Capítulo 205: A Segunda Doação de Sangue e a Investigação no Prédio Antigo
Yu Sheng e a Chapeuzinho Vermelho conversaram muito sobre o esquilo e sobre a “descida” desconhecida de oitenta e seis anos atrás.
Por sua vez, a Chapeuzinho Vermelho contou a Yu Sheng muitas histórias antigas sobre o orfanato e algumas situações internas da organização “Contos de Fadas”.
“Viu aquele garoto bobo com cabelo meio cacheado ali? O que está conversando com a Rapunzel. Ele é o dragão vermelho que caiu agora há pouco. O caso dele é parecido com o do ‘Rei’, representando uma categoria de ‘personagem de conto clássico’ sem uma história específica. O ‘subconjunto’ por trás dele não é um ‘conto’ definido. Seu codinome é ‘Caçador de Dragões’… claro que não é um dragão de verdade, não é tão poderoso assim.”
“Por que a imagem do ‘Caçador de Dragões’ é um dragão? Porque ‘quem caça dragões acaba se tornando um’, então às vezes, ao entrar no pesadelo, ele já avança direto para a forma de dragão… Na verdade, ele não sabe voar. Ele se transforma diretamente no dragão derrotado. Na forma de dragão vermelho, sua única habilidade é cair do céu em várias posições, e seu principal ataque é esmagar as pessoas com a queda. Às vezes, ele também interpreta o caçador antes de se tornar dragão, e sua habilidade é invocar um dragão derrotado do céu… que também ataca caindo e esmagando as pessoas.”
“A Bela Adormecida não costuma falar muito. O que ela mais gosta de fazer é dormir. Dorme de dia, dorme de noite. Sempre invejei a qualidade do sono dela, mas ela diz que, mesmo dormindo, sente como se estivesse sempre acordada. Na verdade, ela vive cansada e com sono. Seu maior desejo é conseguir o travesseiro mais confortável do mundo e morrer dormindo nele.”
“A Dorothy consegue se comunicar com todo tipo de máquina, mesmo as que não têm Espírito da Máquina. Quando ela fala com elas, elas reagem como se tivessem… Isso mesmo, ‘o Homem de Lata ganhou um coração’, é esse o simbolismo. A Dorothy consegue dar vontade temporária ao aço. Ela usa muito essa habilidade para enganar máquinas de venda automática e conseguir um refrigerante a mais, ou para continuar fazendo ligações com o celular sem crédito. Também invejo isso.”
“Mas quem eu mais invejo é a Pequena Sereia — ela não veio hoje. Ela canta tão bem… Normalmente, nem precisa sair em missões. Ela usa um avatar virtual, faz lives, e em meio dia cantando ganha mais do que eu em uma semana… Eu? Sou desafinada.”
“Mas ela também tem seus problemas… Quando toma banho, inexplicavelmente solta escamas, o que entope o ralo com frequência. Mesmo na forma humana, sempre aparecem escamas no banheiro. Ah, e ela não sabe nadar… Inesperado, né?”
“Ah, e tem aquela ali, a ‘Vendedora de Fósforos’. O codinome mais longo de todos. É uma especialista em atear fogo, uma super especialista. No inverno, quando o aquecimento do orfanato não está bom, contamos com ela. Mas ouvi dizer que no ano que vem vão trocar os canos de aquecimento da nossa área, então ela não vai mais precisar queimar a caldeira no inverno… Não a irrite, viu? Ela fica bem temperamental quando está acendendo fogo.”
A Chapeuzinho Vermelho falava sem parar, sentada em um pequeno morro com Yu Sheng, observando seus companheiros não muito longe. Um leve sorriso pairava constantemente em seu rosto, como a irmã mais velha de uma grande família, apresentando com um misto de orgulho e carinho as travessuras dos irmãos mais novos a um amigo.
Pouco tempo depois, os jovens acenderam uma enorme fogueira na Planície.
