Índice de Capítulo

    Palavras do autor:
    Opa! Como vocês estão?
    Vou aumentar a frequência de publicação para 2 capítulos semanais. Quem sabe no futuro, eu consiga até subir para três, né?
    Um capítulo vai continuar sendo publicado todo sábado, como sempre foi; e o outro na quarta ou quinta-feira, dependendo da semana.
    Sem mais delongas, boa leitura! Um novo arco está se iniciando.

    — Perai! É o quê?! — Renato franziu o cenho, numa expressão um tanto confusa e indignada.

    — Ué, mas eu não acabei de explicar? — retrucou Angélica. — Fim do mundo, blá blá blá, a Terra destruída, gente morrendo… o de sempre. O que tem de tão difícil?

    — Mas por quê o Inferno iria querer destruir a Terra?

    — A gente não quer, mas… sabe como é, né? A Terra meio que vai ser pega no fogo cruzado.

    Renato balançou a cabeça e emitiu uma gargalhada amarga.

    — Vocês demônios são assim mesmo! Tratam a vida humana como lixo!

    — Humm… ? — Angélica inclinou a cabeça, um tanto confusa e genuinamente curiosa. — Mas por que trataríamos de outra forma? Vocês mesmos tratam a vida humana desse jeito. Por que com a minha raça seria diferente?

    A porta do quarto finalmente se abriu. Irina surgiu. Tinha olheiras negras em volta dos olhos e manchas de lágrimas riscando as bochechas. O cabelo estava bagunçado.

    — Renato, o que está acontecendo?

    — Irina…

    Hiro tocou a mão no ombro da garota e falou baixinho:

    — Melhor a gente se afastar e deixar os dois conversarem.

    — Tire a mão de mim! — reclamou Irina. — O que tá rolando, Renato?

    Angélica se aproximou dela, farejando.

    — Oh, então o segundo cheiro é dela! Uma humana fêmea!

    — Ei! Tá me cheirando por quê? Você, por acaso, é sapatão, é? Eu até respeito, mas não confunda as coisas, por favor!

    — Sapa… o quê? — Angélica ergueu uma sobrancelha. Olhou para baixo, analisando o próprio sapato branco e brilhante, com detalhes dourados. — Humpf! Meu sapato é de princesa, sabia? Tamanho 32, se quer saber! Não tem nada de sapatão não!

    — Eu tô brincando… tô só brincando! — Irina sorriu e acenou com a mão, como se afastasse qualquer mal entendido. — Não se sinta ofendida, sáfica princesinha. O cheiro de couro não me incomoda.

    — Cheiro de quê? Uma veia pulsou na testa de Angélica, e seu olho tremeu. — Tô começando a sentir vontade de começar a matar gente!

    Renato percebeu que Jéssica e Mical estavam observando à meia distância. Com cautela; porém, seus olhares deixavam claro que não hesitariam caso uma ação rápida fosse necessária.

    — Calma, meninas… — murmurou o garoto. Ele sabia que, apesar da aparência infantil, Angélica era perigosa e extremamente poderosa, e a última coisa que queria era irritá-la ainda mais.

    Lírica, de cócoras sobre o peitoril da janela, observava a situação no fim do corredor. Sua aparência estava mais animalesca do que antes, com as presas longas aparecendo através dos lábios e as orelhas pontudas voltadas para frente, como um gato ouvindo os sons à distância. As garras pareciam ainda mais afiadas. Seus olhos não escondiam o choque de ver a princesa infernal ali. Aquelas eram coisas que ela gostaria de deixar para sempre no passado.

    Clara, por outro lado, entrou no corredor caminhando tranquilamente. Estava mastigando alguma coisa. Tinha uma expressão de felicidade tão intensa que era até estranho para ela. As duas mãos unidas na altura do estômago, seguravam um  prato com um punhado de bolinhas pretas cobertas por chocolate granulado. Eram brigadeiros.

    — Angélica… a que devemos a honra de sua presença? — A súcubo fez uma mesura respeitosa.

