Capítulo 41: A Boneca Livre

Yu Sheng estava completamente atordoado.

No instante em que viu Aileen “desconectar” e cair, ele chegou a pensar que a boneca tinha morrido subitamente por causa do corpo de má qualidade. Felizmente, a voz que veio de trás interrompeu essa ideia assustadora.

Yu Sheng, segurando o corpo de Aileen, levantou a cabeça rigidamente e olhou para a grande mesa onde a argila havia sido processada.

A pintura a óleo clássica com sua moldura ornamentada estava encostada na beira da mesa. Dentro da pintura, Aileen o encarava, com os olhos arregalados e uma expressão de pânico.

“Eu, eu também não sei o que aconteceu!”, percebendo o olhar de Yu Sheng, Aileen começou a acenar freneticamente com as mãos. “Um segundo eu estava correndo, e no outro, quando abri os olhos, já estava de volta aqui. Como isso aconteceu, isso…”

Uma risada baixa e um tanto zombeteira ecoou de dentro da moldura, parecendo zombaria, mas com um toque de compaixão.

Vinha do ursinho de pelúcia. Desta vez, Yu Sheng finalmente o viu rir com os próprios olhos.

A personalidade de Aileen não aguentou isso. Ela pulou e correu para a cadeira de veludo vermelho, agarrou o ursinho pelo pescoço e começou a sacudi-lo com força: “Você ainda está rindo! Ainda está rindo! Foi você que fez isso, não foi? Agora estou de volta aqui!”

No entanto, o ursinho de pelúcia, sem consciência, não podia responder. Ele continuou a rir nas mãos de Aileen, deixando a boneca cada vez mais furiosa.

Yu Sheng, vendo a cena, se aproximou para tentar acalmar a garota na pintura: “Ei, não fique tão agitada, vamos pensar em uma solução…”

Ele mal havia falado metade da frase quando a garota na pintura, que estava aplicando uma chave de braço, um arremesso por cima do ombro e um crucifixo no ursinho, desapareceu de repente. Em seguida, Yu Sheng sentiu o corpo da boneca em suas mãos dar um solavanco. Antes que pudesse reagir, a coisinha de 66,6 centímetros de altura se jogou em seu braço, aplicando instintivamente uma chave de braço (sem sucesso), um arremesso (sem sucesso) e um crucifixo (sem sucesso).

Mas sua força era surpreendentemente grande, e a carne do braço de Yu Sheng doía sob o aperto.

Yu Sheng teve que arrancar Aileen de seu braço com esforço, segurá-la diante de seus olhos e sacudi-la: “Acorde, acorde, sou eu, Yu Sheng. Você saiu de novo.”

Aileen, aos poucos, pareceu se dar conta da situação. Ela pairou no ar, confusa, olhou ao redor e, finalmente, seu olhar se fixou no rosto de Yu Sheng: “…Hã?”

Então, os dois olharam para a moldura da pintura não muito longe e mergulharam em um estado de perplexidade e reflexão.

Momentos depois, Yu Sheng, em silêncio, recuou com Aileen nas mãos até o ponto onde ela havia caído. Com seu último passo, o corpo da boneca em suas mãos desligou-se instantaneamente, e sua vitalidade se dissipou.

A figura de Aileen apareceu abruptamente na pintura a óleo. Ela olhou ao redor e, em seguida, para Yu Sheng, atordoada: “Eu voltei de novo. Então, com certeza…”

Yu Sheng ergueu o corpo da boneca que segurava em direção à pintura, aproximando-os.

O corpo subitamente voltou à vida, como se o “desligamento” nunca tivesse ocorrido. A voz de Aileen veio de dentro dele, continuando a frase que não havia terminado na pintura: “…é uma questão de distância?”

“Parece que sim.” Yu Sheng franziu a testa, observando a cena. Ele afastou a boneca um pouco e viu o corpo em suas mãos “desligar” novamente. A voz de Aileen veio de longe: “Isso pode ser…”

Yu Sheng aproximou a boneca novamente.

Aileen: “…um pouco problemático… pode parar de brincar?! Você me desmontou várias vezes no meio de uma frase!”

Yu Sheng, sem graça, levou Aileen para um lugar mais próximo da pintura, explicando: “Eu só queria confirmar o alcance exato do seu ‘sinal’.”

“Que diferença faz se são cinco ou seis metros? No máximo, são esses poucos passos!”, Aileen gesticulava, pendurada pelo colarinho, e de repente sentiu que algo estava errado. Ela encarou Yu Sheng. “Me coloque no chão! Por que você está me segurando o tempo todo?!”

Ao ouvir isso, Yu Sheng rapidamente colocou a boneca, cada vez mais irritada, no chão. Então, eles se encararam.

Só então Aileen percebeu que precisava inclinar a cabeça a quase noventa graus para falar com Yu Sheng.

No entanto, sua dignidade não permitia que Yu Sheng se agachasse para falar com ela — e mesmo que ele se agachasse, ela ainda teria que olhar para cima.

“Fique parado aí”, disse a boneca de repente.

Yu Sheng ficou surpreso: “O que você vai fazer?”

No segundo seguinte, ele soube o que Aileen queria fazer. A boneca abraçou sua perna e começou a subir, como se estivesse escalando uma árvore, chegando rapidamente a seu ombro, ágil como um macaco.

Yu Sheng ficou atordoado, mas não ousou se mover, com medo de derrubá-la: “Eu ainda não concordei…”

Aileen respondeu com confiança: “Você também não pediu minha permissão quando me usou para testar o sinal.”