O combustível que usaram foi o roseiral invocado pela Bela Adormecida. As rosas em plena floração queimavam violentamente, e as chamas altas iluminavam a Planície caótica e cinzenta. Como Yu Sheng havia previsto, aquela Planície, tão silenciosa e monótona quanto um pós-vida, estava mais animada do que nunca.
As crianças mais velhas, reunidas naquele lugar de refúgio, gritavam, cantavam e dançavam ao redor da fogueira, a maioria desafinando em berros, com o miado do Rei misturado no meio.
Em seguida, Hu Li e Aileen também se juntaram à festa. A pequena boneca flutuava em círculos sobre a fogueira, parecendo que ia incendiar sua própria moldura a qualquer momento. Hu Li, por sua vez, lançava fogos de raposa para o céu, como se fossem fogos de artifício. Yu Sheng também foi arrastado para lá, servindo de mascote em frente à fogueira.
Ele se sentia como se estivesse participando de um ritual de sacrifício estranho e animado, cercado por “fiéis” exultantes e barulhentos, ou como um “pai” arrastado para uma atividade escolar, rodeado por uma horda de crianças caóticas. Ele só podia ficar no meio, mantendo um sorriso constrangido, mas educado.
A sensação não era tão ruim assim.
E assim terminou a primeira reunião das crianças naquela Planície de Refúgio.
Na manhã seguinte, Yu Sheng foi ao orfanato. Conforme o planejado, hoje seria a “vacinação por doação de sangue” para as crianças menores.
Ele estava sentado na cozinha dos fundos do refeitório do orfanato, observando a Branca de Neve mexer, com uma expressão séria, um enorme caldeirão de uma “sopa nutritiva de vegetais” de cor estranha. Ele não pôde deixar de duvidar: “…Isso vai mesmo funcionar? Não parece nada apetitoso…”
“Confie nas minhas habilidades. A aparência pode não ser das melhores, mas os pequenos adoram isso”, disse a Branca de Neve, levantando a cabeça e olhando para Yu Sheng enquanto mexia a sopa. “Espere um pouco. Só ‘adicione o ingrediente’ quando a sopa esfriar um pouco, senão o sangue vai cozinhar…”
Yu Sheng assentiu: “Ah, entendi.”
Ao lado, outra garota de cabelos compridos e soltos, com aparência de dezesseis ou dezessete anos e um ar doce e gentil, resmungou: “Eu ainda acho que seria melhor misturar em um smoothie de morango. A baixa temperatura disfarçaria o cheiro de sangue, e a cor não pareceria estranha.”
“Estamos no inverno, querida. Com temperaturas de mais de dez graus negativos, você vai dar um copo de smoothie para cada um desses pequenos de manhã cedo? Eles ficariam felizes, mas teríamos banheiros suficientes?”, a Branca de Neve revirou os olhos. “Acho que é você quem está com vontade de comer.”
A garota de ar doce e gentil sorriu, um pouco sem graça. Yu Sheng a observou por mais alguns instantes. Ele achava que ela lhe era familiar, mas não conseguia lembrar de onde. Depois de olhar por um tempo, não resistiu e perguntou: “Quem é você mesmo?”
“Nós nos vimos ontem à noite”, a garota sorriu timidamente e apontou para si mesma. “Perto da fogueira na Planície. Eu estava atrás da Rapunzel. E antes disso, eu estava no pé de feijão.”
Yu Sheng se esforçou para lembrar, e finalmente uma imagem de uma figura rindo loucamente em meio ao mar de fogo no pé de feijão de João surgiu em sua mente.
Ele bateu palmas: “Ah, sim! Aquela que queria que todo mundo visse a avó em meio às chamas…”
Mas antes que ele pudesse terminar a frase, o rosto da garota à sua frente ficou vermelho, e ela gesticulou freneticamente: “Eu, eu não sou assim normalmente, é que perco o controle quando acendo fogo…”
O canto da boca de Yu Sheng tremeu: “Codinome Vendedora de Fósforos, certo? Habilidades de piromania e ilusionismo.”
