Índice de Capítulo

    Ponto de Vista de Shosuke:

    Mais de dois anos se passaram desde a minha partida. Um estranho, muito parecido comigo, me abordou, disse que eu precisava de sua ajuda e… ele não podia estar mais certo. Ele sofria da mesma maldição que eu, me ensinou como poderia suprimi-la e usá-la ao meu favor, por mais que eu ainda não domine a técnica.

    Antes de partir, ele me entregou uma lâmina partida, lâmina essa que se encaixava perfeitamente na rachadura da minha espada e por fim, me deixou com uma missão. Proteger Saki Nakamura a todo custo.

    — Aqui! — um grito repentino soou no meio do pântano.

    Eu apressei meus passos cauteloso com o que estava acontecendo e comecei a espiar entre as árvores.

    — Hurg! — Uma guerreira de cabelos negros ajudava outro guerreiro a sair debaixo de uma árvore caída.

    — Tinha mais alguém com você? — seu colega se aproximou.

    Eles continuaram a procurar por mais pessoas nos arredores. Não pareciam ter más intenções, então entrei bruscamente em seu caminho ao saltar de trás de uma árvore. Seu susto e surpresa era compreensível, mesmo assim, perguntei sem mais delongas.

    — Por acaso sabem onde posso encontrar Saki Nakamura?

    — Quem é você? — a guerreira gritou, preparando-se para uma luta.

    — Um amigo.

    — Até parece!

    — Preciso protegê-la, não quero causar mal a ninguém.

    — Se realmente fosse amigo dela, saberia que ela claramente não precisa de proteção! — A guerreira disparou em minha direção, sacando sua espada.

    Seus movimentos pareciam tão lentos, seus ataques tinham um claro padrão, era como se eu pudesse prever o que faria antes mesmo que pudesse se mexer. Esquivar de cada golpe foi uma das tarefas mais fáceis que tive em minha vida.

    Crista Gélida! — em rápido salto para trás, berrou ao disparar um feixe de gelo a partir da sua lâmina.

    Rapidamente, eu desenrolei o pano surrado em minhas costas, refletindo seu golpe com um veloz balançar da minha arma recém restaurada.

    Apesar de seu espanto, ela não recuou e se preparou para voltar a atacar.

    Ponto de Vista de Saki:

    O clima frio e tenso no ambiente me dava calafrios. Aquela mulher misteriosa olhava pra mim, como se tentasse me seduzir ou me provocar.

    — Frost! — Akira gritou — O que você tá fazendo aqui?

    O soberano permaneceu em silêncio.

    A pequena criatura nas mãos de Ego ainda tentava se soltar, seu corpo fino o permitia se espremer pouco a pouco, até enfim conseguir pular para fora.

    — Oh! — Ego ria ao ver o pequeno correr e se esconder atrás das pernas de Noelle.

    — Começa a falar, Ego! O que você tá fazendo? — dei um passo para frente, pronta para atacar a qualquer sinal de hostilidade.

    — Bom, acho que não faz mal contar um pouco, não é? — a víbora começou a andar pelo seu laboratório, caminhando ao lado dos cilindros — Como já devem saber, eu sou um cientista, fazer experimentos é o que sei fazer de melhor, é o que me dá satisfação no meu trabalho.

    — Chama isso de trabalho?

    — Sim. Eu sempre tive um grande interesse em um assunto específico. Um tabu para o mundo da ciência, a troca de corpos. Obviamente, Galliard não concordava com minhas ideias e apesar de sermos grandes amigos, acabamos nos afastando. Após ter sido banido por coisas da qual eu me orgulho, senti como se estivesse livre. Não haviam mais correntes que me prendessem às leis da ciência, então comecei a buscar mais e mais — era possível ver a excitação em seus olhos ao relembrar o passado — Eu passei anos estudando. Hipóteses e teorias criadas dia após dia. Aquilo passou a me consumir, o desejo por criar, experimentar, testar, conseguir e até mesmo falhar! Tudo me deixava ansioso para o próximo experimento!

    — Se eu entendi direito, você é só um cientista maluco.

    — Maluco? Não. Eu diria… insatisfeito. Depois de um tempo, você se cansa de arranhar a superfície. Eu queria mais. Eu queria de volta a ambição que tanto tinha, eu precisava ultrapassar os limites da ciência! Foi então que eu tive uma ideia brilhante.

    — O que foi que você fez? — eu cerrava meus punhos com medo da resposta.

