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    Na cidade velha, em uma casa alugada no fundo da Rua Wutong, um homem de quase dois metros de altura estava encolhido em um sofá que parecia pequeno demais para ele, limpando seu equipamento com cuidado.

    Era uma adaga de feixe de luz. O cabo vermelho-escuro era incrustado com pequenos cristais em forma de gota, que formavam uma linha contínua por todo o corpo da arma. O cabo fora claramente feito sob medida para o usuário, encaixando-se perfeitamente na mão larga do homem.

    Ele girou a adaga na palma da mão e a ativou. Com um zumbido baixo, uma lâmina de luz azul-clara se acendeu, traçando um arco quente no ar.

    “Cuidado para não arranhar a mesinha de centro. Vou ter que preencher um relatório para a agência pagar por isso”, disse Li Lin, mexendo em um relógio de bolso, enquanto olhava para Xu Jiali. “…Essa coisa é bem legal.”

    “Legal, né? Troquei minha vida por ela”, o homem riu, orgulhoso. “Eu salvei um nobre do Círculo Estelar de Argleid de um ‘moinho de vento’ de profundidade L-3 — sozinho. Ele me deu de presente. É personalizada, feita pelos melhores ferreiros, com os melhores cristais de brilho dourado. No território dos Argleidianos, pode até ser usada como uma medalha de cavaleiro.”

    Li Lin ficou curioso: “Para que serve?”

    “…Não precisa pegar fila para comprar passagens de transporte na atmosfera, tem acesso a corredor verde em hospitais, e entrada gratuita em zoológicos — apenas nos feriados.”

    Li Lin ficou um pouco surpreso: “Bem… prático. Pensei que os Argleidianos, com todo aquele misticismo, fizessem tudo com um monte de rituais e simbolismo.”

    “Eles são bem místicos, mas todo mundo precisa viver, não é?”, Xu Jiali deu de ombros e depois reclamou. “Ah, operar no Limiar é um pouco complicado. Muitos equipamentos não são permitidos. Eu tenho uma espada-serra, mas antes de vir, foi classificada como um risco e agora está trancada em um armário na alfândega…”

    Li Lin pensou e, quando ia falar, sentiu algo. Ele e Xu Jiali, que também sentiu, olharam para a janela.

    Sob a noite que escurecia, uma figura apareceu no parapeito da janela. Era uma garota pequena, com um casaco vermelho-escuro, encostada na moldura da janela em uma posição perigosa, com uma perna pendendo para fora.

    Ela olhou curiosamente para os dois homens no quarto: “Então, vocês são os ‘agentes especiais’ responsáveis por esta área?”

    “Você é…”, Li Lin franziu a testa, adivinhando vagamente a identidade dela.

    “Pode me chamar de Chapeuzinho Vermelho”, a garota no parapeito da janela acenou com a mão. “Sou dos ‘Contos de Fadas’. Sua agência me contratou para ajudar nesta área por um tempo.”

    “Ah, então eu sei quem você é”, disse Li Lin. Seu rosto se abriu em um sorriso educado. “Nosso capitão tem mencionado você e sua investigação nesta área. Meu nome é Li Lin, agente de operações da Segunda Brigada da Agência de Operações Especiais do Conselho.”

    Xu Jiali, por outro lado, olhou a garota de cima a baixo e disse com voz grave: “Pode haver um ‘peixe grande’ escondido aqui. Pensei que vocês enviariam a Branca de Neve, ou o ‘Rei’. Claro, não estou questionando sua matilha.”

    Diferente do novato Li Lin, Xu Jiali obviamente não estava encontrando Chapeuzinho Vermelho pela primeira vez.

    “O poder destrutivo da Branca de Neve é um pouco excessivo para este lugar — ainda não temos certeza se vamos encontrar uma Entidade de alto risco”, disse Chapeuzinho Vermelho casualmente. “Eu tenho atuado nesta área e investigado a anomalia da Rua Wutong recentemente, então estou mais familiarizada. Não se preocupe, a Branca de Neve pode chegar aqui rapidamente se for preciso. Se realmente encontrarmos um ‘peixe grande’, ela vem na hora.”

    Enquanto falava, a garota se levantou do parapeito da janela e acenou para os dois homens no quarto: “Vim apenas para dar um oi. Vocês devem ter meu contato. Se algo acontecer, me liguem. Tchau~”

    No segundo seguinte, a figura da garota se transformou em uma sombra derretida, que vagamente tinha a forma de um lobo. A sombra pulou da janela e se dissolveu na noite em um piscar de olhos.

    Deixando Li Lin e Xu Jiali se encarando no quarto.


    Depois do jantar, Yu Sheng sentou-se no sofá de olhos fechados para descansar, ouvindo um som de “pat-pat-pat” correndo pela sala de estar e de jantar, ora à direita, ora à esquerda, e depois em círculos ao redor do sofá.

    Ele abriu os olhos e viu Aileen correndo de um lado para o outro. A boneca de 66,6 centímetros de altura, com uma pintura a óleo quase do seu tamanho nas costas, corria pelo chão tão rápido quanto um foguetinho.

    Depois que Aileen começou a quarta volta ao redor do sofá, Yu Sheng não aguentou mais: “Você não pode descansar um pouco? E dar um descanso para seus sapatos também.”

