Epílogo 1 — ?

Primeiro, voltamos no tempo, até o dia em que o mundo acabou. Aquele dia foi um dia agitado no escritório de Isekai.  

E só ficaria mais agitado.  

Solara, a deusa menor dos heróis, estava em seu turno há apenas duas horas e já desejava uma segunda xícara de ambrosia divina, também conhecida como café. Ela olhou para o jovem de olhos brilhantes sentado à frente de sua mesa e sentiu seu pulso acelerar.  

“Com licença, pode repetir?” Ela perguntou, encarando o garoto com calma.  

“Bem — é só que… Você não pode me dar uma habilidade de trapaça super legal para minha nova vida? Segundo este contrato seu, eu devo derrotar três lordes demônios, e acho que é um pedido bem irracional, já que não vou receber nenhum bônus adicional para me ajudar!”  

Solara suspirou profundamente, fechou os olhos e contou até dez. Depois, abriu-os e pegou cuidadosamente um papel na gaveta embaixo da mesa.  

“Certo — Jerome — deixe-me lembrá-lo das suas circunstâncias um pouco,” ela disse, encarando o jovem de 18 anos que acabara de chegar, enquanto lia o papel.  

“Jerome Smith, 18 anos, nenhuma conquista notável na vida.”  

“Bem, eu era bem jovem, sabe, não tive tempo!”  

“Não me interrompa — já estou chegando lá.” Solara canalizou um pouco de energia divina em seu olhar, e o garoto arrogante finalmente se encolheu um pouco. Ela continuou lendo o papel, com uma voz gélida. “Causa da morte: tentou ler todos os 2000 capítulos da webnovel ‘Afaste-se, Belezas de Jade, Este Lorde Só Deseja Desafiar os Céus’ de uma só vez. Morreu de desnutrição, desidratação e exaustão.”  

Ela olhou por cima do papel para o jovem que agora estava em silêncio. “O que exatamente aqui dá motivo para te conceder bônus? Eles não são dados de graça, sabia.”  

O garoto hesitante levantou um dedo. “Bem — eu posso —”  

De repente. Solara sentiu um alarme em seus sentidos, como se algo estivesse muito errado. Ela se levantou e silenciou o garoto com um gesto. “Por favor, espere um minuto, parece que algo aconteceu e preciso resolver um problema.”  

Sem hesitar mais, ela deixou o garoto ali, ativou seu [Teletransporte Divino Grandioso Que Vai a Uma Distância Realmente Grande], mirando no Planeta Terra no reino de Munira.  

Um portal se abriu, e ela atravessou o universo.  

—  

E chegou em um inferno.  

Ela olhou para a paisagem ardente e esmagada abaixo dela — o que antes era o Planeta Terra. Sua dor de cabeça aumentou.  

“Não, não, não… Isso não pode estar acontecendo. Eu estava aqui apenas dois dias atrás, e agora o planeta inteiro foi destruído!”  

Ela estendeu seus sentidos, procurando por qualquer ser vivo que pudesse dar uma explicação, e não encontrou nenhum.  

Até que seus sentidos chegaram ao centro do planeta, onde finalmente encontrou uma resposta. Algo estava lá. Algo poderoso, grande, e que parecia se estender por toda a paisagem infernal. Estava ali, silencioso e lento, expandindo-se e assimilando a casca do planeta ao seu redor.  

“Um novo [Planeta]?” Ela olhou curiosamente para o chão, imaginando o que havia acontecido ali.  

Ela estendeu seu sentido divino mais fundo e formou uma conexão mental com o ser.  

“Olá, com licença, pode explicar o que aconteceu aqui?”  

Solara pôde sentir o ser ouvindo-a, mas ele não respondeu. A única resposta que recebeu foi silêncio.  

“Ei, você está no comando aqui, certo?”  

Novamente, nenhuma resposta. Solara realmente começou a desejar ter seu café agora.  

“Olha, sei que você pode ser novo nisso, mas as coisas precisam ser organizadas! Um [Herói] está programado para ser enviado para cá, sabia, e preciso de pelo menos três lordes demônios para ele enfrentar! Você não pode simplesmente… deixar assim!”  

Ela gesticulou para a paisagem infernal e destruída ao seu redor, um mundo muito além até mesmo dos piores planos de um [Lorde Demônio].  

