Capítulo 67 - Não Temos Mais Nada
O cheiro da terra molhada permeava por toda a região, como se uma tempestade acabara de passar por Nebuloria. Ranga e eu andávamos bem ao lado de um lago, que ao longe, era possível ver uma pequena ilha no centro.
— EI! — escutei uma voz distante gritando.
— Pera aí! — eu espremia meus olhos em direção à ilha, tentando encontrar a origem do som — acho que tem alguém ali…
Com uma pequena labareda de fogo acima de sua cabeça, logo o identifiquei.
— AKIRA! — gritei aliviado ao vê-lo.
Em alguns minutos, Akira e Gwen chegaram, formando uma ponte de gelo, ou o que deveria ser uma, sobre o lago.
— E aí? O que aconteceu? — meu amigo perguntou preocupado.
— Eu esqueci de perguntar algumas coisas— erguendo meu polegar e abrindo um sorriso desconcertado— Mas vencemos!
— Ufa! — soltou em suspiro aliviado.
— Mas ainda assim, vocês estão acabados! — a vampira disse ao ver nossas roupas sujas e mal tratadas.
— Olha quem fala, não é? — retruquei dando ênfase no sangue seco ainda perto de seu queixo.
Akira olhava para ambos os lados, procurando alguma coisa, seus olhos inquietos enfim se fixaram em mim, perguntando.
— Noelle não está com vocês?
— Um pouco depois que vocês foram levados, ela e seu pai também saíram, mas não fazemos ideia de onde ela está.
Os olhares de Gwen e Akira se entrelaçaram surpresos
— A floresta! — exclamaram juntos.
Nós começamos a correr (ou fingimos) em direção à floresta ao lado do lago. Akira comentou sobre um vulto que passou rapidamente por eles enquanto corriam sobre o gelo e minha preocupação aumentou ainda mais, não só pelo caminho percorrido por eles, mas também, a força desconhecida de seu oponente me deixava aflita, mesmo confiando em minha amiga.
Quando vimos Dário, seu pai, pela primeira vez, quase não senti sua pressão mágica quando a liberou e o soco que acertei nele me deu a certeza de que ele não seria um problema, entretanto, quando o vimos novamente, ele parecia diferente.
— Noelle! — gritei ao ver minha amiga em meio as árvores enormes da densa floresta.
A luz do sol penetrava os pequenos e grandes buracos das folhas, iluminando o cenário devastado após sua batalha. Eu apenas via seu corpo deitado com a barriga para baixo, com suas roupas surradas, porém inteiras, o que me deu um certo alívio.
Mas de longe, o que mais me incomodava, era não saber o fim que se deu a Dário. Por não ser um demônio, seu corpo não se desmancharia em poeira negra assim como os outros, então, assim que me soltei do braço de Ranga, me aproximei-o cautelosamente da minha amiga.
Seu rosto, levemente inclinado para o lado, aparecia graciosamente para mim e sua respiração pausada e leve, me relaxou por um momento. Seus olhos se abriram lentamente, revelando o belo azul de suas pupilas. Eu me sentei, gentilmente, de joelhos a sua frente, a observando levantar delicadamente como uma bela flor prateada desabrochando.
Minha amiga bocejou como quem acabara de acordar de um longo e satisfatório sono, tão relaxada que sua baba escorria lentamente no canto de seu lábio, limpou seus olhos rapidamente e enfim tomou consciência de onde estava.
— S-Saki? — olhou-me com os olhos marejados.
— No fim, deu tudo certo! — disse com uma expressão alegre e relaxada.
— Sim… — ela olhava para suas mãos, esfregando a ponta dos dedos entrelaçados, dando um sorriso gentil — Eu consegui!
— Ha… — derretida com seu caloroso sorriso, caí de costas no chão, totalmente aliviada. Eu estendia minha mão ao sol, o segurando, fingindo enfim alcançar o inalcançável — finalmente, finalmente uma vitória!
Inesperadamente, um forte tremor assolou a floresta, seguido de uma forte sombra que nos cobria inteiramente. Um muro de pedra se levantou entre minha mão e o sol, ligeiramente me assustando.
