Índice de Capítulo

    Ponto de Vista de Zethar:

    Era mais um dia comum na minha infância, no auge dos meus 11 anos de idade. Eu caminhava sozinho nos corredores da escola indo para sala de aula com tranquilidade. Meu uniforme estava um pouco sujo e surrado, causando uma estranheza para os alunos ao redor logo pela manhã.

    A Escola de Magia e Conceitos Básicos era uma das instituições de mais prestígio em Velmora, uma cidade não tão distante de Shryne. Lá, aprendi exatamente o que o nome sugere, os conceitos fundamentais da mana e do mundo. Estudei lá durante vários anos, mas naquele ano, naquele dia em específico, algo aconteceu.

    — VOCÊ BRIGOU DE NOVO? — Medaline, minha amiga, berrou ao me ver na porta da sala com minhas roupas amassadas.

    Ela vestia seu uniforme de forma impecável, como sempre. Suas tranças, na lateral do cabelo, eram perfeitas, sem um único fio de cabelo fora do lugar. Sua pele marrom se destacava na luz amarelada da sala, realçando seus olhos cor de ouro.

    — Eles que vieram mexer comigo — eu sorria, lembrando de como eu derrubei 3 garotos mais velhos do que eu, pouco antes de chegar à escola — O que queria que eu fizesse?

    — Já é a quarta vez essa semana! — continuou aos, em um tom estridente e irritante.

    — E o quê que tem?

    — A SEMANA COMEÇOU ONTEM!

    — Tá, tá… — respondi friamente, entrando na sala.

    A aula começou normalmente poucos minutos depois. Medaline respondia todas as perguntas da nossa professora, sem errar uma única vez. Era nítido nos olhares dos outros alunos o quão irritados eles estavam, alguns tinham raiva, outros, inveja e alguns até mesmo um quê de admiração, tudo isso escrito em seus rostos.

    Pessoalmente, eu não me importava. Aquela aula era tão chata que eu mal conseguia me manter acordado, tudo que eu queria era sobreviver até a última aula do dia. Eu me mantinha quieto, ansioso, apenas esperando.

    — Muito bem! Quero dois times de 10! — finalmente, próximo ao meio-dia, o professor de educação física ordenou.

    Eu tomei rapidamente a frente, escolhendo meu time ao lado do capitão adversário. Nós intercalamos as nossas escolhas, selecionando um de cada vez.

    Eu não vou mentir, sempre gostei da dificuldade, sempre preferi a adrenalina e a sensação de poder perder, por isso, deixei meu oponente escolher quem ele bem entendesse, enquanto eu formava um time com pessoas que claramente nem queriam estar ali.

    Vendo o meu time, o professor me deixou começar o jogo. As regras eram simples, cada time fica de um lado da quadra, apenas um time começa com a bola e o seu objetivo é acertar o máximo de oponentes possíveis. A cada eliminação, uma bola entra no jogo, dando mais oportunidades para virar o jogo ou deixando tudo ainda mais difícil para o time que está perdendo.

    — O mesmo time, da última vez, não é, Zethar? — meu colega de classe comentou, alongando seus braços e pernas.

    — Não, Medaline tá do meu lado hoje! — eu a escolhi só para que ela fosse eliminada. Uma pequena vingança por gritar no meu ouvido mais cedo — Mas isso não vai mudar o resultado!

    — Idiota… — minha amiga resmungou baixinho.

    Eu lancei a bola para o outro lado na quadra suavemente, sem intenção alguma de eliminar alguém. Meu oponente tomou a ação de bom grado, enquanto o professor suspirou decepcionado com a minha atitude pela quinta vez consecutiva. O jogo enfim começou. No início, evitar a bola era uma tarefa muito simples, mesmo com foco de todos os ataques sendo eu mesmo.

    Meu time caía um por um, recebendo as boladas que deveriam me acertar. Mais bolas entravam no jogo, a dificuldade aumentava, os movimentos simples não eram mais suficientes para me esquivar.

    — IÁ! — Medaline conseguiu atirar uma das bolas no time oponente. Além de mim, ela era a única que ainda conseguia se esquivar e contra-atacar, obviamente, com perfeição.

