Capítulo 128: O Preço da Loucura - Parte II
Capítulo 128: O preço da loucura – parte II
— Mas nem pensar! De jeito nenhum! — berrou Jéssica. — Eu vou no seu lugar, Mica!
— Não — respondeu Clara. — Precisa ser alguém mais forte, mais resistente, pra passar pelo meio daquele turbilhão de escombros sem ser completamente dilacerada. Eu vou.
— Eu posso ir também — disse Lírica. — Eu sou bem resistente. Acho que… eu aguento. — Havia um tom de incerteza em sua voz.
Mical balançou a cabeça.
— Vocês não entendem? Você mesma disse, Clara, que atravessar aquilo seria suicídio até pra você.
— É… e aí você quer se matar muito mais rápido, freirinha? Você já teve melhores instintos de sobrevivência.
— Eu não quero morrer, mas… eu posso me curar. Eu acho. Nunca tentei, mas deve funcionar. Então, conforme eu for me machucando, eu me curo, então devo ficar bem. Mas não posso curar vocês a essa distância. Seria longe demais. Vocês morreriam antes que eu pudesse fazer alguma coisa.
— Não! — respondeu Jéssica.
— Além do mais — continuou Mical —, o ódio do Renato, o rancor que ele carrega, é como uma doença, ou um ferimento no espírito. Acho que posso tentar curar isso também. Essa foi a benção que o anjo Azazel me deu. E ele me disse que eu poderia salvar o Renato. Acho que ele estava falando desse momento! Só eu posso fazer isso! Por favor, Jés, me deixa ir! Entende! Eu preciso fazer isso! Senão, o Renato vai morrer!
— Eu vou com você…
— Você precisa manter a barreira de pé, Jés. Se os soldados entrarem, pode ficar ainda mais problemático. E é claro que eles vão tentar matar o Renato, ao invés de salvá-lo.
— Eu não… quero que você vá… — disse Jéssica, com os olhos lacrimejando.
— Eu preciso ir.
Jéssica balançou a cabeça, indignada, triste, mas resignada.
— Por favor, tome cuidado. E volta pra mim. Volte inteira, minha irmã! — Ela a abraçou.
Mical assentiu.
— Vou voltar. Eu sei que vai dar tudo certo! Clara, você disse que o Renato tá num tipo de transe, não disse? Que ele tá preso dentro de sua própria mente, e que por isso ele nem sabe da destruição que está causando.
— É. Eu disse algo assim.
— Então, ele deve estar sonhando, não é? Algum tipo de pesadelo macabro.
— É bem provável.
— Você consegue me colocar dentro do sonho dele?
A súcubo ponderou um pouco.
— A essa distância… é difícil. — Ela olhou para a demi-humana. — Mas deve dar certo se nós trabalharmos juntas. O poder telepático dela pode potencializar a ação do meu poder sobre sonhos. Já fiz algo assim antes. Deve dar certo.
Lírica assentiu
— Vamos conseguir!
— Tente vestir uma das armaduras — sugeriu Tâmara. — Elas podem protegê-la.
Todas aprovaram a ideia, e até tentaram, mas:
— Não dá! Nem serve em mim direito! — disse Mical, usando aquela roupa metálica que roubaram de um dos soldados abatidos. — E é muito pesada. Não consigo me mexer muito bem.
Tâmara ficou em silêncio por alguns segundos. Estava pensativa.
— Então eu vou com você! — disse, finalmente. — Vou usar a armadura. Já usei uma parecida antes. Eu consigo. E eu vou ficar do seu lado, e vou ser seu escudo. Os escombros estão girando todos na mesma direção, então eu só preciso ficar do lado certo, que nenhum vai te acertar!
Mical franziu o cenho, confusa.
— Por que quer fazer uma coisa dessas? Nós nem somos amigas, não é? Aposto que você nos odeia.
— E odeio mesmo — respondeu Tâmara, com um sorriso amargo. — Mas você vai trazer o Renato de volta, não vai? Você precisa conseguir! Por isso vou te ajudar do jeito que eu puder! Eu não saberia viver num mundo onde ele não existe. Acho que eu… perderia o controle.
— Entendo.
— Mical — disse Clara —, pra eu conseguir te jogar dentro do sonho do Renato, você precisa chegar bem perto. Precisa tocar nele, entendeu?
