Capítulo 76 – Almas Interligadas / O Verdadeiro Rei!
Ponto de Vista de Saki:
Logo após sair do hospital, fui correndo atrás do maldito cavaleiro arrogante. Gilgamesh tinha um gênio insuportável, mas eu sabia que ele seria o único que iria me dar exatamente o que eu precisava.
— E aí? Tá pronto? — o cumprimentei ao chegar na sala de treinamento.
A sala estava transformada no quintal de um palácio, o cavaleiro, vestido apenas com uma calça larga de lã, girava uma lança de madeira no ar, como se estivesse em meio a uma batalha.
— Não sei do que tá falando… — respondeu sem ao menos me olhar.
— Você disse que ia me treinar!
— Se me desse um bom motivo.
Ele estava certo.
— Mas… eu me lembro de ter arrancado o seu braço — ele enfim fincou sua lança na grama — e ainda assim você voltou — voltando seu olhar para mim.
Pode ser que eu estivesse louca, mas por um momento, senti um quê de nostalgia em seus olhos. Seu olhar frio e arrogante havia se transformado em um olhar frio e pensativo.
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— Há muito tempo, antes mesmo de me tornar rei, um velho amigo me disse que seu sonho era poder proteger seu povo e sua família… tudo que eu fiz foi rir. Seu ideal era simples demais, mas… era o que fazia ele lutar com tanta bravura. Talvez, se o destino tivesse sido diferente, ele teria sido um rei melhor do que eu.
— Eu fico surpresa que você teve um amigo.
— Sua…— ele gritou, deixando sua raiva bem aparente.
— Significa que mesmo de baixo de toda aquela armadura brilhante e essa postura arrogante, você ainda- — minhas palavras foram interrompidas por uma repentina lança de madeira que voou a centímetros da minha costela.
— Não ouse terminar essa frase.
Ponto de Vista de Akira:
— Só mais alguns segundos! Você consegue! — Merlin gritava para mim, como se eu não estivesse quase perdendo a consciência.
Por algum motivo, o mago achou que seria uma boa ideia me prender em uma fornalha por CINCO DIAS SEGUIDOS.
A fornalha de pedra era gigantesca, com grades na sua frente que me impediam de fugir. Além disso, por estarmos floresta adentro, o calor ao redor era retido, deixando tudo ainda pior. Meus últimos dias, sentado naquele lugar, sentindo todo o calor e a mana incandescida, me levaram ao limite.
A medida que a temperatura subia e minha resistência ao fogo aumentava, eu sentia como se as chamas ao meu redor fossem apenas uma extensão do meu corpo. O fogaréu intenso já não me abalava mais, o que me fazia questionar se aquilo era mesmo necessário, ou pior, eu realmente precisava ficar cinco dias sem comer?
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— Acho que já tá bom! Pode sair, garoto — de longe, com o seu cajado mágico, Merlin abria as grades da fornalha.
— Você não vai… desligar? — minhas palavras saíram ofegantes, enquanto ainda conseguia raciocinar.
— Desligar? Não sei do que você tá falando… — ele me respondia com um olhar risonho.
— Cara, só desliga logo! — eu estaria chorando caso pudesse derramar alguma lágrima sem que ela evaporasse.
— Já disse, pode sair — segurando um enorme pedaço de carne atravessado em um espeto.
Sem ao menos pensar duas vezes, eu saltei para fora da fornalha, arrancando o pedaço de carne da sua mão e o devorando como um animal.
— Finalmente, um pouco de ar fresco — brincou, sentindo a brisa quente indo embora.
— Hum? — eu olhei para trás sem entender, acreditando que a fornalha ainda estaria acessa — Me esperou sair pra desligar? — perguntei confuso.
— Eu não fiz nada…
— Você tem que parar de se fazer de sonso…
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— Não! Dessa vez eu não fiz nada! — jogando para mim mais um pedaço de carne.
— Dessa vez? — ainda meus dentes cravados na comida.
— Ainda não percebeu? A fornalha nem mesmo tinha lenha.
— Pera aí! O quê? — gritei, correndo direto para a fornalha.
Eu a olhei por inteiro, não havia nem um único resquício de brasa ou carvão, nada poderia tê-la acendido.