— O que é isso? — Akira perguntou confuso, assim como todos nós.
O solo em nossos pés começou a se levantar, nos erguendo em uma muralha de pedra semelhante a que havia em nossa frente. Contra pondo o sol, duas silhuetas estavam em pé, paradas em nossa direção.
— Saki Nakamura — uma voz masculina, vinda da silhueta maior à direita, chamou — estava curioso a seu respeito, é uma pena que tenhamos nos encontrado nessas condições — sua voz formosa soou, estranhamente, em meus ouvidos como um elogio.
Com um pouco de dor em meus braços e pernas, me levantei com uma postura erguida e peito estufado.
— Eu não sei quem você é, mas se quer brigar…
— Não — me interrompeu bruscamente — venho apenas trazer uma mensagem.
— Uma mensagem?
— Me chamo Beelzebub, um dos oito Demônios de Goétia — declarou ao dar um passo a frente, revelando seu manto, escuro como a noite, simples e com pequenas ombreiras feitas com pequenos crânios de diferentes criaturas.
Seu cabelo, levemente ondulado, cobria parcialmente seus olhos, tão pretos quanto a cor de sua roupa, como se absorvesse toda a luz que chegasse em suas pupilas.
Ao seu lado, na altura da cintura, acompanhou seu colega. Com traços infantis e olhos vermelhos, a criança de cabelo preto e espetado estufou o peito com uma expressão séria e carrancuda. Noelle parecia surpresa ao vê-lo e senti que deveria reconhecê-lo de alguma forma.
— Por ordem da Rainha Lilith, devo tomar o Códex da Magia e lhes dar um recado.
— Vai sonhando! Não vamos dar a nada a você e a essa vadia! — gritei com as fagulhas de força que ainda restavam.
— É exatamente isso que eu esperava ouvir de você… minha criança — uma voz feminina, persuasiva e seduzente ecoou em minha mente.
— Quem mais tá aí! — gritei.
— Hahahaha — uma risada plácida se iniciou, seguindo para uma gargalhada — HAHAHAHAHAHAHA!
Debaixo do manto de Beelzebub, um cetro sombrio flutuou em minha direção.
Seu cabo prateado possuía uma textura metálica, com gravuras demoníacas em sua extensão e em sua ponta, fixada em uma base, uma esfera opaca, em cor de vinho, brilhava.
— Você… — rangi meus dentes ao pensar o pior.
— Não me dirija a palavra assim! — Lilith exclamou, me levando ao chão de joelhos — Você está como um inseto irritante em meu caminho desde que chegou a este mundo! Aproveitando daquilo que me foi tirado!
— Olha, dona, eu não faço ideia do que você tá falando! — brinquei, apesar da minha situação.
— Ah… não se preocupe, isso não será um problema no momento em que eu puser as mãos em você…
— Huh… — tentei levantar minha cabeça, ainda que com extrema dificuldade — se tudo isso que falam sobre você fosse verdade, já teria vindo me pegar!
— Não entenda errado, pirralha. Não faz ideia do quanto anseio por isso, mas… ainda assim, lhes darei direito a um capricho — O olhar de todos, por exceção de seus servos, ficaram confusos — percebo que 5 meses não foram o suficiente, minha espera deverá valer a pena… e também… qual a graça de uma guerra unilateral? — o cetro se afastou lentamente, voltando para o lado de Beelzebub, afastado da criança.
A tensão sobre meu corpo sumiu imediatamente, devolvendo minha liberdade.
— Acima e abaixo dos céus, tudo pertence à minha Majestade. E o que é seu por direito, lhe foi tomado há milhares de anos. A paciência de todos têm um limite… e a de Lilith… chegou ao seu fim há algum tempo — em meio ao seu discurso, lágrimas escorreram em seu rosto — Nos tragam a garota e assim, seu mundo não terá chances de oposição e se curvarão a Rainha sem questionar. Ou… rejeitem aos desejos de Lilith e sofram a morte lenta e dolorosa do seu mundo. Cinco anos devem ser o suficiente para chegarem a uma conclusão.
