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    Renato e Clara permaneceram naquele ritmo cadenciado por mais de uma hora.

    A súcubo achava surpreendente que ele tivesse tanta energia, mesmo depois dos momentos que passou com as outras garotas.

    Havia instantes em que ele parava, sugado pela súcubo até não poder se mover mais, sem fôlego, sem energia vital, porém logo se recuperava para continuar os movimentos.

    Ele era suprido por uma reserva energética infinita. Parecia que nunca seria esvaziado.

    E ela se enchia de vida, de poder, e ficava ainda mais feroz e faminta; porém, também se cansava, como alguém fazendo um exercício pesado. Era a primeira vez que sentia-se dessa forma.

    Porém, recusava-se a perder.

    — Você é minha presa! — grunhiu ela.

    Ela o envolvia; quase devorando-o. Provando o sabor de seu corpo e de sua alma.

    Cada célula de seu corpo vibrava com a energia reverberando.

    Os dois estavam em perfeita sintonia.

    Era como uma disputa. Aquele que primeiro ficasse sem forças, seria derrotado.

    Assim como Clara estava sugando tudo de Renato; ele também estava consumindo tudo dela.

    Sobre as posições: experimentaram todas que puderam lembrar.

    Os poderes de Clara faziam o ambiente em volta se mesclar com o onírico. Se tornou difícil diferenciar realidade de sonho. As paredes se moviam e desapareciam. A noite se tornava dia, e depois noite novamente. As estrelas dançavam em volta deles, tendo como cenário o azul profundo e escuro do espaço.

    Ela mesma mudava de forma, transformando-se em todas as pessoas que Renato pudesse desejar. Cada atriz, cada personagem irreal. Até mesmo aquela waifu que ele nunca pensou ser possível tocá-la. Clara realizou todos os sonhos que Renato podia ter.

    E é por isso que ele não queria que aquilo terminasse. Usaria todo o poder que tivesse disponível. Puxaria toda a energia de Arimã se fosse necessário, mas não desistiria até provar todas as sensações que a súcubo poderia dar para ele.

    Mas, tudo precisa chegar ao fim.

    E, numa explosão de êxtase imensurável, Renato chegou ao limite.

    Inundada por todo aquele ápice, a visão de Clara até esmoreceu. Todo seu corpo amoleceu.

    E algo explodiu entre eles.

    E a súcubo foi lançada com força para o alto, arremessada contra o teto, e caiu no chão.

    Levantou-se, meio tonta. Gemeu palavras incompreensíveis.

    — C-clara, o que está…?

    Ela se assustou ao ouvir a voz dele, e recuou. E então caiu de joelhos no chão e gritou de dor.

    E sangue começou a fluir dos ouvidos e de seus olhos no lugar de lágrimas.

    E duas protuberâncias pontiagudas brotaram na lateral de sua cabeça, próximas à testa.

    Ela gritou mais uma vez e correu em direção à janela, e se jogou das alturas para o vazio noturno.

    Renato, em choque, correu até a janela para procurar por Clara, mas não a viu em canto algum.

    Ele tentava pensar, desesperadamente, para entender o que tinha acontecido. Pensava que poderia ter sido um ataque de alguém. Mas não fazia ideia de quem.

    Nessa hora, a porta do quarto se abriu rapidamente, com força a ponto dela bater contra a parede.

    Mical e Jéssica entraram. Estavam ofegantes. Pareciam cansadas.

    Tinham  resquícios de gelo sobre os cabelos.

    — Renato!

    — Jéssica?! O que está acontecendo? Estamos sendo atacados? A Clara foi…

    — O que aconteceu? Onde a Clara está?

    — Ela… — nem ele sabia direito como explicar.

    Nessa hora entrou a garota de corpo delgado, pequena, olhos e cabelos da cor do gelo.

    — Oh, parece que realmente a Clarinha conseguiu! Completou o pacto. Parabéns, garoto! Você é propriedade de uma súcubo agora.

    — O quê?

    — Tomara que ela aguente toda aquela energia. Seria uma pena se ela morresse, mas julgando por você, aí todo vivo, acho que ela deve ficar bem também.

    — O que quer dizer?

    — Oh, não se faça de desentendido, garoto. Ela deve ter te explicado os detalhes. Ela precisa explicar. São as regras. Mas duvido que você prestou atenção. Homens têm o hábito de concordar com qualquer coisa dita por uma mulher bonita e nua sem nem pensar direito. — Lua deu de ombros e riu de um jeito travesso.


    Primeiro, houve apenas o escuro e o mais absoluto silêncio.

    Era como estar no fundo de um oceano sem fim.

