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    Renato estava mais uma vez sozinho no quarto.

    Deitado em sua cama, ele respirava tranquilamente. Seus olhos estavam fixos no teto, mas não enxergavam nada em especial.

    Em seus lábios, um sorriso sincero.

    Pela primeira vez em muito tempo, era capaz de sentir alegria; e ela era tão intensa que poderia explodir de seu peito.

    Mical tinha acabado de sair, deixando-o sozinho.

    Ele nem sabia quanto tempo durou. Perdeu a noção do tempo. Apenas se entregou ao momento, vivendo-o em cada sensação.

    Nem teve tempo de se recuperar direito, a porta se abriu novamente.

    E por ela entrou Jéssica.

    Enrugando a testa, mordiscando os lábios, parecia incomodada com alguma coisa.

    Aproximou-se com passos hesitantes.

    Levou a ponta do polegar à boca; não de um jeito sexy. Estava apenas roendo unha, como alguém no auge da ansiedade.

    Porém o que mais impressionava eram as roupas que ela estava usando. Um tipo de túnica preta, com detalhes brancos, que descia de seus ombros e ia até o começo de suas coxas;  e um véu branco semi-transparente.

    Também usava uma meia calça preta, de fio fino, que deixava suas pernas quase inteiramente expostas; e um par de sapatos de salto alto e fino.

    Renato engoliu em seco, impressionado.

    Não tinha outro modo de descrever o look que ela estava usando: era uma freira safada. Ou melhor dizendo, uma fantasia de freira, do tipo que usava menos tecido do que sua contraparte usada por freiras reais (e obviamente expunha mais pele). Provavelmente, seria o tipo de roupa mais fácil encontrada em Sex Shops do que em conventos ou igrejas (porém, nunca se sabe).

    — D-diga alguma coisa, Renato! — reclamou a garota.

    Ele soltou o ar que, nem sabia, estava segurando.

    — Você tá realmente… gost… linda! Muito linda! Linda demais!

    Jéssica pareceu em conflito. Baixou o olhar, franzindo o cenho.

    — Espero que não tenha feito nada de muito estranho com a minha irmã! Ela pode ter gostado; você não!

    Renato riu.

    — Não fiz nada estranho. — Ele levantou-se e caminhou em direção a ela. — Fui cuidadoso, carinhoso, romântico… da mesma forma que vou ser com você.

    Ao vê-lo se aproximando, Jéssica entrou em pânico. Pôs as duas mãos no peito dele e o empurrou de volta pra cama.

    — V-você fica aí!

    — Oxe! — exclamou Renato, confuso.

    — S-sou eu quem vou conduzir! Fique e assista!

    — Assistir? Então eu não vou participar?!

    — Apenas assista!

    A garota bateu palmas duas vezes, e uma música começou a tocar pelo quarto. Renato chegou a se perguntar de onde estava vindo o som, pois não via nenhum alto-falante, mas resolveu não se apegar a detalhes.

    A música, no entanto, o deixou ainda mais confuso. Era uma música no estilo clássico, violino e piano, e uma pessoa cantando, repetindo a palavra “aleluia”. Certamente uma música cristã, para ser tocada por uma orquestra, numa igreja.

    Mas, depois de alguns segundos, o som de disco arranhado soou, como o scratch de um dj, e a música mudou repentinamente para algo mais pop, com uma batida suave e dançante.

    E Jéssica, sob a penumbra, com as cores de suas roupas se confundindo com as próprias sombras do quarto, começou a dançar de maneira sensual.

    Renato não pôde evitar de sorrir. “A gente vai pro Inferno” pensou.

    Ela movia-se, seguindo a batida da música. Algumas vezes lentamente; outras, de maneira mais rápida.

    Passava as mãos por seu corpo. Nas coxas, enfiou os dedos por debaixo da meia calça. Massageou de forma provocativa. Renato desejou que fossem seus dedos ali, sentindo a pele suave dela.

     Ela subiu a mão até o bumbum. Lançou um olhar safado para Renato, e deu um tapinha em si mesma. O garoto pôde ouvir o estalo.

    E enquanto se mexia no ritmo da música, ela começou a desabotoar os botões da túnica, expondo a lingerie que estava por baixo.

    Inicialmente, Renato pôde ver a calcinha preta, cheia de rendinhas. Semi-transparente, era possível ver a pele por debaixo dela, mas o quarto estava escuro demais para ver qualquer detalhe.