Eu cerrei meus punhos com firmeza, me mantendo firme em minhas decisões. Por um momento, ouvi minha amiga questionar brevemente “Erick?”, com uma voz calma, porém surpresa. Rapidamente, ignorando suas exigências, saltei em direção ao cetro.
— NEM FODENDO, SUA PUTA! — gritei em pleno ar, segurando meu punho um pouco atrás do meu rosto.
De repente, meu mundo parou. Meu corpo ficou pesado assim como minha respiração. Eu sentia o lado esquerdo do meu torso leve como uma folha de papel, seguido de forte cheiro de sangue. Assim que encostei no chão, ainda aturdida, vi um mar vermelho cair sobre meu rosto, manchando minha visão. O som dos gritos dos meus amigos estavam abafados, acreditava que eles estavam me chamando, então, tentei me levantar para respondê-los, mas meu corpo não se movia como o esperado. Levantei meu braço direito poucos centímetros do chão, tendo a sensação de que estava levantando toneladas de mangás shonen, até pensei que já estava delirando.
Pus suavemente a minha mão em cima do meu ombro esquerdo, onde a dor era mais intensa, e com certa dificuldade, consegui acariciá-lo, estranhamente distante da minha clavícula e ensanguentada como nunca.
— Puta merda… — tentei expressar ao perceber que minha consciência estava sumindo.
Antes de me perder por completo, em minha visão turva, percebi um desconhecido cabelo longo e grisalho, com alguns tons de rosa sobre a imagem, que não conseguia mais distinguir o que era seu cabelo ou as nuvens no céu.
Após um longo e revigorante cochilo, acordei em minha casa como em um dia qualquer. Eu me levantei e vi, refletindo a luz do pôr do sol, a pilha de pratos que ainda tinha que lavar.
Antes de tudo, troquei minha roupa de baixo por algo mais simples, uma calça moletom preta e um top branco, minha vestimenta mais confortável.
Como sempre, verifiquei o escritório do meu pai, com sua pilha de arquivos ainda intacta, na esperança de que havia voltado. Minhas esperanças, assim como todos os outros dias, foram frustradas, mas segui em frente, cuidando da vida simples que tinha.
Chegando a noite, amarrei meu cabelo em um coque e saí de casa para tomar um pouco de ar, além de aproveitar o momento para ir numa padaria ali perto. Eu morava em bairro seguro, algo que meu pai sempre buscou para mim, então pude sair tranquilamente sem me preocupar demais.
— Quase que não chega a tempo, ein, mocinha? Tem sorte que eu sempre guardo esse pra você! — a moça da padaria me entregava um saco com alguns pães e um salgado, com um sorriso no rosto.
A pequena padaria, apesar de seu tamanho, era aconchegante e confortável, com luzes amarelas agradáveis aos olhos. Além de uma decoração meio rústica, remetendo à algo de época.
— Foi mal, Tia Claudia, mas é que esse cochilo depois do almoço me pega de um jeito… — brinquei, passando o cartão do meu celular na sua maquininha.
— E cadê Mika? Nunca mais vi ele por aqui — perguntou, apoiando seu cotovelo no balcão, aproveitando o baixo movimento na loja para papear.
— Sei lá, tem tempo que não vejo ele também. Deve tá atrás de alguma quenga.
— Se é assim que você se chama… — zombou.
— Como é? — arqueei a sobrancelha confusa e levemente irritada.
— Vocês ainda vão acabar juntos…
— Sai fora! O amigo dele é mais bonitinho.
— Assim você machuca o meu coração! — disse Mika, chegando sorrateiramente, com uma expressão doída.
— Ah, é você — respondi com desdém.
— Colé! — me cumprimentou, passando ao meu lado, tocando a palma das nossas mãos em seguida de um soquinho.
Mika usava uma regata vermelha que realçava sua pele negra na luz âmbar do estabelecimento, um short preto de algodão e uma sandália de mesma cor. Seu corpo esguio era alguns centímetros maior do que o meu, beirando o 1 metro e 90. Além disso, seu cabelo crespo e bem cuidado era sempre um destaque, o dando uma aparência mais forte, assim como sua personalidade.