    De qualquer forma, não dava para ser perfeita em tudo e por um breve deslize, ela teve seu braço carimbado com a estampa da bola. Naquele momento, eu era o único que restava no meu time, meu coração acelerava com a adrenalina e empolgação, e meu sorriso entusiasmado não saía do meu rosto.

    — Droga… — de repente, escutei as pernas trêmulas de um aliado. Seus dentes rangiam de medo, enquanto o seu corpo se encolhia em um pedido de desculpas. Eu mal o percebia ali.

    Ele vestia o casaco do uniforme da escola, mesmo naquele calor, e mantinha seu longo cabelo castanho amarrado para trás.

    O time adversário voltou a atacar. Eu via em seus olhares e nos pré-movimentos de seus corpos, exatamente onde eles estavam mirando exatamente. Eu girava e corria no meu lado da quadra, agarrando todos as bolas que podia e começando enfim a acertar meus oponentes com precisão.

    — ELE NÃO VAI GANHAR DE NOVO! ATAQUEM COM TUDO! — O líder do time adversário gritava já em desespero.

    Em meios as minhas acrobacias e arremessos, eu via os olhos dos jogadores eliminados abrindo em uma surpresa que nunca me cansava de ver. Ainda assim, no olhar de um dos meus oponentes, algo me chamou a atenção, um olhar malicioso vindo de um dos garotos mais ao canto da quadra, fugindo do comportamento padrão dos outros alunos.

    Como suspeitei, o garoto arremessou a bola no meu companheiro. Eu saltei instintivamente na trajetória da bola, a agarrando e enviando de volta bem na sua cara. Os outros membros do seu time não se abalaram com a perda e continuaram a jogar, mas como sempre, eu pus um fim naquele jogo rapidamente.

    — E novamente — o professor suspirava mais uma vez, repetindo a frase que disse o ano todo — o time do Zethar venceu… eba…

    Mesmo com meu time comemorando a vitória, havia uma única pessoa que apenas suspirada aliviada, a mesma pessoa que permaneceu no jogo comigo naquele dia. Pouco tempo depois, quando todos já estavam saindo da escola, eu procurava aquele garoto em meio a tantos alunos na fachada da escola.

    Não importava o quão afiado era o meu olhar, eu não conseguia encontrá-lo de forma alguma. Eu não sabia o porquê, mas algo nele chamou a minha atenção. O seu olhar era diferente dos outros, era como se, ao mesmo tempo que ele se escondia, ele também queria ser visto.

    Ao longe, quase virando a esquina da rua, eu vi um garoto de cabelo castanho com o casaco da escola. Eu corri, deslizando entre os demais alunos no caminho e saltando os obstáculos da rua. Assim que dobrei a esquina, entrando em uma repleta de prédios residenciais, lá estava ele.

    — Ei! Você! — berrei, fazendo todas as vizinhas fofoqueiras na região olharam.

    — Huh? — o garoto virou para trás, com uma expressão assustada.

    — Você era o cara que sobrou comigo no jogo, não foi? — eu me aproximei, eufórico.

    — F-Foi… — respondeu se afastando, ainda em prantos.

    — Por que… Por que você não eliminou ninguém?

    — E-Eu não sou bom nesse tipo de jogo… só isso.

    — Mentira!

    — …?

    — Naquela hora — me lembrando do momento em que saltei para “salvá-lo” — você iria segurar a bola, não é?

    — D-Do que você tá falando?

    — Suas mãos! Elas estavam prontas pra se defender!

    — EU NÃO ACREDITO NISSO! — a voz de Medaline ecoou no pela rua — VOCÊ TÁ PROCURANDO BRIGA DE NOVO? — ela caminhou em minha direção, furiosa como um rinoceronte.

    — Não eu só- — ela agarrou a gola da minha camisa, me arrastando de volta pra casa.

    — Foi mal aí! — ela pediu desculpas ao longe.

    No dia seguinte, eu voltei para a escola com um único objetivo. Esperei pacientemente em cada uma das aulas, até enfim o dia terminar.

    — Você! — eu bati minhas mãos na mesa do garoto, o dando um grande susto — Vamo jogar!

