Capítulo 9 – Magia
Ponto de Vista de Saki:
A força esmagadora de Elena me vez apagar pelo resto do dia. Acordei no dia seguinte em minha cama ainda com um pouco de dor. Eu levantei minha camisa e a marca do punho de Elena ainda estava lá
— Acho melhor eu pegar leve…
Em poucos minutos, Elena chutou a porta do quarto — VAI DORMIR O DIA TODO? — gritou enquanto eu ainda escovava meus dentes.
— Que inconveniente — respondi depois de lavar meu rosto.
— Adianta, hoje ainda tem muita coisa pra você.
Mais uma vez, caminhei até o dojo admirando toda a paisagem, os mesmos peixes e as mesmas árvores, de alguma forma aquilo me tranquilizava e eu não cansava daquilo. A aflição por não saber ao certo o que fazia ali desaparecia momentaneamente até eu chegar na sala de treino.
Lá, me sentei de joelhos no centro do tatame. Elena carregava uma espada de madeira em suas mãos, e enquanto andava em círculos, começou:
— Você entendeu a origem da mana, pode não parecer uma informação útil em batalha, mas terão momentos onde o mais importante será voltar ao básico e ser capaz de sentir e medir a magia ao seu redor são partes fundamentais na utilização da mana. Saber a força do seu oponente é de extrema importância, lembre-se, você não pode partir pra cima de qualquer um que seja seu inimigo, use sempre a cabeça — Além de resumir bem o dia anterior, conseguiu explicar de forma simples e fácil a utilidade desses aprendizados.
— Entendi — A partir dali, comecei a vê-la de fato como mentora e passei a respeitar seus ensinamentos. Por mais que sua personalidade seja agressiva e um pouco detestável, era inegável que ela tinha muito a ensinar.
— Já foram 3 dos 5 fundamentos da mana. Antes de passar para os dois últimos, você precisa dominar completamente os outros conceitos. Julgando pelo seu desempenho ontem, deve ser bem fácil.
Apenas concordei balançando a cabeça e então começamos a aperfeiçoar esses conceitos. Fui ensinada a meditar corretamente para melhorar a concentração e depois de algumas horas consegui sentir a mana fluir pelo ambiente constantemente, assim como a brisa suave da montanha.
Normalizar essa sensação era essencial, então aos poucos fui me acostumando com esse sentimento.
— Seu desenvolvimento mágico é realmente assustador, gostaria de saber o que faz seu corpo ter tamanha proficiência com a mana — meu corpo se acostumou fácil com tudo aquilo, porém minha mente não tinha se acostumado nem um pouco com a forma que Elena falava, parecia outra pessoa.
“O que deu nela hoje? Ainda não fui ameaçada de morte” pensei confusa.
Ponto de Vista de Elena:
“Isso é mais difícil do que eu pensei. Ontem ele me disse para lidar com tudo calmamente para ensinarmos elas da melhor maneira possível, mas… Ver ela dominar tudo sem a menor dificuldade me irrita profundamente! Nem mesmo guerreiros de elite tiveram essa facilidade!” Foi o que pensei enquanto tentava disfarçar meu rosto de indignação.
“Talvez essa pirralha possa acabar com tudo finalmente. Talvez… ainda tenha esperanças…” Por mais que Saki não tenha noção do peso que ela carrega e ainda é um bebê no mundo da magia, era inegável que ela tinha o poder para mudar o mundo, ainda mais sendo filha de quem é.
Ponto de Vista de Saki:
Eu a julguei antes da hora, ficou estampado em seu rosto que ela quase virou do avesso para falar isso.
De qualquer forma, o resto do processo foi simples. No final do dia, já tinha melhorado bastante a percepção da mana, mas ainda era estranho que eu não conseguia sentir nenhuma magia vinda de Elena.
— Hoje eu não exigi nada de você, então ainda tem energia pra continuar, não é? — Elena me perguntou pegando a mesma espada de madeira que portava no início do dia.
— Claro! O que vai ser agora? — respondi com uma certa empolgação. Desde o início já estava empolgada e não via a hora de usar magia de fato.
— O quarto fundamento é bem simples. Você deve conseguir usar a mana ao seu redor para atacar, se proteger e infundir — Explicou se direcionando até um boneco de madeira que ficava no canto do dojo — Tudo que precisa fazer é concentrar a mana do ambiente em um único ponto, assim, esse ponto se fortalecerá.
— Como eu deveria fazer isso? — perguntei confusa.
