Índice de Capítulo

    Ponto de Vista de Saki:

    Então lá estava eu em meio as belas pétalas de cerejeira, maravilhada com a paisagem criada em frente aos meus olhos. Elena me guiou por um caminho formado por pequenas pedras ao lado do dojo até um quarto onde eu viveria durante o meu treinamento.

    O quarto tinha uma estética oriental, combinando assim com todo o resto do ambiente ao redor.

    Elena deu um passo para o lado me dando espaço para entrar no cômodo — É aí que você vai ficar.

    Eu me aproximei da porta e tirei meus calçados. Ao erguer minha cabeça percebi que estava sendo observada — Então seu pai te deu educação… — disse Elena em uma tentativa falha de me provocar — Nah, só li alguns livros — ela não tinha noção de quanto tempo passei lendo mangás.

    Depois de colocar minha mochila no quarto, Elena foi embora — Acorde cedo amanhã — me alertou.

    — Cedo quanto?

    — Cedo! — fechou a porta agressivamente.

    No dia seguinte, acordei pouco depois do sol raiar. Me levantei, lavei meu rosto e me arrumei para começar o treinamento. Coloquei roupas leves e amarrei o cabelo para não atrapalhar durante o treino e então saí.

    Indo em direção ao dojo, passei pelos pequenos lagos embaixo da ponte de madeira, observando os peixes até chegar. Elena me recebeu de joelhos e com os olhos fechados no meio do tatame. 

    — Bom dia — falei me curvando antes de entrar 

    — Pensei que demoraria mais, entre logo — respondeu sem ao menos se mexer para me cumprimentar.

    Após entrar no dojo, me sentei à sua frente esperando ela dizer alguma coisa.

    — Me diga, o que sabe sobre magia? — me perguntou com frieza.

    — Bom, sei que é uma propriedade dos nossos corpos que somos capazes de manipular e… 

    — Esqueça tudo isso — ela interrompeu.

    — A magia é uma força da natureza. Preste bem atenção no que vou lhe dizer agora — me atentou seriamente — Há muito tempo atrás, houve uma guerra. Essa guerra resultou numa grande explosão que chamamos de BigBang. Com ela, a Mana que era uma força exclusiva das divindades foi espalhada por todo o cosmos. Assim, ao longo da história foram surgindo diversos casos de humanos com poderes “sobrenaturais”. 

    Fiquei boquiaberta com as palavras de Elena, o que me levou a questionar:

     “Que tipo de guerra ocasionaria um evento desse tamanho e também, quais casos foram esses”. 

    — Que guerra foi essa?

    — A guerra antes da guerra do milênio — respondeu como se eu soubesse algo óbvio — Guerra do Milênio?

    — Você não sabe de nada, hein garota? Falo da Guerra de Lilith! — Nesse momento houve um estalo em minha cabeça e logo perguntei — Lilith? O que aconteceu nessa guerra? O que sabe sobre Lilith?

    — Você não veio até aqui para estudar história. 

    — MAS… — sem perceber, estava exaltada e elevei meu tom de voz. Antes mesmo de conseguir reagir, uma pequena bola de fogo passou em alta velocidade ao meu lado.

    Ela fez um corte superficial em meu rosto, derramando um pouco de sangue. Senti aquilo como um aviso, no qual deveria me comportar durante todo tempo que estivesse ali se não quisesse morrer. Percebi isso ao desviar o olhar para trás e ver que apesar de minúscula, a bola abriu um grande buraco na parede e que aquilo poderia ter sido a minha cabeça.

    — Se eu te contar, o que vai fazer? — o completo silêncio tomou conta do ambiente — Nem você sabe. Primeiro foque em aprender e aprimorar suas habilidades, depois você vai atrás do que procura.

    Confesso que me surpreendi por ela ter me respondido de forma menos agressiva do que o normal.

    — Enfim, vou continuar.

    Assenti com a cabeça silenciosamente

    — Pessoas com capacidades únicas surgiram, pessoas capazes de partir o mar ao meio, falar com animais e até mesmo suportar o calor intenso de uma fornalha. Ao longo do tempo, mais casos como esses foram aparecendo até que toda a população se tornou capaz de usar a mana.

    Durante meus longos 17 anos de vida, nunca manifestei um único resquício de magia, então para sanar minha dúvida, perguntei imediatamente — É possível que alguém nasça sem magia?