— Mika e Saki — chamou a padeira — que nomes estranhos, viu?
— É japonês, tia — respondeu, passando a mão no meu lanche.
— Nunca vi japonês baiano — debochou.
— “Com teu sorriso, por favor! Faz me moer, moer, moer!” — cantou, gingando seu corpo de um lado para outro enquanto o olhávamos com desprezo — Fui eu que escrevi, nunca ouviram?
— Uhum… — revirei os olhos com sua mentira.
— É sério! Vocês são uns sem cultura mesmo!
— Eu achava meu nome estranho — ignorando a pataquada de Mika — mas me acostumei.
— Pelo menos você tem uma carinha de japonesa.
— Com esses olhos do tamanho do mundo? — interrompeu meu amigo — Ah para né! Ela só é uma branquela — resmungou com meu salgado na boca.
— Você enche o saco, viu?
— Eu sou um negão de respeito, tá ligada? Essa pele e esse cabelo deixa as “nega” doidinha — acariciando seu queixo sensualmente — Isso aí é inveja!
“Bzzzzz” meu celular vibrou de repente.
— Ah, valeu, mas tenho que ir agora — disse, recolhendo minhas coisas e saindo da padaria — Brigadão, tia!
— Nada!
— Pera aí! Eu vou junto — Mika se aproximou de mim, terminando de comer o meu salgado.
— Você tá me devendo 6 reais.
— QUÊ? — gritou surpreso — Salgado caro da desgraça!
— EI! — a padeira o repreendeu de longe.
— FOI MAL!
A luz da lua iluminava o caminho enquanto colocávamos a conversa em dia, até subitamente ficarmos sem palavras. Caminhando parte do percurso até minha casa em silêncio, virei para me despedir quando chegamos.
— Valeu, man, até depois — estendendo a palma da minha mão.
— Saki, você finalmente está pronta? — falou com os olhos arregalados com um brilho dourado.
Antes que pudesse abrir a boca para questionar, meu mundo começou a se desfazer rapidamente. Casas, prédios, árvores, pessoas, animais… todos se estilhaçando e caindo no vazio abaixo de mim. Não demorou muito para que eu também desmoronasse até o infinito, caindo no breu absoluto e finalmente acordando.
— MIKA! — gritei, levantando meu corpo sob a luz da lua em uma floresta escura.
— SAKI? — Noelle rapidamente se voltou para mim, com seus olhos exalando preocupação.
— O-O que aconteceu? Onde estamos? — movendo meus olhos perdidos.
“O que foi aquilo? Um sonho?” Pensei comigo mesma, confusa, apoiando a cabeça em minha mão já apoiada sobre meu joelho.
— Beeem longe de casa — meu amigo reclamou — Você deu um trabalhão ein… — eu via Akira de costas para mim, sem camisa, deixando as marcas vermelhas em sua pele aparente.
— O que foi isso? — disse ainda mais confusa.
— Estamos perto de Verdena, mas ainda falta um pouco para chegarmos em Shryne.
— Pera, VERDENA? — levantei completamente, ainda com minhas roupas sujas da batalha.
Uma dor aguda veio ao meu ombro repentinamente. Observando lateralmente com os olhos, vi acima do meu top, uma enorme cicatriz, se estendendo do topo do ombro até o centro do meu peito.
A dor latejante da cicatriz, ainda não curada, me levou ao chão, com mais perguntas a serem feitas.
— Há quanto tempo…? — me referindo ao tempo que caminharam.
— 3 dias — Vendo meu rosto, em choque, Noelle começou a explicar.
Após ter recebido um golpe fatal, eu perdi a consciência devido à dor e perda de sangue causada pelo golpe de Beelzebub. Misteriosamente, um mago ancião chegou logo em seguida, nos protegendo com uma magia muito poderosa, porém desconhecida. Mesmo assim, o demônio, com uma insistência inigualável, conseguiu arrancar o Etheris de nossas mãos.