    Depois, houve algum barulho. Sutil como folhas balançando ao vento.

    Era o farfalhar de asas.

    E finalmente o mundo se iluminou.

    E Clara pôde ver o céu. Estava limpo, sem nenhuma nuvem. Apenas uma lua exuberante e as estrelas no manto negro.

    Até que ela percebeu onde estava.

    As nuvens, abaixo dela, fluíam num ritmo contínuo. Era como uma maré branca e infinita,  ou um tapete de algodão levado pelo vento

    Clara estava voando no alto da atmosfera. E dessa vez não era sonho. Ela, uma súcubo, sabia diferenciar bem.

    E então percebeu as asas. Enormes, negras, com detalhes vermelhos em formato de linhas sinuosas e garras.

    Estavam em suas costas.

    Mas… ela não estava usando nenhuma pena de fênix. Como poderia ser possível? Ela se questionou.

    E aquilo em suas costas não eram asas comuns. Ela já viu semelhantes numa pintura uma vez, enfeitando as costas de Lilith, a súcubo original; aquela que era adorada desde a antiguidade como uma deusa.

    Levou a mão à cabeça e tocou um par de chifres demoníacos, que cresciam retorcidos.

    Seus ouvidos captaram o bater de asas de um morcego que, possivelmente, estava a centenas de metros abaixo.

    Sua visão estava detectando detalhes ínfimos e distantes.

    E ela sentia o fluxo da energia hermética no ar, fluindo em todas as direções, como a força da natureza que era.

    E sua mente finalmente se clareou. Tinha dado certo, afinal. Depois de tanto tempo de paciência e infinitas precauções, ela conseguiu.

    É claro que não poderia simplesmente fazer o pacto com o garoto de qualquer jeito. Ela precisava de preparação. Saber que era seguro. E a recompensa de tanto trabalho finalmente tinha chegado.

    Agora, seus poderes, outrora selados pelos Naz-haîn, foram liberados. Ela se tornou um demônio de alto nível. Tão forte que talvez apenas as princesas de Lúcifer e os próprios Naz-haîn fossem oponentes para ela.

    E ainda tinha o Condutor como servo. Ela seria imbatível.

    É claro que ela seria uma senhora misericordiosa e não faria nada desagradável com seu humano. Na verdade, o que ela planejava fazer era o exato oposto. Faria o garoto passar por prazeres e êxtases incalculáveis. A vida deles seria a mais agradável possível.

    Viveriam seguros, intocados à qualquer perigo, no luxo, mergulhados em sexo e sensações indescritíveis.

    Que venha o apocalipse! Que tudo termine em chamas! Nada destruirá esse futuro.

    Com a inteligência e poder dela, mais toda a energia de Renato, eles seriam imbatíveis. Construiriam um paraíso na Terra e, se necessário, no Inferno também.

    Com sorte, o pacto também pode ter influenciado a demi-humana e as duas irmãs.

    Seriam seus seguranças particulares, enfrentando todo o tipo de perigo por ela, enquanto ela e Renato desfrutam do corpo um do outro.

    Um plano perfeito.

    E nessa hora, seus sentidos apurados perceberam um aroma familiar.

    — Belfegor?

    Ela inclinou o corpo, de modo a fazer uma curva brusca em pleno ar, e bateu as asas. Rodopiou, fez manobras. Gritava e dava gargalhadas.

    Como era boa a sensação de ser um demônio completo novamente!

    Naquela noite, todas as pessoas da cidade sentiram um ímpeto feroz de desejo e luxúria.

    Não houve pessoa com idade o suficiente, que não tivesse sentido uma vontade insana de fazer sexo.

    A violência que escalonava pelo mundo foi, por um momento, suplantada. Pelo menos nessa cidade.

    Uma briga de bar foi interrompida abruptamente quando as pessoas simplesmente perderam a vontade de brigar. Se entreolharam por um tempo, confusos, antes de sucumbirem ao desejo incontrolável por prazer.

    E a luta deu lugar a uma orgia digna de um de um culto de Baco. Fizeram as mesas de bar como cama. Espalharam pelo chão toda a cerveja e pinga com limão, e as porções de batata frita e torresmo.

    No zoológico, o tratador de animais estava se dirigindo ao banheiro, o único lugar livre das câmeras, quando percebeu uma coisa esquisita. Todos os animais estavam acasalando. Desde os mamíferos, como macacos e onças, até os répteis.

    Até mesmo os pandas, que nunca acasalavam e os veterinários estavam quebrando a cabeça sobre como fazê-los procriar, resolveram finalmente misturar os cromossomos.

    Alguns diriam que isso tudo foi influência demoníaca. E estariam certos.

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