Capítulo 65 - Prisão de Yggdrasil
Ofegante, eu caía de bunda no chão.
— Já deu pra mim! — disse com os olhos e corpo pesados, deitando de barriga pra cima.
— Temos que ajudar os outros… — Gwen se aproximava, pousando suavemente ao meu lado — ainda assim… acho que não tenho mais força pra isso…
— Bem que eu queria, mas agora, tudo que nos resta é confiar.
Ponto de Vista de Noelle:
Mais confiante do que nunca com o feitiço de conversão, saltei para longe do meu pai, o deixando paralisado com as vinhas que o envolvia.
— Suas artimanhas medíocres não funcionarão comigo! — exclamou enquanto as pedras envolta do seu corpo se rachavam e eram esmagadas pelas vinhas.
Rapidamente, ele explodiu sua armadura rochosa, a espalhando pelo chão e se livrando das vinhas, logo em seguida, reuniu as pedras novamente a sua volta, tornando a armadura um pouco mais sofisticada.
Sentindo meus cabelos esvoaçando aos ventos com a eletricidade que percorria meu corpo, eu deixava a mana fluir sobre mim, sentindo cada partícula que pairava ao meu redor. Naquele momento, eu já visualizava a sua derrota, tendo total confiança no meu plano.
Meu pai, Dário, correu em minha direção furioso como um javali, preparando um poderoso soco. Sua velocidade não era nada para mim e assim, pude esquivar facilmente, me agachando agilmente abaixo do seu punho e em seguida, acertando seu estômago com a palma da minha mão e gravando uma runa no local.
Com movimentos sagazes, me esgueirei até suas costas, acertando novamente a palma da minha mão, agora em suas costas. Em um único salto, antes que pudesse se virar, fiquei bem acima dele, perfeitamente alinhada com ambas as runas.
— Peço mais uma vez, FLORESÇA! — das suas costas, puxando um fio de mana um tanto quanto elástico, semelhante a um chiclete, ativei as runas enquanto ainda estava no ar.
Imbuindo o fio de mana com raios e o fazendo reagir com o feitiço, o fio se transformou em um extenso cabo madeira, entornado com musgos verdes, atravessando o corpo do meu pai.
— Sua desgraça! — grunhiu com sangue em sua boca.
Após usar a conversão de elemento, senti grande parte da minha mana sendo exaurida, fazendo questão de me lembrar a cautela que deveria tomar ao usá-la
— VAI PRO CHÃO! — A raiva era nítida em seu rosto e agressivamente, bateu suas mãos no solo com força, gerando rachaduras no chão que se encaminhavam até mim.
Eu me esquivava com tranquilidade dos vãos que se formaram ao meu redor, mas no curto período em que me distraí, fui surpreendida com um golpe certeiro em minha cabeça, me enviando diretamente pelos ares, até acertar minhas costas em uma enorme árvore.
Sobre as lascas de madeiras caídas no chão, eu me levantei aturdida e com a vista um tanto embaçada.
Papeando meu rosto com tapas, voltei a me centrar na batalha, vendo meu pai com furioso. Na expectativa de enfim o derrotar, avancei violentamente contra sua armadura ao apontar minhas garras trovejantes para frente e girando meu corpo em meu próprio eixo.
Apesar da força exercida pelo meu golpe, ele me segurou com firmeza, lançando-me ao chão com ainda mais força. Ao baixar da poeira, visualizei seu enorme pé envolto por rochas tentando me pisotear e rapidamente girei para o lado, evitando ter minha cabeça esmagada
Erguendo meu pé logo abaixo do peito da armadura rochosa, o chutei com toda a minha força, fazendo com que cambaleasse para trás. Nós passamos por longos minutos em uma intensa troca de golpes mágicos e físicos, felizmente, sua armadura pesada me trazia uma vantagem sobre ele, então quase não fui acertada por ele, diferentemente do mesmo, que já estava de joelhos no chão, com sua crosta caindo aos pedaços.
— Desgraça! Não vou deixar! Não vou cair aqui! — esbravejou em desespero.
Eu me aproximava lentamente, agachando logo a sua frente com um olhar odioso.
— Desde o dia em que fugi daquele lugar… não… desde antes mesmo daquele dia… — minha voz tremia ao segurar as lágrimas — eu pensava o por que tive que passar por tudo aquilo… fome, miséria, solidão, raiva, tristeza, angústia… — controlando minhas emoções, tranquilizei minha voz — passei os últimos dois anos estudando, aprendendo a ser uma bruxa tão perfeita como a minha mãe… Ainda tenho muito a aprender, mas percebi que ela não era tão perfeita como eu pensava e eu estou aqui para consertar o seu único erro.