— A forma como você enxerga a mana e como seu corpo conversa com ela varia de pessoa para pessoa, então… não sei, tenta pedir com jeitinho — pela primeira vez, me senti aliviada por ser atacada pelo seu sarcasmo. Eu jurava que ia enlouquecer se ela continuasse agindo assim.
— Eu só vou fazer uma vez, então preste atenção — Elena apontou a espada para o boneco de madeira. A espada parecia frágil e não possuía lâmina, dificilmente causaria dano a alguém. Com um simples movimento, ela acertou o alvo criando um pequeno buraco em seu peito, por outro lado, a espada criou diversas rachaduras e parecia estar prestes a quebrar.
— Esse foi o poder da espada sem uso algum de mana, obviamente, tive que me contar para não destruí-la em pedaços — é claro que ela não ia perder a chance de elevar seu estúpido ego.
Mais uma vez, Elena apontou a espada para o boneco, dessa vez, envolta de um brilho azul claro. Em um movimento rápido demais para os meus olhos, Elena atacou novamente, partindo o coitado em duas partes. A espada quebrada e sem lâmina se transformou em uma arma de guerra, fazendo até mesmo um corte na madeira super resistente do Dojo.
Meus olhos brilhavam diante daquela cena, fiquei tão empolgada que passei a ignorar todas as palavras de Elena e comecei a tentar imediatamente.
Primeiro, tentei fortalecer apenas os meus braços com a mana, mas não importava o quanto eu me concentrava, eu não conseguia nenhum resultado.
Depois de muito tempo de tentativas frustradas, decidi pedir ajuda, mas não para minha surpresa, Elena não estava mais lá.
“Ela… Ela foi embora?” me perguntei indignada “Que seja!”
Tentei buscar em minha mente algo que me ajudasse e lembrei do que Elena havia falado há alguns momentos atrás.
“Antes de passar para os dois últimos, você precisa dominar completamente os outros conceitos.”
Com isso, voltei ao básico e tentei encontrar alguma resposta. Comecei a visualizar a mana no ambiente, o fluxo das partículas mágicas circulando pelo dojo. Notei que nos locais onde a mana estava mais concentrada, ou melhor dizendo, perto de criaturas vivas, as partículas rodavam como se estivessem em órbita e foi esse pensamento que fez um estalo em minha cabeça.
— É isso! Atração! — disse em um grito empolgado.
Tentei imaginar meu braço como se fosse um ímã e as partículas mágicas como se fossem estilhaços de metal. Então, depois de várias horas, meus braços estavam pulsando em um brilho azul e finalmente senti que conseguia manusear a mana.
— C-Consegui? Funcionou?
Olhei ao meu redor para ver se achava algo que pudesse testar na prática, mas tudo que achei foi metade de um boneco cortado.
— É o que tem, não é? — falei um pouco desanimada.
Me preparei e foquei ao máximo para acertar um ataque em cheio, pude sentir a mana correndo nos meus braços e disparei em direção ao boneco.
Eu flexionei meu braço como se estivesse mirando um arco e flecha e ao chegar mais perto, acertei com toda a minha força… foi o que pensei ter feito. Na realidade, não sei bem o que aconteceu, mas quando estava prestes a acertar o ataque senti a força dos meus punhos se esvaindo.
Quando olhei para frente, meu alvo estava balançando como se fosse um joão bobo, foi frustrante.
Não conseguia entender o que aconteceu, apenas fiquei olhando para meus braços brilhando tentando entender o que tinha feito de errado e acabei notando um pequeno detalhe que me diferenciava de Elena.
Meus punhos pulsavam um brilho azul, enquanto os dela tinham um brilho contínuo, talvez o problema fosse a inconsistência e falta de afinidade com a magia.
— Melhorar a consistência na hora de manusear a mana… Cadê aquela mulher quando eu preciso dela? — Felizmente, eu estava acostumada a lidar com meus problemas sozinha, desde que perdi o meu pai — Nada mudou então — disse em um suspiro ao relembrar o passado.
Novamente, entrei em estado de meditação, ali meu corpo se tornava mais sensível às partículas mágicas, então sentir a mana se tornava mais fácil.
Passei horas tentando descobrir como resolver o problema, saber o que de fato estava errado. Percebi que as partículas revestiam meu corpo, mas se pareciam com uma camada fina de papel. Sem contar que ao entrar em contato com qualquer outra coisa elas se dispersam, como se fosse uma armadura de açúcar sendo diluída pela água.
