Capítulo 171: Morte e Resposta
A presença do lobo recuou por um momento. O coração envenenado murchou e secou nos braços de Yu Sheng. De repente, a Floresta Negra ficou em silêncio; não havia mais uivos graves e caóticos, nem o olhar que vinha das profundezas da mata.
Hu Li e Aileen saíram correndo da cabana e, juntas, arrastaram Yu Sheng para dentro.
“Benfeitor, benfeitor, como você está?” Hu Li olhou para o rosto pálido de Yu Sheng, nervosa, com os pelos da cauda todos eriçados. “Você ainda consegue me ouvir?”
“Consigo, consigo… não chegue tão perto”, disse Yu Sheng, ofegante, sentindo sua força se esvair e um frio entorpecente se espalhar por suas veias. “Estou prestes a morrer. Isso é venenoso, fui envenenado assim que toquei…”
“Para mim, também parece que você está prestes a morrer. Seu rosto está ficando preto”, Aileen se aproximou, subindo no peito de Yu Sheng, seus olhos vermelhos fixos no rosto dele. “E então? A Vovó-lobo também morreu, não foi? Isso conta como matá-la?”
“Morreu, mas é temporário. Como todas as Entidades, ela vai voltar. A Floresta Negra vai se restaurar ao estado em que estava antes de entrarmos, no próximo ciclo”, disse Yu Sheng com esforço, tossindo duas vezes antes de continuar. “Mas não importa, eu já intervi no ciclo dela… Conseguimos, pelo menos demos um grande passo… Agora desça, você está pesada como uma pedra.”
“Claro, meu corpo agora é feito de aço e pedra”, resmungou Aileen, mas obedeceu e desceu do peito dele. “Mas você não reclamou do peso quando eu estava sentada no seu ombro antes.”
“É que agora eu estou morrendo, estou fraco”, disse Yu Sheng, parando para tomar fôlego. Ele estendeu a mão para Hu Li. “Me ajude a levantar.”
Hu Li concordou rapidamente, segurando o braço dele. “Benfeitor, o que você vai fazer?”
“Vocês duas, voltem”, disse Yu Sheng enquanto, com o apoio de Hu Li, estendia a mão para o ar. Uma porta de luz trêmula começou a se materializar. “Levem minha arma, ela até que é bem útil. De volta em casa, vou dar uma melhorada nela para usar de novo… Ah, e levem também este coração murcho. Não sobrou nada de útil do corpo da Vovó-lobo da Chapeuzinho Vermelho, só este coração que parece ser de carne. Agora que o veneno já escorreu todo, depois vou ver se dá para fazer um ‘coração de lobo salteado com pimenta’…”
“Você pretende comer isso também?!” Aileen ficou chocada, olhando para Yu Sheng de queixo caído. “Isso não é um pouco assustador demais?”
“Vou provar, só provar. Deu um trabalhão para matar, e ela ainda me matou uma vez”, Yu Sheng respirou fundo. “Se eu não fritar, vou sentir que saí no prejuízo.”
Aileen sentiu uma estranheza indescritível, mas Hu Li, que sempre obedecia a Yu Sheng, já tinha usado duas de suas caudas para enrolar o coração de lobo seco e o Cajado do Tétano que estava no chão. Ela caminhou até a porta, mas se virou para perguntar: “Benfeitor, e você? Não vai voltar?”
Yu Sheng acenou com a mão. “Eu fico aqui.”
“Hã?” Aileen ergueu a cabeça, o rosto cheio de surpresa. “Você não vai morrer em casa?”
“Vou esperar um pouco aqui, quero ver quando exatamente aquele Caçador aparece”, Yu Sheng já mal conseguia se manter de pé. “Vai que consigo me comunicar com ele… Depois, posso simplesmente morrer aqui mesmo.”
“Certo, então vamos na frente”, Aileen suspirou e perguntou casualmente: “Quando você voltar, vai querer comer alguma coisa? Eu e a Hu Li podemos ir preparando… Não me olhe assim, não vamos acender o fogo, só lavar uns legumes ou algo do tipo.”
“Lavem dois pepinos e dois tomates. Quando eu voltar, já deve ser de manhã. Depois de morrer, quero comer algo leve. Façam macarrão frio, com molho de tomate e ovo, e pepino em tiras.”
“Ok.”
Aileen e Hu Li partiram, e a porta de luz desapareceu lentamente.
A cabana ficou em silêncio. Yu Sheng olhou ao redor e viu a bagunça deixada pela batalha anterior. Embora o lobo gigante nunca tivesse entrado, o fogo de raposa e os fios de seda que se espalharam destruíram quase todos os móveis e deixaram grandes marcas de queimado nas paredes e no chão.
Ele suspirou e caminhou com dificuldade até a pequena cama queimada no canto da sala. Sentou-se em meio aos destroços, esperando pelo Caçador, esperando pela morte.
O veneno de lobo corria em suas veias; seu sangue corria na Floresta Negra.
Um choro fraco soava distante e abafado, como se uma cortina tivesse sido interposta. Parecia que algo estava acalmando a fonte do choro, fazendo-a silenciar aos poucos.
Um leve farfalhar veio dos destroços da cama. Yu Sheng olhou na direção do som e viu uma pequena criatura marrom e peluda espiando por entre os fragmentos carbonizados. Em sua cabeça, havia um pedaço de pano vermelho rasgado.
“Ah, um esquilo. Pensei que você já teria fugido”, Yu Sheng cumprimentou o esquilo. “Bem corajoso, hein.”