— Vai pro inferno, sua vadia! — ao gritar novamente, uma aura sombria, com uma mistura de preto e vermelho, tomou conta do seu corpo.
— O que é isso? — confusa com a repentina pressão mágica que assolou a floresta.
— O demônio para o qual vendi a minha alma! Vou deixar de ser eu mesmo, mas levarei você junto comigo!
— Não — acendendo 5 runas mágicas em seu corpo, uma em sua costela, uma em sua barriga, duas em ambos os ombros e uma em sua testa.
O demônio que estava prestes a possuir começou a se reprimir de volta ao corpo do rei, enquanto isso, ele gritava em agonia e desespero.
— Ninguém, além de mim, vai fazer isso.
— Não! NÃO! Fique longe, sua praga! — se levantou com seu punho estendido.
— Por favor, Incendeie! — instantaneamente, uma flecha pontiaguda de fogo atravessou sua barriga, o paralisando.
— Por favor, Floresça! — novamente, uma flecha, feita por vinhas, atravessou sua costela, cruzando com a flecha flamejante.
— GAH! — gemeu com dor.
— Por favor, Inunde! — agora, uma flecha de água atravessou seu ombro direito.
— Por favor, Eletrifique! — uma flecha de raio atravessou seu ombro esquerdo.
— Vou te amaldiçoar aonde quer que vá! Não se livrará de mim tão fácil! — suas últimas palavras foram dadas.
— Entenda de uma vez, a sua sina… sou eu! Por favor, RESPLANDEÇA! — com meus olhos inteiramente brancos, conjurei uma flecha de luz que caiu perfeitamente em sua cabeça, obliterando seu corpo.
Vendo seu ser se desmanchar em partículas obscuras de magia, senti meu corpo perder suas forças. Uma mistura de alívio e exaustão tomou conta de mim, com um pequeno vazio que se criou em meu peito, enfim, me levando ao chão.
Ponto de Vista de Saki:
Diante do gigantesco touro a minha frente, não posso mentir que não senti medo, mas acima de tudo, um grande senso de adrenalina e empolgação me dominava. Ao ver meu sorriso excitado, Ranga soltou um suspiro chateado e em seguida, sacou Cassie, seu rifle.
— Você não vai recuar, não é?
— Agora que as coisas começaram a ficar interessantes?
O touro demoníaco arrastava sua pata traseira no chão, bufando furioso pelo nariz e logo em seguida, assim como um cometa, disparou em nossa direção. A cada galopada que dava, o chão tremia violentamente, ele acelerava a medida que se aproximava, ficando ainda mais rápido.
— Vamos parar ele aqui mesmo! — me posicionando bem na linha de frente do touro.
Ranga começou a atirar freneticamente no rosto do touro, mas as balas pareciam nem mesmo causar algum dano. Assim que a besta estava a poucos metros de mim, minha confiança se foi rapidamente, vendo que eu não poderia pará-lo de forma alguma.
Eu saltei para o lado amedrontada, com minhas mãos trêmulas diante a fera, a mesma que ao tentar frear, destruiu todo o chão em seu caminho.
— Minhas balas… não fizeram nada!
— Sinto que se tomar um golpe desse bicho, já era!
— Espero que isso funcione! — tirando de seu sobretudo, um frasco com um líquido azul, visto de seu vidro transparente.
Injetando o frasco em uma escotilha na lateral da sua arma, Cassie mudou de cor subitamente, se tornando um rifle azul adornado em gravuras pretas, além de um ar refrescante ao seu redor.
— Ei! — chamei por meu parceiro — Quantos favores ainda tenho?
— Uns três!
— Beleza! Vai ser suficiente — recuperando minha confiança, encarei o touro que se virava para nós.
Novamente, arrastou sua pata contra o chão, se preparando para mais um avanço.
— Aí vem ele! — alertou a investida da criatura.
Os tremores se intensificavam gradativamente, Ranga atirava balas de gelo que congelavam as patas do touro demoníaco, porém, sua velocidade não era reduzida o suficiente. Quando a distância entre nós encurtou mais uma vez, saltei na altura de seus olhos, alguns bons metros acima do chão.
— HAAA! — Em um grito poderoso, acertei um soco bem no centro de sua testa, gerando uma imensa onda de choque.
O touro me empurrava para trás, pressionando sua testa contra o meu punho. Eu tentava manter a força, mas vi que seria inútil continuar naquele impasse, e então joguei meu corpo para o lado com força, o deixando passar direto.
