Capítulo 135: Fragmentos de Sonho
Renato estava deitado em sua cama. A luz era pouca, porém o suficiente para distinguir as silhuetas dos objetos em volta.
Da janela, soprava uma brisa suave. Refrescante. A lua estava escondida atrás de nuvens espessas.
Ele estava esperando Mical entrar.
Olhou para suas próprias mãos trêmulas e tentou acalmá-las. O coração batia forte.
“Droga! Eu tô tão nervoso! O que estou fazendo? Preciso me acalmar! E se eu estragar tudo?
Elas parecem tão animadas! Mas e se eu não… droga! Droga! Droga! Respira!
Mical… Ela sempre foi tão pura, tão tímida… Isso parece tão diferente dela. Ela realmente quer isso, ou ela está sendo manipulada pela Clara? Será que eu deveria parar? Mas… o que eu diria? Não posso simplesmente…
Não! Ela estava tão animada, não estava? Aquele olhar dela, não era apenas timidez. Tinha algo mais.
É como se eu fosse o centro do universo agora. Como é que isso aconteceu? Eu sou só o Renato. Apenas o Renato! E esse nem era o nome que meu pai queria…”
Bebeu um gole de vinho. O Sangre del Diablo tinha, realmente, um sabor único. Uma sensação de paz e conforto desceu por seu peito, junto do calor do álcool, e suas mãos pararam de tremer.
“E se isso não passar de um sonho?” A dúvida passou por sua cabeça. “ A Clara tem poderes para manipular sonhos, não tem? E se… não. Não acho que seja isso. Ok, calma, Renato… respira. Talvez… talvez eu só deva deixar acontecer. Eu sempre me preocupo demais, sempre acho que vai dar errado. Mas agora… isso está mesmo acontecendo, e elas… querem isso também. Então, talvez, por uma vez, eu só precise deixar rolar e aproveitar.
A vida não é só lutas, explosões e monstros querendo matar a gente.” Renato pensou por um momento. Havia algo nele que sempre acreditava que tudo tinha que ser uma batalha, uma luta constante para se provar, para sobreviver. Mas, naquele instante, sentia que podia ser diferente. Ele respirou fundo. Talvez, por uma vez, ele realmente pudesse apenas deixar as coisas acontecerem, sem se perder tanto nas inseguranças. Mas, ainda assim, a dúvida persistia, como uma sombra que não queria desaparecer.
Ele se perguntou o que o Hiro diria, e soube exatamente qual seria a resposta de seu amigo. Visualizou-o em sua mente, com o polegar levantado, dando jóia, e falando alguma coisa absurda que se alguém ouvisse, iniciaria uma campanha de cancelamento na internet. Mas que seria algo particularmente engraçado, e que provavelmente aumentaria a confiança de Renato num momento como esse.
Sua introspecção foi brutalmente interrompida. A porta se abriu.
E, do meio da penumbra, a silhueta de Mical surgiu. Estava linda, usando nada mais do que um baby doll cor de rosa com rendinhas.
— Er… humm… — Ela desviou o olhar. — E-eu não sabia o que usar, então… a Clara me ajudou… Ficou muito estranho em mim?
Renato sentiu um calor no peito, e seu coração bateu enlouquecidamente. Tão emocionado que estava a ponto de derramar lágrimas de alegria. Impressionado que poderia existir tamanha lindeza reunida numa pessoa.
— Você tá perfeita! Com certeza foi esculpida por Deus num dia de profunda inspiração.
Com as bochechas ruborizadas, ela levou as mãos ao rosto, cobrindo os olhos.
— Ah, que vergonha!
Renato levantou-se e foi até ela. Segurou suas mãos e olhou em seus olhos.
— Também sou inexperiente. Tô tão nervoso que meu coração está a ponto de sair pela boca. Mas te olhando assim, te vendo na minha frente desse jeito, tão linda e meiga, todas as dúvidas e medos que eu poderia ter desapareceram.
Mical sorriu e, lutando contra toda a timidez, olhou diretamente para ele. Se aproximou, a ponto de conseguir sentir seu cheiro.
— Sinceramente, eu estava apavorada. Tinha medo de que eu não fosse… o suficiente. Todas as outras meninas são tão lindas! Por que eu… como alguém poderia gostar justo de mim? Mas, se você quiser…
— Eu quero, Mical. Gosto de você mais do que tudo. Quero você mais do que tudo! Eu sou o homem mais feliz da Terra por ter você aqui comigo.
Estavam tão próximos, que podiam sentir o cheiro um do outro; ouvir a respiração; os batimentos rápidos; e finalmente seus lábios tocaram-se.
*
— Você trapaceou — disse Lua.
A garota elemental se divertia, deslizando com seus pés descalços sobre a superfície congelada da água, como um patinador.
— Sim — respondeu Clara. Ela estava próxima da beirada da laje, olhando o horizonte noturno da cidade. Um sereno descia suavemente. Havia tão poucos carros nas ruas, que parecia uma cidade fantasma.
As duas estavam na cobertura do predinho.
— E dá pra descongelar minha piscina?
— Foi mal — Lua sorriu. — Não consigo evitar. E por que fez isso?
— Isso o quê?