Mas não obteve resposta.  

Ela olhou furiosa para o chão, então chutou a lava derretida e a terra revolvida onde estava, praguejando. “Tudo bem então. Vou deixar você aqui mesmo, tenho certeza que posso arranjar um campo de aceleração temporal ou algo do tipo. É melhor você ter alguns lordes demônios aqui em algumas centenas de milhares de anos!”  

Solara balançou a cabeça diante da falta de resposta, então começou a recanalizar seu feitiço de teletransporte, já temendo as reuniões e a papelada que teria que enfrentar para explicar isso.  

Logo quando estava prestes a terminar o feitiço, lembrou-se de um detalhe irritante e olhou para baixo mais uma vez.  

“Ei, posso pelo menos saber seu nome? Preciso para a papelada. Não podemos ter um [Planeta] sem nome, podemos? Se me ignorar, eu escolho um. E não serei gentil.”  

Finalmente, ela sentiu algum tipo de resposta. Não eram palavras exatamente, mas conseguiu entender o significado. Suas sobrancelhas se franziram. “O que quer dizer com ‘não tenho nome’? Você tem que ter algo para eu te chamar!”  

Novamente, recebeu uma resposta, e sua dor de cabeça piorou. Ela terminou o feitiço de teletransporte e reapareceu em seu escritório, bem em sua mesa.  

Pelo menos o garoto irritante havia sumido, provavelmente foi ver outros balcões. Solara desabou sobre a mesa, tentando pensar em como contornar isso.  

“Hum, com licença, senhora, me disseram para vir aqui e—”  

Solara levantou a cabeça e viu que uma garotinha tímida havia chegado à sua mesa, olhando em volta nervosamente.  

A deusa imediatamente se recompôs em uma vaga aparência de profissionalismo divino e acenou para ela. “Certo, mais uma nova chegada então. Nome?”  

“Rihito.”  

“Tudo bem, me dê um segundo que vou ver seu arquivo—” Solara disse, abrindo um armário e retirando um papel [Criado] na hora. Ela começou a ler. “Hmm, [Bardo Iniciante], bom para sua idade, causa da morte: recebeu quanto dano?!”  

Ela gritou a última parte, olhando entre o papel e a garota, que havia congelado no lugar. Então, olhou para as conquistas listadas. Imediatamente endireitou as costas e colocou seu melhor sorriso de atendimento. “Ah, desculpe, não sabia que você era uma das beneficiárias do Pacote Premium de Reencarnação, peço desculpas por qualquer grosseria.”  

A garota só ficou mais nervosa, encolhendo-se. “Reencarnação… Então é real? Os outros estavam falando… eu tenho que fazer isso? Lutar e tudo mais?”  

Solara usou um pouco de sua essência divina para lançar [Presença Calmante], e o medo da garota diminuiu. “Não se preocupe, os terráqueos costumam ficar assim. Eles não entendem como as pessoas do seu mundo.” Solara disse, com uma voz calma e reconfortante, como um cobertor perto de uma lareira. “Com os bônus que você tem direito… terá muitas escolhas. Não será forçada a nada.”  

A garota deu um sorriso nervoso. “Ah, que bom. Eu só quero tocar mais música, na verdade. Acho que descobri algo logo antes de… bem, você sabe.”  

Solara pensou por um momento, então apontou para o lado. “Por que não vai direto para o balcão de Isekai Aconchegante e vê as opções lá? Acho que encontrará algo bem adequado.”  

A jovem bardo fez uma reverência. “Obrigada, senhora, de verdade.”  

Solara acenou. “Boa sorte.”  

Rihito se levantou, começando a sair, então hesitou por um momento. Ela virou a cabeça para trás. “A propósito, senhora Deusa… você está bem? Parece preocupada.”  

Solara ativou seus [Olhos Divinos Que Veem Quase, Mas Não Tudo] e se olhou. Seus olhos estavam mortos, como os de um peixe fora d’água.  

A deusa menor desabou sobre a mesa, suspirando longamente.  

“Bem, é só um problema de nome, para um novo planeta.” Ela olhou para a garota, pensativa. Bardos eram bons com nomes e sons, certo?  

“Garota, você tem alguma ideia de como devo pronunciar 🗿?”