— Entendi.
E da forma que combinaram, assim fizeram.
Tâmara vestiu a armadura. Lhe caiu bem, e ela teve facilidade para controlá-la. Informações sobre as várias armas acopladas invadiram seu cérebro. Avaliou se não seria melhor chegar até Renato por cima da nuvem de escombros, voando, mas percebeu que seria um caminho ainda pior. No alto, as pedras eram maiores e, aparentemente, havia mais delas, girando nas alturas como abutres sentindo o cheiro de carniça.
Ela se pôs ao lado esquerdo de Mical e, juntas, entraram naquela nuvem giratória de escombros.
As pedras bateram em Tâmara, ela gemeu de dor, vacilou, mas não caiu, não recuou.
Uma pedra maior acertou o rosto dela, e se partiu em vários pedaços. A garota girou, com a força do impacto, e sangue saiu de seu nariz. O rosto estava cheio de arranhões.
Os estilhaços voaram direto para Mical, machucando-a, arranhando seu rosto e corpo.
Elas estacaram. Era difícil enxergar o caminho. A poeira ardia os olhos; as pedras machucavam a pele. O vento forte quase as arrastava para longe. Era como estar entrando num furacão.
Mesmo assim continuaram.
Mical, com um movimento de sua mão, curou os ferimentos de Tâmara, e, em seguida, os seus próprios.
Passo após passo. Mical as curava só para, logo em seguida, machucarem-se de novo.
— Vamos! Falta pouco! — Tâmara teve que gritar, por causa do vento forte e do barulho ensurdecedor.
Mical apenas assentiu.
Enquanto caminhavam, a garotinha dos olhos verdes começou a ser arrastada pelo vento. Tâmara se moveu rápido, e segurou-a pela mão, enquanto suas costas eram bombardeadas pelas várias pedras que colidiam contra a carapaça metálica.
Se não fosse pela resistência sobrenatural, e pela armadura que usava, teria sido despedaçada.
Mical conseguiu recolocar os pés no chão, finalmente. No entanto, uma pedra muito grande, maior do que a braçada de um homem, atingiu Tâmara, e ela desequilibrou-se e girou, sendo carregada pelo vento.
Ativou os propulsores nos pés, tentou voltar, mas a força do vento era intensa, e os impactos com as pedras não paravam. A poeira cegou seus olhos. E enquanto tentava voar em direção contrária à força daquele furacão, foi puxada, arremessada para o alto, e sem qualquer controle, virou apenas mais um objeto girando em volta de Renato. Lutava para proteger seu rosto e demais partes vulneráveis e desprotegidas pela armadura, enquanto sentia que seria dilacerada inteira.
Mical estava abaixada, com o rosto no chão. Com as mãos, protegia a cabeça.
A aura de cura a envolvia e, conforme as pedras a machucavam, ela se curava instantaneamente.
Entretanto, não tinha forças para continuar o caminho. Se ela se levantasse, o furacão em volta a arrastaria da mesma forma que fez com Tâmara.
“Eu não posso parar agora! Não posso!”
E, ainda abaixada, foi se arrastando como uma lagarta. Movia-se lentamente, mas pelo menos se movia.
De olhos fechados, nem olhava o caminho. Apenas seguia a direção, torcendo para não estar andando em círculos.
E parecia que nunca chegaria, mas chegou.
Repentinamente, toda a tormenta se acalmou. As pedras pararam de bater em seu corpo, a poeira não mais riscava sua pele, e o vento não berrava em seus ouvidos.
Ela abriu os olhos e viu Renato.
Estavam no meio da tormenta, bem no olho do furacão, e ali havia calmaria.
Todas as pedras e escombros voavam em volta deles, formando um tipo de domo girante.
E Renato estava no centro de tudo. De joelhos no chão, ombros caídos, rosto voltado para o chão. Lágrimas escapavam através das pálpebras fechadas de seus olhos.
A garota se lançou sobre ele e o abraçou. E aquela aura verde de cura o envolveu.
Clara e Lírica, vendo que a garota finalmente chegou até ele, uniram seus poderes. E Mical caiu na escuridão do pesadelo de Renato.
Palavras do autor: Não se esqueçam de deixar nos comentários o que acharam do capítulo e o que estão achando da história.
O futuro aguarda muitas surpresas!
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