Capítulo 2 — Coletando Musgo

Tão rápido quanto começara, a jornada da [Pedra Rolante] chegou ao fim.  

O seixo… tinha ficado preso.  

Uma reviravolta cruel do destino, mas também um tanto inevitável. Todos os heróis precisam de grandes provações para superar, como o grande titã que foi condenado a empurrar eternamente uma rocha montanha acima.  

No entanto, aí estava o problema. Nosso seixo não tinha impulso próprio.  

Enquanto descia voando daquele grande pico, arremessado pelo choque de titãs, ele estivera extasiado. Que velocidade! Que progresso! Podia ver o contador da missão diminuir e a estatística de velocidade aumentar. Os números só cresciam!  

Mais e mais rápido ele rolara, ganhando velocidade e impulso, descendo a montanha.  

Até avistar um alvo.  

Um animal estranho, com duas orelhas longas que se mexiam felizes enquanto observava o entorno. Então, o seixo lembrou-se de duas coisas:  

1. Ele podia ficar maior acertando coisas na cabeça com força.  

2. E ele podia [Direcionar].  

Naquele momento, sua [Velocidade] era realmente grande, então o seixo começou a usar sua nova habilidade, ajustando sutilmente seu vetor de [Aceleração], gradualmente mudando de curso em direção à criatura peluda. A criatura apenas ficou parada, um desafio solitário para a pedra, postada perto de um penhasco imponente. O seixo viu sua falta de movimento e julgou o inimigo inferior.  

Foi aí que ele errou. Pois um seixo tem consciência bastante limitada — ele não conhecia coisas como cheiro, gosto ou… bem, som. Ele se aproximou do alvo, quicou em uma pedra e—  

Uma orelha se moveu. Um coelho pulou — e desviou.  

E uma pedra bateu forte contra a rocha, ficando presa entre dois pedregulhos, um grande abismo abaixo. Mas ela não estava mais caindo. Não estava mais se movendo.  

Preso.  

A agora definitivamente-não-[Pedra Rolante] começou a juntar musgo.  

Uma sensação familiar, na verdade. Ele passara a maior parte da eternidade fazendo isso, então era, de certa forma, um retorno à normalidade. Aposentadoria após uma grande carreira de aventuras. Ele fora onde poucas pedras haviam ido antes, águas desconhecidas, e conseguira alcançar o nível 1. Nada para se envergonhar.  

Orgulhoso, o seixo olhou para a loucura da juventude e recostou-se para desfrutar sua aposentadoria.  

E as estações mudaram.  

Primeiro vieram os ventos frios do outono. Grandes rajadas sopraram, mas nenhuma folha outonal subiu até ali. O topo da montanha era um lugar árido e seco. Muito distante da folhagem brilhante lá embaixo. Um deserto nas alturas, sem miragens ou oásis oferecendo esperança a viajantes perdidos. Mas a pedra não precisava de esperança, não sentia sede de água.  

Era uma pedra. Calmamente, desfrutou a brisa fresca contra seu exterior rochoso, como um homem desfrutaria uma lareira aconchegante.  

Depois veio a neve do inverno, e a pedra foi enterrada, congelada. Já sentira aquela sensação antes, e embora o gelo a tivesse esfriado até o núcleo, ela não desesperou. Era uma pedra. Um pouco de frio não significava nada.  

Mas — como todo aventureiro aposentado sabe — eventualmente o chamado da aventura retorna.  

A neve começou a derreter.  

Lentamente — ah, tão lentamente — as coisas começaram a se mover. A mudar.  

Primeiro, a geada compactada virou lama, apenas uma fina camada de gelo selando o seixo em sua tumba. Então a água começou a descer a montanha em grandes torrentes, e as terras baixas se desesperaram com as enchentes. Mas o seixo… ele sentiu uma oportunidade.  

Acordou de sua aposentadoria. Desceu ao porão, pegou a velha espada de família e começou a afiá-la.  

Pois o cheiro de guerra estava no ar.  

Ele estava pronto, esperando para avançar quando finalmente aconteceu. Amolecido pela chuva torrencial, o solo que sustentava os grandes pedregulhos — e mantinha o seixo no lugar — cedeu.  

Apenas um pouco. Mas o suficiente. A pedra começou a se mover gradualmente para frente. Então caiu, finalmente livre de suas amarras. Para baixo, para baixo, no abismo, sua grande jornada recomeçou.  

Tinha vingança em mente. A espada estava afiada.  

