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    — QUE PORRA FOI ESSA! — Ranga e eu corríamos rapidamente em direção à explosão nos fundos da igreja.

    — E EU QUE VOU SABER? — gritou de volta

    — QUEM FOI QUE TIROU AQUELA PEDRA DO LUGAR?

    — EU DUVIDO MUITO QUE TENHA SIDO ESSA MERDA!

    Apressados, enfim chegamos no local da explosão. Uma área coberta por fumaça atrás da igreja, onde parecia haver um porão.

    — Não é melhor ir ver seus amigos? — Ranga olhava para o pequeno lago na direção em que Akira e Gwen foram arremessados.

    — Tenho certeza que eles vão ficar bem! Agora… — retraindo meu punho lentamente — vamos ver o que está acontecendo aqui!

    Com toda a minha força, soquei a fumaça ao nosso redor, a dissipando e revelando uma grande sala abaixo de nós.

    — Saki? — Noelle berrou olhando para cima.

    — O que foi essa explosão?

    — Eles estão aqui! — apontando para um círculo mágico no chão com um fraco brilho laranja o destacando.

    Eu saltei para o seu lado, me preparando para a luta.

    A nossa frente, enfim, pude ver o rosto dos nossos inimigos. Um deles, com as vestes tipicas de um rei, com seu manto excêntrico se arrastando pelo chão e uma coroa brilhante sobre sua cabeça. O outro, com uma aparência completamente diferente, possuía uma forma animalesca, seu corpo era envolto por penas marrons, por exceção do seu rosto, que era inteiramente coberto por penas amarelas.

    — A negociação falhou?

    — Nem nos deram a chance!

    — Então vamos para o plano B — Ranga desceu em seguida.

    Com arrogância no olhar, sempre com seu nariz empenado, o que se vestia como um rei ordenou.

    — Tibir, dê um jeito nos outros dois — com sua voz velha e levemente rouca.

    — Entendido, Mestre Ylir — rapidamente, em um único bater de asas, decolou para os céus.

    — Tem certeza que não vai até eles? — perguntou novamente.

    — Já te disse, eles vão ficar bem!

    — Você fala como se pudesse nos derrotar, garota — disse alisando sua curta barba — Tibir consegue alcançar a velocidade do som em um simples bater de asas, além é claro, da sua habilidade única…

    — É melhor se preocupar consigo mesmo velhote, 3 contra 1 não me parece justo!

    — Ah, não se preocupe — uma voz desgostosa e familiar soou — ele não está sozinho.

    Diretamente das escadas ao lado de Ylir, com uma densa aura e forte presença, descia um maldito desgraçado, um maldito rei que abandonou sua filha, Dário.

    — Está atrasado.

    — Tive alguns problemas com a assimilação, ainda estou me acostumando.

    — Deve ser difícil para um humano…

    — O que está fazendo aqui? — furiosa, Noelle interrompeu o diálogo.

    — Isso não lhe diz respeito — respondeu friamente.

    — Não me diz respeito? — as marcas azuis começaram a aparecer pelo seu corpo — Você usou a minha mãe como se não fosse nada! — nuvens de raios começaram a se juntar acima de nós — Me prendeu em um quarto escuro por anos! — suas mãos, envolta pelas garras trovejantes, tremiam com ódio — E AINDA POR CIMA DECIDE SE ALIAR A ELES?

    — Ó… veja só você — a olhando de cima, com um tom arrogante — nem mesmo consegue usar suas garras naturais… é uma vergonha para o meu sangue…

    — Sim… — limpando uma pequena lágrima que escorria pelo seu rosto.

    — Lágrimas? Mais uma vez? Não se cansa de chorar como uma criança? — Dário ria, assim como um demônio.

    — Eu queria que tivesse sido diferente…

    — Já chega das suas lamentações! — impaciente, o rei disparou em direção a Noelle.

    “BLAM!” em um piscar de olhos, minha amiga já estava ao lado de Ylir, com raios caindo a sua volta e um grande buraco na parede a sua frente.

    — Que velocidade! — Ranga comentou surpreso.

    — Pirralha insignificante… — Dário se levantava retirando as pedras que caíram sobre si — fique sabendo que não haverá uma segunda vez.

    Ao baixar da poeira, no peito do seu pai, foi revelado dois cortes se cruzando, no mesmo formato de suas garras. Estranhamente, o sangramento parou de repente, deixando apenas uma cicatriz em seu peito. Seus pés eram tomados por sombras com uma aura levemente roxa, que em instantes, o fez arrancar rapidamente, arrastando Noelle com suas mãos.