“Ca… Cavaleiro Esquilo não teme nada… não teme nada…” o esquilo repetia essas palavras, como se sua mente estivesse abalada. De repente, ele parou e olhou fixamente para Yu Sheng. “Espere, você está morrendo… Você foi mordido pelo lobo, o coração do lobo te mordeu! Você… você vai morrer! Vai morrer de verdade! No mundo real também! O que fazer, o que fazer, o que fazer…”
Parecia que ele finalmente tinha percebido algo aterrorizante e começou a gritar, agitado e apavorado.
“Eu vim para cá com meu corpo real desde o início”, Yu Sheng apenas sorriu para ele, num último lampejo de vitalidade. “Não fique tão nervoso, eu vou voltar. Para mim, a ‘morte’ é apenas um sintoma temporário. Claro, você não precisa pensar sobre essa complexidade agora. Acalme-se, pequeno esquilo. Se não quiser ir embora, fique e converse um pouco comigo.”
O esquilo arregalou seus olhinhos redondos, como se não entendesse o que Yu Sheng estava dizendo, nem soubesse o que fazer. Havia entrado em um estado de sobrecarga mental.
“Você está usando esse pano vermelho de novo”, Yu Sheng estendeu o dedo e tocou a cabeça do esquilo. “Você gosta disso?”
“Pano vermelho… pano vermelho é um bom sinal”, o esquilo se assustou e respondeu instintivamente. “Esquilos também precisam de suas capas vermelhas… A capa vermelha espanta o lobo mau, a capa vermelha é a prova de que não virei um lobo…”
“‘A capa vermelha é a prova de que não virei um lobo’? Então é isso”, disse Yu Sheng lentamente, lutando para manter os olhos abertos. “Esquilos também se preocupam em virar lobos da floresta?”
O esquilo de repente ficou em silêncio, paralisado, como se a pergunta de Yu Sheng o tivesse levado a uma nova pane no sistema.
O pequeno animal vivia travando assim, como se um cérebro pequeno demais estivesse sobrecarregado com pensamentos além de sua capacidade de compreensão.
Yu Sheng sentia que estava quase no mesmo estado.
Sua mente estava ficando entorpecida. O veneno de lobo parecia ter substituído seu sangue, brotando galhos frios e malignos em suas veias. Ele sentia a visão turva; o pequeno esquilo se multiplicava em várias imagens sobrepostas. Ele ouvia o som oco do vento na floresta, e as matilhas de lobos começaram a uivar novamente, uma após a outra. Eles sempre uivavam, porque era assim que a história contava. Ou, pelo menos… era assim que o Contador de Histórias acreditava.
Em sua visão que escurecia, Yu Sheng viu algumas coisas.
Seu olhar parecia atravessar a Floresta Negra, atravessar a barreira sombria que a envolvia e a terra espessa abaixo dela. Ele viu inúmeras ramificações finas, como galhos de árvores, sustentando aquele lugar pelo “outro lado”. Viu também muitas estruturas entrelaçadas, como vasos sanguíneos e nervos, preenchendo o caos e o vazio. A ponta de cada aglomerado de estruturas se erguia como um galho.
Elas sustentavam o castelo do rei, o ermo onde o cavaleiro lutava contra o dragão, o baile que nunca terminava, a torre que aprisionava a princesa, o quarto de dormir cercado por espinhos, o pé de feijão que alcançava as nuvens, e o mar e a corte embalados por canções…
Mas não era isso que Yu Sheng queria ver.
Ele queria ver o “outro extremo”, as profundezas daquelas estruturas entrelaçadas.
Ele se esforçou para controlar seu olhar, tentando virar a visão para as profundezas daquele caos, para a origem daquelas estruturas.
Mas uma escuridão absoluta o bloqueou. Parecia não haver nada nas profundezas daquele caos.
O som de passos chegou aos seus ouvidos.
Yu Sheng recuperou a consciência por um breve momento. Sua percepção retornou daquela visão que atravessava a Floresta Negra e voltou a se focar na cabana.
O fogo da lareira já havia se apagado, e a luz da vela sobre a mesa também desaparecera há muito tempo. Uma atmosfera fria envolvia tudo. Uma figura alta abriu a porta da cabana e entrou com passos mecânicos e rígidos.
A luz fraca das estrelas iluminava a figura, delineando um contorno vago.
“Olá, ‘Caçador’”, disse Yu Sheng, forçando um sorriso para a figura que entrava. Apoiado nos destroços da cama, ele sentiu aquele corpo oco e invisível fixar o olhar nele. “Estou te esperando há muito tempo. Já estava quase morrendo de tanto esperar.”
O Caçador se aproximou lentamente. Seu capuz vazio estava abaixado, como se observasse com atenção o “humano” moribundo à sua frente.
Embora não pudesse ver a “expressão” sob o capuz, Yu Sheng sentiu que o Caçador parecia confuso.
Provavelmente era porque um pouco do veneno do lobo corria em seu corpo, e isso impedia o “Caçador” de decidir se deveria ou não atirar.
Yu Sheng não explicou nada. Economizando cada pingo de sua força, ele lentamente tirou um papel do bolso e o desdobrou na frente do Caçador.
Doze homens e mulheres, vestindo pesadas armaduras de proteção, posavam para uma foto de grupo impecável.
“Ainda se lembra disto?”, Yu Sheng ergueu a cabeça e disse em voz baixa. “Você… é um deles?”
O Caçador permaneceu imóvel, sem dar qualquer resposta.
Yu Sheng esperou pacientemente, imaginando o que chegaria primeiro: sua morte ou a resposta do Caçador.
Então, ele viu aquele corpo oco e invisível levantar lentamente a espingarda em suas mãos.
Yu Sheng: “…?”
Espera aí, amigo?
Bang!
O tiro soou.
A morte e a resposta chegaram ao mesmo tempo.

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