Índice de Capítulo

    Ponto de Vista de Saki:

    Mika e eu estávamos bebendo no bar quando de repente ouvimos uma enorme explosão. Nós corremos em direção ao barulho, atravessando a cidade e encontrando Noelle, de costas, coberta por sangue e poeira.

    Noelle olhava fixamente para o chão, completamente paralisada.

    — Noelle? O que aconteceu? — gritei preocupada.

    Seu silêncio me deixou ainda mais desesperada.

    — NOELLE!

    — Era só uma garotinha… — ela interrompeu meu chamado.

    Em passos lentos e cuidadosos, eu me aproximei da minha amiga. Eu via a cena. Partes do corpo de uma menininha espalhadas pelo chão. Só de imaginar o que havia acontecido me fazia arrepiar.

    — Eu não… Eu não consegui salvá-la… — Noelle virou seu rosto para mim, afundado em lágrimas.

    Eu a abracei assim que vi seu semblante destruído. Ela chorou como uma criança em meus braços. Amarga.

    Akira, com os pés em chamas, chegou logo em seguida e aos poucos, mais e mais pessoas se aproximavam, confusas com o cenário assombroso.

    — O que aconteceu aqui? — ele perguntou.

    — Parece que foi algum tipo de atentado — Mika presumiu.

    — M-Mas como? Esse lugar é- 

    — Fomos comprometidos! — Gilgamesh anunciou, andando furiosamente em meio a multidão — Esse lugar não é mais seguro!

    — E o que a gente faz? Vamos só ir embora? — também raivoso, confrontou.

    — Antes mesmo e ser um rei, fui guerreiro. Um caçador! Quem estiver por trás disso não vai sair vivo! — esbravejou.

    — Ele está certo! — a voz do Rei Arthur soou.

    — Enfim, algo que concordamos!

    — Um desgraçado como esse… — Arthur cerrava seus punhos, destruindo parte de sua própria manopla — deve pagar pelos seus crimes!

    Eu sentia o coração de Noelle se acalmar aos poucos, ela secava suas lágrimas, porém, ainda não tinha forças para proferir uma única palavra.

    — Mantenham a calma, meninos — mais uma heroína chegara, Atalanta — Todos nós estamos com raiva, mas não podemos agir sem pensar!

    — Garota! O que foi que aconteceu aqui? — Gilgamesh perguntou agressivamente — Esse é o corpo de uma criança, não é?

    — Seu maluco! Não tá vendo como ela está? — gritei revoltada, ainda com minha amiga nos braços.

    — Não… tá tudo bem — Noelle se desprendia de mim, se erguendo com uma expressão doída, que em segundos, se tornou puramente raiva e ódio — Eu vou contar.

    No salão principal, Noelle ainda com suas roupas sujas de sangue, contou o que havia acontecido quando todos os heróis estavam reunidos.

    — Esse lugar deveria estar longe de qualquer conflito — Melissa comentou — Se algo assim aconteceu, é porque a guerra está pior do que imaginávamos.

    — A guerra não tem nada a ver com isso — a voz de Anzu ecoou no salão.

    Todos me encararam com um olhar afiado, repleto de desconfiança, enquanto eu não sabia o que fazer.

    — E não seria conveniente pra você dizer isso, Sr. Demônio? — o rei de armadura dourada indagou.

    — Acredite se quiser, mas quero acabar com esses desgraçados tanto quanto vocês. O fato é que nenhuma criatura do submundo conhece esse lugar, talvez nem mesmo a própria Lilith desconfie da sua existência. Isso não é obra deles.

    — Demônios são traiçoeiros e ardilosos, não é difícil imaginar que façam algo assim.

    — Podem ter travado inúmeras batalhas, mas não fazem ideia de como é o inferno. Arrisco dizer que não sabem nada sobre nós.

    — Então está dizendo que temos um infiltrado?

    — É uma possibilidade.

    — Acreditar em você é como confiar num escorpião…

    Em meio a discussão, Noelle se levantou abruptamente, com os punhos cerrados e trêmulos.

    — Vou achar o responsável!

    — Noelle! Você não pode! — Melissa a impediu.

    — Tem crianças morrendo lá fora… não posso deixar que isso continue acontecendo.

    — Isso é uma ordem! — ao soar da sua voz, a gravidade se tornou mais densa, meu corpo lutava para se manter de pé, por mais custoso que fosse.

    Noelle também se empenhava para não ceder, mas apesar de tudo, ela olhou para a rainha, mordendo seus lábios angustiados, a encarando com um olhar determinado.

    — Não tente me impedir.

    A gravidade voltou ao seu estado natural. Melissa suspirou cansada, a deixando partir. Eu acompanhei minha amiga para fora do salão, enquanto Akira também nos seguiu.

    — Por quê a deixou ir? — Gilgamesh perguntou.

    — Aqueles olhos… eram iguais aos de sua mãe.