    O rastro de destruição foi deixado por um extenso e retilíneo caminho, cruzando por um grande lago e chegando até a floresta ali perto.

    — Não deveríamos ajudar?

    — Eu bem que gostaria, mas essa luta não é nossa. Além disso, pode ficar tranquilo, ela dá conta.

    — Você bota muita fé nos seus amigos — comentou o único demônio restante.

    — Eu já falei isso pra ela…

    Por um momento, antes de me preparar para a luta, respirei fundo, apenas me concentrando em mim mesma. Minhas mãos estavam tremendo, eu me perguntava se aquilo era medo, mas não tinha tempo a perder com isso. Naquele momento, tudo que eu podia pensar era em ser mais forte. Eu deveria ser suficiente.

    — Da última vez que estive cara a cara com um demônio, foi bem humilhante — comentei ao estalar os dedos — Fiquei os últimos dois anos pensando em como fui insuficiente naquele dia… e acho que agora é a hora de ver o quanto isso mudou! — erguendo meus punhos ansiosos.

    — Ainda tem 6 favores… — Ranga lembrou enquanto sacava suas armas de dentro da sua sombra — não os desperdice.

    — Relaxa, eu sei o que tô fazendo — meus punhos se envolveram em chamas violeta.

    Concentrando a mana em minhas pernas, avancei em um único movimento em direção ao demônio.

    Chama Púrpura! — com um poderoso soco, atingi uma superfície tão dura quanto o aço, certa de que acertei o meu alvo.

    O forte impacto do meu ataque fez com que uma intensa ventania circulasse pelo ambiente, jogando tudo pelos ares.

    — Interessante… — com o baixar da poeira, senti meu punho sendo apertado — seria fatal para mim…

    — O quê? — ouvindo a voz arrogante do demônio, não quis acreditar que o mesmo havia parado o meu golpe.

    — Grrr… — um desconhecido soou entre nós.

    — Acabe com ela — deu a ordem.

    De repente, uma criatura humanoide, verde e musculosa se revelou atrás da cortina de poeira, erguendo o seu punho com uma intenção assassina.

    — Saki! Afasta! — Ranga gritou.

    Com um cilindro transparente, cheio de um líquido amarelo, acoplado em seu rifle, começou a atirar no monstro. As balas causavam um dano elétrico que corria por todo o corpo do bicho, o deixando levemente atordoado, mas mesmo assim, a criatura não largava o meu punho por nada.

    — Nada que faça vai adiantar — o demônio dizia — esse pequeno demônio foi feito para ser tão resistente quando uma pedra de obscorunita, o minério mais resistente do submundo!

    — Ah é? — aumentando um pouco mais a minha liberação de mana, comecei a erguer os dedos da criatura, libertando o meu punho.

    Meus ombros foram tomados pelas labaredas de fogo da mesma cor vibrante da minha magia, que aos pouco me fazia subjugar o monstro. Rapidamente, com um chute em seu calcanhar, o fiz cair de costas para o chão, com uma grande abertura em seu peito.

    Eu sentia uma energia caótica percorrer por cada centímetro do meu corpo, que ao acertar o meu punho em sua caixa torácica, gerou uma enorme onda de choque, transformando o grande corpo verde e musculoso do demônio em uma lama escura e pegajosa.

    Limpando meu rosto da sujeira que fiz, olhei no fundo dos olhos arrogantes de Ylir, perguntando.

    — É isso? — emanando toda a pressão mágica que possuía.

    — Que seja! — era possível ver o suor frio em seu rosto ao saltar para trás — Era de se esperar! Uma cópia continua sendo uma cópia! — com um simples gesto de mão, mais da mesma lama escura foi surgindo do chão, se transformando lentamente em mais demônios dos mais variados tamanhos.

    Ponto de Vista de Akira:

    Em meio a uma densa floresta, eu abria meus olhos entre a poeira que cobria o meu redor.

    — O que foi isso? — Gwen se levantou ao meu lado.

    — Alguma coisa explodiu assim que chegamos perto daquele círculo mágico — batendo na sujeira da minha roupa.

    — Temos que voltar logo! — ela correu rapidamente na direção oposta do rastro que deixamos no chão.

    Acompanhando o seu ritmo, comecei a saltar entre os galhos da árvore, me impulsionando levemente com chamas em meus pés. Saindo da floresta, demos de cara com um vasto lago entre a floresta e a cidade, que em seu centro havia uma pequena ilha.

    A Ilha possuía algumas palmeiras e pedras musgosas ao redor, deixando nítida a sua idade.

    — Droga… — resmunguei vendo que não conseguiria atravessar o lago tão facilmente

    — O que foi? Não consegue voar até lá?