Noelle alegou que Beelzebub chorava durante todo o momento em que se fez presente, mas o que de fato a deixou incomodada, foi a presença da criança ao lado do servo de Lilith. “Sem dúvidas, era ele” disse convicta ao lembrar-se de Erick, o filho de Alice que encontramos em Brasslyn. Sua assertiva memória me surpreendeu, sendo que eu mesma já havia esquecido da criança.
O mago foi embora pouco depois de curar minha ferida, ou o que fosse uma tentativa de curá-la, sem dizer uma única palavra. Colocando em nós, um misto de gratidão e curiosidade.
Quando Lilith e seus servos foram embora, Ranga disse que voltaria a sua vida normal, logo após se despedir brevemente, vendo a pressa de Akira e Noelle para voltarem o mais rápido possível e relatar o ocorrido. Por outro lado, Gwen desapareceu pouco tempo depois das coisas esfriarem, sem ao menos avisar.
— Temos que voltar para Shryne logo — disse Akira, ainda cabisbaixo e com um tom raivoso em sua voz — mas preciso descansar um pouco — se deitando em uma cama improvisada com folhas.
— Certo… — me levantei, agora, tranquila — eu preciso tomar um pouco de ar — acariciando meu ombro ferido, andei floresta adentro.
Alguns metros distante do nosso breve acampamento, me sentei a beira de um rio com transparente como vidro. Percebi que, mais uma vez, falhei em proteger os meus companheiros e mais uma vez não fui forte o suficiente para eles, mas, antes que esses pensamentos pudessem invadir a minha mente, senti um toque suave e gentil sobre o meu ombro saudável. Noelle, delicada como sempre, se sentou ao meu lado, colocando seus pés junto aos meus na água, pondo nossos braços colados um no outro.
— Que bom que você tá bem! — calmamente colocando sua bochecha apoiada em mim, como uma gata carinhosa.
Meu rosto ficou vermelho no mesmo momento, mas não posso dizer que não senti meu corpo inteiro se esquentar ao senti-la. Naquele instante, tudo que consegui fazer foi apreciar o momento. O porto seguro que sua presença trazia, me fazia fraquejar, entortando meus lábios chorosos para baixo. De alguma forma, me mantive forte, e segurei as lágrimas, então, após alguns minutos em silêncio, minha amiga ergueu sua cabeça e disse.
— É culpa minha.
— Não… — retruquei — é minh-
— Se eu o tivesse parado naquele dia… — murmurou com remorso.
— O quê? — sem fazer ideia do que ela estava falando.
— Antes de chegarmos a Antares, naquele vilarejo… eu fui atrás daquela criança quando ela fugiu de casa. Mas… antes de voltarmos, eu encontrei ele. Era tudo igual, tenho certeza, seu manto, o cabelo, as lágrimas… tudo como naquele dia.
— Isso… não foi culpa sua… — tentei consolá-la.
— Se era medo ou sua força esmagadora, eu não sei, mas fiquei parada na frente dele sem mover um músculo… se eu tivesse feito algo, aquela criança não estaria…
De repente, interrompendo os lamentos da jovem bruxa, senti uma presença mágica tão forte quanto a nossa.
— Sentiu isso? — perguntei ao me virar rapidamente.
Noelle se virou junto a mim, afirmando com a cabeça. Uma estranha movimentação balançou as pequenas plantas atrás de uma grande árvore branca atrás da gente. Nós nos viramos apreensivas, vendo uma criatura sair lentamente de trás da árvore.
— Ah, desculpa, eu quase cochilei por um momento — disse uma voz rígida e senil.
Felizmente, dependendo do ponto de vista, nossa misteriosa companhia não se tratava de um monstro, e sim, de um senhor grisalho de aparência imponente. Seu corpo alto e magro era coberto por um manto branco, contrastando com uma armadura de malha colada em seu corpo. A armadura era composta por uma túnica folgada e confortável, com alguns detalhes em azul e rosa, com mangas longas que se ajustavam ao seu pulso.
A parte inferior de sua vestimenta consistia em calças largas, também branca, que permitiam movimentos ágeis e descomplicados. Seus pés eram protegidos por sandálias tradicionais de guerra, feitas de madeira e couro, com tiras grossas que envolviam seus tornozelos e ofereciam um suporte robusto. As sandálias eram finalizadas por meias de malha que protegiam suas pernas e pés.
