocha se divide subitamente e ao desaparecer de seu brilho, revelou o imenso vazio dentro dela.
— Grrr… — eles rangiam os dentes com raiva.
— JÁ CHEGA! — um grito furioso ecoou pela caverna.
Sua silhueta se transformou em uma criatura com espinhos envolta do corpo, mas rapidamente retornou ao normal.
— Seja lá quem estiver por trás disso, vai pagar o preço! — com passos pesados e odiosos, saíram da caverna.
Nosso plano parecia estar funcionando, agora, apenas nos restava contar com os outros.
Ponto de Vista de Noelle:
Em uma noite no bar, quatro dias depois, eu estudava o máximo que podia sobre as criaturas que iríamos enfrentar, criando estratégias e preparando os melhores feitiços para o confronto.
— Descobriu alguma coisa? — Gwen, encostada na porta, perguntou.
— Mais ou menos, é difícil com o pouco que temos… Se ao menos a biblioteca de Raven tivesse sido restaurada…
— A daqui não serve?
— Não. Tirando os livros sobre tecnologia e arquitetura, todos os outros são básicos e superficiais.
— Que específico.
— E você? O que conseguiu?
— Pouca coisa. Ao que tudo indica, eles estão seguindo ordens de alguém e parecem ter um prazo para isso.
— Por isso estão com tanta pressa…
— Por sorte, sua amiga fez todo o nosso trabalho e descobriu algumas coisinhas.
— E o que foi?
— Ela falou algo sobre sua “forma verdadeira”, eu não entendi bem essa parte.
— “Forma verdadeira”… faz sentido. Pelo que dizem sobre eles, se usassem sua aparência original seriam descobertos rapidamente.
— Provavelmente.
— Como eles se parecem?
— Aí é que tá o problema, eles não conseguiram vê-los ainda.
— Certo… não faz mal. Tenho uma vaga ideia exata do que fazer!
— Vaga ou exata?
— TEMOS UM PROBLEMA! — Akira atravessou a porta do bar com tudo.
Gwen e eu corremos para ver o porquê da sua euforia.
— O que foi? — perguntei confusa.
— Amanhã, no final da tarde… — parando sua fala repentinamente — peraí, você tá bem? — olhando para mim com uma expressão desacreditada.
— Eu tô bem… eu acho.
— Mas… disseram que encontraram o livro… não está com você?
— Tá sim — tirando o livro da minha pequena bolsa.
— Que estranho…
— Fala logo o que ta acontecendo, homem! — gritou a vampira impaciente.
Akira contou o que ouviu enquanto estava protegendo Dullaham, eram informações úteis e extremamente necessárias para nós, mas havia um problema.
— Deve ter sido coisa daquela sua amiga e aquele idiota! Eles estão espalhando essas desinformações todos esses dias.
— Se é assim, acho que me preocupei à toa.
— Ô de casa! — logo em seguida, Saki chegou juntamente com Ranga.
— Não morre mais, credo! — Gwen comentou surpresa.
— Qual é a boa?
— Nada de mais, o pateta aqui acreditou na armadilha de vocês?
Confusa, Saki arqueou a sobrancelha em dúvida.
— Eu não faço ideia do que vocês tão falando.
— Não me diga que… — mesmo sabendo que o livro estava seguro e bem selado comigo, um milhão de possibilidades se passaram na minha mente.
— Não temos nada a ver com isso. O que tá acontecendo, hein?
Sem perder a calma, Akira explicou para os dois a situação.
— Eu duvido muito que seja o caso — disse Ranga — mas existe uma pequena chance de terem nos descoberto.
— A percepção de mana dos demônios é quase nula, se não os viram diretamente, acho difícil que tenham sido percebidos.
— De qualquer forma, temos a chance perfeita! — afirmou Saki — eles já estão putos da vida e desesperados pelo livro!
— Pelo que vocês me contaram, as criaturas com que estamos lidando não parecem muito inteligentes, mas parecem estar sob o comando de alguém que é. Nada garante que possam ter sido alertados sobre isso.
— Noelle está certa, mas nesse caso, parece que estão certos de que dessa vez é verdade — meu amigo concordou.
— Como pode ter tanta certeza?
— Soube que eles só usam esse meio de transporte em momentos importantes ou para longas distâncias, então pode ser que realmente acreditem estar indo atrás do verdadeiro livro… — ao concluir, fez uma expressão desgostosa e preocupada.
— Mais alguma coisa?
— Também ameaçaram Dullaham e o resto da sua família…
— Tsc… — sem surpresa, Saki suspirou descontente.
— Não temos muito tempo, temos nos preparar para amanhã! — Akira levantou sua voz.
— Antes disso ainda tem mais uma coisa…
— Hã?
— Quem passou a eles a localização do Etheris? Ainda não sabemos se a informação é falsa ou não, e caso não for… vamos ter que nos preparar para o pior.
— Ah… — calmamente, estirando seu corpo, Saki se levantou — Vamos interceptá-los nesse tal portal mágico.
— O quê? — todos se questionaram abismados
— Saki, é muito perigoso! — contestei.
— Você tá certa, mas se formos pensar em todas as variáveis, não teremos tempo para nos preparar. Já temos menos de um dia para isso e acho que reunimos informações o suficiente.