    — O problema é que voar até o outro lado com as chamas exige muita força e mana. Eu chegaria completamente esgotado.

    — Hum…

    — E se você…

    — Nem pensar! — me interrompeu antes mesmo de começar a falar — Você é muito pesado pra carregar por tanto tempo.

    Por um breve momento, em silêncio, ambos pensávamos em uma forma de chegarmos ao outro lado.

    — Não tem como congelar a água do lago? Você consegue manipular a temperatura não é?

    — Pelo mesmo motivo que você não pode simplesmente voar até lá. Congelar todo o lago custaria muita energia.

    — Mas não precisa ser todo o lago, apenas a superfície!

    — Já sei! — era possível ver uma lâmpada se acendendo sobre sua cabeça — Me segue!

    Assim, quando menos percebi, estávamos caminhando sobre a água, em um pequeno caminho estreito que Gwen criava a sua frente com uma fina camada de gelo. Após alguns minutos, finalmente, um pouco ofegantes, chegamos a ilha do centro do lago.

    — Deu certo! Agora só falta a outra metade! — a vampira exclamou olhando para a igreja já visível do outro lado.

    — Espera aí, tem alguma coisa vindo! — observando um estranho borrão subindo aos céus, formando uma silhueta contra o sol.

    — O quê? Aonde?

    — Ali em cima!

    De repente, uma onda de choque se formou entre as nuvens, a silhueta também desapareceu rapidamente, pouco antes de colidir com a ilha, levantando a poeira. Em seguida, um forte bater de asas dissipou toda a fumaça suja em torno da criatura, revelando sua aparência.

    — Um homem pássaro? — perguntei ao ver seu corpo humanoide

    — Eu acho que tá mais pra um pássaro homem.

    — Qual é a diferença?

    — Ele tem mais parte de pássaro do que parte de humano…

    — É, faz sentido.

    — ROAAAAAAAR! — um grito estridente destruía nossos ouvidos — Entreguem o Etheris… e provavelmente pouparei suas vidas…

    — Tsc — balançando minha orelha, ainda com um zumbido em minha mente, contestei — Deu azar, sua ratazana de asa!

    Avançando rapidamente para cima da ave, saquei o meu bastão das costas, o imbuindo em chamas. Com um movimento simples e direto, desferi uma estocada flamejante em seu peito.

    O golpe gerou uma enorme labareda, levantando e misturando a poeira com a brasa da ponta do bastão. No breve instante que acreditei ter o derrotado facilmente, uma pressão avassaladora caiu sobre mim, como se centenas de elefantes estivessem empurrando meu ombro para baixo. Quando a poeira enfim abaixou, a criatura estava de pé ao meu lado, com uma pequena queimadura na região do peito.

    — Tá falando sério? — com um sorriso nervoso, indo contra todo o peso que empurrava o meu corpo, comecei a liberar minha mana gradativamente, me adaptando a pressão mágica que ele exercia.

    Girando habilmente minha arma levemente queimada, tentei atacá-lo com golpes incendiários repetidas vezes, mas o mesmo se esquivava de todos os golpes com facilidade. Por um curto momento, no qual baixei a minha guarda após um ataque, o demônio levantou uma de suas asas, descolando de si penas afiadas.

    Seu movimento foi mais veloz do que pude raciocinar, meu corpo não conseguiria se mexer rápido o suficiente para desviar, porém, de forma ágil e bruta, Gwen atirou uma imensa pedra de gelo em sua asa, fazendo com que os estilhaços de seu ataque me dessem a chance de fugir.

    — Ele é rápido demais! — reclamei ao notar as cinzas deixadas pelas extremidades do bastão inteiramente queimadas.

    — É, mas acho que sei como…

    Inesperadamente, um intenso vulto passou por nós em alta velocidade, sem nem ao menos conseguir entender o que estava acontecendo.

    — O que foi aquilo? — a vampira perguntou chocada.

    — Melhor não se distrair com isso! — vendo a ave prestes a atacar novamente — Ele tá vindo!

    Na mesma velocidade que chegou, ele se atirou contra nós, com suas asas abertas e cortando o vento no caminho. Conseguimos evitar o corte no último segundo, mas antes mesmo de nos dar a chance de respirar, disparou suas penas afiadas em nós.

    Mais uma vez, estilhaços de gelo voaram a nossa volta, impedindo que as penas nos perfurassem. Rapidamente, tomamos distância do nosso inimigo, tentando imaginar o que viria a seguir.

    — Eu tive uma ideia… — ambos sussurram ao mesmo tempo.

    — Você primeiro — guardando minha ideia para um momento posterior.

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