    Ponto de Vista de Noelle:

    Voltando para nossos aposentos, fui imediatamente lavar o meu corpo. O sangue nas minhas mãos… não importava o quanto eu esfregasse, eu continuava a ver suas entranhas entre meus dedos.

    “Não saí…” eu chorava, ainda processando o que havia acontecido.

    “Tão patético quanto ela…” uma voz familiar e infeliz estalou na minha cabeça “Viollet pode ter sido uma bruxa vagabunda, mas ao menos ela conseguiu salvar uma dúzia de garotinhas…”

    A voz do meu pai, aquele que matei com minhas próprias mãos, atormentava meus pensamentos.

    “Ainda por cima, tudo que você fez foi chorar!”

    Eu pude sentir o espírito daquele desgraçado rondando sobre mim. Tentei ignorá-lo, mas suas palavras ficaram gravadas na minha mente.

    Logo que saí do banho, fui rapidamente até minha bolsa buscando o livro da última Bruxa Celestial.

    — Noelle! — Saki gritou ao me ver.

    — Quando eu era pequena… eu escutava as histórias sobre a Bruxa Celestial. Ela sempre socorria as crianças que pediam por sua ajuda. Era como se fosse uma super-heroína… que até mesmo depois de sua morte ajudava crianças perdidas — disse ao abrir o livro em sua dedicatória — Eu me tornei uma porque queria ser igual a ela. Forte o bastante para salvar crianças desamparadas, forte o bastante pra trazer a paz… mas agora… ela estava bem na minha frente… e eu não pude fazer nada.

    — Isso não foi culpa sua, ninguém poderia saber- 

    — Eu poderia! — a interrompi com um grito — Viollet teria percebido aquela bomba. Ela teria sido esperta o suficiente pra salvar aquela garotinha! Ela… — eu segurava o choro, por mais que algumas lágrimas escapassem dos meus olhos — era só uma garotinha assustada…

    Sem esperar uma resposta, guardei o livro novamente em minha bolsa e a vesti, saindo da casa enfurecida.

    — Espera! — minha amiga chamou — A gente vai com você! — ela pôs gentilmente a mão em meu ombro, me segurando.

    — Faz tempo que não vejo um adolescente fugir de casa… — a voz de Merlin nos assustou.

    — Não tente nos impedir, Merlin! — Saki impôs.

    — Relaxem, não tô aqui pra isso — ele ria enquanto seus cabelos brancos e rosados balançavam com o vento — apenas me sigam.

    Ponto de Vista de Saki:

    Merlin, estranhamente calmo, nos guiou por um caminho extenso de nuvens sólidas. Caminhamos alguns poucos quilômetros até chegar a beirada de uma enorme e redonda nuvem.

    Lá, todos os Heróis do Jardim estavam reunidos, formando um semicírculo em volta da borda da nuvem. Acima deles, pilares de mármore branco e dourado se interligavam por um arco, também de mármore, como se fizessem um alto cercado.

    — Por que tá todo mundo aqui? — perguntei.

    — Depois que viram aquela cena, Arthur e Gilgamesh decidiram imediatamente que iriam voltar ao Éden — o mago explicou — porém, Atalanta conseguiu os acalmar e os fez lembrar que o Jardim, mais do que nunca, precisa do máximo de poder possível.

    — Os cidadãos desse lugar são sobreviventes das catástrofes que destruíram nossas nações — Atalanta tomou a voz — construímos esse lugar para que pudessem ter uma casa boa e confortável apesar de tantas perdas. Se descobriram nossa localização, significa que nosso povo corre perigo.

    — Não é qualquer um que conseguiria fazer isso. Já estamos com nossas forças reduzidas, perder mais duas seria fatal — Merlin voltou a falar.

    — Já devem ter entendido o que queremos dizer — dessa vez, Melissa interrompeu — Nós devemos ficar e assegurar o bem-estar de todos no Jardim. Por isso, vocês devem ir e garantir que todos lá em baixo continuem seguros. Descubram quem está por trás disso e o qual o seu objetivo.

    Os heróis, com suas expressões valorosas, depositavam sua confiança em nós, o que (acho que posso de dizer por mim e por meus amigos) também nos enchia de confiança e coragem.

    — Relaxa… pode deixar com a gente! — eu respondi.

    — Isso! — Akira concordou, enquanto Noelle, apenas assentiu com a cabeça, com seus olhos repletos de determinação.

    — Mika insistiu que os acompanharia, de qualquer forma, não sabemos o que podem encontrar ao lidar com o sujeito.

    Meu amigo acenava com os dedos.

    — Então vamos logo! — Noelle apressou.

    — É, pode ir abrindo esse portal!

    Comicamente, todos acima das nuvens ficaram em silêncio.

    — Calma aí, velhote — interviu Akira, olhando para os lados — não tem mais nada aqui! Não vai me dizer que quer que a gente pule, não é?

    — Acreditamos que nossa localização foi descoberta devido ao uso excessivo das fendas nos últimos meses. Então, sim, vocês vão ter que pular.