    Aileen correu até Yu Sheng, com o rosto cheio de excitação: “Não quero! Não consigo parar! Eu posso correr por toda parte, por toda parte! Olha, eu posso subir na mesinha de centro e pular dela!”

    Mal terminou de falar, a boneca já havia corrido novamente, primeiro dando meia volta ao redor do sofá, depois subindo na mesinha de centro e, com alguns passos, pulando para o colo de Yu Sheng. Quando ele ia pegá-la, Aileen já havia pulado agilmente do sofá para o chão…

    Em seguida, ela correu para debaixo do rack da TV, subiu com esforço e, na ponta dos pés, conseguiu apertar o botão de ligar da TV.

    A boneca soltou um grito de alegria e se virou para Yu Sheng, animada: “Eu também consigo alcançar o botão da TV! De agora em diante, mesmo que você não esteja em casa, eu posso reiniciar a TV sozinha!”

    Yu Sheng revirou os olhos e olhou para cima, desamparado: “Tudo bem, tudo bem, parabéns, você é ótima.”

    No segundo seguinte, ele viu algo piscar no canto do olho. Aileen havia corrido de volta do rack da TV. Ela agarrou a capa do sofá com uma mão e a calça de Yu Sheng com a outra, subiu no sofá em poucos segundos e sentou-se ao lado dele.

    A pequena boneca, sentada de pernas cruzadas no sofá, não era maior que uma almofada.

    A pintura a óleo atrás dela parecia uma parede em comparação.

    Mas Aileen já havia se adaptado à presença da moldura com uma rapidez surpreendente. Seja correndo, subindo ou sentada no sofá com ela nas costas, a moldura não a atrapalhava em nada. Ocasionalmente, havia alguns esbarrões inevitáveis, mas a boneca não parecia se importar.

    Isso surpreendeu Yu Sheng.

    “Você não acha incômodo carregar isso?”, ele perguntou, curioso. “Sinceramente, se eu tivesse que carregar uma porta nas costas o dia todo, provavelmente não me adaptaria tão rápido…”

    “Eu acho que está tudo bem”, Aileen balançava o corpo no sofá, feliz. Embora a TV estivesse ligada, sua atenção claramente não estava nela. “No começo foi um pouco estranho, mas depois de correr um pouco, me adaptei completamente ao peso e ao tamanho. E, como posso dizer…”

    A boneca parou, procurando as palavras certas. Depois de alguns segundos, ela disse, hesitante: “Dá uma sensação de… segurança. Quando estou com ela nas costas, sinto minhas costas seguras, tranquilas. Você já sentiu isso? Como quando você dorme e precisa encostar as costas na parede ou em um monte de cobertores.”

    “Eu sei o que você quer dizer, mas ainda acho… incrível”, Yu Sheng olhou para a pequena boneca ao seu lado. “Pensei que você teria aversão a esta pintura, afinal, ela te selou por tantos anos, e agora você tem que carregá-la.”

    “Isso também é um pouco verdade”, Aileen pensou um pouco e assentiu, mas logo sorriu novamente. “Mas como diz o ditado, se a vida te der limões, chupe-os. Contanto que hoje seja melhor que ontem, não há do que reclamar.”

    “O ditado é ‘se a vida te der limões, faça uma limonada…'”, Yu Sheng a corrigiu.

    “Dá no mesmo”, Aileen acenou com a mão, despreocupada. Ela parecia ter se acalmado da agitação de antes e agora se lembrou do assunto principal. “Ok, já me adaptei ao meu novo corpo. Agora vamos discutir o assunto daquela raposa…”

    Yu Sheng assentiu, mas logo franziu a testa, olhando para a pequena boneca que mal chegava à altura de seu joelho: “Você ainda pretende ir comigo?”

    Aileen respondeu como se fosse óbvio: “Claro, já combinamos.”

    “Nesse estado?”, Yu Sheng tentou ser diplomático, mas não conseguiu. Ele foi direto. “Você ainda consegue lutar? Agora, para chutar meu joelho, você teria que pular…”

    “Eu te chuto até virar pó! O que tem ser pequena?!”, Aileen ficou um pouco irritada. “Quem te disse que não posso lutar assim?!”

    Yu Sheng tentou acalmá-la.

    Felizmente, o temperamento de Aileen passava rápido. Ela logo se acalmou, recostou-se no sofá e cruzou os braços: “Mas você tem razão. Assim… lutar de frente é um pouco complicado. Você não pode esperar que uma boneca de 60 e poucos centímetros te proteja de um tiro, não é…”

    Dizendo isso, ela balançou a cabeça e mudou de tom: “Mas não se preocupe, as bonecas não têm apenas força de combate frontal. Eu tenho muitos outros truques. Mesmo com este nível de ‘liberdade’, ainda posso fazer muitas coisas.”

    Ela levantou a mão, como se fosse mostrar algo, na frente de Yu Sheng.

    Fios negros e finos se estenderam de seus dedos, como teias de aranha bizarras, com vida própria, serpenteando e crescendo no ar, entrelaçando-se em uma rede.

    “As habilidades de uma boneca são muitas!”

    Aileen disse, orgulhosa.

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