Yu Sheng ficou sem palavras.

Os dois voltaram para a grande mesa e começaram a examinar a pintura a óleo.

“Eu realmente saí. Posso sentir que minha ‘alma’ está neste corpo agora”, Aileen franziu a testa, olhando para sua antiga “prisão” com uma expressão conflitante. “Mas…”

“Mas, pelo que parece, esta pintura ainda é sua ‘base’. Seu corpo atual é como um controle remoto. Se você se afastar demais, o sinal cai”, Yu Sheng disse sua opinião com franqueza.

Aileen abaixou a cabeça, parecendo extremamente desanimada.

Mas desta vez, ela não chorou — talvez os golpes sucessivos tenham sido tão grandes que ela desenvolveu uma resistência mental semelhante à morte cerebral em pouco tempo.

Ao ver a reação calma da boneca, Yu Sheng ficou assustado e a consolou apressadamente: “Não seja tão pessimista. Talvez este corpo não seja bom o suficiente. Vou praticar um pouco e, da próxima vez que remodelarmos um corpo…”

“Diga”, Aileen o interrompeu de repente. A expressão no rosto da pequena boneca era complexa, tornando impossível discernir suas emoções. “Alguém que carrega sua própria prisão por aí, está livre ou não?”

Yu Sheng ficou chocado. Após um momento de reflexão, ele disse: “Eu já vi alguém que carregava sua própria prisão por aí. O final foi bem trágico. Mas ele estava ‘dentro’ da prisão. Você, pelo menos, está do lado de fora…”

“Não sei do que você está falando”, Aileen resmungou e pulou do ombro de Yu Sheng para a mesa. Com uma expressão complexa, ela se aproximou da pintura que a selava, estendeu as mãos, agarrou a moldura, levantou-a com um pouco de esforço, colocou-a de volta no lugar e tentou carregá-la nas costas.

No entanto, a pintura era grande. Embora para Yu Sheng fosse fácil carregá-la com uma mão, para Aileen, era quase da sua altura.

“…Tem corda em casa?”, a boneca perguntou, olhando para cima.

“Tenho!”, Yu Sheng assentiu imediatamente. “Espere um pouco, vou buscar!”

Dez minutos depois, Aileen observou Yu Sheng amarrar cuidadosamente nós na moldura da pintura e ajustar as fivelas. Quando os preparativos estavam quase prontos, ela deu um passo à frente: “Acho que está bom.”

“Venha, experimente”, Yu Sheng assentiu, levantando a moldura. Ele observou Aileen passar os braços pelas alças de forma desajeitada. “Como está? A posição das fivelas está boa? Precisa apertar mais?”

Aileen puxou as fivelas em seus ombros, colocou a moldura nas costas e andou duas vezes pela mesa, assentindo com satisfação: “Não precisa, está perfeito!”

“É pesado?”

“Nem um pouco, eu sou muito forte!”, disse Aileen, e até pulou no lugar com a moldura nas costas. Em seguida, começou a correr em círculos pela beirada da mesa.

A pequena boneca (66,6 cm), carregando uma moldura quase da sua altura e correndo pela mesa, era uma cena um tanto… peculiar.

Mas, ao observar, Yu Sheng começou a sorrir.

Porque ele viu que Aileen também estava sorrindo. A boneca parecia ter superado o mau humor de antes e estava ficando feliz.

Ela era mais otimista do que ele imaginava.

“Até que é bem leve!”, Aileen parou na beirada da mesa e disse a Yu Sheng com um sorriso. “Assim, não preciso me preocupar com a limitação da ‘distância’. Sou muito esperta!”

“Você é otimista, isso é verdade”, Yu Sheng disse, com admiração sincera. “Pensei que você ficaria desanimada por um bom tempo.”

“As pessoas têm que olhar adiante — e as bonecas também”, Aileen pulou da mesa, feliz, e subiu pelo braço de Yu Sheng até seu ombro. Desta vez, ela subiu com menos agilidade, pois precisava tomar cuidado com a moldura nas costas para não bater na cadeira ou na cabeça de Yu Sheng. “Comparado com antes, pelo menos agora posso me mover livremente. Carregar, que seja. E o cara que ficou na pintura parece não querer que eu vá muito longe… Vamos, vamos descer. Você ainda não jantou. Eu quero assistir TV!”

Yu Sheng ficou surpreso. Ele virou o rosto levemente e, com o canto do olho, observou a boneca, que sorria e parecia cheia de esperança para o futuro.

“Ok, vamos cozinhar”, ele apoiou Aileen com a mão e se levantou da cadeira. “E hoje à noite, começamos a investigar a passagem de volta para o vale.”

“Sim”, Aileen também parecia cheia de espírito de luta, com um sorriso radiante no rosto. Com um gesto grandioso, ela apontou para a frente: “Avante!”

Yu Sheng, por instinto, a tirou do ombro: “Vou te jogar daqui de cima.”

Aileen encolheu-se imediatamente: “Não, não, foi só o calor do momento…”

Yu Sheng balançou a cabeça, rindo, e colocou a boneca de volta em seu ombro, caminhando para a frente.

Lá fora, a noite já caía. As luzes da cidade velha se acendiam em sequência, e uma luz suave e quente fluía pelas ruas e becos antigos, enchendo o ambiente de tranquilidade através da janela.

“Yu Sheng, escureceu completamente lá fora.”

“Sim.”

“Hehe, estou um pouco ansiosa…”

“Ansiosa com o quê? Com a noite?”

“Não, só ansiosa. Não tem a ver com a noite~”

“…Não entendo.”

“Tsc.”