“Esse codinome é muito longo, geralmente me chamam de ‘Fósforo'”, a garota sorriu, envergonhada. Sua aparência tímida e gentil era de fato completamente diferente da figura que ria loucamente no mar de fogo. “A Chapeuzinho Vermelho com certeza exagerou um monte de coisas quando falou de mim para você.”
“…Ela exagerou um monte de coisas sobre cada um de vocês”, Yu Sheng lembrou das “características” que a Chapeuzinho Vermelho mencionou na noite anterior ao apresentar cada membro da organização “Contos de Fadas”, e um sorriso surgiu em seu rosto. “Mas dá para ver que ela gosta muito de vocês.”
A garota de cabelos compridos sorriu, um sorriso doce e radiante.
A Branca de Neve finalmente largou a concha. Ela testou a temperatura da sopa de vegetais e se virou para Yu Sheng com um sorriso irônico:
“Irmão, hora de sangrar.”
Yu Sheng ficou surpreso: “Irmão?”
“Eu e a Rapunzel íamos te chamar de ‘tio’, mas a Chapeuzinho Vermelho disse que você não é muito mais velho que a gente, então ‘irmão’ é mais apropriado”, disse a Branca de Neve com um sorriso, já segurando o cutelo que estava ao lado. “Você corta ou eu corto pra você?”
Yu Sheng olhou para o sorriso no rosto dela e para o brilho frio do cutelo em sua mão, e um suor frio escorreu por sua testa: “Eu mesmo corto, eu mesmo corto…”
Enquanto isso, na estrutura subterrânea da Ala Oeste do orfanato, a Chapeuzinho Vermelho franzia levemente a testa, olhando para o corredor subterrâneo em mau estado à sua frente e, em seguida, para os documentos antigos em suas mãos.
Um “mercenário” de armadura pesada, pele escura e corpo robusto estava em silêncio ao seu lado. O rosto do mercenário estava coberto por um elmo pesado, e em sua couraça estava gravado o brasão com a cabeça de um gato. O “Rei” estava agachado imponentemente no ombro do mercenário, olhando curiosamente para os lados.
“É aqui?”, perguntou o Rei de repente.
“Não dá para ter certeza”, a Chapeuzinho Vermelho balançou a cabeça. “A pista que o esquilo deu já não era muito clara. O ponto de queda que ela mencionou era no centro do pátio do orfanato, mas a planta do orfanato de oitenta e seis anos atrás era diferente da de hoje. O ‘pátio’ daquela época se sobrepunha em parte com a Ala Oeste de hoje, mas quanto se sobrepunha, onde era o centro, onde eram as fronteiras, nada disso é certo…”
Enquanto falava, ela mostrou os documentos antigos em suas mãos para o “Rei”.
“Esta é a planta da Ala Oeste quando foi construída. É o documento mais confiável que consegui encontrar no arquivo. Estamos mais ou menos nesta posição agora. Se meus cálculos estiverem corretos, este lugar deve corresponder à localização do ‘pátio’ na memória do ‘esquilo’… bem acima de nós.”
“Além disso, este foi o ponto onde eu vi a ‘sombra de espinhos’ antes, um pouco a nordeste, acima de nós, em uma parede externa da Ala Oeste.”
O Rei esticou o pescoço e olhou atentamente para os documentos que a Chapeuzinho Vermelho lhe entregou, depois deu um tapinha com a pata: “Por que você está me mostrando isso? Eu sou só um gato, não sei ler.”
“…Para de fingir. Eu vi você fazendo a lição de física da Branca de Neve.”
O Rei virou a cabeça, constrangido: “…Ela me subornou com petiscos.”
A Chapeuzinho Vermelho olhou para o gato malhado com desprezo e depois acenou com a mão.
“Você consegue sentir alguma coisa? Usando sua famosa ‘intuição felina’.”
“Sentir… não sinto nada de especial”, resmungou o Rei, espreguiçando-se no ombro do mercenário invocado, com um tom preguiçoso. “Mas você não achou estranho? Não tem um rato sequer aqui…”

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