Pois… um certo coelho desfrutava das frutas frescas da primavera logo abaixo. Um golpe de sorte? Tais coisas eram padrões. Um inimigo não derrotado sempre retorna com uma estaca mais afiada. E o seixo observara, atentamente.  

O seixo usou [Direcionar], e seu vetor de [Aceleração] para baixo começou a mudar para o lado, com uma precisão nascida de paciência infinita e um toque no volante que não tremeria, não importasse a circunstância.  

E não houve som. Apenas uma queda silenciosa pelo ar.  

Até que houve.  

BAQUE!

Um coelho com o crânio partido ao meio caiu no chão, sobre as frutas frescas da primavera, que também foram esmagadas pelo adversário paciente.  

E mais uma vez, o seixo começou a rolar. O musgo foi sacudido, e as dores de um longo descanso foram trabalhadas. E ele começou a caçar.  

Pois… um caçador paciente também pode ser bastante vingativo. A pedra passara duas longas estações no penhasco, observando os acontecimentos no abismo. E vira o romance invernal do coelho e a ninhada que ele gerara.  

O coelho atirara a primeira pedra. Mas apenas aquela primeira pedra importava, pois ela podia facilmente mudar [Momento] e começar a rolar de volta, na direção oposta.  

Com a inevitabilidade de um rochedo em queda, o seixo começou a [Direcionar] para um lugar que conhecia muito bem.  

Rolou sobre rochas expostas e grama recém-florescida, sobre terra e filetes de água, em direção a uma pequena toca na encosta. Em direção aos coelhinhos brincando no ar primaveril.  

Uma orelha se moveu, e um olho jovem e curioso virou-se para o vingador que se aproximava. Com a arrogância da juventude, um coelho pulou para o lado, desviando facilmente.  

Ou assim pensou. Mas este seixo… Ele não esquecia. Ele observara.  

Estava se movendo rápido, acelerando enquanto descia a montanha, e com um pequeno e bem calculado [Direcionar], exatamente no momento perfeito…  

O seixo acertou um crânio, no ar.  

Então ricocheteou e [Direcionou] para o próximo, que não suspeitava que uma mera pedra pudesse se mover sozinha.  

Outro crânio rachou.  

Em uma fuga desesperada, os coelhinhos desceram a montanha, instintivamente fugindo junto com a gravidade como impulso. Uma mãe preocupada juntou-se a eles.  

Mas uma pedra rolou. Não vacilou na perseguição. E eles corriam ladeira abaixo. Mais [Direcionar] calmo.  

Respinga. Respinga. Respinga.

Três coelhos caíram, crânios esmagados por uma pedra vingativa. Tentativas vãs de fuga, todas em vão.  

O seixo deleitou-se com a sensação de crescimento, o doce néctar dos números subindo. Isso era bom. Isso era certo.  

Coberto de sangue e grudado de pelos, o seixo continuou rolando para baixo—até chegar novamente a uma área de desaceleração. Um platô, e seu momento…  

Acabou logo antes de alcançar a borda do próximo penhasco.  

Nosso herói teria ficado preso novamente?  

Não, pois o cheiro de guerra ainda estava pesado no ar. Mais pesado aqui do que em qualquer lugar.  

Pois este não era um penhasco qualquer. Pequenas figuras verdes estavam posicionadas em ambos os lados do precipício, olhos vermelhos brilhando, armas apontadas umas para as outras. Um local de batalha iminente.  

E o estalo de uma pedra caindo de cima serviu como o tiro de partida. Gritos de guerra ecoaram ao redor da rocha, projéteis começaram a voar, e as figuras verdes avançaram umas contra as outras, a fúria nublando suas mentes.  

Isso também era um local de vingança.  

Duas linhas de combatentes colidiram, com um seixo bem no meio. Braços foram decepados e figuras caíram em gritos de dor, poças de sangue se expandindo pelo topo do penhasco.  

Por um breve momento, o seixo esperou que a maré de sangue o carregasse para frente, reiniciando sua jornada montanha abaixo. Mas, infelizmente — como é o destino dos heróis…  

Embora nem sempre dispostos — a guerra tende a encontrá-los.  

Uma figura verde caiu ao lado da pedra, segurando um braço com uma flecha cravada. Rosnados de dor, mas uma determinação implacável nascida de um ódio antigo. Ela viu uma pedra do tamanho perfeito, pegou-a. E arremessou.  

A [Pedra Rolante] moveu-se mais uma vez.  

E [Direcionou].  

Direto para o fogo da guerra.