    Sem lhe dar nenhuma escolha, o arrastei até a quadra, desviando dos olhares dos professores e o mais perigoso deles, o de Medaline. Com velho macete, eu destranquei a fechadura da quadra e entramos na surdina. Nós no posicionamos em lados opostos do retângulo, enquanto eu segurava uma bola, um pouco mais que minha mão.

    — Pronto? — perguntei prestes a arremessar.

    — O que você quer com isso?

    Ignorando completamente sua pergunta, o ataquei. Ele se esquivou rapidamente, deixando a bola rebater na parede e voltar para mim. Não estava certo. Eu tinha certeza que ele seria capaz.

    — Joga direito! — voltando a atacá-lo.

    Não importava quantas vezes eu tentava acertar, ele sempre se esquivava, porém, houve um breve deslize em minha mão, um único arremesso errado, onde a bola acertou a parede e voltou em seu rosto.

    Foi o momento que eu precisava. O garoto, talvez em seu instinto, agarrou a bola antes que o acertasse. Pra mim, aquilo foi incrível, foi como descobrir um talento oculto, escondido no medo abundante daquele garoto.

    — Eu sabia… — O garoto podia mentir para se mesmo, esconder-se na sua própria sombra, mas ele não podia enganar os meus olhos. Eu sabia que ele era mais do que olhos podiam ver.

    — S-Sabia o quê?

    — Qual é o seu nome? — eu gritei em seu rosto, agarrando seus ombros com empolgação.

    — É Sorun — ele respondia enquanto era chacoalhado.

    — Eu sou Zethar! — estendendo minha mão para ele, eu propus — A partir de agora, vamos ser amigos. Beleza?

    Seus olhos ficaram arregalados em surpresa e medo, mesmo assim, ainda que com suas mãos trêmulas, ele apertou minha mão.

    Naquele dia, o meu mundo virou de cabeça para baixo. O mundo, que sempre me mostrou rostos falsos e asquerosos por trás de expressões tão belas, finalmente me mostrou um rosto radiante escondido nas sombras de uma máscara deprimente.

    Ponto de Vista de Noelle:

    Misturado com as palavras de Zethar, a maldição do meu pai continuava a zanzar pela minha cabeça. O sentimento de fraqueza e incapacidade eram como lanças perfurando o meu corpo, mas eu não podia cair, eu não podia perder. Eu ainda precisava me desculpar pelo que fiz.

    Puxei o ar para os meus pulmões com toda a minha força, acalmando minha mente com uma respiração controlada. Elevando a liberação de mana, meu corpo emanava faíscas de raios para todos os lados. Eu sentia o poder fluir em minhas veias, uma corrente elétrica agitada que acelerava meu corpo. Busquei limpar a minha mente, não deixar que minhas emoções interferirem na batalha.

    Ajeitando suas manoplas, meu oponente sentia que nossa luta estava apenas começando e pequenos cristais translúcidos apareceram ao seu redor.

    Desaparecendo subitamente, eu avancei para as suas costas, o deixando claramente confuso. Não para a minha surpresa, Zethar reagiu, preparando suas luvas no que parecia um soco de cima para baixo, mas assim que ele estava prestes a me acertar, disparei novamente como um relâmpago. Eu mantive essa ação por alguns segundos, cada vez mais aumentando a velocidade, analisando cada um de seus movimentos e procurando uma brecha para me atacar.

    — Acha que vai conseguir fugir pra sempre? — provocou, ainda tentando me acertar.

    Dando a devida importância para cada segundo em nossa batalha, agarrei seu braço enquanto ele falava.

    — Mas o quê? — parecia que enfim tinha o surpreendido.

    Erguendo as garras trovejantes, desferi um golpe perfurante em seu braço. Sem piedade, chamei meu braço para um segundo ataque, mas com uma precisão irritante, Zethar bloqueou o ataque perfeitamente. Antes que ele pudesse contra-atacar, saltei para longe, criando uma distância segura entre nós.

    O barulho de cada aparada já estava me dando nos nervos, pra piorar, sua expressão de satisfação toda vez que acertava chegava a ser humilhante.