— Ficou maluca? — meu companheiro perguntou assim que caí no chão.
— Precisava testar uma coisa.
— O quê? A sua sorte?
— Olha! — apontando para o demônio que se virava novamente — Sua testa.
— Sangue? Mas as criaturas de lama não sangram!
— Mesmo assim… — Vendo a marca que deixei no monstro, lembrei de algumas palavras da minha mestra, Elena, quando estávamos treinando.
Em um duelo de espadas entre nós, perguntei inocentemente: “E se aparecer alguém mais forte que eu? Como vou saber que posso ganhar?”, com sua espada, fez um leve corte em sua mão e com um olhar e sorriso confiante, disse as mesmas e exatas palavras que disse ao meu amigo.
— É simples, se sangra, é por quê dá pra matar!
— Heh! Você é doidinha! Eu gosto disso!
— Me passa um dos seus frascos — estendi minha mão para Ranga, sem tirar os olhos do inimigo.
— Quê? Pra quê?
— Anda logo! Ele tá vindo — o touro se preparava novamente para correr.
— Tsc! Seja lá o que for fazer — me entregando um frasco com um líquido marrom — é melhor funcionar!
— E me faz um favor…
— Fala.
— Quando eu mandar, preciso que me acerte — pedi enquanto despejava o conteúdo do frasco sobre meus punhos.
— Sigh… — deu um longo suspiro ao me ver derramando o líquido mágico — parece que você enlouqueceu de vez.
— Relaxa! Eu vou ficar bem — invocando um fogo violeta sobre mim.
— Só preciso de um tempo pra recarregar, a absorção da Cassie já tá fraca demais.
Enfim, a fera disparou e em seguida, eu também. Seus olhos consumidos pela fúria encaravam os meus olhos repletos de emoção e em poucos segundos, abri os braços e estufei o peito, segurando com força o rosto da criatura. Nosso encontro foi explosivo, causando uma onda de choque ainda maior do que a anterior. A besta demoníaca me pressionava contra o chão, me fazendo marcar o caminho no qual era empurrada.
— Vamo lá! Vamo lá! — colocando toda a minha força em meus pés e mãos, agarrei firmemente sua pele dura.
Minhas mãos tomaram uma aparência rochosa, como se meu corpo fosse feito de pedra, algo semelhante ao “Coisa” do Quarteto Fantástico. Nossa velocidade reduzia a cada centímetro que passava, chegando enfim ao momento em que paramos de nos mover. Os olhos do demônio entraram em confusão e eu, com um sorriso, um tanto quanto sombrio, comecei a erguê-lo.
Fortalecendo meus braços com a mana caótica dentro de mim, lancei o touro para cima, subindo metros acima da igreja. Em seguida, saltei em sua direção, fechando meu punho, próximo à minha cintura.
— AGORA!
No solo, Ranga mirava seu rifle apenas esperando a minha ordem e com precisão, disparou uma bala flamejante no meu punho.
Eu aguardava a dor que sentiria ao ser perfurada pelo disparo, mas tudo que senti foi uma sensação de formigamento, seguida do calor do meu punho acesso em chamas. O fogo se misturava às rochas em minha mão, a tornando puro magma.
— Perfeito! Agora… — reuni toda a minha força, para que em um único, pudesse destruir aquela besta — VOLTA PRO INFERNO, SEU CORNO!
Cravei meu punho perfeitamente no centro de seu rosto. O magma percorria por dentro do demônio, explodindo suas entranhas enlamaçadas de dentro para fora. Eu observava a chuva de lama cair abaixo de mim, vendo no horizonte, um grande lago coberto por nuvens de vapor.
— Fenomenal! — esbravejou Ylir ao bater palmas em meio a chuva.
Não muito tempo após pousar em terra firme, sem as chamas púrpuras, reclamei.
— Tsc… ainda tem ele.
— O Touro de Tryntamon foi parado por um simples humano! — cessando suas palmas, nos olhou com seriedade — Infelizmente, terei que lidar com vocês com minhas próprias mãos e pôr finalmente as mãos no Códex da Magia!
— Só por cima do meu cadáver! — estendi meus punhos abaixo do queixo.
— Não seja por isso! — erguendo sua mão aos céus, espinhos saíam seu braço, se estendendo por toda a extremidade de seu corpo. Seu peito flutuava pelo ar, encolhendo seu torso e braços em formato de uma concha de caracol.
Seus braços, agora como cascas, em volta do seu próprio corpo, se tornaram pretos e espinhosos e protegeriam um olho vermelho com pupilas negras em espiral.
— Temo que a brincadeira acabou para vocês, vermes.
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