— Trapaceou. Você manipulou a ordem do sorteio. Por quê? E, o que me deixa mais curiosa, é por que escolheu aquela ordem específica?
Clara deu de ombros e sorveu um pouco de vinho de sua taça.
— Vai saber…
— Você queria ser a última, não é? É por causa dos resultados dos exames que fizemos com o sangue do garoto?
Clara respondeu com um sorriso discreto.
— E você não disse que iria filmar?
O sorriso de Lua, pelo contrário, não foi nada discreto, mas bastante vivaz e até exagerado.
— Estou cuidando disso. Sabe, eu encontrei aquele demônio… qual era mesmo o nome dele? Baelzebub? Belzebu? — Clara a olhou de soslaio, disfarçando o interesse no que ela diria. Lua continuou: — Ele tá bem mudado, sabia? Até me falou algumas coisas…
Clara bufou e riu.
— Escolhi ser a última porque… acho que você já sabe, não é? E por que escolhi aquela garotinha para ser a primeira? Porque acho que ela merece. Ambos merecem. Por algum motivo, Mical despertou minha simpatia. Eu só quis ser gentil.
Lua gargalhou.
— Você também está mudada, Clara. Os demônios não são mais os mesmos de outrora. Talvez seja esse clima de Apocalipse no ar. Mas uma coisa nunca muda. Você continua manipuladora como sempre.
Lua girou no próprio eixo, deslizando sobre o gelo. Parecia até inocente, brincando daquele jeito.
Clara fez uma careta de desgosto.
— E poderia descongelar minha piscina?!
*
Tâmara, angustiada, gritou de raiva e socou a parede. Um pequeno buraco. do tamanho de seu punho, se formou na alvenaria, e uma gota de sangue escorreu.
A garota se afastou.
Respirava pesadamente.
Suas mãos tremiam.
Não suportava tal situação. Outra garota com Renato, nesse exato momento, enquanto ela estava ali tendo que lidar com o ciúmes.
Impensável! Insuportável!
Uma situação verdadeiramente terrível.
Ela tinha que impedir isso! Mas o Renato… o que ele pensaria?
Pensando bem, Tâmara e Renato são um casal perfeito! Destinados a ficarem juntos.
Renato deve pensar a mesma coisa! Ele tá sendo vítima de toda essa situação, tanto quando ela.
Tâmara precisava fazer alguma coisa.
Precisava atrapalhar.
Precisava resgatar o Renato daquela situação em que ele não queria, e nem precisava estar.
Pegou seu fuzil gigantesco. Carregou-o com as balas especiais, capazes de machucar até um anjo, e correu.
Subiu as escadas o mais rápido que pôde. Ela era rápida e forte. Poderia lutar com todas, principalmente se contasse com o efeito surpresa a seu favor.
Assim que chegou no quarto, bateu o pé na porta, arrebentando-a.
Entrou.
E tudo o que viu foi nada.
Nenhum sinal de Renato e nem daquela outra garota.
Tâmara, tomada pelo nervosismo, com dentes e punhos cerrados, não sabia o que fazer.
Não entendeu o que estava acontecendo, até ouvir a gargalhada maligna de Clara.
Seguindo a origem do som, Tâmara foi até a janela, e através dela viu as estrelas.
O quarto estava flutuando no vácuo do espaço, cercado pelas mais lindas constelações. O sol brilhava distante.
E nas alturas, a figura gigantesca da súcubo zombava dela.
— Eu sabia que ia tentar atrapalhar, então mantive você presa dentro do sonho. Tudo o que viu desde ontem, foi uma ilusão criada por mim. Você é minha prisioneira, Tâmara.
*
E no quarto real, longe dos domínios de Morfeu, mas tão onírico quanto, Renato e Mical se descobriam, sem serem interrompidos.
Deitaram-se na cama e despiram-se. Abandonaram todas as coisas inúteis, tais como as roupas, ou vergonha, ou medo, e juntos cruzaram um caminho de prazer.
Ela se agarrou nele, com força, com desejo, com entrega; e ele pressionou-se contra ela do mesmo modo.
Ela arrepiou-se inteira quando Renato beijou seu pescoço. Ao sentir o toque na pele, todo o corpo dela se contraiu.
O cheiro que vinha de Mical enlouquecia ele. Inebriava-o mais do que qualquer vinho. Era mais viciante do que qualquer outra coisa que ele já tinha provado.
E ele quis provar mais. Quis sentir mais desse cheiro, desse tato, desse sabor.
— Meus seios… prove meus seios — foram as palavras ditas por ela. A voz dela saiu como se estivesse em transe, hipnotizada pelo desejo, pelo momento mais incrível de sua vida.
E Renato sentiu os seios dela em sua mão, e depois em seus lábios. As aréolas eram rosadas e pequenas. E Mical gemia e se contraia cada vez que Renato passava a língua.
— Eu quero… quero tudo! — falou ela. — Quero que você faça de mim sua mulher! Quero que entre dentro de mim! Quero senti-lo! M-mas vai com cuidado, por favor!
E Renato teve cuidado para não machucá-la. Foi atencioso aos detalhes. Foi carinhoso. E os dois compartilharam um momento intenso de paixão.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.