    — Não vou mentir, você me pegou! — ele soltava uma de suas luvas, massageando a ferida com sua mão livre — Mas ainda assim você não vai vencer.

    Eu pretendia usar minha raiva para liberar minha alma ressonante, mas eu não conseguia. Era como se meus pensamentos não estivessem alinhados com os meus sentimentos. Eu simplesmente não conseguia me concentrar.

    — Cala a boca e luta.

    — Eu vou fazer você entender uma coisa — ele subitamente apareceu em minha frente, erguendo seu punho na direção do meu queixo — enquanto não atacar pra me matar, não vai existir a menor chance de sair daqui viva.

    Seus movimentos não eram tão rápidos que meus olhos conseguiriam acompanhar e me esquivar não foi um problema. O impacto de seu golpe no ar foi tremendo, movimentando toda a área ao nosso redor. Se aquele ataque tivesse me atingido, certamente eu perderia a minha mandíbula.

    — Eu não preciso te matar. Já entendi como funciona! — retruquei, me esquivando agilmente de todos os seus golpes — Você usa suas manoplas pra defender meus golpes e isso armazena energia na manopla que não foi usada. Além disso, esses cristais servem pra aumentar o alcance da sua visão e eliminar os pontos cegos. Se isso é tudo que sabe fazer, não vai ser o suficiente pra me matar!

    — Muito bem sabichona. Mas isso não muda porra nenhuma no que eu disse! Teve a oportunidade perfeita de arrancar a minha cabeça, mas ainda assim hesitou. O fantasma do seu pai te assombra até hoje, não é? — ele gritava em meio aos socos poderosos de suas manoplas.

    — Como você– — eu meio sentia uma idiota, sua provocação, mais uma vez assertiva, me fez perder o foco.

    Pelo tamanho de sua manopla, seu soco preencheu meu torso completamente e me cuspiu através da arena. Meu corpo quicava na terra úmida da ilha, em meio as pedras e ruínas espalhadas.

    Eu não sei o que aconteceu, mas aquele soco certamente acertou mais do que o meu corpo. Foi como se parte do meu núcleo tivesse sido atingido. O ar estava pesado, respirar nunca foi uma tarefa tão difícil. Eu tentava me erguer, em meio a poça de sangue que escorreu da minha boca, mas todos os meus membros tremiam fracos, sem forças para me levantar.

    — Você realmente daria uma ótima Bruxa Celestial — eu o via caminhar em minha direção, mesmo que sendo apenas um borrão — foi meu único oponente que descobriu como meus poderes funcionam… não que muitos tenham vivido tempo o suficiente pra isso.

    Seus passos abafados chegaram até mim. Minha cabeça se levantou sem a minha vontade, demorei a perceber que era Zethar entrelaçando seus dedos sujos em meu cabelo.

    Dança… das… Lanças Trovejantes — com uma tremenda dificuldade de proferir a magia, ativei a runa que havia gravado no meu próprio corpo.

    Apesar da ausência de nuvens, ao topo da esfera de água que nos aprisionava, raios eram conduzidos por dentro da água etérea. Se concentrando em um único ponto, os raios se dispersaram em lanças-relâmpago, caindo violentamente em nossa direção.

    “PLIM!” O desgraçado aparou perfeitamente cada uma das lanças.

    Mas não importava, eu aproveitei meus poucos segundos de vantagem para me desprender e correr dali, movida por uma força inexplicável. Eu não ouvia, tão pouco enxergava direito. 

    — Ainda- forças- não- — a voz de Zethar chegava abafada até mim, em fragmentos das idas e vindas da minha audição.

    Eu respirava ofegante, tentando colocar meus pensamentos em ordem. Não poderia me dar o luxo de morrer naquele lugar. Meus sentidos voltavam a funcionar pouco a pouco, mas meu inimigo já avançava novamente em minha direção.

    Em gritos de dor e perseverança, eu disparava raios em sua direção, dando pequenos passos para trás. Já não havia mais runas para conjurar qualquer tipo de feitiço e em meio aos relâmpagos e bloqueios perfeitos, eu só conseguia pensar no peso da culpa que me atormentava.