Seu cabelo, longo e rebelde, se estendia até a cintura, com algumas pontas rosa espetadas. Na lateral de seus olhos, também rosa, tatuagens se enrolavam na altura de suas sobrancelhas como um rabo de macaco e pareciam seguir uma linha até ao seu pulso.
Toda a sua aparência exalava uma combinação de poder, sabedoria e uma pitada de excentricidade, características que deixava claro o seu nível de força.
— SEU TARADO SAFADO! — gritei furiosamente.
— Ei, ei, calma aí! — tentou apaziguar a situação levantando suas mãos.
— Calma aí o caralho! — parti pra cima dele violentamente.
— Saki! Espera! — minha amiga segurou minha blusa com tanta força que achei que iria se partir a qualquer momento — Seu ombro! Foi ele que curou — declarou, fazendo tanta força que não poderia suportar.
Eu parei imediatamente, sentindo uma enorme dor em meu machucado e sem acreditar em suas palavras.
— Vejo que já está bem! — sorriu ingenuamente.
— Muito obrigada por nos salvar! — Noelle se curvou respeitosamente.
— Não foi nada! Foi sorte eu estar passando por perto!
— Você! — me aproximei do mago da maneira mais brusca possível, vendo seu claro desconforto com a proximidade — Valeu! — agradeci, estendendo minha mão.
— Já disse, não foi nada.
— Você parece forte… não é à toa que conseguiu bater de frente com aquele cara. Qual é o seu nome?
— Por favor — abriu um enorme sorriso sem jeito, (por um momento, achei estar delirando ao ver suas tatuagens se mexerem) — sou apenas um mago qualquer — finalmente, segurando minha mão, declarou — pode me chamar de Merlin.
Ponto de Vista de Shosuke:
Minha respiração pesada ecoava no ambiente escuro e silencioso que me envolvia.
— Respira e concentra, torne-se um com a lâmina — uma voz, calma e serena, aconselhava em meio ao barulho dos metais colidindo — sinta a escuridão, abrace sua maldição… sinta, fareje, escute… corte.
Desferindo um último golpe, senti o fio da minha espada incompleta atravessando a superfície, fina como uma folha de papel, de outra lâmina.
Com o suor escorrendo em meu rosto, retirei a venda que cobria minha visão, olhando diretamente para o solo. No chão a minha volta, inúmeras adagas estavam corroídas no chão, algumas delas, restavam apenas o pó. Os passos calmos do meu mestre se aproximavam de mim, erguendo um pouco acima de sua cintura, uma adaga, dividida verticalmente em duas.
— Está perfeito — me elogiou, à sua maneira.
Meu mestre, não tão mais alto quanto eu, tomava a venda preta das minhas mãos, a prendendo em seu rosto. Seu cabelo ondulado, caído por cima da testa, era assim como o meu. Suas roupas simples, de cor única, era assim como as minhas. Sua espada, que apoiada em ambas as suas mãos, estendida para mim, era o restante da minha.
Ponto de Vista de Smaell (O Autor):
Assim, “O Sangue de Lilith” chega ao fim… da sua primeira parte. Espero que tenham, acima de tudo, se divertido ao lerem a jornada de Saki e seus amigos. Ao longo desses 67 capítulos, me esforcei ao máximo para manter uma qualidade, tanto na história quanto da escrita, mas infelizmente, sei que posso ter vacilado em alguns pontos e conto com vocês para comentarem o que acharam dessa primeira etapa.
A novel entrará em um breve hiato agora, que vai servir para organização do roteiro e preparação para a narrativa. Por conta da faculdade, não consegui manter uma média de capítulos que me agradasse, tendo que publicar um capítulo a cada 15 dias, com esse hiato, espero conseguir me organizar direito para conseguir publicar, ao menos, um capítulo por semana (mesmo que tenha imprevistos). Conto com a paciência e apoio de vocês
E obrigado por acompanhar “O Sangue de Lilith” até aqui!
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