Quando me dei conta dessas informações, me veio à mente:
“É isso! Uma armadura! Eu estava imaginando as partículas como minúsculos estilhaços de metal, é algo fácil de se destruir, mas… Se eu as utilizar como se fossem placas de aço…”
Finalmente consegui manter o brilho contínuo, fiquei extremamente feliz em ter conseguido passar todo esse processo sozinha, uma das poucas vezes que senti orgulho de mim mesma.
Chegou a hora ver se realmente havia melhorado.
Posicionei o boneco no centro do tatame e peguei distância. Envolvi meu braço com a mana, dessa vez, um brilho contínuo e sólido cobria meus punhos. Foquei meus olhos no objetivo e avancei para dar o golpe.
Novamente, utilizei meu corpo como um arco e flecha e puxei a corda ao máximo, ao soltar, acertei meu alvo em cheio. Um grande vento soprou dentro do dojo, dava para ouvir os pássaros voarem rapidamente para longe.
Por mais forte que eu tenha acertado, o boneco não havia quebrado. Senti que finalmente tinha funcionado, só não foi o suficiente para explodi-lo em pedaços, mas antes que eu pudesse comemorar, meu oponente, largado no chão volta com tudo me acertando bem no rosto.
— Ai! — Eu gritei em dor. Minha testa ficou marcada com a porrada que me levou ao chão. Eu caí de braços abertos, mesmo ofegante e com uma forte dor de cabeça, não conseguia tirar meu sorriso do rosto. A exaustão depois do golpe fez com que eu soubesse que estava no caminho certo.
— Iai? Conseguiu? — De repente escuto a voz de Elena.
— … — olhei para ela por alguns segundos sem resposta — ONDE É QUE VOCÊ TAVA? — gritei revoltada.
— Já é tarde da noite, pare de gritar — a calma dela me irritava profundamente.
— Estamos em uma outra dimensão no topo de uma montanha, não tem motivo pra eu falar baixo — retruquei.
— Você conseguiu ou não? — insistiu.
— Tô no caminho…
— Vai pra cama, amanhã você continua — disse me estendendo a mão.
Como minha mestra, ela estava fazendo sua parte, mas não deixei de achar estranho. De qualquer forma, segurei sua mão e me levantei. Nós saímos do dojo e voltamos no dia seguinte.
Antes de começarmos, eu olhava ao meu redor como quem não quisesse nada e encontrei um novo boneco de madeira, desta vez inteiro.
— Me mostre o que aprendeu — disse Elena com um tom imperativo que me assustou por alguns segundos.
— Certo…
Estávamos em pé uma de frente para a outra, eu fechei meus olhos para me concentrar e usei a mana em meus braços. Quando ergui meus olhos, tudo que consegui ver foi Elena partindo para cima de mim enfurecida. Felizmente tive uma reação rápida o suficiente para defender.
Ela acertou seu punho em cheio no meio dos meus braços. Eu voei para longe, quase atravessando a parede do dojo, acredito ter quebrado duas ou três costelas com o impacto.
Minha visão ficou completamente turva. Vi uma possível psicopata se aproximando lentamente até mim. Foi a mesma sensação de morte que senti há pouco tempo atrás, pensei que ela tinha enlouquecido ou algo do tipo, não sabia nem se poderia considerá-la humana e para piorar, eu mal conseguia levantar meu braço para me defender novamente.
Aquela criatura chegou a mim com um sorriso maléfico em seu semblante. Ela se agachou ficando na minha altura e estendeu sua mão agarrando meu queixo. Mesmo com aquele medo, não sentia nenhum pingo de mana vindo dela, isso me fez acreditar que era realmente um monstro.
— Impressionante! — falou sorrindo.
Uma fúria cresceu em meu peito se misturando com o medo me fazendo perguntar em um grito — VOCÊ TÁ MALUCA, PORRA?
— Cala a boca, era pra você ter perdido seus braços! — ela continuava com um sorriso de satisfação que me irritava profundamente.
Ainda assim não pude deixar de perguntar — É O QUÊ?
— Com a força que te acertei, seus ossos iriam explodir em vários pedaços ou seus músculos se rasgariam como papel — respondeu friamente — isso não aconteceu graças a proteção que fez com a mana.
Eu não tinha como negar esses fatos, mas minha indignação ainda persistia — Tsc! Podia ao menos ter avisado.
— Você aprende com o tempo, sempre desconfie… — disse dando as costas para mim
Quando tentei me levantar senti como se meus braços estivessem desligados, além de sentir uma dor surreal — Como vou continuar com meu braço assim? — perguntei.
