Track 06. CANDY GIRL

Após chamar a atenção de Megumi, Hitomi foi ao seu encontro. A novata estava ainda mais tensa que antes. A veterana endireitou a postura da candidata, levantou seu queixo, a encarou com firmeza e falou de maneira direta:
— Relaxe sua expressão. Solte os ombros, tire essa tensão.
Quando percebeu que Megumi já estava pronta, acenou para que ela fosse fazer suas fotos. O ensaio era curto: três fotos que decidiriam o destino profissional de cada uma das candidatas.
A candidata respirou fundo e demonstrou confiança diante das câmeras. Transformou-se totalmente, fazendo as melhores poses, que valorizavam tanto ela quanto a própria roupa. Ao terminar o mini ensaio, teve a certeza de que havia dado o seu melhor e se tranquilizou; agora precisaria esperar o resultado com paciência.
Jacques Leclair, o dono da agência, era um homem exigente, alto, de pele escura e cabelos curtos, pretos e encaracolados. Possuía barba bem feita e estava sempre muito bem vestido e alinhado. Acompanhou de perto todos os ensaios de suas modelos. Interessava muito a ele saber quais seriam as escolhidas.
Após as sessões com as candidatas, o dono informou a elas que agora só lhes restava esperar, pois fariam uma análise dos perfis.
Jacques, Hitomi e o fotógrafo Yusuke se reuniram em uma sala reservada. Lá, conferiram as fotos de todas as participantes uma por uma, verificaram seus trabalhos anteriores, conversaram e discutiram durante quase duas horas.
A espera parecia infinita. O nervosismo das candidatas era visível. Algumas começavam a julgar as outras mentalmente, enquanto outras apenas tentavam não pensar em nada. Elas apertavam as mãos, tremiam a perna, desviavam olhares.
— Chegamos a um consenso, então? Sei que esperavam que eu escolhesse dez candidatas, mas serão apenas três.
Hitomi colocou sua palavra final.
Os três saíram da sala com um olhar sério e decidido. A famosa modelo foi a porta-voz das novidades. Colocou-se diante de todas as jovens que ali estavam e apenas citou os nomes para diminuir a expectativa e não gerar mais ansiedade:
— Esther. Yesenia. Megumi. Vocês foram escolhidas para serem treinadas a fim de se tornarem modelos profissionais. Agradecemos a participação de todas. As que não foram chamadas estão dispensadas. E para as que ficaram, um aviso! O nível está abaixo do esperado. É bom que coloquem amor e profissionalismo. O glamour é só para o público; esse é um trabalho que exige todo o emocional de vocês. Trabalhem com seriedade. E, se acharem que estou sendo dura, nem tentem avançar; ou irão escutar coisas muito piores.
Após essa interação, todas foram dispensadas; o treinamento começaria apenas no dia seguinte. Agora era hora de ir para casa relaxar depois daquele dia de tensão.
9 de março
O dia havia começado com uma temperatura agradável, e em um apartamento do bairro nobre da cidade já se sentia o cheiro do café sendo preparado. Uma mulher jovem de cabelos azuis com mechas pretas preparava a mesa para três, com louças de porcelana delicadas e adornadas.
Tudo estava sendo feito em silêncio e discrição. Hitomi observava e se aproximava silenciosamente a mulher, chamada Nami, que usava um vestido feminino em tons pastéis, com bordados florais que pareciam ter sido confeccionados manualmente.
— Bom dia — cumprimentou Hitomi, abraçando carinhosamente a jovem por trás.
— Bom dia, amor! Pronta para ensinar as novas modelos?
— Pronta!? Só se for pra me incomodar! Já sinto o cheiro do estresse. Tenho certeza que o pagamento não vai valer a incomodação. Acredita que eu só gostei de duas, mas me empurraram uma terceira? Essas agências são todas iguais.
Nami começou a rir e levou a mão ao rosto para não gargalhar alto. Então se sentaram para começar a tomar café.
— Hahaha, que malvadinha você! — disse Nami.
— Como é? Malvadinha seria se eu mentisse e dissesse que eram boas… — contestou Hitomi. — E cadê a Hana? Não vai vir tomar café?
— Ela já está vindo; tá bem animada, disse que fez uma amiga! — contou Nami, começando a tomar seu café.
— Que bom, Nami! Isso me anima. — Hitomi tranquilizou sua expressão.
De repente, os passos aumentaram, e a pequena menina de cabelos rosa chegou para todas:
— Bom dia, mamães! — cumprimentou Hana.