— Acho que agora você entendeu…
— Tá me dizendo que-
— Sim. Você foi o único combustível nessa fornalha.
Vários pensamentos invadiram a minha mente, mas um único me trouxe a necessidade de uma resposta.
— E por quê CARALHOS eu tive que passar fome lá dentro? — gritei enfurecido com os olhos em chamas.
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— Lembra da parte de “levar seu corpo ao limite”? — respondeu sem se abalar — Bom, dessa forma matamos um coelho com uma cajadada só.
— Sinceramente, eu não acho que tenho energia pra duvidar de mais nada — me sentando em uma pedra ao meu lado.
— Enquanto seu corpo ficou exausto e sem energia, você continuou focado em organizar e reunir as chamas ao seu redor, de certa forma, fortalecendo o seu próprio núcleo. Do outro lado, o constante contado com o fogo em alta temperatura, aumentou imensamente a sua resistência. Não seria exagero dizer que se tornou imune.
Enquanto Merlin falava, eu sentia meus olhos cada vez mais pesados.
— É melhor você descansar. Ainda não acabou — aconselhou ao me ver dormindo ainda sentado.
Não sei ao certo quantas horas se passaram, mas sei que fui acordado de surpresa, com o barulho das palmas do mago em meus ouvidos.
— Beleza! Beleza! Vamo acordar!
Meus olhos se abriam lentamente. Eu sentia como se estivesse dormindo por dias inteiros, estando mais disposto do que nunca.
— Deixei você dormir mais um cadinho, mas agora tá na hora de botar a mão na massa.
— Agora?
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— Seu corpo deve estar apto a suportar o poder de uma divindade, mas você ainda não sabe como fazer isso.
— E o que quer que eu faça?
— É simples. É só me forçar a defender um dos seus ataques. Quando o fizer, vai estar pronto! — disse com um sorriso estranhamente alegre.
— Só isso? — subestimei — não parece difícil.
De repente, pouco antes de terminar de falar, saltei do chão com uma voadora em direção ao seu rosto, o pegando de surpresa.
Meu pé passou rapidamente pelo canto de seu resto, que se moveu ligeiramente para o lado.
— Ah… — ele suspirou com um ar nostálgico — o cômico destino…
Eu continuei tentando o acertar, mas ele se esquivava de todos os golpes, como se previsse o futuro.
— Suas intenções são claras como o sol! Nariz, queixo, bochecha… olho? — recitou todas as direções dos meus ataques antes mesmo que eu me movimentasse — Isso é sujo!
Não importava o que fizesse, seria ineficaz.
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Incessantemente, tentei acertar sua costela com soco, mas como esperado, Merlin desviou, girando seu corpo para o lado oposto ao meu punho e acertando minha cabeça com o seu cajado.
— Arg! — eu caí no chão com o baque repentino — Que merda foi essa ein?
— Disse que teria que me fazer defender. Eu não disse nada sobre contra-atacar.
A partir daquele momento, eu não parei de apanhar e cada porrada era um hematoma diferente. Cerca de 3 dias se passaram e toda noite, antes de adormecer, eu ficava alguns minutos curando minhas feridas ao me envolver em um manto de fogo. Pelo menos, para minha alegria, aquilo já estava acabando.
No terceiro dia, eu disparava bolas de fogo na direção do mago, infestando sua visão com o rastro das chamas. Com um bastão improvisado, feito de algumas madeiras reunidas na floresta acima das nuvens, tentei acertar seu tornozelo, mas Merlin ainda assim saltitava para fugir dos golpes.
— Te falta sagacidade, um toque de malandragem — ele provocou.
— É mesmo? — respondi, saltando alguns metros acima de sua cabeça.
Com minhas próprias mãos, esmaguei o bastão de madeira frágil em vários pedaços e os empurrei com uma onda de chamas. Irritante como sempre, o mago desviou de cada fragmento de brasa disparado, porém, dessa vez, eu finalmente o surpreendi.
Ao cair no chão, aproveitei o momento em que Merlin se ocupava com as lascas de madeira flamejante e disparei para a sua retaguarda.
— Huh? — os olhos convencidos do sábio olharam por cima de seus ombros, confusos — Boa… — deu com um sorriso conformado.
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— ALMA RESSONANTE! — gritei, sentindo meu corpo queimar em um brilho azul.