    — Humpf! Você também! Por que não foi ao Inferno quando convocada? Por acaso quer ser condenada por traição?

    — Traição? Não. Nada disso. Eu só estava ocupada, mas ia descer assim que possível. Pra falar a verdade, iria amanhã mesmo.

    — Pois vamos hoje! E… — tinha algo no cheiro daqueles brigadeiros que chamou a atenção de Angélica. Aliás, Clara não estava feliz demais comendo aqueles doces? — Ei, o que é isso aí que está comendo?

    — Ah, isso, bom… são brigadeiros. — Clara estava meio hesitante, porque não queria dividir os doces, mas não teve escolha. — Quer provar um?

    — Mais um doce da Terra? Aposto que tem um gosto tão ruim quanto aquele sorvete! Me dê um!

    — Certo… — disse Clara, meio contrariada, e entregou um brigadeiro a Angélica.

    A princesa infernal analisou aquela bolinha de chocolate por alguns segundos com incredulidade. Parecia algo tão simples! Sem nenhum charme. Perderia de longe para as maravilhas açucaradas preparadas pelos chefs e confeiteiros demoníacos. Porém…

    Os olhos se arregalaram. A massa suave, com o aroma do cacau, se espalhou pela boca. A textura era agradável, e os confetes de chocolate granulado derretiam na língua.

    E, o mais importante: o sabor era único. Nunca, em toda a sua vida, ela tinha provado algo tão gostoso.

    Suas pernas até amoleceram.

    As bochechas coraram e um suspiro apaixonado escapou por entre os lábios da menina.

    — Isso foi… incrível!

    Renato assentiu.

    — Brigadeiros da professora Dilze. Nunca decepcionam.

    — Professora Dilze? — Hiro levantou as sobrancelhas, impressionado. — Eles são mesmo uma delícia! Sabia que ela abriu uma lojinha pra vender eles?

    — Onde? — disse Angélica, como se estivesse em transe.

    — Ah, a loja fica…

    — Onde?! Onde eu consigo mais disso?! Você, súcubo, me dê os outros que tem aí! Vou precisar de todos! Estou confiscando esses brigadeiros!

    — Ah, droga… — Clara entregou.

    Angélica jogou todos na boca. 

    As forças sumiram e ela até caiu sentada no chão. Ela levou as mãos às bochechas coradas.

    — Quem produz essa delícia? Nunca na minha vida eu provei algo assim! Só pode ser enfeitiçado! Que tipo de magia tem nesse chocolate?!

    — Bom… acho que é só cacau, leite condensado e… — refletiu Renato.

    — Sangue de virgem sacrificado! E ossos de um dragão recém nascido! Com certeza isso foi feito em algum ritual macabro! Tem magia em cada pedacinho de chocolate! — retrucou Angélica.

    — Não acho que seja isso… — ponderou Renato.

    — Depois me passe os detalhes sobre essa mestra confeiteira! Agora precisamos partir!

    — Eu vou com vocês!

    — Mical?! — Jéssica se surpreendeu com a atitude de sua irmã.

    — Sim! Eu vou, Jés! Da última vez que o Renato desceu, eu fui covarde demais pra ir com ele! Fiquei com medo. Mas agora eu não tenho mais medo.

    Jéssica sorriu, resignada. 

    — Se você vai, então eu também vou.

    Angélica caiu na gargalhada.

    — E quem convidou vocês?

    — O quê? — disse Mical, indignada. — Se o Renato vai, é claro que nós vamos também!

    Angélica balançou a cabeça, negando aquilo.

    Então concentrou-se em seus próprios dedos, que estavam melados de chocolate. Encarou-os por alguns segundos, e lambeu.

    — Se vocês descerem, sabe o que vai acontecer? Eu sinto o fedor de anjo de longe impregnado em suas carnes! O que acha que os demônios vão fazer quando sentirem o mesmo?

    — Pois então eu vou! — Irina bateu o pé no chão.

    — Você eu não levo porque não quero! Não suporto gente chata! E, se quer saber, você é uma grandíssima chata!