— Relaxa, já pensei nisso — a forma que ela tratava a situação como se fosse nada me deixava puta da vida — Iríamos perder muito tempo esperando sua recuperação, então vou ter que adiantar o processo — em um estalar de dedos, uma esfera de fogo se formou ao seu lado.
— De novo isso? — resmunguei.
— O fogo não serve apenas para causar estragos, se for bem estudado, há uma outra forma de se utilizar.
Elena fez com que a esfera se movesse lentamente até mim. Ao chegar perto o suficiente, ela me cobriu como uma coberta quente, formando uma fina camada de fogo ao meu redor.
— Tão quentinho… — A sensação de ter meu corpo curado por aquilo foi uma das mais confortáveis e prazerosas que já senti em minha vida.
— Vamos de novo. Não vou ser tão bruta dessa vez. — disse ela com um sorriso debochado.
— Tá certo.
— Tudo que deve fazer é bloquear os ataques. Vou atacar em todas as direções, então foque em meus movimentos — explicou brevemente.
Depois de um tempo, continuamos praticando. Elena passou a pegar leve e eu comecei a me acostumar com os golpes.
À medida que avançava, ela usava mais força, o treino não era sobre reflexo ou velocidade de movimento, ela queria testar a minha resistência ao máximo, desgastando cada vez mais meu corpo e usando minha mana de forma excessiva a cada vez que eu precisava usar a proteção.
Em determinado momento, ela começou a atacar usando seus golpes ardentes e perigosos. Eu sentia que ao receber um ataque mágico, por um breve momento, meu corpo se enchia de energia, mas logo se esvaia.
Fizemos algumas poucas pausas e esse treino durou quase o dia inteiro.
— O sol finalmente tá indo embora, parece que eu tô aqui há dias — disse ofegante.
— Dias assim serão os mais comuns, pode se acostumar — me respondeu friamente.
— Tá tranquilo, eu meio que to gostando disso — diferente de antes, meus dias estavam mais movimentados e menos tediosos, talvez tenha valido a pena deixar tudo que eu tinha (mesmo que eu não tivesse nada).
Voltamos para o tatame.
— Você já aprendeu a aguentar os ataques com a proteção mágica, agora tá na hora de aprender a usá-la no ataque — disse Elena posicionando o novo boneco de madeira à minha frente.
— Já consegui fazer isso antes, bom… Não foi da melhor forma, mas consegui! — confesso que disse isso tentando subir um pouco o meu orgulho.
— Aquilo de ontem? Foi patético, você apenas deu um soco normal — um corte frio como sempre.
“Apenas um soco normal…” Foi frustrante descobrir que errei após passar o dia inteiro acreditando que havia conseguido.
— Escuta, usar a proteção mágica enquanto tem seus movimentos limitados apenas à defesa é muito mais fácil do que usar ela enquanto deve raciocinar milhares de coisas durante um único golpe na luta — depois que ela elucidou isso em minha mente, consegui compreender o motivo de meu fracasso.
Elena ergueu os braços na altura da cabeça e disse — Vem! Sua vez.
Sem argumentar, me preparei para atacar. Obviamente que não perderia a chance de acertar um golpe em cheio na cara daquela mulher.
Revesti meus braços com a proteção mágica e disparei para o ataque.
Ponto de Vista de Elena:
Quando vi Saki correndo em minha direção não havia notado nada fora do comum, seu fluxo de mana estava correndo bem e sua postura estava correta. Ao se aproximar de mim, seus braços assumiram um formato semelhante a um arco e flecha. Para alguém sem experiência alguma de combate, ela estava… Perfeita, até doeu pensar algo assim, porém, quando me acertou algo de errado aconteceu.
Assim que ela entrou em contato comigo sua proteção mágica desapareceu. É comum acontecer com novatos, eles não conseguem manter o fluxo de mana constante pelo seu corpo em momentos assim, requer bastante treino.
O que chamou minha atenção foi que… Seu golpe foi extremamente poderoso, um grande vento soprou dentro do dojo, se eu tivesse sua idade, com certeza iria ser jogada para longe. Tudo isso com sua força bruta.
— INCRÍVEL! — disse com um sorriso no rosto. Não pude deixar de ficar empolgada bem quando estava testemunhando o nascimento de um monstro.
Ponto de Vista de Saki:
”Ela acabou de dizer “incrível”?” Não fazia ideia do que aconteceu para surgir um sorriso no rosto daquela monstruosidade.
Por mais que eu tenha acertado em cheio, senti como se algo estivesse errado, acreditei não ter usado toda a minha força.