Meus braços e pernas machucados com um tom roxo se curaram gradativamente, enquanto a chama envolvia meus membros como uma armadura. Tomado por um vigor e um sentimento travesso, estendi a palma da mão para as costas do mago, a incendiando.
Inesperadamente, num simples piscar de olhos, um macaco, vestindo uma armadura preta e dourada, surgiu na minha frente.
Seu rosto estranhamente humano e peludo estava confuso. Ele me encarou por alguns segundos, até olhar com um sorriso sacana e me derrubar com uma rasteira.
— Ei! Pera aí! — eu gritei ainda girando no ar.
— Hum… que fedor de macaco… — Merlin zombou.
— Estranho… — o macaco respondeu com uma voz travessa — só tô sentindo um cheiro insuportável de fralda de velho! — ele me deu as costas, olhando com desdém para o mago.
Ambos possuíam olhares sérios e tenebrosos em seus rostos, eles se encararam por um tempo considerável, como se estivessem se amaldiçoando.
— Seu velho maldito! — cumprimentou sorrindo.
— Seu macaco fedorento! — Merlin o abraçava amigavelmente.
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Eu gostaria muito de saber como eles conseguem mudar o clima só com o olhar.
— O que tá rolando? Quanto tempo faz desde a última vez? — o macaco perguntou alegre.
— Faz uns 100 anos! Muita coisa mudou, meu amigo.
— É, dá pro gasto — eles conversavam tranquilamente enquanto eu me levantava com terra e lama no corpo.
— Dá licença… — interrompi brevemente — vai explicar o que tá acontecendo aqui ou não? Quem é esse cara?
— É como imaginei que seria… — Merlin andou até mim — Esse é preço que se paga pela imortalidade.
— Imortalidade?
— Quem é esse aí, velhote? — o macaco perguntou.
— As leis da natureza são absolutas. Os que violam as leis, têm suas respectivas consequências.
— É, você já me disse isso…
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— Escute — olhando para o macaco, tão confuso quanto eu — você e esse rapaz… possuem almas interligadas.
— Essa é nova! Você sabe mais do que ninguém que isso não existe! — seu amigo gritou.
— Sei?
Merlin caminhou para um amontoado de pedras atrás de mim, se sentando calmamente, esperando que nos virarmos para ele.
— Akira, deixe-me te apresentar meu amigo. Acredito que já tenha escutado suas histórias, os contos do único deus vivo. Aquele que chamam “O Iluminado”. Sun Wukong! — apontou com sua mão para o macaco armadurado.
Sua aparência era, de fato, majestosa e iluminada, diferente da sua atitude, que não parecia se importar muito com o que estava acontecendo. Ao menos era o que parecia vindo de alguém que tirava a cera de seu ouvido com suas próprias longas unhas.
— S-Sun Wukong? Das lendas? — eu estava desacreditado.
— O próprio.
— Merlin, desembucha logo o que quer com tudo isso! — o deus exclamou impaciente.
— Guie o garoto — respondeu, fazendo seu longo cabelo branco, crescer — Você, mais do que ninguém, sabe o que tem que ser feito — Merlin desapareceu em meio a sua cabeleira, que logo se transformou em nada além de fiapos rosa e branco.
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— Tsc! Odeio quando ele faz isso — Wukong resmungou.
— Eu nem sabia que ele fazia isso.
Ponto de Vista de Gilgamesh:
A paz e o silêncio da minha sala de treinamento se foi há alguns dias. Saki puxava duas enormes correntes douradas enroladas em seus braços, correntes essas que se prendiam em um gigantesco pilar feito de ouro.
Para aqueles que não tinham o conhecimento, assim como a garota, não parecia nada além de um simples exercício de força. A diferença é que dentro desse pilar, em seu interior, um mecanismo é ativado no momento em que uma força é exercida nas correntes.
Quanto mais força é aplicada para puxar as correntes, mais pesado fica o pilar. Normalmente, isso é usado apenas para medir a força bruta do indivíduo e assim aplicar uma sequência de treinos baseada nessa força, porém… naquele momento, eu senti meu orgulho sendo empurrado a força contra minha garganta. Apenas pude reprimir minha expressão de surpresa ao ver aquela garota puxar mais de duas toneladas com seus braços.
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