    — Vocês vão descobrir em breve. Mas tenho certeza que já encontraram uma das minhas cobaias rodando por aquela ilha amaldiçoada — A lembrança da criatura que Noelle enfrentou em Raven veio a minha mente, fazendo algumas peças do quebra cabeça enfim se encaixarem — Agora, algo que me intriga nessa sala é o fato desta pobre criatura se esconder atrás de uma heroína tão patética… — disse com certo desprezo ao olha para a criatura nos pés da minha amiga.

    — Então esses monstros também são culpa sua? — tentei ignorar sua ofensa.

    — É só um hobby. Gosto de passar um pouco do meu tempo criando novos monstros.

    — Onde é que tá o Galliard… — Noelle interrompeu, cerrando seus dentes, enfurecida.

    — Ah, é mesmo, já ia me esquecendo! — Ele ergueu sua mão mais uma vez, criando uma fenda.

    Do outro lado da fenda, lá estava Galliard, em um cilindro maior e mais elaborado. Diversos tubos se conectavam ao seu corpo, indo em direção a algum lugar o qual não conseguia ver. Seu corpo flutuava dentro do líquido translúcido, como se estivesse sem vida. Aquilo foi o estopim. O olho de Noelle apresentava um símbolo que eu não o via há muito tempo e da última vez que vi, ela estava prestes a perder o controle.

    Noelle disparou descuidadamente. Em uma fração de segundos, pude ver os lacaios de Ego se preparando para protegê-lo, mas o mesmo ordenou que não intervissem com um simples gesto.

    — Noelle! Não!

    — Sabe — Ego falava com o corpo enterrado na parede, enquanto Noelle ameaçava perfurar sua garganta — Eu… realmente achei que conseguiria salvá-la!

    — Foi você! Seu desgraçado!

    — Por quê não conta a ele o que aconteceu com sua filha? — ele mirava os olhos em direção a pequena criatura.

    Noelle olhou para trás, percebendo o que estava acontecendo. Finalmente, abrindo seus olhos para o seu redor, absorvendo as palavras de Ego, vendo os corpos humanoides nos cilindros do laboratório, ela enfim entendeu.

    — RAAAAAÁ — a pequena criatura rugiu em um surto de fúria, porém, seu grito foi rapidamente interrompido pelo simples soar de um apito.

    “Bip” 

    O apito disparava cada vez mais rápido. O olhar de mil jardas da Noelle ao ver o desespero da criatura a impedia de se mover. Eu não sabia o que fazer e antes mesmo que pensasse em algo, pedaços do seu corpo já estavam espalhadas pela sala.

    — Vários sucessos estão acontecendo hoje! — Ego soltou ao entrar por uma fenda e sair novamente ao lado de seus lacaios.

    — Agora só falta a atração principal!

    Dessa vez, Akira e eu avançamos ferozmente.

    — Ainda não é a sua vez, docinho — a mulher alta me parou de repente, com uma voz sexy, pondo uma lâmina no meu pescoço.

    Sua espada se parecia com uma única parte de uma tesoura gigante, podendo me cortar a qualquer segundo.

    — Frost, por favor — Ego ordenou.

    Esticando sua mão e realizando um gesto circular com seus dedos, Frost revelou através de uma fumaça de gelo, a Coroa Carmesim.

    — HA! O que vai fazer com uma coroa falsa?

    — Será mesmo? — disse com um sorriso diabólico — Desde que a conheci, eu sempre tive um grande interesse e uma curiosidade maior ainda a seu respeito. Acho que essa vai ser uma boa forma de testar os seus limites!

    — Você não vai fazer nada! — Akira surgiu ao lado de Frost com seus punhos em chamas.

    Noelle, voltando a sua consciência, também correu em direção a coroa. Apesar da sua velocidade, ela claramente não estava nas melhores condições, seu descuido a fez perder o total controle das suas habilidades.

    Seus reflexos foram excepcionas, era inegável. Frost manteve a coroa flutuando em uma densa névoa, enquanto impedia e agarrava ambos pelas suas cabeças.

    — DERRETA! — esbravejou ao afundar os rostos dos meus amigos no chão.

    — NOELLE! AKIRA! — eu gritava sem poder me mexer.

    “Saki! Não pode deixar ele usar aquela coroa!” a voz de Anzu estalou em minha mente

    “E o que espera que eu faça!”

    “Usa a cabeça!”

    Em um ato de desespero, eu acertei o meu crânio na superfície da lâmina tesoura daquela mulher. Ela parecia não esperar algo tão estúpido, o que me deu uma janela de tempo para me esquivar e tentar alcançar a coroa.

    — Vamos ver o que consegue fazer quando o mundo inteiro estiver contra você — Ego provocou antes que uma onda de choque me arremessasse para o outro lado da sala.