— Foi um bom soco, mas faltou algo. Sabe dizer o que foi? — perguntou Elena.
— Não sei ao certo. Sinto toda a força fluir pelo meu corpo, mas na hora certa, essa força desaparece — pensei que havia dominado a técnica da proteção mágica, mas parece que ainda faltava muito para isso.
— Quando você estava defendendo, tudo que fazia era reunir o máximo de partículas mágicas para o seu corpo, certo? — assenti imediatamente levantando o polegar ao me sentar no tatame — Quando estiver atacando, tente algo diferente. Defender e atacar são conceitos diferentes, lembre-se disso.
Mesmo com essas dicas, não conseguia acertar um soco da maneira correta. Tentei de todas as formas e depois de tantas tentativas frustradas, Elena perdeu a paciência.
— Qual é pirralha! É tão difícil assim? — Elena perguntou em um grito.
— Tsc! Cala a boca sua velha rabugenta! — acabei respondendo agressivamente.
— Tudo que precisa fazer é empurrar a mana em direção ao seu alvo! Pra defender puxa e pra atacar empurra! É SIMPLES! — ela gritou de volta.
— EU SOFRO DE BURRICE! ME DEIXA EM PAZ! — cansadas de ficar ali, nós duas começamos a gritar uma para outra. A frustração começou a falar alto demais em minha cabeça, mas não quis parar por ali.
— Eu cansei! Amanhã continuamos, guarda tudo e vai pro seu quarto. — A senhora de meia idade e impaciente simplesmente deu as costas e foi embora.
— Esper…
— AMANHÃ! — ela me interrompeu sem ao menos olhar para mim, só foi em direção à porta do dojo.
Suspirei decepcionada, mas não tinha mais o que fazer além de descansar. Arrumei o dojo como havia me pedido e fui para meu quarto.
Deitada, vários pensamentos vieram à tona enquanto olhava para o teto.
“Como pode ser tão difícil acertar um soco? Pelo menos tô no caminho certo, só preciso continuar praticando… Ela é realmente forte, não é? Ela não parece usar nem um pouco da sua real força…” Foram alguns desses pensamentos “… Como será que a Noelle tá? Acho que vou comprar um cachorro-quente pra ela quando nos reencontrarmos.”
Passado alguns minutos, acabei adormecendo. No dia seguinte, me levantei e fui direto para o dojo. Para minha surpresa Elena já estava lá. Eu me aproximei fazendo reverência antes de entrar e me sentei com as pernas cruzadas bem à sua frente.
— Pronta pra começar? — Elena perguntou.
— Credo, dá um bom dia pelo menos — um silêncio perdurou por alguns segundos e decidi ignorar sua falta de educação — Eu tô pronta!
Apontando para o boneco de madeira, ela me pediu — pega aquele boneco pra mim.
— Certo — eu me levantei e fui até ele. Quando me virei novamente, ali estava Elena com seu sorriso demoníaco.
Mais uma vez ela tentou me acertar com sua força esmagadora. Por algum milagre, consegui reagir a tempo para bloquear e diferente do dia anterior, eu apenas fui empurrada para trás e meus braços apenas estavam um pouco doloridos.
No momento em que pensei em gritar com raiva, percebi que meus membros ainda funcionavam.
— Criança… — Elena resmungou baixinho — Vê a diferença?
Dei um sorriso satisfatório e orgulhoso, não há sensação melhor do que ver a sua evolução depois de tantas frustrações.
— Vamos continuar de onde paramos. Tudo que precisa fazer é acertar um soco decente.
Eu passei mais algumas horas tentando, não imaginava que bater em alguém cansaria tanto. Durante uma pausa pensei em tentar fazer algo que poderia funcionar.
Quando voltamos para o tatame, me preparei para atacar. Eu disparei em direção a Elena com meus punhos cobertos por mana. Quando estava prestes a desferir o golpe, concentrei toda a mana em meu corpo para meu punho direito e a empurrando para fora.
O impacto do soco fez com que uma grande corrente de vento corresse pelo dojo, levantando todos os objetos ao redor.
— É ISSO! — Eu gritei com alegria.
— Finalmente, criança.
— Peguei o esquema! — Não bastava apenas acertar o soco com a proteção, eu precisava aumentar a potência desse ataque e fazer com que seu fluxo fosse na direção que eu quisesse, por isso, saber manusear a mana era tão fundamental.
— Agora que sabe esses quatro fundamentos, está pronta para o último.
— O que é dessa vez?
Em um tom mais sério, Elena respondeu — A magia elemental.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.