    — Tá de sacanagem…

    — Quantos quilômetros daqui até lá? — Noelle e eu já estávamos na beira do abismo, tentando ver o chão após a queda — Não dá pra ver o fundo…

    — Vocês tão realmente cogitando isso? — gritou.

    — Pra um discípulo daquele macaco fedido, você é bem medroso… — Gilgamesh provocou.

    — Você sabe mesmo mexer no orgulho de um homem… — meu amigo caminhou revoltado até nós.

    — Ele sabe bem como é isso… — provoquei.

    Apesar da situação, algumas pessoas ainda conseguiam sorrir. Era como se eles soubessem que tudo daria certo, ou ao menos acreditavam nisso.

    — Podem ficar tranquilos, quando estiverem perto do chão, Mika poderá desacelerar seus corpos e anular o momentum. A queda não será um problema — enquanto meu amigo de infância vinha até nós, Merlin explicava.

    “Tuc”

    Mika de repente se chocou com o vento entre as pilastras.

    — Mas o quê? — resmungou.

    Uma fina parede escura e translúcida se erguia aos céus, fechando como um domo em volta de todo o Jardim. Ele tentou passar novamente, mas era barrado a cada tentativa.

    — Merlin, o que tá acontecendo? — perguntou furioso e confuso.

    Noelle e Merlin se aproximavam da sólida atmosfera escura. Assim que o mago tocou na parede, foi recebido com um choque mágico que o empurrou levemente para trás, porém, quando Noelle o fez, seus dedos ultrapassaram a barreira.

    — Uma condição? — Noelle estalou.

    — É o que parece… — concordou o mago, olhando mais de perto — e também parece bem complicado.

    — Um contrato, talvez?

    — Um contrato sob uma condição… é uma possibilidade.

    Em uma rápida tentativa de desvendar o mistério da barreira, Merlin pediu para que todos tentassem ultrapassar a barreira. No fim, apenas eu, Akira e Noelle conseguimos passar.

    — Droga… — o mago resmungou, como nunca antes.

    — E aí? O que foi?

    — Na melhor das hipóteses, é apenas um contrato de restrição. Claramente estão querendo manter os habitantes do Jardim presos, mas, além disso, não sabemos nenhum dos termos do contrato.

    — E qual é a pior? — perguntei.

    — Quebrar o contrato deve exigir algum sacrifício.

    — Aí é foda…

    — Isso muda as coisas. O inimigo nos quer fora do seu caminho, ele sabe da nossa existência.

    — Se eu entendi bem, ele acredita que os Heróis do Jardim são capazes de atrapalhar seus planos…

    — A gente concordou com esse nome? — Gilgamesh cochichou para Arthur.

    — Mas nos deixando de fora, também acredita que não somos relevantes o suficiente pra isso. Ele está nos subestimando!

    — Essa é a nossa única vantagem! — concordou, Merlin — Vamos aproveitar isso!

    — Beleza!

    Noelle caminhava novamente através da barreira, chegando até nós ao lado do abismo.

    — Aí, pirralha! — Gilgamesh exclamou, jogando algo na minha direção

    Eu o agarrei acima da minha cabeça, uma grande foice inteiramente preta, com um simples e longo cabo que chegava mais ou menos a altura dos meus seios e uma lâmina extensa e curva. O fio de sua lâmina tinha um leve e fino contorno violeta, feito de um material diferente do restante da arma.

    — A sua quebrou durante nossa luta, não foi? Essa vai ser mais apropriada para o seu poder!

    — Quebrou foi? — Elena, que estava calada até então, me encarou com certo incômodo.

    — Em minha defesa, ele foi na maldade! — me esquivando de seu olhar rapidamente — Mesmo assim, obrigada!

    Elena andou até mim, com seu olhar sério e furioso de sempre, eu já imaginava o que estava prestes a falar, mas surpreendentemente, ela me ignorou completamente e parou na frente da Noelle, a encarando de cima.

    — Antes de você aparecer, fazia anos que eu não o via tão empolgado… — ela suspirou — eu o deixo em suas mãos, traga Galliard de volta.

    Noelle cerrou seus punhos, convicta, olhou para cima, encarando para os olhos carmesins e disse.

    — Eu vou!

    Sem mais delongas, nós 3 nos aproximávamos do abismo após as nuvens, até confesso que estava nervosa.

    — São mais de 20 quilômetros de queda. — Merlin, com um sorriso confiante, disse enquanto andávamos — Vão estar sozinhos, mas a missão é simples. Achar e capturar quem está por trás do atentado terrorista no Jardim e pelo possível desaparecimento do bruxo Galliard. Como já foi dito antes, o individuo conhecido como Ego, um sujeito ardiloso e peçonhento, pode ser o culpado de um dos casos. Isso é tudo que temos! E só pra deixar claro, vocês não têm paraquedas, então, quando forem pousar, deem um jeito de não morrer!

    — Saki! — Mika chamou — Se cuida — pediu, me olhando com certa preocupação.

    — Relaxa… — eu assegurei logo antes de saltarmos.

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