Índice de Capítulo

    — Se esse é o caso — disse Tâmara, depois de ouvir a história de Mical —, então não temos tempo a perder!

    — É… — A voz de Mical quase não saiu, entalada na garganta. A respiração dela estava fora de controle, e não havia centímetro quadrado de pele que não ardia feito queimadura.

    — Vamos precisar de poder de fogo! Muito poder de fogo! Vem comigo! 

    Tâmara abraçou Mical e a segurou firme, e ativou os propulsores a jato de suas botas, e as duas saíram voando.

    Sobrevoaram alguns prédios baixos e construções decadentes, até um terreno vazio, todo murado, que ficava nas proximidades.

    Quanto mais distantes ficavam do predinho de Clara, mais intensa se tornava sua dor. Mas Mical não reclamava. Às vezes, deixava um gemido baixo escapar pelos lábios. E, quando algum de seus órgãos explodia, ou algum osso se estilhaçava, ela apenas se curava 

    Estava suando tanto que começou a escorregar do abraço de Tâmara, e a garota dos olhos âmbares precisou dar um jeito de reposicioná-la, jogando-a levemente para o alto e segurando ainda mais firme.

    Quando pousaram, e Mical viu aquilo, mal pôde acreditar em seus olhos.

    — Isso é.. isso…

    — Você tá mesmo bem Mical? Parece meio pálida. Aposto que se eu tentasse te matar agora, você nem conseguiria reagir.

    — Eu tô bem — mentiu.

    — Seus olhos estão sangrando.

    — Ah, isso… — Ela limpou com a mão —, não é nada.

    — Seus ouvidos e nariz também. Vai conseguir lutar assim? O que foi? Veneno? Foi envenenada?

    — Não. — Mical fez sua luz verde cintilar em sua mão, para se curar e cessar o sangramento.

    — Se não quiser contar, não conta! — retrucou Tâmara. — Eu não tô nem aí! 

    Mical finalmente olhou para aquela imponente estrutura metálica, tentando mudar de assunto.

    — Como conseguiu um desses?.

    — Ah, eu mesma montei. É incrível o que dá pra fazer com muito dinheiro e conhecimento ilimitado sobre armas. Construí especificamente para enfrentar vocês. — Tâmara abriu um sorriso. — Um tiro dessa coisa e nem aquela súcubo vai sobreviver!

    — Entendi.

    — Vamos! Não temos tempo a perder! E tente não morrer no meu tanque!

    — Vou tentar.

    — Você tá mesmo esquisita.

    As duas entraram naquele tanque de guerra.


    Quando Renato finalmente atravessou a barreira, e olhou em volta, viu que estava cercado pelo Exército dos Rejeitados pela Sepultura.

    Os Putrefatos estavam por toda a parte, voando com suas asas decadentes de pele ressequida e ossos; o cheiro de carne podre beirava o insuportável.

    Mas eles não o viam.

    Renato estava completamente invisível.

    Então ele caminhou em direção ao prédio.

    Mas a atmosfera mudou. Ficou mais pesada. E o cheiro de comida azeda se misturou à podridão do ar.

    E Peste apareceu e olhou diretamente para o garoto.

    Os olhares se encontraram.

    — Renato — disse, com a voz rouca e fraca, deixando à mostra aqueles dentes podres. — Veio se juntar a mim?

    Em sua sombra, ratos se aninhavam, e moscas rodeavam seu corpo como se ele fosse um saboroso pedaço de lixo.

    Sua pele estava amarelada tal qual seus olhos, e sua postura era meio curvada.

    Usava um elegante terno branco, com sapatos cinzentos.

    Nas costas, trazia um arco, preso ao ombro pelo cordão.

    — Talvez… — respondeu o garoto.

    — Não. Está mentindo. Você veio atrás de… doenças.

    O cavaleiro pegou o arco de suas costas.

    Ele flexionou o cordão usando dois dedos, e magicamente, uma flecha brilhante surgiu.

    — Que tal varíola?

    Ele disparou a flecha.

