— O quê?

    — Como assim?

    — Não é possível.

    — Esse merda é o Operador? — o encrenqueiro gritava, pouco após de ter ameaçado Ryo.

    Numa atmosfera atordoada, julgamentos perambulavam por aquela grande classe. Todos, sem exceção, estavam embasbacados e surpresos com quem estavam vendo. O sujeito era inacreditavelmente magro, o terno regulamentado para todos os Operadores da C.E.R estava folgado e desajustado. Sua face era estranhamente comum, não era muito atraente, mas parecia ter pouca idade. Usava um óculos de garrafa que refletia sua fisionomia e postura. Carregava um crachá de identificação profissional.

    Membro da VI Divisão – C.E.R.
    Nakamura Haruki. Operador.

    — Bom dia, classe! — dizia, sua elocução soava um pouco mais confiante do que seu comportamento.

    Andava metodicamente à frente da sala, ficando em frente aos alunos e, consequentemente, percebendo seus olhares negativos, demonstrando suas considerações ruins. Isso não o abalava. Pelo contrário, dava-lhe gás.

    — Imagino que saibam o porquê de eu estar aqui. Certo?

    A sala se mantinha em silêncio.

    — Tudo bem. Então, irei me apresentar. Pode me passar aquele piloto, professora?

    A professora tirara o objeto do estojo e entregava-lhe. O sujeito agradecia, e começara a escrever seu nome no quadro.

    — Me chamo Haruki Nakamura — dizia, enquanto terminava de escrever seu nome.

    Aquele encrenqueiro o fitava de cima a baixo, seu complexo de inferioridade apitava e o enchia de vontade em confrontar aquele cara. Ele pode até ser um Operador, mas é um magricelo de merda, mato ele com um tapa, pensava.

    Nakamura encarava de volta.

    — Certo, ficaria satisfeito em ouvir o nome de vocês, quer dizer seu nome primeiro, jovem? — perguntava.

    Sua eloquência irritava o arruaceiro.

    — Tá querendo me dizer o que fazer? Você não manda em merda nenhuma.

    A sala se surpreendia.

    Ryo virava-se para Kaen.

    — Aquele elefante é abusado, hein?

    Kaen assentia rapidamente, tentando manter o foco na situação.

    — Daizo! — gritava a professora.

    Nakamura sorria levemente.

    — Entendo. Daizo. E o sobrenome? — dizia, virando-se para a professora.

    — Onizuka, sr. Nakamura.

    Daizo passara a ficar ainda mais estressado, não assumia que aquele franzino moço pudesse estar hierarquicamente acima dele. Em contraponto, Nakamura o olhava, intrigado, carregando um leve sorriso.

    — Daizo Onizuka, pode vir até aqui?

    Onizuka ficara incrédulo. Aquele indivíduo o pedia favores.

    — E se eu não quiser?

    — Ora, perderá a oportunidade de testar sua força em um Operador. Você quer isso?

    Daizo se enfurecia. Ele o estava desafiando. Mas, gostava da ideia. Espancá-lo sem nenhuma consequência, além da popularidade e moral que poderia ganhar ao bater em um Operador. Era perfeito. Se levantara de forma rápida e potente, fazendo a carteira se arrastar e emitir um estridente som, feito um garfo ao ser esfregado numa panela de alumínio.

    — O que é isso, Sr. Nakamura? — perguntava a professora, preocupada.

    — Não se preocupe.

    Kaen olhava empolgado para Ryo.

    — O ensino médio é sempre assim?

    — Espero que sim — respondia.

    Daizo erguia-se enraivecidamente frente à Nakamura. A diferença entre suas alturas se mostrava mais evidente, principalmente pela sombra formada da cabeça aos pés pertencentes ao jovem professor. Ainda assim, mesmo com um sujeito duas vezes mais pesado e alto à sua frente, não se mostrara amedrontado. Longe disso, seu sorriso se alargava.

    — Certo, faça o que bem entender — dizia Nakamura, ao tirar seus frágeis óculos e os posicionar na mesa onde a professora sentara.

    — Com prazer, cuzão.

    Daizo se lançava em Nakamura, tentando levá-lo ao chão. Seus braços robustos firmavam-se ao tronco do Operador, apertando-o. Em seguida, impulsionara seus calcanhares pelo chão, inclinando seu corpo, causando uma explosão de pressão sobre o professor.

    Nakamura mantinha-se imóvel, com os dois braços abertos, justamente para demonstrar sua facilidade em suportar aquele agarrão.

    Daizo saltava para trás, amedrontado. Como não derrubei ele? se perguntava.

    Sem pensar demais, lançava um cruzado forte no queixo de Nakamura, completando a sequência com um direto no estômago do professor. Ele continuava em pé, com seu previsto sorriso. Seu olhar fazia Daizo sentir-se doutrinado, como se o homem à sua frente estivesse dando-lhe uma lição, sem ao menos se mexer.

    Os alunos não acreditavam no que acontecia. A grande maioria da classe se mantinha com o queixo caído. Exceto Kaen e Ryo.