    — Sim — Infelizmente, ouvi a resposta que não queria ouvir, mas ela logo continuou — porém, há casos no qual os pais selam o núcleo mágico da criança, seja lá o porquê — Essas palavras me trouxeram um alívio momentâneo, até eu começar a pensar demais sobre o motivo de meu pai ter feito isso.

    — Então, antes de começarmos, preciso avaliar seu corpo.

    — Tudo bem, então…

    Elena pediu para eu me sentar com as pernas cruzadas e com a coluna ereta, enquanto se direcionava para minhas costas. Ela coloca sua mão direita bem no centro e levanta sua mão esquerda na altura do peito para fazer um gesto com os dedos.

    Eu escutei seu sussurro e imaginei que fosse algum tipo de feitiço, mas todos esses pensamentos sumiram de repente e a única coisa que vinha a minha mente era como eu iria me manter viva.

    Meu coração começou a acelerar gradativamente e eu começava a me desesperar. Em uma tentativa de entender o que estava acontecendo, olhei para trás — NÃO SE VIRE! — gritou Elena — Apenas tente respirar e se manter calma — As orientações delas não fizeram o menor sentido em minha cabeça, não entendia como ficaria calma sendo que meu coração estava a ponto de explodir.

    Decidi tentar mesmo assim, era a única coisa que poderia fazer, respirei fundo e soltei suavemente, foi o que pensei estar fazendo, mas na realidade, estava apenas puxando o ar e o soltando com gritos.

    Em poucos segundos, foi chegando o momento no qual não aguentava mais. Senti meu coração bater no meu peito, tentando desesperadamente sair de mim — Sigillum — No momento, não dei a mínima para o que aquela torturadora estava dizendo, mas logo em seguida, senti uma forte energia saindo de mim, causando uma onda de choque suficiente para fazer a montanha tremer.

    Aos poucos me acalmava de joelhos no chão tentando recuperar meu fôlego.

    Ponto de Vista de Elena:

    “Essa pirralha… Ela não cansa de me surpreender” Eu já havia entrado em diversos campos de guerra e lutado com a maior variedade de inimigos que possa imaginar, mas nunca encontrei algo assim… É semelhante à energia que eu estava sentindo há alguns dias, mas diferente de antes está mais consistente e mais forte. É o que se espera de alguém com esse poder.

    — Levanta — Não planejava fazer isso agora, porém estava louca para saber o quão forte aquela jovem era. Também não imaginava que ela realmente conseguiria se levantar, mais uma vez ela me surpreendeu — Me ataca com tudo que tem — eu a chamei erguendo meu braço.

    Ponto de Vista de Saki:

    — Que merda foi essa? — Não sabia ao certo porque, mas senti que ela estava me provocando. Eu ainda estava com a respiração pesada, mesmo assim, cerrei meus punhos e corri para o ataque.

    Tentei acertá-la com um soco que foi facilmente bloqueado por uma esfera flutuante de fogo. Senti que o impacto não foi como esperava e percebi que por descuido, meu punho não estava fechado corretamente, então corrigi e fui para mais uma tentativa, dessa vez com uma finta, me abaixando antes de desferir o golpe e direcionando meu outro punho para a lateral de seu rosto.

    Infelizmente, aquela maldita bola me impediu mais uma vez. Nenhum de meus ataques fazia com que Elena ao menos se movesse, mas ela não parecia menosprezar meus movimentos. Impressionada, abri um sorriso satisfatório, satisfação essa que não durou muito, já que fui surpreendida por um golpe certeiro na barriga.

    Vomitei tudo que tinha dentro de mim e foi nesse momento que lembrei que não tinha tomado café da manhã — Merda! — Eu disse em um gemido.

    Elena olhou para mim de cima para baixo com seus olhos ameaçadores — Veio de barriga vazia? — perguntou furiosa.

    — Foi, eu tenho uma barra de chocolate na mochila, mas tinha esquecido completamente — respondi limpando minha boca.

    — Por acaso você é idiota? Vai morrer no meio da aula — Eu olhei para ela com uma FODENDO bola de fogo voadora ao seu lado e não consegui acreditar em suas palavras — Acho que isso ia acontecer antes que eu me desse conta da fome.

    Por ora, fizemos nossa primeira pausa do dia, fui inocente ao achar que teria pausas frequentes, deveria ter aproveitado mais esse momento.

    — Seu núcleo de mana estava trancado — Elena disse tranquilamente puxando um copo de saquê.

    — O que?! — eu perguntei assustada, não com a informação, mas sim com a leveza que ela me passou.