As três conversaram e contaram as novidades. Mas chegou o momento em que Hitomi precisou se retirar para trabalhar na agência com as novatas.
Agência de modelos
Na agência, Hitomi batia o dedo indicador no tampo de sua mesa em intervalos ritmados, como um metrônomo. Estava impaciente. Era o único som que se escutava, pois o silêncio pairava sobre o clima de tensão.
As modelos Megumi e Yesenia estavam sentadas, esperando. Yesenia mantinha uma expressão serena e focada, enquanto Megumi se mostrava um pouco desconfortável. Até que Hitomi cessou as batidas.
— Deu, chega! Já esperei muito além do horário. Vocês que chegaram no horário podem se apresentar: nome, idade, altura e há quanto tempo estão no ramo.
Megumi se preocupou em não esperar a terceira menina, mas compreendeu que se atrasar não era um posicionamento profissional.
— Me chamo Megumi Hoshino, tenho 22 anos, minha altura é 1,80 m. Estou no ramo há apenas 3 meses, mas já fiz catálogos.
— Me chamo Yesenia, tenho 22 anos, 1,78 m. Entrei há dois dias.
— Como é? Vocês são novatas? Estou realmente impressionada.
Ao terminar a frase, a porta se abriu, e Esther, a modelo que estava faltando, entrou na agência como se nada tivesse acontecido, cumprimentando a todas.
— Bom dia! Desculpem o atraso!
— Desculpa nada! Chegou atrasada. Se apresente logo, diga nome, altura e tempo na carreira de modelo.
A jovem simplesmente ignorou o fato de ter deixado sua veterana incomodada e respondeu de forma leviana:
— Sou Esther, tenho 18 anos, 1,75 m, estou no ramo faz 6 anos, já estive em duas agências, fiz vários catálogos e desfilei para várias marcas.
Hitomi apoiou os cotovelos e juntou as mãos, encarando a jovem:
— Você é a mais experiente, e mesmo assim, se atrasou. Clientes grandes e sérios não admitem isso; que fique de lição.
Esther encarou a mulher com raiva e bufou. Logo em seguida se uniu às outras colegas e todas seguiram com o treinamento e aulas de maquiagem e desfile.
O dia foi longo, mas bastante produtivo. Houve várias aulas de etiqueta, postura e poses. Hitomi era exigente em todos os detalhes, porém também era didática e precisa com suas dicas.
Após tudo estar terminado, cada uma se dirigiu à sua casa. Yesenia caminhou pelas ruas da cidade, nas proximidades da área residencial do bairro. Ela olhava os arredores, como se procurasse algo.
— Eu senti algo, mas foi em qual? Bom, minha missão é simples, atacar. Pelo que vi nos papéis, aqui mora uma das modelos. Se ela tiver Potentia, vai reagir.
Parada em frente a uma grande casa, observando com frieza, estava a modelo. Das pontas de seus dedos se formaram chamas de coloração esverdeada. As chamas foram conduzidas até a casa, que, em segundos, foi tomada pelo fogo.
Era possível escutar gritos de dor e desespero vindos de dentro da casa. Yesenia se manteve de pé, sem mudar sua expressão facial, fria e fixa, analisando suas chamas percorrendo a casa.
“Ah, só gritos. Não é ela”, pensou depois de pouco tempo, decidindo se retirar, deixando o lugar como estava.
Nos arredores, em uma altura suficiente para observar boa parte do bairro, estava o apartamento de Hitomi. Por sorte, naquele exato momento, ela passou pela janela e viu um ponto de fumaça que logo se transformou em fogo. Sem pensar muito, ligou para os bombeiros, informando que uma casa nas proximidades estava pegando fogo… um fogo VERDE.
Agência de modelos, 10 de março
No dia seguinte, a situação na agência era de tensão, a vítima do incêndio havia sido Esther, a jovem modelo.
— E como ela está? Qual a situação? — perguntou Hitomi ao dono da agência.
— A família informou que ela teve queimaduras de segundo grau, vai precisar de repouso e tratamento. Mas a polícia fez toda a investigação e não conseguiu encontrar a causa; acreditam que foi criminoso, os bombeiros acharam estranhas as denúncias de um fogo verde, mas, quando chegaram no local, era mesmo. E o mais estranho… o fogo não apagava, foi diminuindo gradualmente até que sumiu — comentou Jacques, fazendo uma pequena pausa, e respirando fundo. — Tem acontecido muitas coisas estranhas na cidade nesses tempos.