    Esse misto de exposição, e ao mesmo tempo não conseguir ver tudo, deixava o garoto maluco! Mal podia se conter. Estava hipnotizado. Suas pupilas viam apenas Jéssica, captando cada detalhe de seu corpo, de suas roupas, de seus movimentos. Não deixaria passar nada! Estava tudo sendo armazenado em seu cérebro!

    Ela tirou completamente a túnica e o véu, ficando apenas de lingerie  e meia-calça.

     Renato finalmente conseguiu ver seu sutiã. Eles eram pequenos demais e mal podiam sustentar os seios fartos da garota. Tapavam apenas as aréolas, deixando o restante do conteúdo escapar pelas laterais.

    Então ela parou de repente.

    Ergueu seus olhos castanhos claros. Estavam lacrimejados. Suas bochechas, ruborizadas.

    Ela levou as mãos ao rosto, cobrindo-o, e se encolheu.

    — Ah, que vergonha! Não consigo terminar! O restante da coreografia é muito vergonhoso!

    Por algum motivo, Renato sentiu ainda mais vontade de ver o restante.

    — Esse tipo de coisa safada não é para mim! — A garota estava quase chorando, enquanto fechava os botões da túnica.

    Renato sentiu que precisava intervir.

    Ele se levantou e foi até ela. Acariciou seu rosto com doçura.

    — Tudo bem se não estiver pronta. Se não quiser…

    — Eu quero! Droga! Isso é que me deixa mais irritada!

    “Saiu da timidez e foi pra raiva” pensou Renato.

    Ele achou que deveria fazer alguma coisa para ajudar no clima. Quebrou a cabeça. Talvez um Verdade ou Desafio? Alguma brincadeira envolvendo vinho? Strip Poker?

    Mas quem tomou a iniciativa mesmo foi Jéssica.

    — F-feche os olhos! — ordenou.

    — Certo. — Renato tinha um sorrisinho discreto no canto da boca. Em parte porque achava essa atitude “morde e assopra” de Jéssica um bocado engraçada; e também porque tinha altas expectativas em relação a como isso poderia se desenrolar.

    Ela segurou seu braço e, de repente…

    Uma sensação macia. Era algo quentinho. Um formato redondo; apesar da maciez, tinha firmeza e certa elasticidade.

    Era algo extremamente agradável ao tato.

    Ele mal podia acreditar.

    Jéssica afastou sua mãe.

    — Pode abrir os olhos.

    Ela estava vermelha, e seus olhos tinham um brilho lacrimejado. 

    “Tão parecida com a Mical” pensou Renato.

    — Hum… er… — A garota olhava para ele, mas logo desviava o olhar; se virava para a porta, vacilava, e voltara a olhar para o garoto.

    Estava entrando em pânico.

    Toda a confiança que ela estava exalando até agora há pouco, na hora da dança, se dissolveu, como um castelo de areia atingido por uma onda de timidez e medo.

    Renato percebeu.

    Ele decidiu que deveria fazer alguma coisa.

    Se aproximou dela, com cautela, mas firme.

    Seus olhos estavam determinados.

    — Eu vou te beijar agora — disse Renato. — Não consigo mais me conter. — Ele tocou os lábios dela com seus dedos, e os acariciou, sentindo a textura, imaginando que sabor teriam. — Se não quiser, pode me empurrar para longe, mas se você quiser, pode apenas me beijar de volta.

    Por um momento, ela quis fugir, se esconder, mas a perspicácia do garoto a desarmou totalmente. E, afinal, ela também queria aquilo. Também tinha curiosidades e desejos.

    Então ela apenas se entregou totalmente aos braços de Renato.


    — Acha mesmo que aquela garotinha puritana vai dar conta? — falou Lua. — A dança não é, como posso dizer, muito para ela?

    A elemental estava de pé, apoiada numa parede, enquanto lambia uma bola de sorvete de chocolate de uma casquinha.

    Pequenos flocos de gelo deslizavam no ar, como numa geada.

    Clara deu de ombros e se acomodou em seu sofá. Segurava uma taça de vinho.

    — Acho que ela consegue. Eu tô há bastante tempo fazendo a Jéssica sonhar com striptease. Ela deve ter pegado o jeito.

    — Fez ela sonhar?!

    — É claro. De outra forma, seria impossível ela aprender os movimentos tão rápido.

    — Há quanto tempo você tá planejando isso, Clara? 

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