— Eu gosto dessa ideia — disse Ranga pondo sua mão no ombro da minha amiga.
Eu me perguntava o que Galliard faria em uma situação como essa. Como o homem mais inteligente que conheço lidaria com isso? Sempre fui a pessoa que pensa na forma mais lógica de resolver um problema, enquanto Saki, a minha melhor amiga, resolve tudo da forma mais caótica, o que me fazia questionar todas às vezes em qual seria a maneira certa de lidar com esse tipo coisa.
Ponderando os pontos da nossa atual posição, enfim cheguei a uma conclusão.
— Você tá confiante demais! — Akira resmungou — Acha que vai ser fácil assim?
— Eu acredito nela — interrompi — Esses dois foram os que mais tiveram contato com os nossos alvos, se eles estão dispostos a fazer isso, é por que sabem de algo… estou certa?
— Exatamente — Ranga confirmou — de fato eles são fortes…
— Relaxa… — minha amiga o cortou alegremente — a gente vai vencer!
Ponto de Vista de Saki:
No dia seguinte, enquanto o sol ainda estava alto no céu, Akira enfim retornou ao bar com a única coisa que nos faltava.
— Eu descobri! A Igreja da Árvore Divina! Eles acreditam que o livro esteja lá!
— Quanto tempo temos?
— Não sei ao certo, umas quatro horas?
— Vai ser suficiente!
— Temos que ir antes que algo aconteça com o Dullaham.
— Vamos nos separar para a emboscada — Noelle se levantou rapidamente — Akira, Gwen e eu vamos detê-los, Saki e Ranga, vocês cuidam do interrogatório.
— E caso eles resistam? — Ranga perguntou.
— Aí não teremos escolha a não ser encher a cara deles de porrada! — interrompi momentaneamente.
— Exatamente — minha amiga concordou.
Após Noelle repassar o plano mais algumas vezes, fomos correndo para a Igreja da Árvore Divina. O sol já estava se pondo e assim que conseguimos ver a igreja no horizonte, escutamos um som desconhecido.
— Não se esqueçam, não sabemos quem armou essa armadilha! — Noelle advertiu — Não podemos baixar nossa guarda!
Chegando silenciosamente na igreja, nós nos dividimos assim como foi combinado. Ranga e eu escutamos murmúrios ecoando pelas paredes do lugar, mas não conseguíamos identificar a origem do som.
— Já estive em muitos lugares macabros, mas isso é sinistro… — Ranga comentou ao passar a mão pelas pilastras de pedras antigas que mantinham a igreja de pé.
— Não vou mentir, acho que isso vai cair a qualquer momento.
Caminhando mais um pouco pela igreja, tentando detectar a presença dos nossos alvos, estranhei a quietude repentina ao meu redor. Olhei para trás rapidamente e então notei que Ranga havia desaparecido?
— Merda… — resmunguei ao ver que teria que voltar todo o caminho.
A medida que revia os mesmos vitrais por qual havia passado, senti o ambiente esquentando rapidamente. Passando por uma porta de madeira velha e mofada, vi de relance o cabelo amarelado do meu companheiro.
Eu abri a porta, com uma certa dificuldade por conta da sua dobradiça enferrujada, escutando o barulho da porta se arrastando no chão quente. Ranga estava agachado, olhando para debaixo de algumas cadeiras antigas com livros abaixo delas.
— Então é aqui que você se enfiou…
— Achei que você precisaria de silêncio pra se concentrar e aí eu achei essa sala.
— E que lugar é esse?
— Não faço ideia, só tem um monte de livro empoeirado — se levantando — mas e aí? Conseguiu achar?
— Não…
— Então vamos continuar, deve ter alguma passagem secreta em algum lugar.
— Acho melhor esperar notícias da Noelle e os outros. Vamos voltar lá pra fora.
— Tá beleza.
— Aliás, não tá sentindo esse frio?
— Começou a esquentar de repente há algum tempo, não deve ser nada de mais.
De volta a frente da igreja, esperamos pacientemente pelos outros, bom… pelo menos eu esperei.
— O que cê tá fazendo? — perguntei para o loiro inquieto.
— Procurando uma passagem secreta — respondeu enquanto alisava as paredes de uma forma um tanto esquisita.
— Não me surpreenderia se achasse uma — lembrando das histórias que lia no meu mundo.
— AHA! — com uma pequena faca em suas mãos, puxava uma das pedras da parede levemente para fora.
— E não é que tinha mesmo… mas é estranho o mecanismo de ativação estar tão exposto assim.
— Geralmente eles ficam escondidos nas áreas mais profundas do lugar, mas às vezes o óbvio é o mais seguro, não acha?
— Não sei se concordo. Tira logo isso daí.
— Tá legal, no três.
Me preparando para possíveis armadilhas, esperei o fim da contagem regressiva.
— Um, dois… três! — derrubando a pedra solta no chão.
Os ventos do mais absoluto nada correu entre nós.
— Mas o quê? Que merda aconteceu? — perguntei genuinamente.
— Parece que nada.
“BOOM!” ao longe, em direção ao outro lado da igreja, uma grande explosão criou uma enorme fumaça, jogando para longe Akira e Gwen.
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