    — O quê? — Dessa vez foi na testa de Irina que surgiu uma veia pulsando. — Eu e meu irmão nunca mais ficaremos longe um do outro!

    Angélica deu de ombros.

    — Pois vão ficar longe agora mesmo.

    — Que maldade!

    — Qual parte de “filha de Lúcifer” você não entendeu? Eu sou malvada mesmo!

    — Filha de quem? Você não explicou nada disso!

    —  Tenho certeza que expliquei sim! Humpf!

    — Humpf também!

    — Ei, calma… — Renato tentou apaziguar a situação. — Acho que a gente consegue resolver a situação se conversar…

    — Não tem nada pra resolver! — retrucou Angélica. — Já está resolvido!

    — Tem certeza? — perguntou Irina. — Eu sei fazer aqueles brigadeiros, sabe?

    O rosto de Angélica se iluminou.

    — Sabe mesmo?! — Ela se aproximou da menina, e dava pulinhos de alegria. — Então você pode fazer mais?

    — Mas é claro. 

    — Então o que estamos esperando? Vamos logo para o Inferno! — Angélica apontou para o horizonte, abriu asas asas e voou até a janela. Tinha um olhar alegre e doce. Estranhamente infantil.

    Renato se aproximou de sua irmã.

    — Você sempre foi péssima na cozinha — cochichou. — Vai me dizer que aprendeu a fazer brigadeiro?

    — Péssima não. Apenas… pouco dedicada.

    — E o que pretende fazer?

    — Ah, eu pesquiso a receita na internet. Não deve ser difícil.

    — Irina… uma vez você quase causou um incêndio tentando fazer miojo.

    — Mas consegui apagar a tempo.

    — Na vez que tentou fazer bolo, você confundiu açúcar com sal. E fez o bolo de chocolate mais salgado de todos os tempos.

    — A culpa é de quem não organizou aqueles potinhos direito. Qualquer um se confundiria.

    Clara, que estava perto, ouviu a conversa.

    Suspirou e riu.

    — Ai, ai… o que será que a Angélica vai fazer quando descobrir que foi enganada por uma filhote de australopithecus afarensis?

    — Austra o quê? Tá me chamando de macaca, sua… sua peituda e sedutora e…


    O vento frio na cara, as estrelas mais próximas do que nunca. A lua acompanhando o trajeto. As nuvens abraçando-os, envolvendo-os feito neblina úmida.

    Angélica balançava aquelas asas brancas.

    Enrolados em seus tentáculos de sombra, levava, puxando, Renato e Clara, Irina e Lírica.

    A demi-humana tinha insistido em ir junto e Angélica resolveu levá-la, já que ela era naturalmente alguém do Inferno.

    E, finalmente, depois de vários minutos de voo, Angélica detectou o portal.

    Ela meteu a mão em seu peito e puxou uma bola de energia que vibrava na mesma frequência que seu DNA.

    Aquela era sua chave.

    Ela atirou a bola de energia em direção ao portal que, em seguida, se tornou pura sombra que engoliu o espaço em volta.

    O cheiro de enxofre se espalhou pelo ar.

    No entanto, antes que pudessem atravessar, ouviram um som peculiar.

    Angélica se arrepiou e, por instinto, parou de se mover, estacando no ar. Olhou em volta, procurando a origem daquele som.

    Era grave, baixo o suficiente para ser quase imperceptível, mas se prestasse atenção e ouvisse com cuidado, o perceberia.

    Uma única nota tocada sem pausas ou variações.

    Foi quando viram aquela estrutura redonda, brilhante como o ouro, escondida entre as nuvens. Tinha grandes rodas, ou círculos dourados, girando em volta. E nos círculos, o fogo cintilava incandescente, e no meio fogo, havia olhos que olhavam para todas as direções. Reluzente, era como se o próprio sol tivesse descido à Terra.

    — Ophanim — disse Clara, com um arrepio. — Por que estaria aqui? Não faz sentido. Justo aqui?!

    — Talvez soubessem que eu viria — respondeu Angélica. — Vamos logo antes que nos detectem.

    E mergulharam no portal negro rumo ao Inferno.

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