    Eu não fui superada em força ou velocidade, nem mesmo em poder mágico. No fim, eu só não fui capaz de suportar a minha própria falha. As manoplas de Zethar brilhavam a cada aparada, denunciando o poder acumulado que tinha, mas mesmo assim, eu não conseguia parar.

    “Se acalma, se acalma, droga!” Continuando a disparar, enquanto clamava para mim mesma “você tem que parar! Galliard ainda está preso, Ego ainda está solto! E a Saki… eu… eu ainda preciso dela!”

    — É mesmo uma pena — Zethar recolhia seu punho, pronto para seu golpe final — Em circunstâncias diferentes, eu diria que você se tornaria a melhor Bruxa que já pisou nesse lugar…

    — Eu… Eu sinto muito… Saki — meus olhos se tornaram um rio de lágrimas, aceitando o meu destino final.

    Um soco perfeito atravessou mais do que minha pele.

    Ele perfurou o orgulho que restava, esmagou o que sobrava da minha força de vontade e fez meu núcleo tremer como se estivesse prestes a se despedaçar. A energia drenava como sangue em veia aberta. E, pela primeira vez, eu me perguntei: é assim que se morre?

    Não sei onde meu corpo foi parar. Talvez ainda esteja ali, caído, frio, em silêncio no meio da destruição. Mas minha mente… minha mente gritava.

    Gritava com a lembrança dos berros do meu pai, daqueles dias sufocantes no quarto mofado, onde cada noite parecia um ciclo eterno de punição. Lembrava das risadas das crianças do vilarejo, tão distantes de mim quanto as estrelas no céu. Elas corriam. Elas viviam. E eu só… esperava acabar. Esperava que alguém me salvasse daquele pesadelo. Esperava pela Bruxa Celestial.

    Mas ela nunca veio.

    Houve dias em que pensei em desaparecer. Dias em que chorei tanto que meu corpo doía mais que qualquer ferida de batalha. E agora… agora eu ia embora do mesmo jeito que vivi: em silêncio, chorando por dentro, com a culpa mastigando meu coração. Falhei com Galliard. Falhei com Erida. Falhei comigo mesma.

    Eu não cheguei nem perto de ser o que minha mãe foi. Nunca consegui mostrar pro meu pai o quão errado ele estava. Nunca consegui provar pra mim mesma que eu era forte. E, o pior… não consegui proteger a Saki. Na verdade… eu só a machuquei.

    Meu rosto encostava na terra úmida, mas eu mal sentia. Não havia dor física. Só arrependimento. Um vazio amargo que parecia gritar por tudo o que deixei de fazer.

    Partir sem pedir desculpas. Partir sem dizer que eu a amava.

    As promessas… as expectativas que deixei em cada um deles… Eu só conseguia imaginar os rostos decepcionados, os olhares tristes. E isso doía mais do que qualquer ataque.

    As memórias vinham como rajadas de vento. A floresta, aquele primeiro encontro com Saki e Akira, as nossas brigas bobas, as risadas, o sangue, os abraços apertados. Cada cena se repetia na minha mente com clareza insuportável.

    E então, quando tudo escureceu… eu senti. Senti os braços da minha mãe.

    Ela me acolhia com aquele mesmo carinho que imaginei tantas vezes, desde criança. Um manto de luz suave me envolvia, aquecia meu peito, e seu cabelo branco caía sobre meu rosto como uma bênção esquecida. Sua presença era paz. Era perdão.

    Mas foi a sua voz que me quebrou de vez — vinda de um tempo antigo, de um livro cheio de esperança que encontrei há pouco tempo:

    “Eu não sei o que o futuro nos reserva, mas seja na vida ou na morte, eu estarei com você. Não importa a distância, tempo ou dimensão, eu vou te amar e te proteger sempre. Seja forte. Voe.”

    E eu acreditei. Porque nos braços dela… eu não sentia mais medo. E naquele instante, como um último sopro antes do fim, vi com clareza: Mesmo nos meus piores momentos… enquanto estivesse com eles… eu sorria.

    Foi quando percebi que não estava pronta para morrer.— Técnica divina: Alvorada.

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