Em meio às revelações e indagações dos dois, o fotógrafo Yusuke decidiu dar a sua opinião:
— Será que foi uma das modelos tentando se vingar?
Hitomi e Jacques se entreolharam e encararam o jovem fotógrafo com olhar de desgosto.
— Bom, vou começar as aulas. Me mantenha informada sobre a Esther — pediu Hitomi, retirando-se em seguida.
A modelo retomou sua postura e foi até a sala onde as outras candidatas estavam e, de maneira profissional, deu o recado para as demais:
— Seremos apenas nós três hoje. Esther sofreu um acidente…
O dia seguiu com lições de passarela, nas quais aprenderam melhores maneiras de desfilar e como fazer uma boa pose para serem bem enquadradas pelos fotógrafos das diferentes revistas e tabloides.
Ao fim do dia, Hitomi preferiu não se prolongar tanto no horário, já que uma das meninas havia sido vítima de um crime.
— Está tarde, e por hoje já está bom. Vamos para casa. Cuidado com pessoas suspeitas na rua!
As três se despediram e começaram a se ajeitar para ir embora. Ao sair da agência, Megumi viu Hitomi logo à frente e a chamou. A modelo olhou para trás com receio e avistou sua pupila, nada tímida. O assunto começou de maneira direta, mas simpática:
— Peço desculpas por incomodar, mas eu admiro muito o seu trabalho e seu esforço em nos ensinar. Gostaria de saber se seria possível conversar e termos uma relação além do trabalho.
A veterana Hitomi encarou a novata com seriedade e pensou rapidamente sobre a situação.
— Olha, Megumi, por mim, sem problemas, desde que seja uma relação de amizade — respondeu sem muita animação.
Megumi inclinou seu rosto e olhou para ela confusa. Mesmo assim, elas começaram a conversar. E encontraram abertura para falarem sobre os assuntos mais aleatórios possíveis, parecendo amigas de longa data.
“Hummm, que sorte as duas assim, vulneráveis”, pensou a bela Yesenia que encarava suas colegas despreocupadas ao longe.
Aproveitando-se da distração das duas modelos, lançou um golpe à distância. Formando as chamas na ponta de seu indicador, ela fez o fogo propagar-se em direção a elas, para atingí-las de surpresa.
Por coincidência, Megumi olhou para trás naquela hora, percebendo o perigo se aproximando e correu para defender Hitomi.
— HITOMI, CUIDADO! — gritou, empurrando a outra para fora do alcance das chamas.
— QUE ISSO, MEGUMI? — perguntou sem perceber o perigo que estava se formando.
Ao perceber o que estava acontecendo, Hitomi reconheceu o fogo verde e ficou espantada, seus olhos se arregalaram, sua testa franziu, era o que havia sido o responsável pelo acidente de Esther.
— ESSE FOGO!
— HITOMI, VAMOS FUGIR! — Megumi tentou puxá-la, mas percebeu que seria difícil tirá-la dali.
Ela pegou o celular em sua bolsa e ligou para a casa de Sayuri, que, por sorte, quem atendeu foi Naoko, a Potentia de água.
— NAOKO, PRECISO DE AJUDA, É UMA POTENTIA DE FOGO. VENHA RÁPIDO, FICA NA…
Yesenia continuava observando a cena, percebendo o desespero de ambas, mas estranhou suas formas de agir.
“Tem algo estranho… não estão reagindo… mas eu sinto algo.”
Foi então que decidiu gerar mais fogo. Queria forçar as duas a mostrarem se eram ou não portadoras de Potentia.
Megumi continuou tentando puxar Hitomi para sair do local, mas sua teimosia era tão forte quanto sua força física. A veterana se desprendeu das mãos da novata, ordenando que a soltasse, recusando sua ajuda.
Com as mãos e braços soltos, agora tinha espaço para ação. Foi neste momento que, de cada uma das mãos dela saíram chamas em vermelho vivo, prontas para defender o golpe proferido por Yesenia. Ela conseguiu repelir o golpe, atingindo fogo com fogo.
“Hitomi é uma Potentia de fogo…” Megumi se espantou.
— Não se preocupe, vou te proteger, Megumi!
Mas a autoconfiança da veterana durou pouco. As chamas verdes caíram no chão e começaram a tomar forma de labaredas, rodeando-as.
— POR QUE ESSAS CHAMAS PARECEM ESTAR SE ORGANIZANDO? — gritou Hitomi, dando um passo para trás, em desespero.

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