    O garoto correu em direção a Peste, para alcançá-lo, e rapidamente fez sua Espada do Pecado aparecer em sua mão, e com a lâmina negra, ele rebateu a flecha, evitando ser atingido.

    Mal deu tempo de recuperar a postura, e a segunda flecha já estava quase o atingindo. O garoto girou o corpo para o lado, desviando dela.

    Mas a terceira seta já estava perto demais, e ela lhe perfurou o ombro.

    O garoto perdeu o equilíbrio com o impacto e caiu no chão. Levar um tiro teria sido menos dolorido!

    Um calafrio percorreu seu corpo, e a testa ardeu em febre.

    Dores pipocaram por todo o corpo, e bolhas cheias de pus erupcionaram instantaneamente.

    Renato cerrou os dentes e se forçou a levantar.

    Mas uma segunda flecha o atingiu bem no peito.

    — Peste negra. — O cavaleiro sorriu, mostrando os dentes podres e a gengiva com sangue e pus.

    Bolhas do tamanho de bolas de gude, e de cor enegrecida, brotaram na pele de Renato, e ele tossiu forte, enquanto o ar sumia do peito.

    Renato juntou forças e continuou caminhando em direção ao Cavaleiro do Apocalipse, enquanto segurava firmemente a espada na mão.

    — Eu vou… matar você!

    — Como vai ter forças… com câncer?

    Peste preparou outra flecha.


    — O que acha que está acontecendo lá dentro? — perguntou Belfegor, apreensivo.

    Abigor deu de ombros.

    — Não sei.

    — Acha que ele consegue derrubar a barreira?

    — Ele precisa acertar Peste e fazê-lo gastar energia. Talvez consiga. Talvez ele morra antes de conseguir. Faça suas apostas!

    — Não suporto esse seu tom irônico!

    — Você também fala assim, às vezes.

    Mas Belfegor mal ouviu as palavras do outro demônio. Algo distante lhe chamou a atenção.

    — Aquilo é…?

    — Oh! — Abigor abriu um sorriso. — Um tanque de guerra! Interessante!

    O veículo blindado se aproximava pela rua, como um monstro feito de 60 toneladas de aço.

    Na parte de cima, tinha duas metralhadoras acopladas, atrás de uma pequena barricada de aço, que era onde Tâmara estava posicionada. Ela puxou uma pistola e atirou para o alto.

    — Uhuuu! — gritou, eufórica. — Vamos caçar um cavaleiro do Apocalipse! — E ela disparou mais vezes para o alto.

    Abigor não pôde evitar de sorrir.

    — Essa é minha garota!

    — Então aquela é a maluquinha pra quem você passou o Estigma da Guerra?

    — Sim. — Abigor parecia até um pouco orgulhoso.

    — Ela trouxe um tanque de guerra!

    — Sim.

    — Você é o demônio da guerra. Por que não trouxe um também?

    — Ah, bom…

    — Não pensou nisso, não é?

    — Não.

    — Tá ficando velho, Abigor!

    — Também acho.


    Quando a flecha do câncer foi atingir Renato, ele usou o aço da espada para rebatê-la, girando o corpo para ganhar impulso, e sem perder tempo, lançou sua bola de fogo negro, que se desprendeu da palma da mão e cortou o ar em direção ao Cavaleiro.

    Peste segurou a bola de fogo com a mão.

    Ele sorriu.

    — Isso não me fere, garoto. É fraco demais.

    As palavras dele eram verdade até certo ponto. O fogo negro queimava a palma de sua mão, e ardia como as chamas eternas do Gehenna, mas um Cavaleiro do Apocalipse não daria o braço a torcer.

    Ele esmagou a bola de fogo entre os dedos.

    E quando as chamas se extinguiram, ele viu de relance o brilho de uma lâmina negra.

    A Espada do Ódio veio girando no ar. Renato a tinha lançado à distância.

    E a lâmina negra atingiu a testa do cavaleiro.

    E um fio de sangue brilhou à luz do sol.

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