    Não sei ao certo quantos segundos se passaram até eu acordar e minha visão turva e uma forte dor de cabeça mal me deixava ficar de pé. A porrada que recebi deixava claro a veracidade daquela coroa, o que me deixou em desespero rapidamente.

    — O que, você fez… — eu tentava me reerguer.

    — Foi uma boa dança, docinho — a voz sedutora da mulher disparou em meus ouvidos, seguido do som de uma fenda espacial se fechando.

    Eu cambaleava em meio a poeira, indo em direção aos meus amigos desacordados no chão.

    — Merda! Eu tenho que tirar eles daqui!

    — A mochila! — Anzu falou de repente.

    — O quê? Tá maluco?

    — Você tem alguma ideia melhor?

    — Vou carregar eles, só preciso encontrar um lugar seguro!

    — Deve ter centenas de monstros fora daqui! Nós dois sabemos como você é forte, mas não vai conseguir lidar com tudo isso enquanto os carrega!

    — Tsc! — eu cogitava a ideia de colocá-los na minha mochila, eu nunca tinha feito algo parecido, não teria como saber o que aconteceria se eu o fizesse, eu não podia arriscar.

    — Mesmo que queira sair furtivamente, não vai conseguir fazer isso com esses dois. Você lutou com esses monstros recentemente, sabe que eles não vão parar de atacar!

    — Porra! — eu socava o chão, me vendo sem escolha.

    Cuidadosamente, eu abri a boca da minha mochila, a esticando o máximo que podia e os coloquei lá dentro, rezando para que nada acontecesse. Antes de sair do laboratório, eu olhava para aquelas criaturas nos cilindros, vendo os pequenos pedaços de uma delas ainda em meu ombro e fui embora com um gosto amargo na boca, um sentimento que não sairia de mim tão cedo.

    A noite estava agitada no pântano, diversas criaturas rondavam ao redor das ruínas, vagando sem um destino. Eu tentava me escorar entre as árvores para passar despercebida, mas após alguns minutos, um dos monstros me viu e não me deu escolha além de lutar e fugir.

    Cerca de 30 minutos se passaram enquanto eu corria e afundava alguns monstros na lama, até conseguir sair do pântano e me esconder em uma caverna.

    — Que desgraça! O que é que foi aquilo?

    — Pensei que a Coroa Carmesim fosse falsa.

    — E era, pelo menos a que estava em Antares.

    O silêncio perpetuou por alguns longos segundos, restando apenas a minha respiração ofegante.

    — Saki.

    — O que é?

    — Vai ter que fazer isso uma hora ou outra — o demônio desgraçado que vivia dentro de mim também lia a minha mente.

    — Até quando você vai ficar dentro da minha cabeça? — não dava para mentir, ele sabia que eu estava assustada, com medo demais do que aconteceria caso eu os tirasse da minha mochila.

    — Não preciso ouvir seus pensamentos pra saber disso, mas eles não podem ficar aí pra sempre.

    Eu suspirei fundo, com desespero entalado na garganta, e pus a mochila deitada no chão.

    — Por favor, estejam vivos — eu clamei, puxando-os para fora com cautela.

    Noelle e Akira estavam gelados, o que atacou meu coração por um momento, mas além de sua respiração, eu ainda conseguia sentir a mana fluindo viva em seus corpos.

    — Ainda bem… — disse em um suspiro aliviada.

    O vento forte e gelado da noite corria para dentro da caverna, apesar de conseguir manter o meu corpo aquecido o revestindo com mana, meus amigos não poderiam fazer o mesmo, então reuni um punhado de gravetos e pedras e custei uns bons minutos para acender uma fogueira.

    Era insuportável. O peso de falhar mais uma vez me destruía. Não importava o quanto eu treinasse, o quanto me esforçasse, sempre existirá alguém mais forte.

    — Pegue leve com você mesma. Tinha muita coisa te atrapalhando — o demônio tentava me consolar.

    — Isso não é desculpa, aquela mulher… — lembrando de quando minha vida estava no fio de sua espada — Ela não era mais forte, mas ainda assim conseguiu me parar — novamente, eu fui incapaz — Ainda assim, eu não fui suficiente!

    — Que bom que estão bem — uma voz masculina familiar ecoou na caverna — Apesar de tudo que fez, é um alívio te encontrar.

    — Quem tá aí! — eu perguntava ao rapaz envolto nas sombras criadas pela lua.

    Ele deu um passo a frente, se escondendo da luz.

    — Sho-Shosuke? — eu gritava em um misto de alegria, alívio e confusão.

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