    Aparentemente, seu pai fez isso sem que você soubesse. Não dá pra saber ao certo o motivo, na verdade, nunca dá pra saber o que o velho tá fazendo…

    — Talvez ele não queria que isso atrapalhasse minha infância — fiz uma suposição qualquer, pensando no fato de que ele sempre agiu como um pai normal durante o tempo que estávamos juntos.

    — Não… Seria mais fácil só não te ensinar nada… e ele te ensinou a lutar. Quando se trata dele, nada é por acaso.

    Vivi quase metade da minha vida sem meu pai, mas todo o tempo que tive com ele, parecia que ele sempre sabia o que estava fazendo, mesmo quando ele se foi, tinha tudo preparado para mim. Como se soubesse exatamente o que iria acontecer.

    Quando voltamos para o dojo, nos sentamos com as pernas cruzadas uma para a outra.

    — A mana é um conceito relativamente simples, ela está ao nosso redor, em nosso corpo e principalmente nos elementos da natureza, em outras palavras, é ela que nos permite ser e ter tudo que somos e temos. Sabendo disso, tente sentir a mana nessa sala.

    Após ouvir as orientações, fechei meus olhos e me concentrei ao máximo que pude. Respirei fundo várias vezes, mas não obtive sucesso. Tudo que consegui foi sentir um leve toque em minha bochecha e logo perdi toda a concentração.

    — Conseguiu?

    — Não, mas acho que estou perto — minha tentativa foi frustrada e não entendi o motivo. Ao fazer mais uma vez, pensei comigo mesma: 

    “Se é uma força da natureza, pode se tornar energia, certo? Aquele ‘medidor de mana’ usa essa energia para funcionar, então… é só me lembrar daquela sensação de antes.”

    Normalmente não sou uma pessoa inteligente, e me surpreendi com meu próprio pensamento. A surpresa maior foi o sucesso que tive ao consegui sentir a mana pairando pelo ambiente.

    — Funcionou! — disse em um grito.

    Elena estava com uma expressão de incrédula, o que me trouxe um ótimo sentimento de vitória

    — Como você já conseguiu fazer isso? — perguntou indignada.

    — Você não bota nem um pouco de fé em mim, não é? — respondi com um tom irônico e confesso que um pouco arrogante.

    — Tsc.

    Para o próximo passo, Elena me levou para o topo do Dojo e em seguida me pediu para fechar os olhos novamente — Tente sentir a mana como da primeira vez. 

    Essa era a minha terceira vez tentando enxergar a mana, ainda não havia aprendido completamente a fazer isso, então demorei um pouco para me concentrar com o canto dos pássaros e o vento forte em meu rosto.

    — Pelo seu ritmo de aprendizado, vou assumir que já deve ter percebido que tem lugares onde a mana parece mais densa do que os outros — apenas balancei a cabeça a fim de não perder a concentração — Onde você sente essa densidade? — ela perguntou se movendo por trás de mim.

    — Tem alguns poucos pontos de mana acima da minha cabeça, Na montanha a mana parece ser mais distribuída com pequenos pontos espalhados, mas… Na cidade ela parece muito mais densa.

    — Mais nada?

    Fico em silêncio por alguns segundos buscando algo a mais. De repente senti uma pressão enorme atrás de mim indo de um lado para o outro, mas logo desapareceu. Olhei rapidamente para trás, porém não havia nada.

    Tentei mais uma vez. Me dediquei a encontrar de onde veio aquela pressão monstruosa. Passei alguns bons minutos quieta sem obter resultados até que sinto o peso do medo em meu peito, enquanto a morte colocava a mão em meus ombros e se aproximava cada vez mais.

    Se fosse para descrever detalhadamente, diria que aquele ponto de mana específico teria uma face demoníaca, uma pressão dessa poderia facilmente me matar e por medo em qualquer um. Perdi completamente a concentração e não consegui puxar o ar para meus pulmões. Coloquei as mãos em meu pescoço tentando desesperadamente buscar um resquício de vida.

    — E então, encontrou algo? — Ao me fazer essa pergunta, finalmente consegui respirar e a pressão havia sumido.

    — Achei, Achei… — eu respondi enquanto tossia e agradecia a todas as divindades por estar viva — Não faço ideia do que seja, mas espero nunca mais passar por algo assim.

    — Baseado no que acabou de passar, o que acha que é essa concentração de mana? — Enquanto ainda recobrava os sentidos, comecei a pensar em uma resposta.