    — Gordo fraco! — gritava Ryo, ao fundo da sala.
    Kaen caía na risada.

    Daizo se desesperava e chutara a panturrilha de Nakamura. Nada. Agarrara seus cabelos e o cabeceava. Não causava efeito. Estava ofegante e transpirando, havia feito mais esforço do que seu corpo aguentara. O professor pousava levemente a sua mão no ombro esquerdo do seu aluno, o via exausto. Na sequência, apertou-o.

    Daizo gritara. Uma dor excruciante surgia em seu ombro e viajava por todo o seu corpo. Por consequência, suas pernas não aguentaram a pressão e desabaram, bambas. Se ajoelhava e olhara seu professor por baixo, via seu sorriso sarcástico, mas, dessa vez, não se irritara. Sentira medo, pavor, vergonha. Apenas queria mover-se dali e ficar o mais longe possível daquele monstro, porventura não o enxergava mais como um humano, mas sim, como um perigo iminente.

    — Estão vendo? — perguntava Nakamura, olhando para toda a classe.

    — Sim! — respondiam.

    — Esse é o poder de um Operador. Primeira lição de hoje: nunca desafie um, em hipótese alguma. Entendido?

    Todos afirmavam, respondendo a pergunta com gosto.

    — Vai sentar, Daizo. Pode ficar tranquilo, só pressionei seu VB21, por isso a dor, mas, não quebrei nada.

    Onizuka levantara-se, trêmulo. Fora sentar, cabisbaixo.

    — Então. — anunciava enquanto batia uma palma, falava num tom um pouco mais alto. — Está na hora de fazer o que vim fazer. Provavelmente estou encrencado por passar tempo demais aqui? Sim, mas não quero resumir nada do que será dito. Prestem atenção. Especialmente, quem tem o interesse de trabalhar na C.E.R. Vou explicar o que vocês podem saber por enquanto.

    Kaen levantara a mão.

    — Como assim “o que podemos saber por enquanto”?

    — Ora, um rótulo nutricional te dá informações sobre o alimento, mas, de que forma você saberá o gosto dele?

    — Provando.

    — Exatamente.

    Ryo franzia o cenho.

    — Mas por que não podemos saber mais?

    — Quer que eu seja sincero?

    — Claro.

    — Vocês se borrariam inteiros. E acho que não estão usando fralda.

    Os olhos de Kaen e Ryo brilhavam. Se sentiam desafiados, diferente dos alunos em volta deles, que estavam quietos e assustados.

    Nakamura pegava um assento desocupado à sua frente e se sentava.

    — Certo. A C.E.R é dividida em seis Divisões. VI, V, IV, III, II e Elite. Quem tiver interesse em entrar, passará por um teste. Quando despertar, dependendo do nível, entrará em determinada divisão.

    — Despertar? — perguntava um aluno.

    — Sim, vocês saberão quando despertarem. Isso fará vocês serem fortes, seu corpo será extraído até o limite, até ele se superar.

    — Então, quer dizer que quanto mais forte for meu despertar, maior será minha Divisão? — perguntava Kaen.

    — Exatamente.

    — Como vocês sabem quem é mais forte?

    — Você saberá mais sobre isso, quando entrar. Mais uma coisa, cada divisão se concentra em determinados indivíduos, creio que a maioria já sabe, mas, os chamamos de Devastadores.

    Autoexplicativo, pensava Ryo.

    — Quem é da VI confrontará Devastadores de níveis mais baixos, os Perigo. Já quem é da Elite, são direcionados para enfrentar os Aniquilador. Isso vale para todas as Divisões.
    Uma aluna levantava a mão.

    — Eu já ouvi falar deles, meu avô dizia que eles pareciam demônios.

    Nakamura sorria.

    — Demônios seria um ótimo elogio. Aniquiladores são os mais fortes de todos, só um Operador de Elite para tentar combater, e olhe lá. Nem sempre dá certo. Muitas vezes é preciso dois ou três Elites para erradicar apenas um.

    — Qual o nível de força deles? — perguntava outro aluno, sentado no fundo, vizinho a Ryo.

    — Olhe, creio que não dá pra explicar. É inimaginável, dizem que um Aniquilador equivale a mil Operadores de níveis diversos. Eu sou da Divisão VI, não duraria nem um segundo contra um deles.

    — O que?

    — Mentira! Você é da divisão mais baixa?

    — O que infernos seria um Aniquilador? — diziam, tumultuados.

    — Eu já lutei contra alguns Devastadores de níveis mais baixos, mas nunca cheguei a enfrentar de fato um maior. Alguém aqui já chegou a ver, ao menos, algum vídeo deles?

    Kaen abaixara a cabeça e apertava os punhos.

    Ryo percebia e apontava.

    — O Kaquinho já viu um na frente dele!

    — Sério? — perguntava, um aluno ao fundo.

    — O que?

    — Como foi? Diz!

    — Ele matou alguém?

    — Ele era muito forte?

    Questionamentos ecoavam pela classe.

    Kaen se lembrava.

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