    — O diabo? Não sei o que poderia causar uma pressão desse tamanho.

    — Errado — me interrompeu ignorando completamente meu sofrimento — já olhou para cima?

    Lembro que havia pontos de mana acima da minha cabeça e erguendo meus olhos ao céu, vi pássaros rodeando a montanha.

    — Entende agora? — me senti burra por não perceber algo tão óbvio. A mana na cidade tem uma densidade maior, já que é lotada de pessoas, diferente da floresta que a única forma de vida orgânica são árvores, flores e animais pequenos e eles não emitem uma grande quantidade de mana, mas… uma coisa ainda me intrigava.

    — Se esses pontos de mana são seres vivos, por que eu não consigo sentir nada vindo de você? — perguntei confusa.

    — Digamos que você não está no meu nível ainda — a forma arrogante que riu de mim conseguiu me irritar um pouco, mas preferi evitar falar alguma coisa — De qualquer forma, estamos com tempo de sobra. Vai descansar — Fiquei surpresa pela sua “gentileza”.

    — Desde quando você é boazinha assim? — Devo admitir que provocar aquela mulher me trazia uma satisfação inexplicável.

    — Não me entenda mal, eu adoraria fazer do seu treinamento um inferno, mas você é só uma iniciante e o descanso é fundamental — assim que suas palavras entraram em minha mente, meu temperamento imaturo e meu ego falaram mais alto.

    — Como é? Tá com pena de mim? Tá me subestimando? — perguntei gritando enfurecida.

    Recebi uma resposta que não foi nada surpreendente, um soco em minha barriga mais forte do que qualquer outro. Senti minha consciência vazia por um momento — Não… você é não é uma pessoa que dá pra subestimar — foram as últimas coisas que ouvi antes de apagar.

    Ponto de Vista de Elena:

    “Acho que a acertei forte demais” foi o que pensei olhando o pôr do sol e pensando no que fazer dali para frente enquanto Saki estava desacordada ao meu lado.

    “Ela descreveu a mana no ambiente com mais detalhes do que eu esperava e esse é apenas o primeiro dia…”

    Saki claramente tinha um potencial nunca visto antes, além de ter sido agraciada com a melhor e maior benção para seu corpo, mas falta amadurecer. Para alguém sem experiência, aqueles golpes foram muito bem executados. Parecia que aquilo iria durar menos do que esperava.

    Decidi levá-la para seu quarto e continuar no outro dia. 

    Durante a noite voltei para visitar Galliard.

    — Oi, querida! — ele me recebeu com seu enorme sorriso e um beijo inesperado.

    Tentei esconder o que aquele beijo fez com meu coração e fiz uma pergunta direta — Como estão as coisas por aqui?

    — Está tudo bem. Ela já foi dormir.

    Saímos da porta de casa e fomos dar uma volta pela cidade continuando o assunto — Como está a Saki? O que achou do primeiro dia?

    — Aquela pirralha é melhor do que imaginei, mas ainda falta muito — eu odiei falar aquilo em voz alta. 

    — Se logo você está falando isso, não tem como não acreditar — disse rindo.

    — E com a do cabelo branco? Esqueci o nome dela, como está indo?

    — Ah, a Noelle? Tem tempo que não fico empolgado em ver alguém como ela — Os minutos que vi aquela garota foram o suficiente para me fazer duvidar sobre.

    — Sério? Ela parece tão fraca e frágil.

    — Hahaha! Eu pensei a mesma coisa, mas alguma coisa mudou nela. Ela parece querer “viver” agora e seu potencial é algo assustador — Por mais que Galliard fosse uma pessoa muito gentil, ele não era o tipo de pessoa que pararia tudo para ensinar uma única pessoa do zero, tudo que me restou foi confiar nele.

    Depois de uma longa caminhada, sentamos em um banco e ficamos ali por alguns minutos em silêncio observando o céu escuro em meio ao vento gelado.

    — Sabe, ela me lembra bastante a Viollet — essas palavras me fizeram lembrar de tempos no qual queria esquecer.

    — Pensando bem, parece mesmo, mas Viollet tinha um cabelo mais comprido… mas por que está lembrando dela agora? — pela primeira vez, Galliard se calou e não me deu uma resposta, quando pensei em falar algo, ele disparou.

    — Elena… essas crianças… temos mesmo que as levar a um caminho cheio de dor e desgraça?

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota